Não Sou Digno de Você

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Naiáde amarrou os laços da calça de algodão tingida de preto, calçou as botas e jogou a capa por cima dos ombros antes de voltar sua atenção a Freya.

- Tem certeza que quer fazer isso?- perguntou a menina, Naiáde riu por baixo do tecido que cobria metade do rosto.

- Como eu estou?- questionou girando o corpo, ainda não tinha barriga, apenas uma pequena ondulação no abdômen liso.

- Parece um assassino.- disse a menina.- O que eu faço se matarem a senhorita no palácio?

- Pegue as jóias e o ouro, tanto quanto puder carregar e fuja.- brincou, mas Freya sabia que não havia humor na frase.- Eu vou voltar ao amanhecer.- informou, prendeu os cabelos com a fita e colocou a adaga no cinto.

- Por favor, se cuide.- pediu Freya, Naiáde assentiu, abriu a porta e se esgueirou para fora.

O palácio estava quieto, costumava ser assim à noite depois que as velas nos castiçais eram apagadas, a planta do palácio imperial era complicada, mas graças a sua estadia onde estava repleta de curiosidade e seu observadorismo com relação as rond...

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O palácio estava quieto, costumava ser assim à noite depois que as velas nos castiçais eram apagadas, a planta do palácio imperial era complicada, mas graças a sua estadia onde estava repleta de curiosidade e seu observadorismo com relação as rondas periódicas dos guardas reais quase não teve dificuldades para chegar a frente das grandes portas duplas da ala do príncipe herdeiro.
Não havia entrado naquela parte do palácio antes, nem mesmo sabia o que a aguardava mas a cada passo silencioso que dava, a ansiedade aumentava e a excitação atingia um novo nível. Em contrapartida, estava decepcionada, James não foi procurá-la, esteve de olhos abertos nos portões do castelo do duque mas aquele monumento encarnado não deu as caras.
A ala do príncipe não era muito diferente do restante, todo o palácio parecia cuidadosamente decorado, mesclando funcionalidade e bom gosto, não haviam coisas desnecessárias e nem inutilmente luxuosas. É claro que não era modesto mas era equilibrado. Mesmo que pouco ainda havia ouro por toda parte, nos detalhes das molduras dos quadros, nas maçanetas e nos candelabros.
Em certo momento se surpreendeu com a facilidade, a castelo do duque tinha o mesmo esquema de segurança do palácio imperial mas o tamanho das duas propriedades eram diferentes por isso a falha na segurança. Quando empurrou a porta e caminhou para dentro só pode ouvir um baixo ressonar, a respiração constante mas muito rápida para um sono normal. Não havia luz alguma, exceto pelo fraco raio da lua que estava cheia a duas noites atrás, podia ver o contorno do corpo sobre a cama luxuosa, o quarto era tão grande que poderia correr em círculos sem esbarrar em nada mas o que a interessava estava dormindo profundamente.
Quando o viu naquele dia, não pôde ignorar as olheiras e o olhar cansado, ele estava obviamente exigindo muito de si mesmo, o incidente ocorrera a poucos dias mas ele havia chegado em menos de uma semana, não deveria nem ter parado para dormir no caminho.
Sem pensar demais, tirou a adaga da cintura e passou a perna sobre o corpo de James, se apoiou nos joelhos antes de soltar o peso do corpo sobre o abdômem firme do príncipe. O susto acordou James num solavanco mas seus reflexos rápidos o impediram de se ferir com a lâmina que Naiáde segurava.

- Sua Alteza, sentiu a minha falta?- questionou num sussurrou, um pouco arrependida por não tê-lo observado dormir um pouco mais.- Eu senti muito a sua falta, mal podia dormir.- comentou com um sorriso.

- Eu prefiro ter essa conversa sem uma faca no pescoço, se possível. Assim seria muito mais fácil mostrar quanta falta a senhorita me fez nesses meses.- discursou, Naiáde soltou outro sorriso, acariciou seu rosto com ternura, era tão bonito.

- Uma mulher tocou você, uma que não era eu.- disse fria, estava irritada, mas nem podia explicar de onde aqueles sentimentos vieram.- Eu tenho que admitir, isso me irritou muito. Mas, além disso, também estou decepcionada.- completou, estava decidida, foi até o palácio para ter uma conversa franca e contar a James sobre tudo, mas agora, sentia algo pressionando suas costas enquanto apertava com força o cabo da adaga.

- Juro Naiáde, ela não me tocará novamente. E enquanto eu tiver controle sobre minha vida, nenhuma outra tocará.- falou sério, a mão segurou a cintura de Naiáde e calor se espalhou a partir do local.- Você está mesmo aqui?- perguntou num sussurro quase inaudível, a voz rouca fez o que costumava e remexeu o corpo que começava a reagir.

