Lutaremos Juntos

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James

O que seria apropriado para dizer em sua própria defesa quando descumpre uma ordem direta do rei? Por suposto, a maioria se curvaria e pediria perdão, misericórdia ou qualquer coisa parecida. James começou a pensar em desculpas para dar no segundo em que a moça descolou os lábios dos dele em busca de fôlego, não que seu pai fosse puni-lo por tal ato mas se Naiáde se arrependesse precisaria de algo para dizer, qualquer coisa. Estava tão obcecado pela sereia que se surpreendeu por não ter perdido a razão e a arrastado para dentro da floresta, desde a noite anterior muitos pensamentos libertinos haviam tomado lugar em sua mente, alguns mais sujos que outros, e os lábios avermelhados que acompanhavam o rosto corado da moça não estavam sendo de grande ajuda para acalmar sua parte inferior.

— Minha nossa...— a voz veio baixa e ofegante, o corpo pequeno e delicado pressionado ao seu tremia vez ou outra mas sua surpresa maior foi quando a moça sorriu tão largo que pôde ver quase todos os dentes dela.

— Se sorrir dessa forma novamente, nunca serei capaz de soltá-la senhorita.— disse ainda segurando-a, a mão apertou mais firme, possessivamente instalada na cintura da moça sobre o casaco. Se usasse mais alguma força, poderia sentir a textura da pele sob o tecido, sem que percebesse a mente vagou até o dia no bosque do palácio, no fino vestido verde esvoaçando no vento fraco, se lembrava da pele dela, clara com alguns poucos sinais, mesmo que só tivesse tocado nos pulsos se lembrava da maciez, como tocar em algodão, cálido e etéreo.

— Ora, então imagino que seja melhor me acostumar a isso, é um inconveniente que não me importaria de ver se tornando um hábito.— riu Naiáde de leve, as palavras atrevidas surpreenderam James e por um instante não conseguiu pensar em outra coisa que não fosse ela, estar ao lado dela, criar raízes, crescer, florescer e frutificar, até mesmo morrer ao lado dela apareceu um destino totalmente desejável. Um beijo em si não era muito, já havia ido muito além mas não com ela, foi uma experiência diferente de tantas que já viveu, diferente de todas as mulheres que já aqueceram sua cama, Naiáde não podia se comparar a nenhuma delas, afinal que outra mulher seria capaz de recuar um exército apenas comendo um pedaço de bolo?

— Desejo que nunca se arrependa de tais palavras Naiáde, no instante em que te fizer minha, nunca serei capaz de deixá-la ir.—  admitiu James, afastou as mãos da moça devagar, contra a sua vontade, não sabia exatamente quanto tempo havia se passado mas sabia que não era hora ou lugar para demonstrar seu crescente apreço e posse por Naiáde.

— Tendo em mente a rebeldia que parece não me abandonar com o decorrer dos anos, tomo a responsabilidade por todos os atos que vir a cometer, mas a algo a considerar também.—  disse ela se afastando um passo, se virou e caminhou na direção onde estava o cavalo.— No instante em que eu me tornar sua, nem o inferno será capaz de livrá-lo da minha presença.— completou ela poucos metros a frente, mas James ouviu tão claro como o sol do meio dia, mesmo que a fala da moça tenha sido assustadoramente sombria, pareceu quase uma promessa firmada com sangue. Mas ora, por que pensaria na bobagem de se livrar dela?
                                                               

Como o general havia informado naquela manhã, assim que o relógio marcou 10 horas, um grupo de nove homens estava pontualmente na sala principal da casa, nenhum deles parecia ordinário ou excepcional, eram homens comuns

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Como o general havia informado naquela manhã, assim que o relógio marcou 10 horas, um grupo de nove homens estava pontualmente na sala principal da casa, nenhum deles parecia ordinário ou excepcional, eram homens comuns. Naiáde estava dois passos a sua direita, com um olhar sério que não se lembrava de já ter visto alguma vez.

