✨ Capítulo 27 ✨

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O ar naquela noite parecia denso demais, pesado como o sopro contido antes de uma tempestade. A sala de estar do castelo, sempre acolhedora com sua lareira acesa e tapeçarias macias, agora se tornava um espaço de inquietação, como se cada pedra da parede absorvesse e refletisse a tensão coletiva que pairava ali.

Ninguém falava alto. Os diálogos, quando surgiam, eram curtos, abafados, quase como murmúrios que temiam provocar ecos. A ansiedade era palpável, vibrava nos corpos, estremecia nas mãos inquietas e nos olhares furtivos.

No entanto, longe dali, em meio a toda essa atmosfera de medo e expectativa, Evren permanecia sereno.

O mago, de manto escuro e olhar profundo, parecia alheio à inquietação visível dos demais. Sentado próximo à janela do escritório de sua casa, com as mãos pousadas sobre o braço da cadeira de madeira entalhada, ele contemplava a noite. A lua, quase plena, derramava sua luz pálida pelos vitrais, e a claridade prateada repousava sobre seu rosto como um véu. Seus olhos, contudo, estavam distantes, além do tempo.

Dotado do conhecimento do passado e do futuro, Evren já havia percorrido, em sua mente, todos os caminhos possíveis da reunião solene que se aproximava. Cada decisão, cada escolha, cada desvio de destino já lhe era familiar. Era como ler as linhas de um livro já tantas vezes folheado, cujas palavras, ainda que dolorosas, não lhe podiam surpreender.

Essa certeza lhe trazia alívio, mas também um peso singular. Pois, se sabia como contornar qualquer intercorrência, também compreendia as inevitabilidades. E nem mesmo sua sabedoria podia suprimir o que estava destinado a vir.

No entanto, nada disso o inquietava tanto quanto a figura frágil e preciosa que repousava em seus pensamentos: Melian.

Evren o chamava em silêncio de “meu cristal”, uma joia viva, tão delicada e tão forte ao mesmo tempo. Não havia nos céus ou na terra criatura mais amada pelo mago. E era exatamente por isso que a sombra que se erguia ao redor do pequeno se tornava insuportável.

O mago podia prever conselhos e guerras, prever a astúcia dos homens e a violência dos inimigos, mas nada lhe doía mais do que imaginar o perigo tocando o rosto suave do pequeno Melian. Sua mente, sempre tão clara, se fragmentava em milhares de estratégias, em labirintos de possibilidades, todas convergindo para um único objetivo: protegê-lo. Se fosse necessário, o mundo inteiro se curvaria sob a força de seu feitiço, contanto que Melian permanecesse a salvo.

Ainda assim, Evren compreendia que não poderia carregar sozinho o fardo. Ele sabia que cada alma teria de assumir seu papel no teatro do destino. Pretendia, portanto, ser mais que guardião, pretendia ser guia, a mão que acalma e conduz, para que cada um, no seu tempo, cumprisse sua parte.

Eleanor, sua mãe, sempre soube que esse momento chegaria. Desde a primeira vez que sentiu o pulsar de vida em seu ventre, seu coração de mãe pressentiu que a dádiva também seria um fardo. O segredo que guardava não poderia permanecer oculto para sempre, e a razão de sua revelação seria sempre a mesma: o perigo em torno de seu filho mais novo.

✨ A Cura Dourada ✨Where stories live. Discover now