CAPÍTULO 11

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Felipe

O meu corpo se encontra totalmente cansado nesse momento, eu passei as últimas doze horas de pé correndo de um lado para o outro, sem tomar um banho, dormir ou me alimentar, mas ao menos nesse plantão nós não tivemos nenhuma perda, então todo o cansaço valeu a pena, porque pra mim realmente não há nada pior do que ver um bebê ou uma criança partir.

Fazem mais de cinco anos que eu atuo como cirurgião pediatra e eu me adaptei bem a essa área... Me lembro bem que na época da faculdade eu tinha dúvidas sobre qual área iria seguir, mas no meu primeiro dia de residência de pediatria cirúrgica, eu soube que era aquela área que iria seguir.

Eu nunca fui fã de crianças, nunca tive sonho de ser pai e nem nada do tipo, mas eu me lembro bem que no meu primeiro dia de residência eu presenciei uma garota de três anos chorar copiosamente de dor devido a um câncer no pâncreas e eu me lembro bem que fiz uma promessa pra mim mesmo naquele momento, eu prometi que faria o possível e o impossível para não ver nenhum ser tão pequeno e puro chorar ou sofrer novamente... E eu venho cumprindo a minha promessa, tenho feito meu melhor e honrando o meu juramento.

Eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo ou a pessoa mais fácil de lidar, mas dentro desse hospital eu sempre tendo dar o melhor de mim.

Saí de baixo daquela água quente e desliguei o chuveiro secando o meu corpo.

O meu dia só está começando, o meu plantão chegou ao fim, mas daqui irei direto para a faculdade e ficarei por lá até o período da tarde, então já sei que não tirei um dia fácil e mal posso esperar pra chegar em casa e descansar um pouco.

Me vesti rapidamente, peguei a minha pasta e saí da minha sala caminhando em direção a saída do hospital... Agora ainda é cedo, mas quero e vou chegar mais cedo na faculdade pra adiantar alguns trabalhos.

- Filho! Você já está indo? Eu acabei de chegar, mas já estava indo atrás de você, meu bem. Você não foi no último almoço em família que eu fiz, senti a sua falta por lá.- Minha mãe desandou a falar assim que me viu.

- Eu com certeza estava muito ocupado, mãe. Você sabe que eu não tenho tempo pra perder com essas coisas, não perca o seu tempo me convidando.- Fui franco com ela.

Eu não gosto e não vou a nenhum desses almoços ou eventos em família... A minha família vive uma grande hipocrisia, tudo mundo sabia o quanto a minha mãe e eu sofriamos nas mãos do carrasco do meu genitor, ninguém fazia nada e ainda foram chorar a morte dele no velório... Pra que eu vou querer a companhia de gente que age assim? Dessa gente eu quero é distância.

- Felipe Ávila, pelo amor de Deus... Meu filho, eu estou falando da sua família, você não pode agir assim... Todo mundo te ama, meu filho e tenho certeza que eles ficariam muito triste em te ver falando dessa forma.- Minha mãe disse me fazendo rir.

Faça me o favor... Eu não quero e não vou conviver com esse bando de hipócritas, na verdade eu quero mais que eles se fodam!

- E aonde essa família maravilhosa estava enquanto o meu saudoso pai me batia com fios, hein, mãezinha? Me diga! Todo mundo sabia o que a gente sofria e ninguém fazia NADA! Então não me venha com esse seu discurso falso, porque nem você estava lá enquanto eu era espancado.- Falei aquilo em alto e bom som.

A minha mãe arregalou os olhos ao me ouvir falar, ela rapidamente se aproximou de mim e tentou tapar a minha boca... Quer saber? A verdade é que a minha mãe foi e ainda é conivente com tudo que o meu pai fazia conosco, ela sempre soube o quanto ele me batia, o quanto ele me machucava e nunca fez nada pra impedir isso, acho que é por isso que eu tenho tanto receio de estar perto dela... Porque eu me lembro de gritar por sua ajuda todas as noites, de implorar pra irmos embora e ela nunca me ouviu, nunca.

Meu Professor Irresistível Where stories live. Discover now