O Reino de Belfort

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Os solavancos irregulares da carruagem fizeram Naiáde ranger os dentes em irritação, mesmo que seus pais tivessem ensinado que uma feição neutra era o que ela deveria manter no rosto em qualquer ocasião, ainda tinha dificuldades na prática. Sentia o coração doer ao lembrar de Tarso, seu cavalo favorito, que havia ficado no estábulo de Otto, e de todos os criados a serviço da família, pessoas que amava. Deixou a mente vagar enquanto via a paisagem pela pequena janela entre as cortinas, o sol havia nascido há pouco tempo e todo o horizonte ainda estava brilhando em vários tons de laranja, era lindo, tanto que o sorriso se formou por conta própria e iluminou o rosto.

- Parece animada.- Otto murmurou perto, temeroso pela irmã caçula.- A viagem deve durar 10 dias de carruagem.- completou ele quando Naiáde não respondeu.

- Deveríamos ter vindo a cavalo, levaria metade do tempo.- comentou ela.- E a propósito, realmente precisava vir ? E por que tanta gente está nos acompanhando?- questionou.

- É para a sua segurança.- exclamou o irmão, a veia na sua têmpora ficando aparente na pele clara.- Pare de se comportar como um soldado, droga. Poderia ter sido evitado se não tivesse sabotado todas as minhas tentativas de te conseguir um bom casamento.- completou ainda com raiva e encarou Naiáde, se deparando apenas com as ondas de cabelo escuro, ela não estava mais lhe dando atenção.

- Entendo, mas você tem esposa e filhos, tem que estar com eles também.- disse ela baixo.- O faça, como uma compensação pelo que eu estou fazendo.- continuou fazendo a agitação de Otto se dissipar e ele suspirou em desistência.

- Eu farei, estarei de volta para eles assim que entregar você na capital de Belfort, iremos visitar assim que a criança mais jovem puder suportar a viagem.- disse ele.- Vou deixar uma criada com você, não foi permitido que guardas de Cargia ficassem.

- Sabe que eu não preciso de uma criada, posso cuidar de mim mesma.- respondeu de imediato, não queria alguém para ajudá-la a se vestir e a tomar banho como se fosse uma inútil, era vergonhoso.

- Então fique com ela para te fazer companhia, não gostaria que sua vida em Belfort fosse solitária, você nem mesmo teve tempo para ficar de luto.- disse baixo a última frase, esperou que Naiáde começasse uma discussão mas ela só murmurou em aprovação e ficou em um silêncio ensurdecedor e tudo que se podia ouvir era o relinchar dos cavalos e as rodas da carruagem deslizando contra as pedras da estrada.

Os 10 dias passaram rápido e na tarde do décimo dia a carruagem cruzou os portões da capital real, não era uma visita formal em que precisasse de um cortejo e uma cerimônia de boas vindas, ela era apenas uma concubina e a carruagem foi direto para...

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Os 10 dias passaram rápido e na tarde do décimo dia a carruagem cruzou os portões da capital real, não era uma visita formal em que precisasse de um cortejo e uma cerimônia de boas vindas, ela era apenas uma concubina e a carruagem foi direto para os portões do imenso castelo de pedras claras. Olhou para Otto antes de sair e se lembrou do colar, alcançou a caixa e pediu ajuda ao irmão para prendê-lo ao pescoço, após isso desceu da carruagem o mais delicadamente que pôde.

- General, é um prazer recebê-lo.- o homem frente a entrada disse, exibia um sorriso agradável e vestia roupas de tecido fino, ornamentadas com bordados em padrões dourados.- Senhorita, realmente é muito bonita, seja bem-vinda a Belfort, eu sou Albert você será bem cuidada aqui.- completou o rei, Naiáde o olhou profundamente, tentando encontrar algo ruim para basear o seu descontentamento mas não encontrou, seu julgamento sempre foram exímio, então por que o rei Albert olhava com carinho fraterno tão agradável que fez seu coração se alegrar ?

- Estou honrado em estar aqui, Vossa Majestade. Agradeço por nos receber e espero que a desavença entre nossas nações seja esquecida o mais rápido possível.- declarou Otto, era sempre uma surpresa para Naiáde o talento que Otto tinha com as palavras, não que fosse bom em convencer pessoas ou coisa do tipo, mas era melhor com discursos do que comandando uma tropa.

- Majestade, agradeço por me receber, é uma cidade realmente muito bonita.- disse fazendo uma reverência, seu cabelo escorregou pelos ombros e a sensação na pele a fez arfar de susto, o que arrancou uma risada do rei.

- Ora, fique calma. Certamente a viagem deve ter sido exaustiva, os servos mostrarão seus quartos, nós veremos no jantar.- disse por fim antes de caminhar entre as dúzias de soldados em pé ao longo do caminho. Naiáde suspirou em alívio, era diferente de todas as cenas que criara na mente, o rei não parecia um tirano como rei de Cargia, que frequentemente era criticado pelo seu governo negligente e seus impostos caros demais para as famílias mais humildes. Já o rei Albert parecia calmo e receptivo, com porte autoritário e ainda assim, descontraído, se parecia muito com alguns dos antigos amigos do alto escalão do exército do general Bernard Duzzani.

Depois de alguns corredores e escadarias, Naiáde encarou o quarto por entre a porta por alguns segundos antes de entrar, era de se esperar já que era o castelo mas era tudo luxuoso demais, a cama de dossel tinha longas cortinas cor de pérola que alcançavam o chão, as paredes cobertas de papel com padrão de flores, candelabros dourados em qualquer lugar que olhasse e um grande baú, que não era um dos seus, aos pés da cama, era tudo para ela? Não sabia dizer porém, que tipo de aposento uma concubina deveria ter, então não fez nenhum comentário.

De súbito pensou no que deveria ter pensado muito antes, o rei não tinha uma esposa? Se tivesse ela com certeza não aprovaria uma concubina no castelo, isso faria sua vida complicada. Enquanto pensava, arrastou uma cadeira para perto da janela e tirou a adaga da liga presa a coxa, havia uma cabeça de lobo de prata no cabo, um presente do pai mas não se lembrava de já ter ouvido falar de haver algum lobo em Cargia. Pouco tempo se passou antes da porta abrir e a menina entrar, era jovem e tinha um sorriso caloroso. Traços parecidos com os de Naiáde, um rosto fino, cabelos compridos arrumados com pequenas tranças impedindo que cobrisse o rosto, pele clara e sem marcas, difícil de ser encontrada em uma criada.

- Estou aqui para ajudar a se preparar para o jantar senhorita.- disse ela formalmente, a falsa feição séria que ela se forçou a fazer arrancou uma risada exagerada de Naiáde.

- Freya, já disse para me chamar pelo nome.- exclamou antes de abraçá-la.- Eu vou fazer isso sozinha, você veio mais para me fazer companhia, mas ... vou precisar de ajuda com o espartilho.- completou fazendo uma careta e sorrindo para menina com quem cresceu tentando desviar a mente da sensação de estar sufocando com a roupa.

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