—  A maioria de vocês me viu crescer, me trataram e cuidaram de mim como sua própria família. Eu não ousarei me colocar aqui, pedir ajuda pra algo tão perigoso e esperar que aceitem, nem ofenderei oferecendo algumas moedas para colocarem sua vida em risco, nenhum de vocês me deve qualquer consideração, eu é que devo.— começou ela, por algum tempo, conforme as palavras deslizavam de sua boca sem nenhuma polidez, James não poderia dizer que fazia qualquer sentido.— Eu irei até a capital de Cargia em alguns dias, como assegurei ao rei Albert, vou me certificar que o rei Ithalos não tenha uma cabeça para sustentar a coroa e assim vou garantir a proteção da minha casa, como meu pai ensinou. Um homem honrado cumpre sua palavra e cuida dos seus, plebeu ou nobre.— continuou a moça, James correu os olhos pelos rostos na sala, nenhum parecia ter captado qualquer discordância nas palavras de Naiáde “um homem honrado?” mas que raios estava acontecendo?— Se algum de vocês tiver alguma desavença ou desacordo relacionado a nobreza cargiana, convido a se juntar a mim. Cargia cairá, isso é certo, mas antes que seja pelo estandarte de Belfort, será em nome e pela segurança das pessoas que prezamos e queremos proteger.— completou ela. Nenhuma palavra conseguia se juntar as frases que James pensava em dizer, o discurso não foi um discurso, era mais parecido com um aviso grosseiro, mas nenhum dos homens parecia surpreso ou ofendido. Encarou Bernard a sua esquerda, a feição que ele exibia era um misto de fascínio e orgulho, mas James não entendeu o motivo, seria um milagre se aquele discurso convencesse sequer um homem a acompanhá-los.

— Imagino que será difícil passar pela fronteira de Cargia, como a senhorita pretende chegar até a capital?— um deles perguntou.

— Será sim, mesmo com o exército desfalcado a quantidade de guardas nos postos de fronteira se manteve, se formos poucos podemos usar um passe de mercador, mas teríamos que passar pela fronteira de outro país. É certo que qualquer viajante vindo de Belfort ou daqui seja suspeito. Poderíamos tentar cruzar pela muralha, mas é uma opção péssima no meu ponto de vista.— disse, James encarava a conversa com curiosidade, como havia chegado a tal ponto?

— Faz sentido, podemos passar primeiro para Durguen e então atravessar a fronteira e ir para o noroeste até a capital. Levará cerca de três dias a mais, porém é a rota mais confiável.—  respondeu o homem, Naiáde parecia completamente a vontade com aquela conversa, assustadoramente dominante perante ao grupo.

— Sim, lamentavelmente será uma viagem de 11 dias, por causa da carruagem. Pouparíamos tempo indo a cavalo mas é algo inevitável nessa altura.— lamentou Naiáde.

—  Posso ajudar também, enviarei mensagens aos contatos que tenho em Durguen, solicitando os mercadores com os quais negocio. Farei com que esperem vocês na última vila antes da fronteira, assim ganharão alguns dias para preparar as provisões para a viagem.— propôs Bernard.— Senhor Laurent, imagino que possa escrever para Belfort e pedir reforços em caso de necessidade.— questionou ele, só então James conseguiu proferir algumas palavras.

— Certamente, porém com isso temo que Sua Majestade enviaria todo o exército ao socorro da senhorita Duzzani, e não hesitariam em varrer o país.— declarou, ele mesmo faria exatamente isso.

— De qualquer forma, não se faz uma rebelião sem rebeldes. Não há um só homem aqui, ou mulher, que não gostaria de cortar a cabeça do rei tolo.— brincou um dos homens de Bernard.— Iremos todos, reunirei alguns que confio também, precisaremos entrar no país separados mas depois disso vai ser mole derrubar Ithalos do trono. Estou certo que daquela gestão não dará pra salvar do carrasco nem mesmo um dos muitos nobres e ministros.— disse o homem.

— Alguns dos nossos ainda estão lá, Calvert pode mandar um pássaro com uma mensagem, eles avisarão uns aos outros e irão se preparar também.— disse Bernard aos outros, de alguma forma, sem que James tivesse mesmo percebido, os rebeldes já tinham decidido e se organizado para o ataque.

— Iremos juntos, lutaremos juntos e venceremos juntos.— disse a mulher, altiva, confiante e feroz, como James se lembrava de ele mesmo ser. Talvez ela aceitasse comandar uma tropa de soldados do exército de Belfort na próxima guerra, por Deus, esperava nunca estar do lado inimigo, ou cairia.

A FILHA DO GENERAL Where stories live. Discover now