𝐈𝐕

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𝘢𝘷𝘪𝘴𝘰; 𝘦𝘶 𝘤𝘰𝘯𝘵𝘪𝘯𝘶𝘰 𝘰𝘶 𝘯𝘢̃𝘰? 🤔

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Lena não sabia por onde começar.

Sentadas lado a lado na cama, havia um abismo de palavras entre elas, como se tudo o que tivessem vivido até então estivesse prestes a ruir ou a se reconstruir, dependendo da próxima frase. Kara mantinha os olhos fixos em suas mãos entrelaçadas sobre o ventre, que ainda mal mostrava sinais de gravidez, mas já pesava como uma âncora em seu peito.

— Eu… — Lena começou, com a voz falha. — Eu comecei a desconfiar depois dos resultados iniciais do seu exame. Não fazia sentido. Nem biologicamente, nem cientificamente. Eu refiz todos os testes. Fiz novas amostras. Repeti até ter certeza.

Ela parou, como se reviver o processo já fosse doloroso o bastante.

— Quando eu vi meu DNA… pela primeira vez… eu quase vomitei. Porque entendi o que isso significava. Não só que você foi usada, Kara… mas que eu também fui. E, pior: que fui uma arma contra você.

Kara virou o rosto devagar, encarando Lena com olhos marejados, mas firmes.

— Foi a Lilian, não foi?

Lena assentiu, devagar.

— Ela… ela me roubou, Kara. Não só o sangue. Meus traumas, meu ódio por você, por tudo que senti na época da nossa… ruptura. Ela se alimentou disso. Usou meu perfil genético, meu histórico de compatibilidade com seu corpo… Ela fez algo que nem eu achava possível. Fez você engravidar com um DNA híbrido nosso.

Kara fechou os olhos, sentindo o estômago revirar — de enjoo, raiva, decepção e medo. Sentiu o calor das lágrimas correr pelas têmporas, e uma pequena parte dentro dela se culpou por não conseguir odiar Lena completamente.

— Eu me lembro de flashes, Lena — sussurrou, fraca. — Dor. Escuridão. Uma voz… feminina. Fria. Eu tentei resistir, mas eu estava fraca demais.

Lena levou a mão ao próprio peito, como se tentasse segurar o coração que se despedaçava em pedaços lentos.

— Eu deixei isso acontecer sem perceber. Estava tão cega pelo orgulho, pela mágoa, que nem vi o que minha mãe estava fazendo. Eu… eu devia ter protegido você.

Kara inspirou profundamente, depois soltou o ar com um tremor nos lábios.

— Eu não sei como seguir em frente, Lena. Eu me sinto suja. Violada. E… às vezes, eu tenho vontade de arrancar isso de dentro de mim — ela pousou uma mão sobre a barriga — mas depois… depois me odeio por pensar isso. Porque... eu também sinto algo por esse bebê. Sinto medo de perdê-lo. Sinto que, de algum modo estranho e doentio, ele é uma parte de mim. E de você.

O silêncio caiu entre as duas como uma neblina espessa. Lena se aproximou mais um pouco, mas não tocou Kara. Não queria forçar nenhum gesto.

— Eu não tenho como apagar o que aconteceu. Não tenho como fingir que não falhei com você. Mas posso prometer que, a partir de agora, você não vai mais passar por isso sozinha.

Kara a olhou com uma expressão difícil de ler. Um misto de dor e necessidade. De ressentimento e saudade.

— Eu quero acreditar em você. Mas ainda não sei se consigo.

G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟Where stories live. Discover now