Lena soltou um suspiro frustrado.
— É porque aquilo eu conseguia entender. Isso aqui… é a mãe dela. É julgamento puro. É o coração da mulher que criou a mulher que eu amo.
Alex ficou em silêncio. E, depois de um instante, disse:
— Então fala isso pra ela.
Lena franziu o cenho.
— Pra Eliza?
— Não. Pra Kara.
**
O interfone tocou.
O tempo parou.
Lena arregalou os olhos. Alex arregalou os olhos. Até o molho parou de ferver, como se dissesse: Boa sorte, garota.
— Eu atendo — disse Alex, já indo até a porta, como uma executora.
Lena ficou ali, travada, tentando lembrar se havia borrado o rímel com o vapor da cozinha. O batom ainda estava no lugar? A blusa estava alinhada? E o avental?! Ela arrancou o pano com tanta força que o botão do fogão quase voou junto.
Quando a porta se abriu, Lena esperava… um raio congelante, talvez. Um olhar crítico. Uma matriarca pronta para julgar.
Mas o que encontrou foi Eliza Danvers sorrindo, com uma sacola de presentes no braço, o cabelo preso num coque prático e os olhos azuis idênticos aos de Kara.
— Oi, meninas. — disse ela, com uma voz gentil. — Cadê minha neta favorita?
— Qual das três? — perguntou Alex com um sorriso, dando espaço para a mãe entrar.
Eliza riu.
— Isso foi astuto. Mas você ainda perde pras bebês.
E então os olhos de Eliza caíram sobre Lena.
Por um segundo, Lena pensou que ia desmaiar.
— Você deve ser Lena. — disse Eliza, estendendo a mão com firmeza. — A famosa cientista. A mulher que todos os relatórios da Alex descrevem como “insuportavelmente útil”.
— Eu… sim. Sou eu. E… posso dizer que… é um prazer. Enorme. Você é… muito menos intimidadora do que eu imaginei.
Eliza arqueou a sobrancelha.
— Eu ainda nem comecei.
**
A visita seguiu com surpresas.
Eliza havia trazido presentes. Fraldas biocompatíveis desenvolvidas em ElizaCo (que ainda era só um projeto no porão). Roupinhas feitas à mão com “tecido que não enrosca nas garras de bebês kriptonianos” — invenção de uma amiga da Nasa. E livros de contos que misturavam magia e ciência, "para estimular o lado Luthor e o lado Danvers ao mesmo tempo".
Lena estava confusa, grata e completamente desarmada.
— Você é… muito gentil — disse ela, finalmente, depois que Eliza se sentou no sofá e começou a folhear um álbum de fotos que Alex tirara do armário.
— Não seja boba. — disse Eliza. — Eu não julgo as pessoas pelo nome que carregam. Julgo pelas escolhas. E, até onde sei, você tem feito boas escolhas. Mesmo quando não precisava.
Lena sentiu os olhos arderem, mas disfarçou com um sorriso tímido.
— Eu amo sua filha. Muito. Eu só não sei se ela acredita nisso.
Eliza fechou o álbum devagar.
— Então diz pra ela. As Danvers têm essa mania de fugir quando sentem demais. Mas elas também têm uma mania bonita: sempre voltam praquilo que amam.
**
Kara voltou pouco depois, rindo de alguma piada de Brainy e com o cabelo preso num coque frouxo. Quando viu a mãe no sofá e Lena encolhida na ponta oposta, o sorriso se abriu inteiro.
— Mãe!
Eliza se levantou para abraçá-la, as duas se apertando como se o tempo voltasse. Depois, Eliza olhou para a barriga de Kara com reverência.
— Vocês duas estão lindas.
— Três, mãe.
Eliza riu e olhou para Lena, com um brilho cúmplice nos olhos.
— É. Três.
**
Mais tarde, quando a noite caiu, Eliza dormia no quarto de hóspedes, Alex cochilava no sofá e Brainy havia sumido com um “preciso recalibrar o campo vibracional do berço”.
Kara e Lena estavam sozinhas na varanda.
De novo.
A luz da cidade piscava lá embaixo. A barriga de Kara subia e descia num ritmo calmo. E Lena… bom, Lena não resistiu.
— Agora tem alguém pra me atrapalhar?
Kara sorriu e negou com a cabeça.
— Só se você contar a luz da lua.
Lena se aproximou. Devagar. Uma mão na barriga. A outra no rosto de Kara.
— Posso?
— Desde o primeiro momento.
O beijo aconteceu lento, como se o tempo tivesse estendido um tapete de silêncio só para elas.
Os lábios se encontraram com a suavidade de uma promessa antiga, não dita, mas sempre presente. Era um toque tímido no começo — hesitante, carregado de toda a dor, saudade e desejo acumulados nos últimos meses.
Mas logo o hesitante virou certeza.
A mão de Lena deslizou para a nuca de Kara, puxando-a para mais perto. Kara segurou a cintura de Lena, firme, como se a estivesse ancorando. Era doce, mas cheio de intensidade. Um beijo com gosto de reencontro, de lar, de tudo o que elas quase perderam — mas que ainda podia ser reconstruído, ali, entre sorrisos, lágrimas e pequenas chamas de esperança.
O mundo podia acabar ali que teria valido a pena.
Quando se afastaram, os olhos de ambas brilhavam.
— Demorou — sussurrou Kara, a voz rouca e baixa.
— Mas valeu a pena — respondeu Lena, colada ao peito dela.
As gêmeas chutaram. Suave. Em aprovação.
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G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟
FanfictionEm um dia marcado por sintomas inexplicáveis e uma fome insaciável, Kara Zor-El descobre que está grávida, gerando uma onda de choque em sua irmã mais velha, Alex Danvers. Enquanto Alex tenta lidar com a revelação, a possibilidade de que o pai da cr...
