Capitulo 38

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Chorei horrores essa noite, meu rosto todo tava inchado, não conseguia pregar os olhos, eles ardiam. Assim que acordei a primeira coisa que veio na mente foi ontem a noite. E no quanto eu sinto raiva por eu ser assim. Junto vem tudo, tudo que aconteceu comigo, todas as lembranças ruins, os sentimentos de angústia, medo, solidão...

Eu não quero amar ninguém, mas eu não consigo controlar isso. Eu me apaixonei pelo Caio. Tudo que eu queria era construir uma vida do lado dele, mas eu tenho esse bloqueio. E não consigo falar disso com ninguém.

Tomo um banho gelado, tentando desinchar meus rosto, nem que seja só um pouco. Faço toda minha rotina de sempre. Se não der pra eu fazer tudo hoje, por causa da minha cabeça eu desmarco tudo e fico trancada nesse quarto o resto do dia. Vou tentar ao máximo não pensar nisso, se não vou acabar chorando de novo.

Com meu rosto mais apresentável, passei uma maquiagem bem leve. Depois desci pra tomar café, só os meninos estavam na mesa. Caio ainda não tinha chego.

– Bom dia flor do dia - Neto fala animado - credo que cara de velório - não repondo nada, apenas dou um sorriso sem mostrar os dentes, acredito que todos eles já tenham percebido meus olhos inchados

– E aí qual roça a gente vai carpir hoje? - Vitor pergunta brincando

Eu novamente não digo nada, não tô afim de falar com ninguém hoje, tomo meu café enquanto os meninos conversam e falam muita asneira, logo de manhã, Caio não desceu pro café, provavelmente não quer nem olhar pra minha cara.

– Ou gente, escutei uma conversa ontem que alguém ia levar a gente pra um bar na segunda e ficou só na promessa - Neto diz se dirigindo a mim

– Olha só, nem tava sabendo de nada - Ryan diz e também olha pra mim, todos me olhavam esperando uma resposta.

Eu mexia no café, e percebo que estavam querendo falar comigo. Desligo os meus pensamentos e foco no assunto que eles falavam.

– Oi? - digo

– Bora pro bar hoje? - Neto fala

– Hoje não, é meio ruim de movimento - falo, realmente quarta não é dos melhores dias - se quiserem vamos amanhã, chamo alguns amigos também

– Leva amigas viu - Ryan diz, achei que ele e a Fabi tinham algo, mas pelo visto era só fogo no rabo

– Vou chamar, só não garanto que sejam solteiras

Digo e eles continuam falando, hoje acordaram com um pique, tão pior que mulher em salão. Caio não apareceu. E eu tive que sair fui na fazenda do meu tio, os meninos quiseram ir junto, ia terminar de pegar mais algumas amostras e conversar um pouquinho com ele. Fazia tempo que não tirava um tempinho pra falar com ele, sempre tento me manter próxima, ele não é meu pai mas lembra muito ele, isso me ajuda.

[...]

Durante o dia, fiquei o tempo todo com os três, levei eles em quase todas as fazendas, a favorita foi a que dá acesso a uma represa, entraram um pouco na água e fiquei apenas observando tudo.

Chegamos na casa eram quase 18h, e eu precisava fazer algo. Ir no túmulo do meu pai, sozinha. Sempre quando vou no cemitério consigo descarregar tudo que tô sentindo, levo um buquê de rosas vermelhas, eram as preferidas dele.

Fui lá e fiz o que tinha que fazer, coloquei tudo pra fora, chorei, refleti um pouco. Fui embora mais tranquila. Cheguei na fazenda nem comi nada, falei pros meninos que já ia pro quarto, e eles não acharam ruim, acho que perceberam que não tô muito legal. Não vi Caio hoje.

Subi pro quarto, tomei um banho e coloquei alguns filmes pra assistir, chorei mais um pouco e dormi.

[...]

Queria não levantar, parece que perdi alguém, e realmente perdi. Levanto e faço a mesma rotina de todos os dias, e lavo meu rosto na água gelada pra dar uma amenizada no inchaço.

Desço pro café e ouço alguém conversando com Rosi, uma voz feminina.

Fico surpresa quando vejo Betina, ela odeia acordar antes das 8h.

– Bom dia priminha linda - ela vem logo me abraçando e apertando minha bochecha

– Bom dia - digo

– Vim passar o dia com você e depois mais tarde a gente vai ir tomar uns drinks

– Bet não é nem 7h pra você já tá pensando em álcool menina

– Falou a pessoa que tava sóbria 7h da manhã semana passada - ela fala com ironia, eu apenas reviro os olhos

Betina fica falando dela e da mãe, que é minha madrinha, essas duas juntas são uma piada, uma fala mal da outra mas não vivem separadas de jeito nenhum. Os meninos chegaram depois de alguns minutos, Neto ficou enchendo o saco da Betina, ela só dava patada nele. Tava engraçado, por um instante até esqueci de tudo. Mas ele não tava lá. De novo.

Queria perguntar pra algum deles, mas meu orgulho e ego não deixa. Então sai dali e ia pra colheita, quero ficar o dia todo lá, não quero voltar pra cá. Quando anoitecer eu volto.

[...]

Betina e Ryan vieram comigo, quando cheguei na fazenda fui direto pra colheitadeira, só vou parar pra pegar comida, quero ficar sozinha fazendo algo que gosto, distrair minha cabeça. Nessa brincadeira terminamos a colheita dessa fazenda eram umas 17h, quatro dias de colheita tá ótimo, só ir pra próxima área e começar os trabalhos.

[...]

Já na fazenda São Daniel, Bet me falou que ia convidar alguns amigos nossos, pelo visto hoje vai ser reunião da galera toda.

Fui direto pro quarto, tomei um banho e descansei um pouco, bem pouco, porque Betina entrou animadíssima falando pra nos arrumarmos juntas.

– Quem tanto cê chamou Bet? - pergunto

– Uma galera aí

– Quem?

– Surpresa - faço cara de desânimo - brincadeira, só uns amigos aí, relaxa.

Fazemos a maquiagem, cabelo e colocamos as roupas. Bet escolheu um shorts jeans, body preto e por cima um blazer, e nos pés um salto todo em strass. Já eu coloquei uma mom jeans, com um corset preto e um salto de amarração, bem basiquinhas.

Descemos e todos já estavam na sala, inclusive ele, que tava mais bonito que o normal. Quando o vi foi uma mistura de sentimentos tristeza, felicidade e raiva. Raiva de mim, de eu ter tomado aquela decisão.

Enquanto desço as escadas, junto com Bet, nos encaramos, ambos com olhares vazios e tristes.

– Bora turma - Ryan fala

– Já pode encher a cara hoje? - Vitor pergunta

– Ninguém vai cuidar de você - Bet fala

– Relaxa Vitinho, eu cuido de você - Ryan fala e passa a mão no braço de Vitor

– Sai fora

Todos riem, e logo vamos pras camionetes, Betina e Neto vão comigo, enquanto os outros três vão na outra.

[...]

Dez minutos depois chegamos no barzinho, pelo tamanho da mesa Betina convidou a cidade toda, exagerei mas tem lugar pra umas 15 pessoas.

Peço meu negroni de sempre, meu drink favorito, é só vejo um pessoal chegando, meu irmão com a cunha, Pamela, Karina (melhor amiga da Bet)com o namorado, e mais alguns amigos, tinha um que inclusive não via faz tempo. Ela convidou até Joaquim, ela não devia ter convidado ele.

Lembrança BoaWhere stories live. Discover now