— Então me deixa provar, dia após dia. Não como uma Luthor. Nem como a cientista. Como Lena. A mulher que… ainda ama você.

Kara desviou o olhar, e as lágrimas escorreram silenciosas por suas bochechas. Não disse nada. Mas também não afastou Lena quando ela, hesitante, tocou com delicadeza as costas de sua mão.

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Os dias seguintes foram como caminhar sobre cacos de vidro.

Alex observava tudo em silêncio, assumindo o papel de ponte entre Kara e Lena. Era estranho ver sua irmã tão vulnerável, mas também... havia um brilho tênue voltando aos olhos dela. Como se parte de seu espírito, antes esmagado pelo medo e pela angústia, começasse a emergir de novo — devagar, ferido, mas vivo.

No terceiro dia, Alex insistiu para que elas fossem ao DOE. Kara, relutante, acabou cedendo.

— Vai ser só um exame, tudo bem? — disse Alex, com voz suave. — A gente precisa garantir que está tudo certo. Com você... com elas.

— Elas? — Kara perguntou, confusa.

Alex arregalou os olhos, percebendo o deslize.

— Eu… não era pra te contar assim. Mas... bom, é melhor você ver por si mesma.

No laboratório do DOE, enquanto o exame era preparado, Kara deitou-se na maca, o coração acelerado como se estivesse diante de uma batalha.

Lena, que pediu para acompanhar a ultrassonografia, estava com as mãos frias. Observava Kara com cuidado, sem invadir o espaço dela. Quando o aparelho tocou a barriga de Kara e a imagem surgiu na tela, o silêncio foi total.

Até que um pequeno som ecoou na sala.

Tum-tum. Tum-tum. Tum-tum.

— Esse é o batimento cardíaco número um — disse a médica, sorrindo gentilmente. — E aqui… — apontou para outro ponto da tela — ...está o número dois.

Kara arregalou os olhos.

— Dois?

— Você está esperando gêmeas — confirmou a médica. — Duas meninas.

O som dos dois pequenos corações preenchia a sala como uma melodia frágil, e Kara, pela primeira vez, sentiu os olhos se abrirem não por desespero, mas por pura emoção.

Ela chorou.

Mas não de tristeza.

Chorou porque, naquele momento, percebeu que não estava mais sozinha. Que dentro dela havia duas vidas pulsando. Que, mesmo nascidas do trauma, poderiam crescer com amor.

E chorou porque Lena segurou sua mão — e ela não a afastou.

— Há mais uma coisa — disse a médica, em tom mais sério. — Como a gravidez foi induzida num corpo kriptoniano sem preparo fisiológico prévio, e como você está sob efeito de hormônios alienígenas e humanos híbridos, seu organismo está tentando se adaptar o mais rápido possível. Isso significa que... os poderes que você tem podem começar a se comportar de forma instável.

— Instável como? — Alex perguntou, alarmada.

— Variações de força, audição ampliada demais, visão descontrolada, ataques involuntários... Além disso, o metabolismo dela está acelerando o processo gestacional. Kara não terá nove meses como uma humana. Estimo que em no máximo dez a doze semanas o parto será inevitável. Talvez menos, dependendo da compatibilidade genética das crianças. Se elas forem totalmente kriptonianas... ou metade, já seria suficiente para exigir um esforço absurdo do corpo dela.

Lena gelou.

— Então ela está… correndo perigo?

— Se não for monitorada de perto, sim. E vocês duas — olhou para Alex e Lena — terão que cuidar dela com atenção máxima. Kara não pode continuar salvando o mundo enquanto estiver grávida. É como deixar um reator nuclear em campo de batalha.

Alex assentiu, com firmeza.

— Nós vamos cuidar dela. E o DOE vai assumir todas as missões de campo. J’onn, Nia, até Brainy se for necessário. Kara não vai se meter em nenhuma confusão.

— Isso não parece justo — murmurou Kara, baixando o olhar.

— Também não é justo o que fizeram com você — retrucou Alex, carinhosa, se inclinando para beijar a testa da irmã. — Mas a gente vai cuidar disso. De você. E das meninas.

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Naquela noite, de volta ao apartamento, Alex preparou chocolate quente com canela. Era o favorito de Kara, e também o símbolo de noites antigas, quando o mundo ainda era mais simples.

— Elas têm que ter nomes fortes — disse Alex, divertida, olhando para Kara e Lena no sofá. — Você sabe, nomes de guerreiras.


— Como você? — Kara zombou, com um sorriso de canto. — Alex, a valente?

— Exatamente. Alexandra é um ótimo nome, por sinal.
— Vou pensar no seu caso — respondeu Kara, rindo pela primeira vez em semanas.

Lena parecia pensativa, os dedos entrelaçados no colo.

— Eu sempre gostei de Olivia — disse ela, com um tom suave. — Significa “paz”. Acho que… depois de tudo que aconteceu, esse nome representa exatamente o que eu mais quero oferecer agora. Paz. Um novo começo.
Kara a encarou com os olhos brilhando, comovida.

— Olivia… é lindo.

— E Madison — continuou Lena, mais segura — significa “filha de um guerreiro”. Acho que descreve bem o que essa criança é. Alguém que veio de uma luta, mas que pode crescer cercada de amor.

Kara sorriu. Um sorriso pequeno, mas genuíno.

— Olivia e Madison…

Ela repetiu os nomes em voz baixa, como se os testasse na língua.

— Liv… e Maddie. Eu gosto disso.

Lena assentiu, emocionada. Alex soltou um suspiro teatral.

— Está decidido, então. Liv e Maddie Danvers-Luthor. Duas futuras heroínas em miniatura.

Quando tudo silenciou, Kara foi até o quarto. Lena estava saindo do banheiro, pronta para ir embora, respeitando o espaço da loira. Mas antes que cruzasse a porta, Kara chamou, com a voz baixa:

— Fica.

Lena congelou no lugar.

— Só por hoje — completou Kara. — Eu não quero... dormir sozinha.

Lena assentiu. Entrou em silêncio, deitou na ponta da cama, sem invadir o espaço de Kara.

Mas minutos depois, sentiu uma mão procurar a sua. Um gesto tímido. Vulnerável.

E então, pela primeira vez em muito tempo, ambas dormiram.

Não como cientista e cobaia.

Não como traída e traidora.

Mas como duas mulheres tentando costurar o que restou depois do caos.

Talvez o amor não fosse o bastante para apagar tudo.

Mas podia ser o início de algo novo.

Algo possível.

G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟Where stories live. Discover now