✨ Capítulo 33 ✨

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— Você não consegue esconder nada de mim, Melian — disse Lyra, sua voz doce, mas firme, carregada daquela intuição natural que só as fadas possuem. — Sua angústia ecoa por toda a fortaleza.

Levantei o olhar para ela, sentindo a vergonha de estar tão despido diante de alguém que não era Ezra.

— Eu… não consigo respirar sem ele aqui — confessei, a voz rouca, o peito ardendo. — Cada segundo distante é como se me arrancassem a pele.

Lyra suspirou, se aproximando com a graça silenciosa de sua raça. Seus olhos prateados cintilaram à luz das velas que tremeluziam nas prateleiras. Ela pousou uma mão leve em meu ombro, como uma brisa tocando a água de um lago.

— Ele sente o mesmo por você, talvez até mais — respondeu, com um sorriso enigmático. — Ezra não vive apenas ao seu lado, Melian. Ele vive em você. Sua devoção é tão ardente que poderia incendiar todo o palácio, se ele assim desejasse.

Suas palavras ecoaram fundo. E, inevitavelmente, me lembrei dos gestos dele: da forma como sua mão sempre encontrava a minha, mesmo no meio do sono; do modo como sua respiração mudava quando eu dizia seu nome; da intensidade quase selvagem com que ele me olhava quando acreditava que eu não estava vendo.

Ezra não apenas me amava. Ele se consumia em mim.

A lembrança fez meu corpo estremecer, uma mistura de desejo e dor pela ausência. Eu sentia ainda a textura de seus lábios contra os meus, o calor de seu peito contra meu rosto, o compasso de sua respiração forte que sempre me embalava.

A ausência dele era uma ferida aberta. Cada instante que passava sem Ezra me corroía, e eu podia sentir fisicamente essa dor, como se o peito estivesse comprimido, como se o ar se recusasse a entrar em meus pulmões. Eu me lembrava de cada detalhe dele antes de partir: o olhar firme, mas cheio de ternura ao se inclinar e beijar minha testa; a maneira como seus dedos demoraram a soltar os meus, como se resistissem ao inevitável; e aquele último sorriso, ardente, protetor, apaixonado, que parecia prometer que voltaria para mim.

— Eu só temo… — falei baixo, encarando o chão de pedra — … que minha decisão o afaste de mim.

Lyra se inclinou, aproximando o rosto do meu, os cabelos dourados caindo como fios de luz ao redor.

— Não, Melian. — Sua voz foi firme, quase uma ordem. — Nada o afastaria de você. Ezra se perderia no próprio abismo antes de permitir que qualquer coisa quebrasse esse laço.

As palavras dela fizeram meus olhos arderem. Eu sabia que era verdade. Eu sabia que, quando ele retornasse, viria para mim como sempre: com aquela paixão incansável, com aquela devoção que queimava e me envolvia até o último suspiro.

E, mesmo que Oberon me esperasse como inimigo, mesmo que a guerra nos separasse de todos os outros, eu sabia que entre nós dois nada seria capaz de se interpor.

Ezra era meu fogo, minha sombra e minha vida.

E a cada segundo que passava, a certeza só crescia: ele voltaria para mim, e eu cairia em seus braços como alguém que finalmente retorna para casa.

Eu me agarrei a essa lembrança como quem se agarra a uma tábua em alto-mar.

— Migo, eu consegui sentir você lá de fora — disse Lyra, sua voz doce, mas carregada de preocupação. — Por que está tão preocupado?

O som dela me arrancou por um instante de minha angústia. Respirei fundo, tentando disfarçar a inquietação, mas a verdade escorreu de mim em forma de palavras.

✨ A Cura Dourada ✨Where stories live. Discover now