Como Ousou?

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James

James encarou o homem por alguns segundos sem piscar, mesmo que a utilidade dele fizesse sentido ainda estava prestes a cortar sua garganta pelo simples fato dele ousar ter cobiçado a sereia. Sua visão oscilou de um para o outro e então novamente, ela não havia dado sequer um olhar diferente para o tal Cedrik, isso e a presença da mão delgada sobre seu joelho passaram a acalmá-lo gradualmente até que podia sentir o coração bater num ritmo normal.

— Então é um acordo. Vamos selar a nova parceria com uma bebida.— declarou o homem, James procurou por ele nas lembranças mas não encontrou, não havia sequer uma menção aquele nome nos registros da família real de Cargia.

— Antes disso, me diga, quantos filhos bastardos o rei tem? Isso não gerou nenhuma disputa pelo trono?— questionou terminando o líquido no copo e quando se deu conta Naiáde o enchia novamente. James quase não foi capaz de suprimir o sorriso, ela estava se mostrando útil e se portando de forma delicada e contida desde o incidente, como se tivesse medo de irritá-lo outra vez, no entanto, os copos de vinho eram esvaziados um após o outro e já podia prever que a situação que ocorreu em Richmond voltaria a acontecer, e quando acontecesse ela perderia o medo e passaria as provocações.

— Mais de uma dezena. Apenas dois com a falecida rainha mas não há um herdeiro nomeado, a maioria deseja o trono mas teme o rei, e com razão.— respondeu o homem, James analisou as palavras.— Ele perdeu a razão a muito tempo. O reino mergulhou em desgraça.

— Entendo. Os boatos da loucura do rei chegaram a maioria das nações vizinhas, nenhum dos governos pôde continuar confiando e romperam as relações com Cargia. Se não fosse pelas rotas comerciais o país já teria ruído.— argumentou em tom cansado.

— Certo certo, vamos selar logo esse acordo.— disse Naiáde com a voz arrastada e riu em seguida, James sabia o que significava e que era a hora de fazê-la parar.

— Então saúde, pelas antigas parcerias e pelas novas.— disse alto e animado, fazendo o príncipe apertar os dentes de irritação.

— Saúde.— respondeu a moça levantando o copo e o esvaziou tão rápido quanto.

— A senhorita tem feito esse tipo de coisa por tanto tempo sendo uma mulher solteira?— perguntou ignorando Cedrik e voltando sua atenção a moça.

— Eu fiz algo de que devo me envergonhar?— devolveu a pergunta com a feição desafiante mas a resposta não agradou James. Sem dúvidas, a sereia podia resistir a alguns jarros de vinho mas o que a protegeria se passasse do ponto?

— Parece que terei uma vida ocupada de agora em diante.— murmurou sentindo um estranho contentamento aquecendo o peito, ela era uma dor de cabeça, audaciosa e provocativa, mas nunca a deixaria ir.

James encarou a silhueta da moça que se dirigia a porta, felizmente conseguiu fazer com que ela trocasse o vinho de pêssego pelo jantar surpreendentemente apetitoso da dona do restaurante

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James encarou a silhueta da moça que se dirigia a porta, felizmente conseguiu fazer com que ela trocasse o vinho de pêssego pelo jantar surpreendentemente apetitoso da dona do restaurante.
Assim que Naiáde desapareceu pelas portas James se levantou abruptamente. Cedrik, o homem de cabelos avermelhados como uma raposa e olhos quase maldosos, não era um dos que conhecia, dos que carregavam o mesmo sangue de sua família materna, mas isso não era uma garantia de que ele não reconheceu. Quando Cedrik entendeu que estava acontecendo a mão do príncipe herdeiro já envolvia seu pescoço em um aperto sufocante e agitou as próprias mãos no ar tentando se libertar mas não pôde, a lâmina milímetros de sua garganta oferecia mais perigo do que jamais havia presenciado.

— Como ousou?— disse em tom quase animalesco, a veia na têmpora ficando aparente.

— Responderia se soubesse sobre o que está falando.— começou.— Das pessoas presentes nessa sala, tenho certeza de que eu sou a que cometeu menos erros.— completou com dificuldade. James se permitiu tomar uma longa respiração antes de continuar o assunto, sua irritação atingindo um nível que não conhecia e temeu que a imagem algum dia pudesse assustar a sereia.

— Você sabe quem eu sou, é evidente e mais grave, sabe o que aconteceria com Naiáde se ela colocar os pés dentro do palácio. Então perguntarei outra vez, como você ousou sequer pensar em levá-la para aquele lugar ?— indagou friamente, cada palavra carregada de autoridade que estava acostumado a ter. Mas os soldados preguiçosos ou os generais que diziam conhecer as estratégias militares e se mostravam incompetentes posteriormente, nunca o fizeram sentir tanta raiva como estava sentindo agora.

— Alteza, acha que eu não sei? Por isso eu não insisti mesmo estando encantado com ela por tantos anos. Se o rei a visse seria trancada no castelo até o fim dos seus dias, com abusos e humilhações que matariam o espírito.— respondeu com irritação da voz, James sentiu o fio da razão se romper quando as palavras do homem fizeram sentido. Um misto de tantos sentimentos que mal pôde identificar e soltou Cedrik permitido que respirasse novamente.

— Eu nunca deveria ter permitido que ela viesse.— murmurou para si mesmo, zangado com tudo a sua volta.

— Ela não é do tipo que precisa de permissão, devia saber.— resmungou Cedrik massageando o pescoço marcado e tossiu antes de tomar fôlego.— Imagino que não vá permitir que ela entre em perigo.

— Não pretendo.— disse seco analisando hipóteses do que aconteceria a frente.— Mesmo que tenha que forçá-la, não deixarei que ela se machuque.— completou trazendo a mente as lembranças do sorriso genuíno da sereia, era sua expressão favorita a alguns dias, seguida pelo rosto choroso e suplicante que ela mostrou na luz fraca quando foi levada até o limite na tenda.
Observou em silêncio por mais alguns minutos, sentado no mesmo lugar até Naiáde retornar e levou-a de volta a hospedaria. Não gostava de se sentir daquela forma, pressionado contra a parede com decisões difíceis a frente, mesmo no campo de batalha não se sentia assim. Caminhou com ela ao lado por alguns poucos minutos, Naiáde ainda estava avoada pela bebida mas sorria e cantarolava baixinho, o que aconteceu naquela tarde ainda não havia sido resolvido mas agora não parecia importante, nada parecia tão importante quanto manter a segurança da mulher que passou a chamar de sua.

— O que acha do casamento?— disse baixo mas a noite estava silenciosa o bastante para que até um gato fosse ouvido.

— Bom, eu gosto de casamentos, a comida é boa, a bebida também e os noivos tem sempre aquele rosto, sabe? Aquele nervosismo e ansiedade, eu pensava que era por causa da noite de núpcias. Mas agora acho que é esperança, não dá pra saber de antemão se seu marido vai te tratar bem ou se sua esposa vai ser amável, o que acha?

— Minha visão sobre casamento tem mais relação com o cuidado. Mas não me surpreende que goste das comidas de casamento.— admitiu já com o humor mais leve e encarou de volta Naiáde tirar o capuz e os cabelos balançarem na brisa fresca. Só a conhecia a menos de 2 meses mas já estava irritado por ainda não tê-la feito sua da maneira mais definitiva possível.— Se casaria comigo, senhorita Duzzani?

A FILHA DO GENERAL Where stories live. Discover now