O amanhecer surgiu tímido em National City, filtrando seus primeiros raios pelas janelas do apartamento de Kara. A luz dourada se derramava como um lençol sobre os móveis, acariciando os corpos adormecidos na cama. Kara repousava encolhida sob o cobertor, os cabelos espalhados pelo travesseiro como uma coroa desalinhada. Ao seu lado, Lena ainda mantinha a mesma posição contida da noite anterior, embora os olhos estivessem abertos há algum tempo.
Ela não ousava se mover. Cada segundo ao lado de Kara era uma dádiva roubada, frágil demais para ser perturbada. Ainda havia distância entre seus corpos, mas o calor da mão de Kara entrelaçada na sua falava mais alto que qualquer palavra. Era um pedido mudo para que não a deixasse. Um lembrete de que ainda havia algo ali, mesmo que quebrado.
O som suave de um suspiro escapou dos lábios de Kara, que se remexeu levemente. Os olhos se abriram devagar, revelando um azul cansado, mas menos sombrio. Quando viu Lena ali, ainda presente, ainda real, seu olhar se suavizou.
— Você ficou… — sussurrou, como quem teme que fosse um sonho.
— Eu prometi, lembra? — Lena respondeu, a voz baixa, como uma prece. — Um passo de cada vez.
O silêncio voltou a se instalar, mas dessa vez era confortável. Como um cobertor antigo, puído nos cantos, mas ainda aquecendo.
Mais tarde naquele mesmo dia, Kara parecia inquieta. O humor oscilava em ondas súbitas — risos rápidos, silêncios densos, olhares distantes. Os hormônios estavam dançando em seu corpo com fúria, desafiando sua lógica kriptoniana, fazendo seu peito vibrar com emoções que ela mal sabia nomear. Às vezes, apenas o tom da voz de Lena bastava para deixá-la tensa. Em outras, bastava Lena desviar o olhar para que Kara sentisse um aperto no peito, um medo inexplicável de ser rejeitada de novo.
E quando Lena, sem perceber, respondeu uma pergunta de forma mais seca do que o normal, o mundo desabou.
— Você… tá brava comigo? — Kara perguntou, com a voz trêmula, as mãos sobre a barriga como se já tentasse proteger as filhas de qualquer conflito.
Lena, surpresa, virou-se depressa.
— O quê? Kara, claro que não. Eu só estava concentrada, não percebi…
Mas não adiantou. Kara já chorava. Lágrimas silenciosas, descontroladas, escorrendo sem filtro. Um choro que vinha não da razão, mas do fundo de um coração vulnerável demais, cansado demais.
— Me desculpa… eu só… eu não quero que você vá embora de novo.
O pedido implícito doeu mais em Lena do que qualquer acusação poderia doer.
Ela se aproximou devagar, se ajoelhando à frente de Kara no tapete da sala, e segurou seu rosto com as duas mãos, gentilmente.
— Eu não vou, Kara. Não mais. Não importa se você gritar, se me odiar, se duvidar de mim. Eu vou ficar. Com você. Com elas. Com tudo que vem junto.
Os olhos de Kara brilharam ainda mais, e ela apenas se jogou nos braços de Lena, abraçando-a como se fosse o único refúgio seguro em um mundo desmoronando.
Foi assim que Alex as encontrou pouco depois — em um abraço apertado no meio da sala, as emoções à flor da pele, os rostos úmidos, mas com uma delicada sensação de pertencimento começando a se infiltrar entre as rachaduras.
Alex não disse nada. Apenas sorriu e entrou com uma sacola enorme.
— Eu espero que tenham espaço, porque os Superamigos trouxeram uma tempestade de presentes.
Kara piscou, confusa, e olhou em volta. Só então percebeu o som de passos no corredor, risadas abafadas e sussurros animados. E então, um a um, eles apareceram: Nia, Brainy, Kelly, até J’onn, todos segurando embrulhos coloridos, bichinhos de pelúcia, roupinhas e até mantas feitas à mão.
— Surpresa! — disse Nia, se aproximando com um enorme urso de pelúcia lilás. — Para as meninas mais corajosas de National City — e para a mãe mais forte que eu conheço.
Kara levou a mão à boca, com os olhos cheios de lágrimas outra vez. Mas, dessa vez, eram lágrimas doces.
A sala se encheu de risos, afeto e cuidado. Kelly e Alex arrumaram um cantinho para colocar os presentes. J’onn, com sua habitual calma, trouxe um pequeno escudo com o símbolo da Casa de El em miniatura, gravado em cristal kryptoniano puro.
— Vai protegê-las, onde quer que estejam — ele disse, com solenidade.
Enquanto todos se divertiam, Kara andava sempre próxima de Lena, colada como se temesse que ela sumisse de novo. Cada vez que Lena se afastava — para buscar um copo d’água ou pegar uma manta — Kara a seguia com os olhos, e às vezes até se levantava, fingindo que precisava de algo apenas para ficar por perto.
Lena notou. E não disse nada.
Em certo momento, Kara encostou no batente da porta do quarto, vendo Lena falar com Alex. Os olhos da loira estavam brilhando, e havia um nó de insegurança em sua garganta.
— Você ainda… ainda quer estar aqui, mesmo com tudo isso? — perguntou, baixinho.
Lena se virou, e viu a verdadeira pergunta ali, por trás das palavras: "Você ainda me ama, mesmo com o que sobrou de mim?"
Ela se aproximou, silenciosa, e apenas respondeu com um beijo na testa. Doce. Longo. Quente.
— Eu nunca quis outra coisa.
Naquela noite, com todos já tendo ido embora, e a sala agora cheia de fraldas, babadores, naninhas e sapatinhos, Lena viu Kara sentada no chão, olhando tudo como se ainda não acreditasse que aquilo tudo fosse real.
Ela se aproximou, se sentou ao lado, e tocou levemente a barriga de Kara, agora um pouco mais arredondada.
— Você não vai mais precisar ser forte sozinha. Nem por elas, nem por mim.
Kara virou o rosto devagar, e, sem aviso, sussurrou:
— Eu tenho medo de acordar um dia e tudo isso ter sumido. Que tenha sido um sonho, ou uma alucinação.
— Então eu vou fazer questão de te lembrar, todos os dias, que é real — respondeu Lena, olhando-a nos olhos. — Que eu tô aqui. Que nós estamos aqui.
E naquele momento, quando Kara se deitou no sofá e Lena se ajeitou atrás dela, envolvendo-a com cuidado, a loira fechou os olhos e soltou um suspiro de alívio.
Ali, envolta por aquele calor, pelos batimentos de outra pessoa no compasso do seu, ela dormiu. Pela primeira vez em muito tempo, sem medo.
Porque, mesmo com as cicatrizes, o caos e a dor, havia uma promessa que começava a se cumprir:
Elas não estavam mais sozinhas.
E talvez, apenas talvez, o amor fosse suficiente para reconstruir tudo.
KAMU SEDANG MEMBACA
G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟
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