Capítulo 37

802 48 5
                                    

– A gente não pode ficar junto - a única coisa que sai é isso, me xingo de todos os nomes possíveis, porque sou desse jeito?

– O que? Porque? - ele me olha chocado com o que acabo de falar

– Caio tem algo dentro de mim, que eu... eu não sei o que acontece, mas eu não posso ficar com você nem com ninguém

Ele não diz nada, apenas olha bem no fundo dos meus olhos.

– Eu não quero te machucar

– Você acabou de fazer isso - nunca alguém foi tão sincero comigo

– Não era e nunca foi minha intenção

– Então porque você me chamou pra vir pra cá? - ele sai da minha frente e começa andar de um lado pro outro - pra me fazer de trouxa? Pra falar não minha cara que não quer ficar comigo?

– Eu não posso

– PORQUE?! - ele grita

Eu fico anestesiada, e sem controle de nada as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

– PORQUE VOCÊ NÃO PODE?! - ele grita de novo

Eu simplesmente não consigo dizer nada, eu paralisei, só consigo chorar e sentir um aperto no peito.

– ME RESPONDE! - ele grita

Como um choque na espinha, sinto meu corpo tremer com sua voz.

– Me desculpa - ele fala mais calmo

– Caio eu só não quero - digo

– Como não quer? O que foi que eu fiz de errado pra você desistir de mim, da gente de uma hora pra outra? - eu não quero desistir de você

Tento colocar uma máscara, e fazer com que as lágrimas que caiam parassem. Me recomponho e tento inventar alguma coisa na minha cabeça pra eu, infelizmente, me livrar dele. É a última coisa que quero.

– Eu... perdi o interesse - digo, é a única coisa que vem

– Perdeu o interesse?! Sério?! - diz - não tinha algo melhor pra inventar?!

Eu não funciono bem sob pressão. Mantenho a minha pose, tentando fazer ele acreditar na desculpa mais esfarrapada que já inventei.

– Amanda, por favor, vou pedir mais uma vez, me fala o que aconteceu? - eu não consigo

Não digo nada.

– Então é isso? Você espera que eu acredite que você chorou agora não minha frente, e falou que a gente não pode ficar junto, porque cê simplesmente perdeu o interesse?

– Se você não quer acreditar,  não posso te forçar a nada - digo o mais séria possível, me segurando pra não despencar de chorar na frente dele

– Eu não acredito em você, da pra ver nos seus olhos que tem muito mais coisa que você precisa me falar, mas como cê acabou de dizer eu não posso te forçar a nada, eu vou respeitar a sua decisão - ele diz - vou me afastar de você, já que você quis assim, depois de sábado cê não vai mais me ver, eu estou magoado mas eu sei respeitar as pessoas, acho que isso é um adeus Amanda - os olhos dele se enchem de água

Os meus também, e escorrem dos meus olhos

– Acho que sim Caio

– Boa noite então - ele diz com a voz trêmula

– Boa noite - digo, sem nem respirar direito

Ele sai dali me deixando sozinha, quando vejo que ele entrou na casa, eu desabo e choro como um bebê que acabou de chegar no mundo, perco meu fôlego, mas tudo que quero fazer agora é chorar, chorar, chorar. E estar com meu pai e com o meu filho.

Porque que tudo isso teve que acontecer comigo? Porque?

O motivo de tudo isso foi por causa de um dos meus relacionamentos, eu era nova demais tinha acabado de perder meu pai, fiquei muito tempo de luto, tava perdida sem rumo nenhum na minha vida, nada fazia sentido pra mim. Até que eu conheci alguém, e então eu me apaixonei por ele, ele era um cavalheiro, me respeitava, tava sempre ali me apoiando, em tudo. A gente se dava super bem, sempre tinha uma briga ou outra, nenhum relacionamento é perfeito.

Era tudo uma maravilha, eu perdi minha virgindade com ele, ele foi super carinhoso e respeitoso com isso. Até o dia que ele descobriu que seria pai. Depois que eu disse isso ele se tornou alguém que eu não tinha visto, agressivo, com uma raiva nos olhos. Ele gritava comigo, me bateu, várias vezes mesmo esperando um filho dele, ele me culpava todas as vezes que nos víamos por isso ter acontecido. Quase chegou a um ponto pior, a sorte foram os pais dele que chegaram a tempo, se não nem aqui eu tava mais. Me chamava de puta, vagabunda, sempre me deixava pra baixo. Depois ele pedia desculpas, e eu tonta aceitava.

Eu não cheguei ao 4º mês de gestação, sofri um aborto espontâneo, por culpa dele. Ele matou o meu filho. Eu nunca mais olhei na cara depois daquele dia.

Eu tinha perdido tudo que eu amava. Primeiro o meu pai e depois o meu filho, tudo que sempre mais quis na vida.

Por amar demais eu sofri demais. Eu apanhei. Chorei por muitas noites sozinha, não tinha ninguém ali pra mim. Só o olhar de pena de todos.

Depois de muito tempo de terapia, não me recuperei 100%, mas tomei a decisão de não me machucar de novo. De não perder mais ninguém de novo.

Por culpa de alguém sem noção nenhuma do que tava fazendo eu sou assim hoje. Esse medo me persegue e por mais que eu queira me abrir, eu não consigo.

Eu não posso amar de novo, pro meu bem.

Lembrança BoaWhere stories live. Discover now