𝐈𝐗

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A noite caiu como um cobertor cansado sobre National City.

O apartamento de Kara, agora mais parecido com uma mini UTI mágica intergaláctica, ainda tinha vestígios do caos do dia: restos de glitter grudado nas cortinas, frascos de suco alienígena vazios e uma mancha de chantilly no teto que ninguém conseguia explicar.

No quarto, no entanto, tudo estava silencioso. Quase.

Kara dormia de lado, um braço enroscado no travesseiro e outro repousando sobre a barriga que parecia mais ativa do que nunca. Dentro dela, as gêmeas pareciam participar de uma festa mística de fim de semestre.

Lena, sentada na beira da cama com uma caneca de chá e uma expressão indecifrável, observava a cena.

— Boa noite, terroristas cósmicas — sussurrou, inclinando-se levemente sobre a barriga de Kara. — Eu sei que vocês não têm culpa por serem uma junção explosiva de magia, sol amarelo e hormônios… Mas, por favor, deixem sua mãe dormir.

Um chute delicado respondeu.

Lena riu baixinho, os dedos deslizando sobre a pele da barriga como quem afaga um segredo.

— Eu não sou muito boa com isso, sabem? Amor. Cuidado. Ficar.
Fez uma pausa e suspirou.
— Mas eu estou tentando. Por ela. Por vocês.

Mais um movimento. E dessa vez… um calor suave. Uma energia mágica que se espalhou pela mão de Lena, como se as meninas estivessem dizendo: a gente sabe.

Ela fechou os olhos por um segundo, tentando não chorar.

— Obrigada por me perdoarem antes mesmo de nascer.

Kara se mexeu levemente, os cílios tremendo, os lábios formando um sorriso adormecido. Lena se aproximou, seu rosto agora a centímetros do dela.

O momento pairou no ar. Quente. Intenso. Quase sagrado.

Lena inclinou-se.

Kara abriu os olhos lentamente, como se já soubesse.

— Lena… — ela sussurrou, os lábios roçando os dela.

Mas antes que o beijo acontecesse…

— TÔ SENTINDO UM CHEIRO DE AMOR AQUI E EU NÃO AUTORIZEI! — gritou Nia, escancarando a porta com um cobertor do Batman e um travesseiro de arco-íris debaixo do braço. — Dormir com a grávida agora é minha vez!

Kara arregalou os olhos. Lena piscou. O silêncio durou meio segundo.

— Nia? — Lena disse, incrédula. — Você tá de pijama de unicórnio?

— E com direitos garantidos! — Nia apontou para um papel assinado por Alex com caneta invisível. — Rotina noturna supervisionada. Um turno por noite. Eu trouxe playlist de meditação e um spray de lavanda astral.

— Eu… — Lena começou, mas não conseguiu terminar, pois Kara já estava rindo tanto que teve que se apoiar no travesseiro.

— Sinto muito, Lena. Liv e Maddie aprovaram. Você tá oficialmente expulsa hoje.

E foi assim que Lena Luthor, CEO bilionária, herdeira da família mais infame da galáxia, foi gentilmente empurrada da cama por uma repórter de pijama que cheirava a chá de camomila místico.

**

Na sala, Lena se acomodou no sofá com um cobertor fino demais, um travesseiro desconfortável e a dignidade ferida.

— Eu tava a um centímetro. Um centímetro.

Do outro lado do cômodo, Alex roncava sentada numa cadeira com uma máscara de dormir da Mulher-Maravilha. Brainy flutuava em meditação perto do teto. Sam e Andrea dividiam uma poltrona com cara de que iam brigar por espaço a qualquer momento.

E então, às 3h17 da madrugada… Nia apareceu de novo.

— Lena… — sussurrou, ajoelhando-se ao lado do sofá como um fantasma dramático. — Kara tá com desejo de pizza doce com frutos do mar.

Lena arregalou os olhos.

— O quê?!

— Doce. Com frutos do mar. Tipo… sorvete de flocos com camarão.

— Isso é um crime, Nia. Nem em Apokolips isso seria aceito.

— Kara tá chorando. As gêmeas também. Literalmente brilharam de indignação quando eu tentei dar banana com leite condensado.

Lena já estava pegando o casaco.

— Ok. Me dá cinco minutos e um balde pra vomitar no caminho.

**

Às 4h10, Lena voltou com duas pizzas customizadas, uma cara de nojo e o número do entregador salvo como “corajoso”.

Kara estava sentada na cama com os olhos arregalados, parecendo um duende faminto.

— Você conseguiu?! — exclamou ela.

— Eu também mereço um beijo, no mínimo — murmurou Lena, entregando a caixa.

Kara abriu a tampa. O cheiro de camarão com chocolate branco invadiu o ambiente.

Nia quase desmaiou.

Lena olhou em volta. Alex agora dormia no chão com Kelly de cobertor compartilhado. Sam ressonava num canto. Brainy continuava flutuando. E Nia se encolhia num puff, balançando lentamente como se tivesse testemunhado algo traumático.

Kara deu a primeira mordida e gemeu de prazer.

— Isso. Isso. É isso.

Lena se sentou ao seu lado e riu.

— Isso é a descrição de um pesadelo, mas tudo bem.

As meninas chutaram, suaves, satisfeitas.

Lena pousou a mão na barriga de novo, deitando a cabeça no ombro de Kara.

Mesmo com meia dúzia de amigos dormindo em posições estranhas, glitter na parede, e uma pizza que violava os direitos da humanidade… aquele era o lugar mais certo onde já esteve.

E por um instante, só um… ela não sentiu falta do beijo interrompido.

Porque amar Kara Danvers, afinal… era também sobreviver a Nia Nal, glitter mágico e frutos do mar doces às 3h da manhã.

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G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟Where stories live. Discover now