A FILHA DO GENERAL

O Prelúdio

James

— Isso é um absurdo. Não pode permitir tal coisa.— James disse consternado, a simples ideia de mandar Naiáde a Cargia enchia seu coração de raiva, mesmo ficar longe dela mais do que alguns metros já lhe causava irritação.— Uma mulher não pode ficar responsável por uma missão tão perigosa, por favor Vossa Majestade, não aceite esse acordo.— implorou em uma leve reverência.

— Filho, você era jovem na época mas deve se lembrar. Todo o acampamento militar em alerta, toda investigação que foi necessária, todas as vezes que reforcei a vigia nos arredores e mesmo assim, não conseguimos pegar o fantasma. Se foi mesmo essa jovem não pode dizer que a moça não tem chance, seja sensato.— declarou o rei com calma e encarou o filho que tentava conter as mãos trêmulas de ansiedade.— James? Soube que a senhorita Lewis continua voltando. Se seu interesse na senhorita Duzzani é tanto, não deveria dizer suas reais intenções a senhorita Lewis ?— questionou desviando-se do assunto, fazendo James parar seu andar de nervosismo pela grande sala. Ponderou por um instante se dando conta que não deu um basta nas tentativas de Ashley de cair nas suas boas graças, que nada ocupava seus pensamentos nos últimos dias além de Naiáde.

— Tomar Naiáde como esposa seria prejudicial ao reino?— perguntou de súbito.— Ou melhor, não tomar uma das filhas de algum dos ministros traria algum infortúnio?— perguntou encarando o pai em seguida, não era incomum para os príncipes tomarem estrangeiras como esposas como costumes políticos. Mas essas mulheres sempre eram princesas de nações aliadas, não alguém sem título nobre como Naiáde, quando o seu interesse repentino pela sereia havia se tornado tão intenso a ponto de desejar um casamento com ela ?

— Não há nenhum compromisso firmado sobre seu futuro casamento, você é livre para decidir com quem se unirá, mas deve ter certeza disso. Não se preocupe com o reino, por enquanto seu casamento não é uma questão de estado.— declarou o mais velho, fazendo a tensão de James se dissipar por um momento.

— Eu quero, não Ashley ou outra filha de família nobre. Quero Naiáde Duzzani.— declarou com confiança flamejando no olhar.— Por isso, não posso permitir que ela vá até o rei de Cargia.— completou com desgosto ao se lembrar do homem durante a negociação, nada nele parecia honesto ou decente, a pose arrogante mesmo sabendo que sua guerra estava perdida incomodou todos na tenda real.

— Aquela jovem salvou minha vida de certa forma. Eu seria injusto se não acreditasse nela.— começou o rei Albert.— A propósito, logo após o incidente coloquei Augusto para investigar e o responsável por adulterar a remessa de folhas de chá já foi encontrado e preso.— completou calmo e sorriu.— Estava certo, foi trabalho de Cargia, ele só não entregou ainda se foi o rei ou algum dos generais.— declarou sentando atrás da mesa e alcançou a pena.

— Quem está interrogando?— perguntou James sério.

— O coronel Kenneth se ofereceu depois de retornar do acampamento, parecia inquieto então passei a tarefa a ele.— respondeu o rei, James se agitou, ansioso demais para sentar e esperar.

— Vou checar por mim mesmo, com sua licença Majestade.— disse com cordialidade e caminhou para fora depois de uma leve reverência.

— Filho?— chamou.— Não se preocupe, não mandaria a moça sozinha de forma nenhuma, não há lógica em ordenar que a ovelha caminhe em direção aos lobos.— completou trazendo algum conforto ao coração do filho que concordou em um aceno e saiu da sala. Caminhou pelos corredores com a intenção de ir a prisao, focando na ameaça iminente, mas parou abruptamente ao passar pela sala de estudos e observar o par de irmãos que estavam interessados em qualquer coisa, menos no tutor.

— Há algum problema?— perguntou ao homem que levava um olhar de fracasso e exaustão.— Parece que vocês não estão se comportando como deveriam.— declarou olhando os pequenos com repreensão.

— Jamie.— gritaram em coro, ele sorriu em resposta, aqueles sorrisos sinceros aliviaram seu nervosismo.— Não queremos aprender história.— reclamou Félix com um olhar tristonho.— Queremos aprender logo a usar a espada.— pediu ele, o sorriso de James morreu.

— É cedo demais para o treinamento com espadas. Vocês precisam estudar antes.— disse com autoridade fazendo a animação dos gêmeos murchar.— Professor, continue as lições e me informe se eles não prestarem atenção devidamente.— exigiu encarando o homem em seguida.

— Considere feito, Vossa Alteza,— exclamou o homem mais velho logo antes de James voltar ao caminho anterior. Andou por mais alguns minutos até sair do castelo e foi em direção à prisão perto do posto militar, envolto em pensamentos conspiratórios e alguma preocupação. Passou pelos soldados que balançavam as espadas de madeira vez ou outra no treinamento de combate e sorriu com a lembrança, agradecendo pelo seu tempo como aluno ter terminado, feliz por não precisar tratar as feridas nas palmas das mãos diariamente.

— Alteza— disse o coronel ao notar a presença do príncipe e se curvou em respeito.— O suspeito ainda não entregou o mandante, mas é certo que é um espião cargiano.

— Entendo, confio nos seus métodos coronel, se ainda não fez autorizo que use tortura.— exclamou com autoridade no uniforme de guarda real.— Vim apenas para ver a cara do homem que tentou envenenar o rei.— completou e caminhou para o fundo da prisão, parou em uma das celas, encarou a cena pelas grades de ferro. O homem tinha porte de soldado, e um rosto sem expressão, olhos vazios e permanecia imóvel na cadeira de madeira colocada no centro da cela.— O que já descobriram?— perguntou ao coronel que o seguia a alguns passos de distância.

— Chegou a capital sete dias após o fim da batalha, o comerciante, dono da loja onde ele foi encontrado, disse que lhe deu abrigo em troca de trabalho e jurou não estar envolvido no atentado contra Sua Majestade.— contou Kenneth com um olhar sério.— Esse comerciante fornece produtos de exímia qualidade ao castelo já a muitos anos e sempre foi de confiança.— completou, James entendeu sem que o homem precisasse continuar, não precisava, se fosse mesmo necessário ele mesmo se encarregaria de arrancar a verdade do cargiano na cela.