Capítulo 7

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Segundona no Barretão com uns showzinhos bem light. Assim que os meninos foram embora, fui descansar mais um pouquinho e depois já fui me arrumar, já que hoje tudo começa mais cedo por conta de ser segunda-feira.

Hoje optei por um vestido azul de paetê maravilhoso, minha bota branca e o chapéu branco de sempre. Vou levar também uma puffer, já que faz um friozinho de noite.

[...]

Todo mundo tava morto já, as meninas estavam parecendo zumbis, menos dona Pamela, claro, tenho certeza que dormiu feito uma pedra e tá reenergizada pra hoje.

Estávamos chegando no parque do Peão e Fabi estava vendo o line-up da festa, que sempre postam no Instagram.

– Vocês sabiam que a gente tá indo ouvir a palavra do senhor né?

– Como assim Fabiana, não viaja - retruca Pamela

– Hoje é dia de Deive Leonardo, ele prega a palavra - responde

– Que maravilha, tá todo mundo precisando disso, pelo menos hoje não tem bebedeira - falei erguendo uma das mãos pra cima

– ha ha ha muito engraçadinha - ela revira os olhos e eu apenas rio enquanto guio a camionete até o estacionamento

Mais dois dias e vou fazer amizade com as mulheres que ficam cobrando estacionamento, vai que consigo um descontinho.

Chegamos e basicamente ir direto pra praça de alimentação já virou rotina, e eu com meu hambúrguer de todos os dias, prometo que amanhã como outra coisa. Sentamos em uma mesa perto do telão pra conseguir ver as provas que estavam tendo na arena, enquanto comíamos.

Faz quase uma hora que chegamos e nada dos meninos aparecerem, acho que desistiram de vir depois de ontem, não devem estar totalmente recuperados.

Como não apareceu ninguém partimos pra ir pra arena e ver o restante das provas, no caso a montaria em touros.

– Fabianaaaaaaaa - grita alguém

Olho pra traz e vejo os quatro andando em nossa direção um mais morto que outro, será que eles estão com alma?

– Cês não vão beber uma gota de álcool hoje - Betina diz apontando pra cada um

– Vamo ouvir a palavra hoje, não pode beber viu? - Gabi fala

– Como assim ouvir a palavra? - Vitor pergunta

– Deive Leonardo galera, vai vamo, tá todo mundo aqui precisando rezar um pouco - digo indo em direção a arena

– Peraí deixa a gente comer alguma coisa

– Pega e vai comer na arena eu tô indo, quero ver o rodeio - digo - depois a gente se encontra lá - me afasto deles e vou até a arena que não me canso nunca de ver.

Eu e Betina, a ÚNICA, que veio comigo sentamos na arquibancada, tinha vários lugares vagos hoje, não tinha muita gente. Alguns minutos depois o resto da turma chega e senta ao nosso lado, tá quente pra cacete, porque que eu trouxe uma jaqueta?!

O rodeio terminou e começou o comercial pra arrumar a arena, tava todo mundo meio morto nada muito interessante aconteceu. Liberam as grades e o povo foi entrando, fomos entrando dessa vez. Começaram os fogos pra "abrir" o palco,dura cerca de uns 5 minutos ou mais e, é uma das coisas mais lindas da festa, sem dúvidas.

Os fogos terminam e entra no palco Cuiabano Lima, que sou muito fã desse cara, quem vai pra rodeio e não conhece Cuiabano Lima, desculpa, mas quem é você?

Ele logo anuncia Deive Leonardo que aparece no palco logo em seguida. O show e a pregação de palavra começa e tudo que ele diz parece que vai diretamente pra você, pro seu coração, como se alguém tivesse te compreendido e está ali por você, pra te ajudar em tudo na sua vida, foi como se estivesse falando com o meu pai de novo, que saudade que não cabe no peito, uma falta imensa. "Viva o presente!", foi isso que ouvi ali naquele momento e isso que ouvi uma boa parte da minha vida, já que, infelizmente, não tive a oportunidade de ficar com meu pai por muito tempo, não foi nem décadas.

Uma das coisas que mais me arrependo foi não ter a aproveitado o presente, enquanto ainda era presente, se eu pudesse trocaria tudo pra ter ele de volta. Mas sei que ele tá bem, e eu tô tentando ficar, um dia eu chego lá, ainda vou encontrar muita felicidade no caminho, isso eu tenho certeza.

O show termina e a pequena multidão começa a sair do arenão, nosso grupo vai junto e eu ia bem pensativa com tudo que ouvi ali, mexeu demais comigo, foi como se alguém tivesse dado um tapa na minha cara pra começar a pensar mais no que eu tô sentindo ou no que eu tô vivendo. Foi bom demais eu ter escutado tudo aquilo.

[...]

– Porque fizeram um buraco tão fundo desse jeito?!- diz Fabi indignada

– Cê tá doido mais 100 degraus pra subir, tô veio demais pra essas coisa - fala Neto

– Tá veio só pra isso né meu fi? - responde Caio

– Shiiu, não fale de mim, que eu num falo do cê - retruca Neto e Caio ergue as mãos em forma de rendição

Que será que esses meninos aprontam hein? Vamo deixar a vida do povo em paz e cuidar da minha, que de início vou começar indo guardar a merda dessa jaqueta, que não sei o que eu tava na cabeça, num puta calor desse eu inventar de trazer isso. Vamos dizer que meu lado mãe quis previnir.

Estávamos indo em direção ao palco amanhecer, que iriam ter os próximos shows, só que antes, claro deram uma passadinha na barraca de drinks e pegaram pinga e as meninas caipirinhas. Super normal quando você acaba de ouvir pregação de palavra e ver um show gospel. Povo da roça não pode ver oportunidade de beber, parece cadela no cio.

Bora levar essa jaquetinha na camionete.

– Já volto tá? - digo pra Betina, que apenas afirma com a cabeça, é tão bom ter pessoas que se preocupam com você.

Saio dali sozinha, depois dou um jeito pra achar esse povo doido.

[...]

"Tem cabaré essa noite ui ai" ouvi isso diversas vezes toda vez que passava por um grupo de meninos, alguns eram bonitinhos, mas tem uns que só Jesus na causa. Já estava chegando na estátua do Jeromão, perto da entrada/saída quando sinto um braço por volta dos meus ombros.

Lembrança BoaWhere stories live. Discover now