A FILHA DO GENERAL

O Perigo das Suas Ações

James

- Sua perspicácia é assustadora.- disse James tentando contornar a situação, de qualquer maneira ele não estava na linha de frente naquele dia, então não estava realmente mentindo para a bela sereia de cabelos negros.- Tem razão, os guardas ficam e protegem o castelo e a família real. O que eu sei sobre a batalha derradeira é o que ouvi de alguns soldados no acampamento e alojamento militar nesses últimos dias. Ficaria surpresa com quanto alguns soldados seriam facilmente confundidos com velhas fofoqueiras.- completou com o olhar convencido, orgulhoso pela mentira que contou sem gaguejar.

- Isso faz sentido.- concordou a moça sem sorrir. James desviou o olhar para encarar o pescoço delicado e a clavícula exposta, parecia quase um pecado que ela não usasse um colar dourado ali, talvez não tivesse gostado do que ele deu como presente, mas se lembrou dela usando-o assim que chegou na capital, foi sua demonstração de interesse.- O exército de Belfort é famoso, o rei Ithalos deveria ter previsto uma derrota, foi negligente nas estratégias mas acabou dando sorte.- disse sem expressão, as palavras não pareciam partir de uma jovem dama, talvez de um soldado experiente, cada minuto ao lado da mulher revelava uma surpresa nova, James não conseguia mais conter o desejo de descobrir tudo o que havia sobre ela.

- Ser de uma família de militares com certeza fez a senhorita ficar tão inteligente quanto uma estrategista.- proclamou com sinceridade. Naiáde riu finalmente ainda com os olhos molhados e as bochechas coradas, James prendeu a respiração com a imagem.

- É uma pena que eu não tenha sido um filho primogênito, ou já teria meu próprio exército a essa altura.- brincou a mulher, James ponderou por um instante, a imagem da mulher com uma armadura e uma espada ensanguentada nas mãos de alguma forma parecia bonita mas ao mesmo tempo terrível. Esteve no campo de batalha algumas vezes por longos períodos de tempo desde os 15 anos, muitas mortes, muitos sonhos se esvaindo, família se tornando incompletas, olhos em pânico perdendo o brilho e muito sangue. Definitivamente não era o lugar certo para aquela mulher frágil e teimosa, pelo menos no que dependesse dele, nunca permitiria que ela estivesse naquele lugar.

- Isso seria terrível.- disse com uma risada seca e encarou a mulher desafiando-a.- Se fosse, eu nunca teria tido a chance de conhecê-la como estou conhecendo agora.- completou com o tom suave que costumava usar com as donzelas da corte mas sua determinação morreu ao ver a ausência de qualquer reação por parte da moça.

- É realmente inacreditável que não tenha pretendentes quando sabe usar as palavras tão bem, senhor Reed.- declarou ela segurando a risada sem sucesso frustrando James. Por que diabos nada parecia funcionar com ela?

- Parece que não tão bem já que é totalmente inútil com a senhorita.- declarou olhando o horizonte.

- Ora, não se desanime. A questão não é falta de habilidade ou de boa aparência.- declarou.- Minha mãe costumava dizer que eu não deveria me deixar convencer por palavras eloquentes, ou por um rosto bonito. Que a qualidade realmente importante é o quão bem o pretendente me trata, por isso Otto não conseguiu me casar com nenhum filho de família nobre de Cargia.- riu a mulher parecendo lembrar do passado, James ficou confuso por um instante.- A propósito, quero que me chame pelo nome, se considerar apropriado.- completou olhando James fixamente.

- Não gosta de como eu te chamo?- perguntou.

- Não é por não gostar, fui chamada assim a vida toda. É só uma preferência, prefiro que as pessoas mais próximas me chamem pelo nome.- admitiu ela se levantando e batendo no vestido para tirar os pedaços de grama.

- Então eu sou uma pessoa próxima.- provocou, a mulher se aproximou e inclinou o corpo para frente, seu rosto quase encostando no de James, roçou as bochechas numa carícia leve.

- Nós não somos próximos ? Que maldade, assim certamente ficarei magoada.- indagou num sussurro, James sentiu todo o corpo se enrijecer e um arrepio o atravessou, quando ela havia se tornado tão atrevida? Um emaranhado de sentimentos, sensações e vontades tomaram sua mente deixando-o incapaz de agir com racionalidade, vulnerável como gado no abatedouro.- Você cheira bem, esperava algo diferente mas é realmente agradável.

- Está ciente do perigo em que está se colocando, Naiáde?- questionou fechando os punhos, se soltasse as rédeas do seu lado selvagem a tomaria ali mesmo, na grama perto do bosque.- Espera, não deveria ter guardas com você ?- questionou saindo do estado de torpor e segurou a mulher pelos ombros, apertando-a.

- Oh, é uma história engraçada.- disse ela fazendo uma careta e recuou um passo. Os guardas dados a ela deveriam mantê-la ao alcance sempre que ela colocasse os pés fora do castelo, mas não havia sinal de nenhum deles.- Eu fugi deles essa manhã.- admitiu com um sorriso amarelo e olhou na direção do castelo mas voltou sua atenção para ele em seguida.- Eles não são bons no que fazem, mas você parece sempre conseguir me encontrar.- completou parecendo totalmente alheia a situação que causou ao general e herdeiro do trono sentado na grama prestes a entrar em colapso depois de sua carícia provocativa.

- Senhorita.- a voz feminina chamou fazendo Naiáde desviar os olhos dos de James.- Chegou uma carta para senhorita, da senhora Liana.- completou a acompanhante de Naiáde ainda ao longe.

- Então com sua licença, senhor Reed.- disse. O havia provocado quase até o limite e fugiu ilesa.- Obrigada pelo presente, e não se preocupe com o perigo das minhas ações, tenho certeza que posso lidar com isso.- provocou novamente e riu antes de sair correndo de volta ao castelo deixando James ali, sozinho com coceira e calor pelo corpo todo.