- Eu esperei, mas não veio.- declarou magoada.

- Ainda a muito a fazer, desejava correr e te arrancar do castelo de Sintra mas não sou digno.- disse James, levou a mão livre a da mulher e afastou a adaga com delicadeza, Naiáde não resistiu, jogou a lâmina de lado e aceitou quando seu corpo foi virado e bateu as costas contra o colchão macio. James a olhava como uma fera durante a caçada, não era como olhou a loira algumas horas antes e um sorriso fraco enfeitou seu rosto, ele não a tratava como tratava todos.

- Não há ninguém mais digno agora, e provavelmente nunca mais haverá.- comentou, virou o rosto contrariada, ainda sentia algo firme pressionando sua coxa, onde James havia se posicionado entre suas pernas mas ignorou tanto quanto pôde, a leve dor persistia no estômago pelo veneno mas já estava praticamente curado.

- Não, não sou. Naiáde, eu lhe jurei minha vida, e todo o meu ser, mas não estava aqui quando precisava e te feriram tentando chegar a mim. Quando decidi que nunca me separaria de você, deveria ter declarado ao reino e te dado um casamento, o maior e melhor de todo o continente mas ao invés disso eu estava mentindo para meu próprio benefício e tomando terras para anexar ao meu reino.

- Era o seu dever, não devia estar fazendo nada além disso.- comentou baixo, o calor já estava se enraizando, já fazia quatro meses que não sentia nada do tipo, que tudo havia se tornado frio e vazio.

- Então eu assumo um novo dever hoje.- disse contra sua orelha, a respiração quente não deixava que Naiáde conseguisse formar pensamentos inteiros.- Eu vou tomar você como esposa, se sentará ao meu lado quando eu ocupar o trono e dará a luz aos meus filhos. Te protegerei de tudo que possa feri-la, a cobrirei de conforto e lhe serei devoto até meu último dia nesta terra, depois disso, quando renascer, voltarei a encontrá-la e me casarei com você outra vez.- prosseguiu, cada palavra jurada apenas para ela, no mais sincero tipo de promessa.- Que está promessa se enraize em nossas almas, eu serei sua espada, lutarei suas batalhas e manterei vocês em segurança, e você será o meu vinho, e alegrará minha vida e curará as feridas. Deste dia em diante, Naiáde Duzzani, viverei para você.- completou, mas a mulher não podia responder, mesmo se pudesse não conseguiria, seu rosto estava travado em choque e seu coração batia na garganta. Em toda sua vida esperou ouvir confissões, "eu gosto de você", "eu te estimo ", mas nunca havia escutado nada como aquilo, nunca lhe tocaram tão profundamente e sabia no interior de sua alma, que James seria o único, em vida ou além da vida.

- Alteza.- chamou com dificuldade, a respiração ofegante e urgente, mesmo completamente coberta se sentia nua, vulnerável e entregue, e não quis mudar esse fato. Pertencia a ele, pertencia desde antes de se dar conta de que o amava.- Me ama?- perguntou num murmúrio que se tornou gemido quando James segurou seu quadril e puxou para si, mas ele não a estava despindo, apenas a segurava firme, pressionando os corpos juntos.
James afastou o rosto ao ouvir a pergunta boba, lhe prometeu sua vida e ela ainda perguntava sobre amor? Não costumava pensar muito a respeito, mas acreditava que no mundo existiam dois tipos de amor. Amor pelo qual as pessoas matam e o amor pelo qual as pessoas morrem. Mas lembrando-se do que ela havia dito em sua despedida em Cargia não foi capaz de negar uma resposta a pergunta, por Naiáde nenhuma das suas opiniões sobre o amor era plausível e ao mesmo tempo as duas eram totalmente aceitáveis. Por ela mataria, por ela morreria, mas naquele momento, vendo o rosto da mulher que carregava seu filho e que guardava em si a sua felicidade, decidiu que por ela também viveria.

- Eu te amo, com todo o meu ser, minha alma e meu espírito. Naiáde, tudo de mim agora lhe pertence.- disse a ela, segurou seu rosto entre as mãos e selou os lábios juntos, se aprofundando quando percebeu que ela não o afastou. Ainda não podia se considerar digno, haviam assuntos a se resolver e pessoas a punir mas agora, nada mais importava, apenas a sereia seminua que se remexia nos seus braços, que mordia os dedos para abafar os ruídos, que o puxava como se quisesse se tornar um.

A FILHA DO GENERAL Where stories live. Discover now