𝐗𝐈

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O caos começou antes mesmo de Eliza colocar os pés no apartamento.

Alex havia avisado que o voo da mãe chegaria mais cedo. Isso, por si só, já causaria pânico suficiente. Mas o problema real foi que Lena, em sua tentativa desesperada de parecer uma pessoa minimamente funcional e confiável, havia decidido… cozinhar.

Sim. Cozinhar.

— Você sabe que sua presença já seria suficiente, né? — disse Alex, observando Lena lutar com um molho que ameaçava ferver em todas as direções ao mesmo tempo. — Não precisa tentar virar a Julia Child do nada.

— Eu não tô tentando impressionar! — rebateu Lena, jogando uma colher na pia. — Eu só quero… que ela me aceite. Que ela veja que eu me importo. Que eu não sou... Lilian.

Alex se calou. O nome caiu entre as duas como um raio silencioso.

— Você não é — disse enfim, com a voz firme. — E Eliza vai ver isso.

Mas o olhar perdido de Lena dizia que ela não tinha tanta certeza.

**

No DOE, Kara ainda flutuava no centro do jardim sensorial, cercada por flores alienígenas que cantavam “lullabies” em frequência interdimensional. Brainy analisava seus níveis energéticos com a concentração de um cientista obcecado e o entusiasmo de um treinador de yoga zen.

— Respire, Kara. Conecte-se às meninas. Sinta a vibração nos seus pulmões.

— Eu tô sentindo a vibração é na bexiga, Brainy. Se essa meditação durar mais cinco minutos, vou flutuar direto pro banheiro.

Ele levantou os olhos devagar, como quem ouve uma heresia cósmica.

— Kara, seu campo eletromagnético precisa de equilíbrio. E a urina é parte disso. Fluxos naturais, entende?

— Você fala isso porque não tá grávido de duas alienígenas com poderes mágicos que chutam como mini-martelos.

Apesar do mau humor, Kara estava mais calma. As meninas pareciam estar num raro estado de paz, talvez satisfeitas com a meditação ou apenas exaustas do último ataque de glitter pelas janelas.

Mas o que ocupava seus pensamentos não era só a sensação da barriga se movendo levemente, como ondas suaves num mar quente. Era Lena.

O toque da mão dela naquela manhã. O quase beijo. O jeito como ela dizia "você tá linda" com aquela voz baixa, como se confessasse um segredo.

Ela sabia que precisava dizer. Mostrar. Contar que seu coração ainda batia, sem pressa, por aquela mulher que nunca desistira dela. E que agora era muito mais que só uma Luthor.

**

De volta ao apartamento, Lena estava numa guerra contra o tempo, o molho e suas próprias emoções.

— Isso tá horrível, eu tô horrível, tudo tá horrível! — gritou da cozinha.

Alex apareceu na porta, de braços cruzados, divertida.

— Olha, se você quiser causar boa impressão, talvez começar um incêndio doméstico não seja o caminho mais eficiente.

— Cala a boca, Alexandra. Eu tô tentando manter o controle.

— Você tá literalmente falando com a panela.

Lena girou para encará-la, os cabelos soltos, o avental amassado, um respingo de molho no queixo.

— Eu vou ser sincera — disse Alex, segurando o riso. — Você parece mais nervosa agora do que quando Kara estava flutuando, chorando e gritando por cebola caramelizada com bacon vegano e chantilly.

G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟Kde žijí příběhy. Začni objevovat