✨ Capítulo 4 ✨

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     Foi depois daquele encontro que o ar pareceu se tornar mais denso ao redor de Melian e Ezra, como se fios invisíveis, se tecendo no silêncio, os enlaçassem com um ímpeto magnético impossível de ignorar. Não se tratava de um olhar apenas, nem de palavras ditas. Era algo mais fundo, mais antigo, mais instintivo. Um chamado mútuo, primal, que vibrava em cada centímetro de pele tocada pelo vento que passou entre eles.

Ambos sentiram, mas nenhum ousou nomear.

Mas Beaulfort sentiu.

Não com os olhos, mas com o corpo inteiro. Lobisomens são assim. Sentem com o sangue, com o olfato aguçado, com o coração pulsando como tambor em meio à floresta. E o dele, naquele instante, entrou em pânico.

Ele os viu, não apenas os olhares trocados entre Melian e Ezra, mas o silêncio que se formou ao redor dos dois, como se o tempo tivesse decidido parar por respeito aquele instante. O mundo calou, e Beaulfort escutou o grito mudo do destino sendo costurado sem ele.

Sentiu um calor ácido subir por sua garganta.
Não era raiva. Era desespero.

Desde aquele beijo, o único, o primeiro, o inesquecível, Beaulfort nunca mais foi o mesmo. Tentou vestir a amizade como armadura, mas por dentro sangrava de amor. Para Melian, ele sempre foi um bom amigo, uma presença constante, um apoio. Mas Beaulfort o via com olhos diferentes,  olhos de lobo que já havia escolhido seu par e que, por instinto e maldição, jamais conseguiria escolher outro.

Ele o amava. De maneira intensa, impetuosa, quase febril, o desejava com uma fome que lhe era impossível disfarçar.

Mesmo com cada recusa, cada desvio sutil de Melian, ele alimentava uma esperança cega, uma chama obstinada que o impedia de aceitar o óbvio. Sua mente se recusava a ceder, não importava quantas vezes ouvisse a palavra “não”. Ele não desistia. Seu coração, primitivo e devoto, acreditava que um dia seria ele o escolhido, que bastava tempo, que bastava insistência. Que bastava amar o suficiente por dois.

Mas naquela tarde, ao ver Ezra e Melian, algo mudou.

O que até então era amor romântico, virou nó na garganta. O que era paixão, virou possessão obsessiva. Uma dor surda lhe tomou o estômago, um ciúme, selvagem, animal cravou as garras em sua espinha e um instinto sombrio sussurrou que ele estava perdendo o que era seu por direito.

Foi por isso que interveio. Por impulso. Por medo. Por puro desespero.

Cortou o momento, interrompeu o fluxo natural do que se formava entre os dois. Seu olhar fulminou Ezra por um breve instante, e por dentro uma raiva silenciosa começava a borbulhar como um caldeirão prestes a transbordar. “Não pode ser”, sua mente martelava. “Eu esperei. Eu lutei. Eu amei primeiro.”

✨ A Cura Dourada ✨Where stories live. Discover now