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𝙰𝚟𝚒𝚜𝚘: 𝚗𝚊̃𝚘 𝚜𝚎𝚒 𝚜𝚎 𝚎𝚜𝚝𝚊́ 𝚋𝚘𝚖, 𝚖𝚊𝚜 𝚚𝚞𝚎𝚛𝚒𝚊 𝚙𝚘𝚜𝚝𝚊𝚛 𝚞𝚖𝚊 𝚏𝚒𝚌 𝚜𝚞𝚙𝚎𝚛𝚌𝚘𝚛𝚙/𝚔𝚊𝚛𝚕𝚎𝚗𝚊, 𝚜𝚎𝚛𝚊́ 𝚋𝚎𝚖 𝚝𝚎𝚗𝚜𝚊 𝚎 𝚒𝚗𝚝𝚎𝚗𝚜𝚊. 𝙹𝚊́ 𝚊𝚟𝚒𝚜𝚘 𝚙𝚊𝚛𝚊 𝚗𝚊̃𝚘 𝚌𝚑𝚘𝚛𝚊𝚛𝚎𝚖.

𝙴 𝚝𝚎𝚗𝚑𝚊𝚖 𝚙𝚊𝚌𝚒𝚎̂𝚗𝚌𝚒𝚊 𝚌𝚘𝚖 𝚊 𝙺𝚊𝚛𝚊.

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A chuva caía fina sobre National City, tingindo os telhados e vitrines com uma melancolia que refletia perfeitamente o que se passava no coração de Kara Danvers.

Ela não voava há dias.

Desde aquela discussão. Desde aquelas palavras.

“Você mentiu pra mim esse tempo todo… Eu nunca significo o suficiente, não é? Você sempre escolhe esconder tudo de mim. Eu fui só mais um experimento no seu jogo de humanidade?”

Lena Luthor cuspira cada sílaba com a precisão de uma lâmina fria, e Kara sentiu cada uma cravar fundo demais. Não houve espaço para explicações, para defesas, para o amor que ainda tremia nos cantos não ditos entre elas. Apenas silêncio. Um silêncio que gritou tão alto dentro de Kara que ela se recolheu, se afundou no manto da Supergirl e desapareceu — de todos, até dela mesma.

Mas Kara não tinha ideia do quanto a ausência deixaria tudo pior.

Porque Lilian Luthor estava à espreita.

Foi rápida. Meticulosa. Kara fora capturada sem deixar vestígios. Um chamado falso de socorro em um beco escuro, um gás criptoniano modificado… e depois, o vazio.
O vazio e o frio.

Kara acordou nua, atada em cintas reforçadas de chumbo, sentindo o metal ferver contra sua pele vulnerável. O lugar era gélido, clínico, impessoal. As luzes fortes do teto ofuscavam seus olhos. Um zumbido constante a deixava enjoada.

E então Lilian apareceu, impecável em um jaleco branco, o mesmo olhar clínico de sempre, mas com algo ainda mais perverso por trás da voz doce.

— Vamos fazer história, Supergirl. Você sempre quis entender a humanidade. Hoje, você vai gerá-la.
O coração de Kara parou.

Ela se debateu, gritou, suplicou. Chorou como uma criança perdida. Mas ninguém respondeu. Os sensores não escutavam súplicas. As agulhas não paravam por lágrimas.
Ela foi inseminada com algo que não compreendia. Lilian falava de ciência avançada, de código genético e “conexões puras”. Kara só ouvia o zumbido. Só sentia dor. Vômito. Nojo. Um vazio se alojando entre seus ossos e enterrando sua alma.

Horas? Dias? Kara perdeu a noção. Tudo que restava era a náusea crescente e a sensação de que algo dentro dela estava errado. Profundamente errado.

Enquanto isso, Alex Danvers não dormia há dois dias.
A irmã havia desaparecido do radar, o comunicador não respondia, e nem mesmo as torres de calor da cidade a localizavam. Era como se Kara tivesse evaporado da face da Terra.

Alex tentou disfarçar diante dos outros, fingindo calma para o time do DOE. Mas sozinha, seu corpo tremia. Ela se culpava. Devia ter percebido que algo não estava bem depois daquela briga com Lena. Que o sorriso da irmã estava quebrado demais. Mas como prever que alguém sequestraria uma kryptoniana?

No terceiro dia, ela foi até Lena.

Invadiu o L-Corp com os olhos em chamas e o desespero em cada passo.

— Eu preciso da sua ajuda. A Kara sumiu.

Lena levantou os olhos, e a expressão que ela tentou esconder não enganou Alex. Aquilo a atingira também. Talvez mais do que Lena estivesse disposta a admitir. Mas não hesitou. Não pediu desculpas. Apenas se levantou, pegou o tablet e disse com firmeza:

— Me mostre tudo. Vamos encontrá-la.

No quinto dia, o DOE rastreou um pulso de energia incomum em uma instalação abandonada nos arredores de Midvale.
Chegaram tarde.

Muito tarde.

O prédio estava em ruínas por dentro, mas um sistema subterrâneo escondia o que restava do laboratório de Lilian. E lá, em uma cela circular cercada por câmeras e sensores, estava Kara.

Deitada. Fraca. Com os olhos abertos e fixos em nada.
Ela não reagiu ao chamado de Alex, nem ao barulho dos agentes arrombando portas. Apenas piscou, como se o mundo ao redor fosse um borrão distante. Lena estava entre eles, arfando, mãos trêmulas, mas paralisada ao ver aquela imagem.

Kara, a mulher que desafiava deuses e caía de céus flamejantes… agora mal conseguia manter a cabeça erguida.

— Kara… sou eu — Alex sussurrou, ajoelhando-se ao lado dela. — Eu tô aqui. Você tá segura agora, tá bom? Eu te achei…

A kryptoniana apenas virou levemente o rosto. Pela primeira vez em dias, seus olhos marejaram.

— Me Leva… pra casa, Alex… — a voz era rouca, partida. — Por favor…

Não disse mais nada.

Ela não viu Lena. Ou fingiu não ver. Não reconheceu as mãos estendidas, os olhos verdes implorando por um sinal. Ela só deixou que Alex a envolvesse nos braços e a carregasse dali.

Lena tentou se aproximar, mas Alex a deteve com um simples olhar.

— Depois. Ela… ela não consegue nem existir agora. Dá tempo pra ela. A gente vai entender o que sua mãe fez com ela… mas não aqui. Não hoje.

Lena apenas assentiu. Em silêncio. Engolindo a culpa, o medo e a raiva de si mesma por ter demorado demais. Por ter contribuído com aquilo, mesmo sem saber.

Ela observou Alex colocar Kara no banco traseiro do carro, cobrindo-a com um cobertor, enquanto a kryptoniana encarava o próprio reflexo no vidro — como se estivesse vendo outra pessoa ali.

E talvez estivesse mesmo.

Porque naquele momento, algo dentro de Kara Danvers havia morrido.

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G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟Where stories live. Discover now