Naquela manhã, algo diferente pairava no ar do apartamento de Kara.
Não era só o cheiro de waffles que Brainy preparava com precisão matemática, nem a trilha sonora suave que Nia projetava com sons de baleias interdimensionais para manter as gêmeas relaxadas. Era outra coisa.
Era paz. Ou quase isso.
Kara acordou sorrindo.
O tipo de sorriso que não vinha de um sonho — mas da memória real de um beijo. Do beijo. O primeiro, depois de tantos quase, tantas pausas forçadas, tantos olhares perdidos que pediam coragem.
Lena ainda dormia ao lado, os cabelos soltos espalhados pelo travesseiro, uma das mãos repousando com carinho sobre a curva da barriga de Kara, como se a segurasse até mesmo no sono.
Kara observou aquela cena como se fosse um milagre silencioso.
E então sussurrou:
— Bom dia, estrelas.
As gêmeas chutaram em resposta.
**
Na cozinha, o caos organizava-se em torno do café da manhã.
Brainy testava uma nova fórmula de vitaminas através dos waffles. Alex tentava impedir que Andrea transformasse aquilo numa coletiva de imprensa. Sam discutia com Nia sobre se bebês mágicos poderiam ou não alterar o clima local. E J’onn… J’onn apenas bebia seu café em silêncio, como um guerreiro cansado observando um campo de batalha com amor resignado.
— Então elas realmente se beijaram? — perguntou Nia, sussurrando.
— Beijaram. — confirmou Alex, mexendo o leite. — E não foi um selinho. Foi tipo… beijo de final de temporada.
— Aleluia. — murmurou Sam, batendo palmas baixinho.
— A energia no apartamento mudou. — disse Brainy, consultando seu tablet. — Os níveis de radiação mágica-vibracional estabilizaram. O campo emocional das bebês diminuiu em 63%.
— Então o que você está dizendo é… — J’onn levantou uma sobrancelha. — Que o beijo resolveu o caos?
— Não resolveu — disse Alex, olhando para a porta do quarto. — Mas deu esperança. E isso, com essas duas… já é muita coisa.
**
No quarto, Lena acordava com os cabelos bagunçados e o rosto meio amassado pelo travesseiro.
Kara estava sentada na beirada da cama, penteando o cabelo com calma. E sorria.
— Você tá me encarando. — murmurou Lena, ainda sonolenta.
— Você ronca. — provocou Kara.
— Eu não ronco. Eu respiro com intensidade emocional.
Kara riu e se virou, puxando Lena pela mão.
— Vem. Os Superamigos sabem.
— Que eu ronco?
— Que você me beijou.
Lena arregalou os olhos.
— Isso parece uma acusação.
— E é. Agora eles querem ver com os próprios olhos que a tensão romântica foi resolvida.
Lena escondeu o rosto nas mãos.
— Não acredito que esse é meu novo normal. Beijei a Supergirl e agora preciso enfrentar um café da manhã com seis testemunhas emocionais e duas semi-deusas mágicas dentro de você.
— Você também me ama por isso. — provocou Kara, beijando-lhe a testa.
**
O café da manhã foi tudo, menos silencioso.
— Ah, então foi assim? — disse Andrea, empolgada. — A varanda, a lua, um toque suave e boom, o beijo aconteceu?
— Foi exatamente assim. — confirmou Alex, servindo café para Lena como se ela fosse uma heroína de guerra. — Eu ouvi da sala.
— Kara estava flutuando depois? — perguntou Nia, fascinada. — Tipo… literalmente?
— Ela só flutua quando tá irritada. — disse Brainy, sem tirar os olhos do tablet. — Ou quando come bacon com chantilly.
— Eu tava flutuando por dentro. — corrigiu Kara, sorrindo com carinho.
Lena tentava comer em silêncio, mas o rubor nas bochechas a denunciava. Até J’onn, que raramente se envolvia em fofocas, comentou:
— O campo vibracional da casa está mais… suave. Isso é bom. As meninas estão mais serenas.
— Elas ainda chutam como se tivessem treinando kung fu, mas agora… é um kung fu feliz. — completou Kara.
E então, como se quisessem participar da conversa, as luzes piscaram.
O celular de Alex tocou sem ninguém ligar. A chaleira explodiu em glitter roxo. Brainy levou um choque leve da própria colher.
— Ai, não. — murmurou Sam.
— Senti isso. — disse Nia, com os olhos arregalando. — Alguém tá muito… muito animada.
Kara arqueou a sobrancelha.
— Acho que elas estão felizes.
— Felizes e descontroladas. — corrigiu Brainy. — Isso foi uma rajada de energia mágica pura canalizada pelos batimentos das bebês.
— Isso é bom ou ruim? — perguntou Lena, pegando a mão de Kara sob a mesa.
— Bom. — disse Alex. — Pelo menos elas não estão levitando a geladeira de novo.
Do corredor, o som de “craaaaack!”
— Retiro o que disse. — suspirou Alex, já se levantando.
**
Depois de conter os danos (a geladeira ficou de ponta-cabeça por 14 segundos), todos começaram a se despedir para dar espaço ao casal e às bebês.
— Me chamem quando elas nascerem. Quero ser a fada madrinha mágica. — disse Nia, saindo com um aceno dramático.
— Vou instalar sensores para monitorar as contrações de forma não invasiva. — anunciou Brainy, empolgado.
— Não invasiva, Brainy! — gritou Kara. — Sem colocar um chip em mim de novo!
— Foi um erro estatístico! — ele respondeu, já desaparecendo com seus aparelhos.
Alex, por fim, abraçou as duas.
— Vocês se encontraram de novo. Agora, só não soltem.
— A gente não vai. — prometeu Kara.
Lena apenas assentiu. As mãos entrelaçadas com as de Kara diziam mais do que mil palavras.
**
Na varanda, quando o silêncio voltou, Lena se apoiou no parapeito e olhou para a cidade.
— Você acha que… a gente consegue mesmo?
Kara se aproximou por trás e a abraçou, colando o corpo ao dela.
— Eu já enfrentei monstros, meteoros, vilões temporais… mas a coisa mais difícil que eu já fiz foi ficar longe de você.
Lena virou-se, os olhos marejando.
— Você me assusta. Porque quando eu tô com você, tudo o resto some.
— É porque tudo o resto não importa. — disse Kara. — Só nós. E elas.
A mão da heroína repousou sobre a barriga. Um chute suave veio como resposta.
— Viu? Elas concordam. — sorriu Kara.
— Elas vão ser tão… incríveis. — sussurrou Lena, tocando o ventre.
— Metade Luthor, metade Danvers. — disse Kara. — Um caos com glitter e ciência.
— Isso define bem a nossa família.
Elas riram. E ali, entre o vento da manhã e o brilho dourado do sol, Lena se inclinou outra vez, e beijou Kara com a certeza de quem, enfim, encontrara sua constelação.
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G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟
FanfictionEm um dia marcado por sintomas inexplicáveis e uma fome insaciável, Kara Zor-El descobre que está grávida, gerando uma onda de choque em sua irmã mais velha, Alex Danvers. Enquanto Alex tenta lidar com a revelação, a possibilidade de que o pai da cr...
