𝐗𝐕𝐈𝐈𝐈

280 37 4
                                        

O ar no centro médico preparado pelo DOE estava denso, como se a própria atmosfera soubesse que algo grandioso — e perigoso — estava prestes a acontecer.

As paredes brancas pareciam mais fechadas, abafando cada respiração. As plantas místicas que Sam espalhara pela sala giravam lentamente no ar, liberando partículas douradas que flutuavam como poeira de estrelas.

Kara estava deitada, mas se sentia como se estivesse lutando contra uma tempestade interna.

Cada contração vinha como uma onda, lenta no início, depois crescendo até uma força quase insuportável, obrigando-a a fechar os olhos e se agarrar ao que estivesse ao alcance.
Normalmente, isso era a mão de Lena.

Lena estava sentada ao lado dela, o rosto tenso, o corpo curvado para frente, como se quisesse proteger Kara de tudo.

— Respira comigo, amor. Isso. Puxa o ar… devagar… — Ela falava baixo, mas a firmeza em sua voz era um fio de segurança para Kara.

— Eu… não… sei se aguento… — Kara arqueou as costas, sentindo a força da nova contração percorrer-lhe a espinha.

— Você aguenta — disse Lena, apertando mais seus dedos. — Você é a mulher mais forte que eu conheço.

Alex estava do outro lado, segurando uma compressa morna contra a testa da irmã.

— Ei, olha pra mim. Você já salvou o mundo mais vezes do que consigo contar. Agora é só trazer duas pequenas super-heroínas para cá.

Kara tentou sorrir, mas outro espasmo a fez gemer.
As luzes no teto oscilaram, e a estrela mágica acima de sua barriga brilhou mais forte.

Brainy monitorava os sensores.

— A energia está atingindo um pico estável… isso significa que a dilatação está quase completa.

Sam se aproximou, colocando o cristal pulsante sobre a barriga de Kara.

— Vai ajudar a estabilizar a magia das meninas. Respira fundo, Kara. Elas estão vindo.

E elas estavam.

Kara sentia.

Não era apenas físico. Era… algo além.

Um calor profundo, misturado a uma sensação de reconhecimento. Como se, mesmo antes de nascerem, elas já a chamassem de mãe.

O suor escorria pela testa, e Lena o enxugava com delicadeza.

— Eu tô aqui. Sempre.

— Eu… tô com medo, Lena… — A voz de Kara quebrou.

— Eu também. — Lena beijou-lhe a testa. — Mas medo não significa fraqueza. A gente vai atravessar isso juntas.

A contração seguinte foi quase insuportável.

Kara gritou — um som que ecoou pela sala, grave, primal.
As partículas douradas no ar explodiram como fogos silenciosos, e as paredes tremeram.

— Elas estão coroando! — anunciou Sam. — Força, Kara!

Kara fechou os olhos e empurrou, sentindo cada músculo do corpo trabalhar ao limite.

O som abafado de um choro suave preencheu a sala.

— Primeira! — disse Sam, erguendo um pequeno corpo envolto em luz dourada.

Kara abriu os olhos e viu o rosto minúsculo de sua filha. Pele pálida como a de Lena, cabelos loiros cacheados como os dela mesma, e… olhos verdes intensos. Tão verdes que parecia que guardavam um pedaço da própria Lena.

— Liv… — sussurrou Kara, chorando.

Mas não havia tempo para descanso. Outra contração veio, ainda mais forte.

Ela apertou as mãos de Lena e Alex ao mesmo tempo, o corpo arqueando com a força da magia.

— Vem, Maddie… — Lena murmurou, como se chamasse a menina para o mundo.

E então, mais um choro. Mais suave, mais melódico.

A segunda bebê, idêntica à primeira, mas com um cacho rebelde caindo sobre a testa.

Kara chorava abertamente agora.

— Minhas meninas…

Lena pegou Liv, Alex pegou Maddie, e ambas se inclinaram para mostrar as pequenas a Kara.

— Elas são perfeitas — Lena disse, a voz embargada.

Kara tocou os rostinhos delicados.

— Elas têm seus olhos… — murmurou para Lena. — E seu coração.

O momento parecia eterno.

O quarto estava cheio de calor, amor e a respiração suave de duas novas vidas.

Mas o destino não deixaria durar.

Um estalo metálico ecoou pelo corredor.

Antes que qualquer um pudesse reagir, a porta explodiu com uma nuvem densa e acinzentada.

— GÁS DO SONO! — gritou Alex, cobrindo o rosto com o braço.

Era tarde demais. O gás era pesado, enjoativo, e em segundos os superamigos começaram a cair um a um.

Kara tentou erguer as meninas para protegê-las, mas o corpo pesado e fraco do parto não respondia.

Através da fumaça, uma silhueta surgiu. Alta, elegante, implacável.

— Mamãe? — sussurrou Lena, tonta, reconhecendo a postura.

Lilian Luthor.

O sorriso dela era frio.

— Parece que cheguei bem na hora.

Com uma rapidez assustadora, Lilian puxou duas cápsulas de contenção e colocou Liv e Maddie dentro, protegendo-as do gás.

Depois, virou-se para Kara, que tentava se arrastar na maca.

— Você não vai tocar nelas! — a voz de Kara era rouca, mas carregava fúria.

— Ah, vou sim. — Lilian segurou Kara pelo braço com força. — Você vem comigo.

A última coisa que Kara viu antes de perder a consciência foi Lena caindo no chão, o olhar desesperado, tentando se arrastar em sua direção.

E então, escuridão.

---

G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟Where stories live. Discover now