A presença deles não era casual. Eram os cães de guarda da matilha, os escolhidos pelo próprio Alfa, não respondiam a ninguém além dele. Nem mesmo ao pai do prisioneiro, o beta, cuja palavra agora não valia mais do que o silêncio da terra sob os pés. A escolha de enviá-los fora um aviso silencioso: a ordem do Alfa já fora dada.
Sem uma palavra, os dois se colocaram um de cada lado de Beau, o guiando em direção ao coração da comunidade. Suas presas se mantinham cerradas, e os olhos não vacilavam, mas o desprezo em seus gestos era evidente, o toque firme no braço, a postura rígida, a recusa de qualquer contato visual.
Enquanto atravessavam a vila, não havia uma alma sequer nas ruas. As janelas estavam fechadas, as portas trancadas, e até os ventos pareciam evitar a presença dele. A ausência de vida era mais eloquente do que qualquer grito de acusação: ele havia cruzado a linha. E não havia retorno.
Quando chegaram ao gramado da casa do Alfa, os batedores o empurraram com brutalidade até o chão. O impacto o fez sentir o gosto metálico do sangue na boca, mas ele não reagiu. Se ajoelhou. Permitiu. Seus joelhos afundaram na grama como se fossem raízes secas sendo forçadas ao solo, e seus punhos se mantiveram firmes sobre as coxas.
Beaulfort não resistiu, não por resignação, mas porque compreendia. Entendia que, não importando a humilhação, a dor ou a punição que viria, seu único objetivo era resistir. Sobreviver. Para ter Melian. Para consumar aquilo que havia se tornado sua única verdade.
Greey surgiu na soleira da casa.
O Alfa era uma figura imponente, não por sua estatura, embora fosse alto, mas pela presença. Ele não caminhava; ele ocupava o espaço. O ar ao redor dele parecia mais denso, como se até o tempo tivesse aprendido a desacelerar diante de sua autoridade. Seu olhar era de pedra, tão duro quanto as regras que mantinham aquela comunidade viva e segura há décadas.
Parou diante de Beau, o olhar cravado no lobo ajoelhado como um juiz ancestral.
— Você não tem nada a dizer, Beaulfort? — perguntou Greey, com voz baixa, mas afiada como uma lâmina recém-forjada.
Beau ergueu o rosto. Os olhos vermelhos, ainda queimando com os resquícios da dominação lupina, encararam o Alfa sem submissão, mas também sem desafio. Era uma confissão crua, sem culpa.
— Eu obedeci à vontade do meu lobo — disse, sem hesitar. — Meu lobo o escolheu. E ele me pertence.
Um silêncio pesado se abateu. Mesmo os batedores pareciam prender a respiração.
Greey manteve os olhos nele por um longo momento, como se pudesse decifrar cada sombra em sua alma.
— As regras são claras — disse por fim, com a firmeza de quem nunca precisou levantar a voz para impor o medo. — A escolha do seu lobo não significa nada, quando um lobisomem coloca em risco toda a matilha.
Um grito irrompeu então da varanda da casa. Fenior. O beta da matilha. Pai de Beaulfort.
— ALFA! POR FAVOR! POUPE-O! É UM GAROTO INCONSEQUENTE! POR FAVOR, EU LHE IMPLORO...
Os olhos de Beau não se moveram. O som da voz do pai ressoava nos ares como um apelo desesperado, mas nele não provocava nada. Nenhum tremor. Nenhuma vergonha. Nada.
E ali, naquele vazio, ele compreendeu.
Algo havia mudado.
Ou, talvez, algo que sempre estivesse ali, escondido, reprimido, contido, agora estava no controle. A escuridão dentro dele deixou de sussurrar. Agora, ela comandava.
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✨ A Cura Dourada ✨
Romance✨🌈Vampiro/Magia/LGBTQIA/Hot🔥/RomanceGay🌈✨ Ezra Aiken Vampiro milenar, testemunha silenciosa de impérios que ruíram e luas que se apagaram. Seus olhos viram séculos sangrarem, e seu coração, endurecido pelo tempo, já não pulsava por mais nada...
✨ Capítulo 11 ✨
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