Assim, noite após noite, seus sonhos se tornaram mestres.
No começo, eram lições íntimas, sobre si mesma, sua dor, sua força. Depois, se ampliaram, lhe revelando a vastidão daquilo que carregava. E então, quando já havia encontrado um equilíbrio tênue entre sua coerência e suas capacidades, quando o caos de dentro já não a dilacerava, Valery começou a sonhar com outros.
Personagens que nunca viu na vigília passaram a surgir diante dela. Criaturas mágicas e não mágicas, seres humanos comuns e entidades de poder incompreensível. Cada um carregava sua própria chama, sua própria importância, ainda que minúscula, para o entrelaçar da história maior.
Ela os assistia em silêncio, como uma guardiã invisível. Caminhava entre seus sonhos, observando jornadas que não eram suas, mas que, de algum modo, dependiam dela. Cada gesto, cada decisão, cada lágrima ou sorriso se tornavam notas de uma sinfonia maior que apenas ela parecia ouvir.
E foi nesse ponto que a verdade a alcançou.
Ela não era apenas sonhadora. Era a vigente das possibilidades cósmicas, aquela que transitava entre as linhas do destino sem ser vista, que acompanhava a jornada de todos os que fariam diferença no andamento da história.
Valery não interferiria. Seus pés não deixavam rastros nos sonhos alheios. Ela apenas observava, e em sua observação, entendia. E nesse entendimento, crescia.
Muitas vezes, estendia a mão, e os sonhos a tocavam de volta. Sentia a fúria dos que lutavam, a dor dos que perdiam, o riso dos que ainda acreditavam no amanhã. A cada emoção que absorvia, sua própria alma se tornava mais vasta, mais profunda.
O destino, antes um véu distante, agora se revelava diante de seus olhos como uma tapeçaria viva, e ela era a única capaz de ver os fios que a entrelaçavam.
E assim, entre lágrimas e estrelas, entre memórias e possibilidades, Valery descobriu sua verdade: não era apenas parte da história. Era aquela que, em silêncio, caminhava sobre o sonho de todos.
Naquela noite, o silêncio imposto pelo toque de recolher tornava o bairro estranho, quase sufocante. As ruas, vazias e escuras, pareciam sepultadas sob o peso de uma calma forçada. Mas, dentro do quarto de Valery, o mundo não repousava. A jovem, adormecida, era arrastada novamente ao reino dos sonhos, mas desta vez, não eram estrelas nem auroras que a envolviam. Era sombra.
Ela caminhava por uma neblina espessa, e o frio que corria pela sua pele não era físico, mas espiritual. Aos poucos, a sombra se moldou em pensamentos, e esses pensamentos tinham dono. Oberon.
O prazer sombrio da mente dele a atingiu como um veneno lento. Valery viu seus anseios cruéis, sua sede insaciável de poder, seu desejo ardente de dominar tudo e todos, como um tirano que não se contentava com a submissão parcial. Sentiu, como se estivesse dentro da própria carne dele, o pulsar de intenções pérfidas, a delícia que ele extraía do sofrimento alheio.
E então, no coração daquele sonho, um rosto surgiu.
Um lindo jovem, de traços luminosos e serenos, apareceu na mente obscura de Oberon como uma joia indevida. O contraste era brutal: a escuridão ao redor parecia querer devorar aquela luz, e o prazer do inimigo em contemplar a possibilidade de destruí-lo era doentio.
Valery despertou em sobressalto.
Seu corpo estava encharcado em suor frio, o coração batia rápido demais, e sua respiração vinha em arfar descompassado. A sensação era sufocante, como se o mal impregnado na mente de Oberon tivesse atravessado o sonho e se fixado em sua pele.
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✨ A Cura Dourada ✨
Romance✨🌈Vampiro/Magia/LGBTQIA/Hot🔥/RomanceGay🌈✨ Ezra Aiken Vampiro milenar, testemunha silenciosa de impérios que ruíram e luas que se apagaram. Seus olhos viram séculos sangrarem, e seu coração, endurecido pelo tempo, já não pulsava por mais nada...
✨ Capítulo 27 ✨
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