𝐗𝐗

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Quando Kara recobrou a consciência, não viu paredes de pedra fria ou grades.

O quarto em que estava era surpreendentemente luxuoso — amplo, iluminado por grandes janelas que deixavam entrar a luz suave da manhã. Cortinas pesadas de veludo bordô caíam até o chão polido, tapetes persas amorteciam o som de seus passos, e móveis de madeira escura, antigos, estavam dispostos com cuidado.

Havia um berço duplo de madeira entalhada, com colchas brancas e almofadas macias. Ao lado, uma poltrona larga e confortável, mesas com frascos de vidro e jarros de água. Roupinhas novas, cuidadosamente dobradas, estavam sobre uma cômoda. Tudo ali parecia preparado para que ela e as meninas vivessem… não apenas por alguns dias, mas por muito tempo.

O cheiro de lavanda impregnava o ar.

Era bonito, confortável… e sufocante.

Kara se mexeu na cama, mas sentiu a leve pressão das correntes nos tornozelos. Não eram pesadas, mas estavam presas a suportes embutidos no chão. Gravadas com runas, drenavam qualquer fagulha de sua força kryptoniana.

Um som familiar fez seu coração bater mais rápido.

Chorinho.

Suave e sincronizado.

Ela se virou para o berço.

Liv e Maddie estavam lá, perfeitamente limpas e enroladas em mantas de algodão fino. Olhos verdes intensos piscavam para ela, a pele pálida e macia contrastando com os cachos dourados que já se enrolavam delicadamente.

Kara estendeu as mãos, mas antes que pudesse alcançá-las, uma voz veio da porta:

— Elas estão bem alimentadas, aquecidas e seguras. Tudo o que precisam… está aqui.

Lilian Luthor entrou com passos firmes, usando roupas elegantes, mas simples o suficiente para aquele ambiente rural. Na mão, carregava uma bandeja com chá e frutas frescas.

— Onde estamos? — a voz de Kara saiu baixa, mas carregada de firmeza.

— Em casa. Pelo menos… no que será a sua casa pelos próximos anos. — Lilian pousou a bandeja sobre a mesa e caminhou até o berço, olhando para as meninas como se examinasse uma obra-prima. — Aqui não há satélites, não há celulares, não há DOE. Apenas terra, campo e silêncio. É o ambiente perfeito para criá-las.

Kara a fitou com raiva.

— Você acha mesmo que pode me manter aqui? Mesmo assim… debilitada, eu consigo fugir com elas.

Um sorriso irônico curvou os lábios de Lilian.

— Oh, Kara… você pode tentar. Mas cada segundo que passa, seu corpo ainda se recupera do parto. E, mesmo que conseguisse correr, para onde iria? Elas precisam de cuidados, de estabilidade… e você sabe que eu posso fornecer isso melhor do que qualquer um.

— Você não sabe nada sobre cuidar delas. — Kara se ergueu o quanto pôde, ignorando a dor. — Elas não são suas.

Lilian riu, mas não de deboche — era um riso de quem acredita no que diz.

— Não? Olhe para elas. Têm meu sangue, meu sobrenome. Liv Luthor. Maddie Luthor. Você realmente acredita que podem escapar do legado que carregam?

— Elas não vão seguir o seu caminho. — Kara manteve o olhar fixo, mesmo com o coração acelerado. — Eu não vou deixar.

Lilian se aproximou, até ficar a poucos passos da cama.

— Não se trata de deixar ou não, Kara. É inevitável. E eu estarei aqui, ao lado delas… e de você. Vamos morar juntas, criar essas crianças juntas, e moldá-las para o que está por vir.

Kara sentiu o peso daquelas palavras como se fossem correntes ainda mais pesadas que as de seus pés.

— Eu vou encontrar um jeito de sair daqui… e de tirá-las de perto de você.

Lilian sorriu de leve.

— Eu admiro a sua determinação. Vai ser útil… quando chegar a hora de treiná-las.

Ela se virou e saiu, fechando a porta com um clique suave.
O silêncio voltou, mas agora era carregado de promessas e ameaças.

Kara puxou as correntes mais uma vez, em vão. Então se arrastou até o berço, tocando as mãos minúsculas das filhas.

— Eu juro, meninas… eu vou tirar vocês daqui.

E naquele quarto luxuoso, que mais parecia uma prisão dourada, Kara começou a planejar.

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G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟Where stories live. Discover now