✨ A Cura Dourada ✨

✨ Capítulo 10 ✨

   

    Termino de ajustar a gola da camisa diante do espelho com as mãos trêmulas. Cada movimento é automático, mas o coração lateja como se estivesse prestes a explodir dentro do peito. A simples ideia de vê-lo novamente faz meus pulmões falharem, como se o ar se recusasse a circular longe da presença dele. Olho para mim mesmo, pela décima vez, e, mesmo coberto com as melhores roupas que encontrei, mesmo com o cabelo perfeitamente alinhado, a fragrância mais refinada escorrendo pela pele, ainda assim, tudo me parece insuficiente.

Melian.

Ele é o reflexo da beleza que os deuses jamais ousaram criar por medo de ferirem seus próprios olhos. Uma presença que incendeia o mundo ao redor, que transforma o ordinário em sagrado apenas por existir. E eu, criatura marcada por séculos de excessos, prazeres fugazes e um vazio que nunca cessava... me vi rendido ao primeiro olhar.

Não há glamour, poder, imortalidade ou arte que se compare à forma como ele sorri. E é por isso que cada dobra da minha roupa, cada centímetro do meu corpo, cada célula da minha existência hoje se curva a um único propósito: agradá-lo. Ser digno. Mesmo sabendo que nunca serei.

Sinto o sangue correr mais quente, como lava pulsando sob a pele. Meu peito arde, como se um anel de fogo me apertasse o coração, é o desejo de estar perto, o desespero de encurtar a distância entre nós. Quero vê-lo, preciso tocá-lo. Ouvir sua voz, que para mim é como uma antiga melodia esquecida, carregada de promessas e lembranças de uma vida que eu nunca vivi, mas que o meu corpo inteiro reconhece.

A cada passo que dou, arrumando os punhos da camisa, testando o perfume no ar, sinto a ausência dele me consumir. Ele está tão perto... e ainda assim, parece inalcançável. Um astro brilhando no céu, e eu, uma criatura da noite, fadada a contemplá-lo com fome, com sede, com adoração.

Quero amá-lo com a intensidade de mil sóis. Quero deitá-lo entre minhas mãos e aprender os caminhos do seu corpo, os mistérios do seu riso, os limites da sua alma. Quero adorá-lo com gestos, com beijos, com silêncio. Ser seu, carne, pensamento, instinto.

E, sim… quero ser seu escravo. Não por submissão cega, mas por devoção absoluta. Por entender, no fundo do meu ser, que fui moldado para pertencer a ele. Que todos os séculos que vaguei sem rumo, com o peito seco de sentimentos e os olhos cansados de beleza vazia, existiram apenas para que eu estivesse aqui, agora, consciente da eternidade que desejo viver ao seu lado.

Durante eras, acreditei ser um acaso trágico do universo, uma sombra sem raízes, um eco de algo que nunca se formou por completo. Mas então, bastou um olhar dele, e tudo, absolutamente tudo,  fez sentido.

Agora eu entendo: nasci para ele.

E esta noite, mesmo que não tenha coragem de dizer, mesmo que meus gestos ainda tremam sob o peso do que sinto, estarei ali. Cada célula do meu corpo vibrando em direção a ele, cada batida do meu coração clamando silenciosamente: Me veja. Me queira. Me aceite.