Capítulo Noventa e Um

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— Isso não vai dar certo!

Soltei um suspiro enquanto Francis cortava as casacas do pão de forma, dando um risinho extrovertido. Abriu o pote de geléia de morango, fiquei com vontade.

— Tina e Micael? — Buscou uma faca. — Veremos nos próximos dias.

— Você ainda quer esperar os próximos dias? — Perguntei surpresa, Francis soltou uma risada sincera.

— O que estão fazendo?

Micael apareceu onde estávamos. Francis lambeu a ponta da faca, antes de jogá-la na pia. Estava com o pão pronto quando colocou em um prato de cerâmica, levando como se fosse algo precioso. Era precioso, porém, estava com medo de cair no chão e espatifar de uma vez.

— Tina está com fome! — Saiu andando.

— Tina isso, Tina aquilo, Tina a puta que pariu! — Micael resmungou enquanto ficava ao meu lado, o que me fez rir. — Por que está achando graça? Por que está rindo? — Ficou bravo.

— Ei, calma! — O parei com minhas mãos. — Só estou achando engraçado.

— O que é engraçado para você, Sophia?

— Essa situação. — Olhei ao redor. — Estamos morando na casa do Francis e da Tina, tem coisa pior?

— Morar na casa do seu pai ou ser sequestrado pelo meu pai. — Micael bufou. — Eu estava pensando em um jeito de sairmos do país.

— E você achou a solução? — Fiquei ansiosa pela resposta.

— Não. — Micael rolou os olhos.

Revirei os meus olhos.

— Precisamos achar um jeito de juntar uma quantia de dinheiro. — Nos encaramos. — Você deve ter algum quadro de muito valor, não deve?

— Os quadros estão na antiga casa, Sophia.

— Vamos pega-los!

— E o risco de voltarmos para lá? Minha mãe deve ter feito algo, à essa altura do campeonato. — Ficou pensativo.

— Você acha que ela pode ter trocado as fechaduras? — Mordi a ponta dos dedos.

— Não sei. — Micael ainda estava pensativo.

Mas seu olhar mudou quando vimos Tina atravessar à sala, longe de nós, nua. Micael me encarou de volta, negando com a cabeça.

— Temos que achar um jeito de sairmos daqui, rápido! — Segurou na minha mão.

— Já sei o que você pode fazer. — Rondei ele, andando de um lado para o outro. — Peça à Francis para comprar uma tela, você vende e podemos vender! — Achei uma ótima solução, mas Micael não pareceu gostar da ideia.

— E vamos vendê-la para quem? — Cruzou os braços.

— Não sei. Você deve ter diversos contatos! — Levantei os ombros. — Francis deve ter diversos contatos.

— Eu não tenho estrutura para montar uma vernissage, Sophia. E não adianta eu fazer algo de garagem, ninguém quer saber de quadros. Só pessoas especializadas, de hobby. — Bagunçou os cabelos. — Minha mãe me fodeu mais do que qualquer puta do prostíbulo do meu pai! — Trincou o maxilar.

Me aproximei de Micael, alisando seus ombros tensos. Aquela situação estava ficando terrível à cada solução, ele estava se cansando. Todos estavam se cansando!

— Uma pessoa irá te ajudar. — Parei a massagem que estava fazendo no ombro de Micael, que franziu o cenho.

— Quem? — Subiu o olhar para mim.

— Alexander. — Fiquei com medo de dizer aquele nome. — Ele pode comprar um quadro pelo o dobro, você pode explicar o que aconteceu!

Fiz Micael ficar desconfiado, puto, um misto de sensações naquele momento. Tudo o que fez foi alisar o maxilar com o dedão, analisando minha sugestão, como se aquilo fosse a última saída.

E era a última saída.

— Alexander? — Subiu o olhar para mim, de novo, já que estava cabisbaixo.

— Sim.

— Preciso conversar com Francis à respeito. — Estava em transe quando andou até à sala, resmungando algo com Tina, que agora, estava vestida.

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Passei a tarde no sofá de Francis e Tina, que já tinha sido cama para sexos matinais. Tentei não pensar nisso, mas era impossível! E enquanto eu estava repousando, me senti um lixo por não estar curtindo minha gravidez, do jeito que imaginei.
Obstetras, alimentação e vitaminas foram preenchidos por estresse, caos e tristeza.
Não era para ser assim!

Você sente alguma coisa? — Tina devorava um saco de biscoitos.

— Se eu sinto o bebê mexer? — Ela assentiu. — Ah, um pouco! Ele parece quieto, às vezes eu consigo sentir. — Levantei minha blusa, encarando minha barriga que estava do tamanho de uma bolinha de melão.

— Você acha que é menino?

— Não faço a mínima ideia. — E não fazia mesmo. — Minha mãe dizia que tinha o instinto, mas eu não consigo ter isso. É normal?

— Eu acho que você anda passando por muito estresse, pode ser por isso. — Colocou quatro biscoitos de uma vez na boca.

— Céus, Tina! O que deu em você? — Me assustei quando vi Tina comer compulsivamente.

— Estou com fome! Não pode mais sentir fome?

— Você comeu um lanche com geléia há trinta minutos atrás.

— Francis não sabe fazer lanche. — Achou uma desculpa. — Eu estou com fome!

— Tudo bem. — Dei de ombros. — Quando você perder a sua barriga esbelta, não venha chorar para mim enquanto aperta suas gordurinhas em frente ao espelho. — Soltei um risinho.

— Cala a boca! Você vai ficar do tamanho de uma baleia jubarte. — Torceu o nariz e voltou à comer.

Francis apareceu com Micael, tinham cavaletes novos e algumas telas brancas, seguidos de tintas apropriadas. Sorri ao ver aquilo, Micael tinha aceitado a ideia mas não quis me dizer nada, como era bastante orgulhoso.

— Não me diga que você comprou tudo isso, Francis. — Tina apontou para os objetos novos de Micael.

— Irei pagar tudo quando receber a quantia de dinheiro. — Micael respondeu, firme.

— Vou cobrar, senhor Micael Borges que agora é pobre. — Tina lhe cutucou, rolando os olhos e comendo mais biscoito.

— Gostaria que você se engasgasse com cada farelo desse biscoito. — Micael lhe fuzilou com o olhar.

— Obrigada. — Tina rebateu. — O que vão fazer com essas telas?

— Pintar. Não está óbvio para você? Sua burra! — Micael tirou sarro.

— FRANCIS. Eu perguntei ao Francis, você se chama Francis? — Estavam discutindo como duas crianças.

— Alexander virá aqui em casa, amanhã. — Francis disse um pouco animado. — Micael irá vender as telas e conversar sobre o ocorrido.

— Apelou para o Alexander mesmo, hein? O que o dinheiro não faz. — Tina soltou um risinho.

— Tina, por favor! Segura a onda. — Francis comprimiu os lábios.

— Tudo bem, Francis. Já disse que vou dar à volta por cima, pelo menos para sair do país. — Micael respondeu.

Era isso que esperávamos.

Sete Pecados Where stories live. Discover now