Capítulo Quarenta e Nove

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— Você é a esposa de Micael Borges?

O médico estava em minha frente. Jaleco branco, sapatos fechados e uma luva de látex vestida em suas mãos. Ajeitou o óculos para falar comigo.

— Sim, sou eu! — Soltei um suspiro. — Ele está bem?

— Está na enfermaria. Levou cinco pontos! — Me estremeci. — Você sabe me dizer o que aconteceu de fato?

Eu sabia explicar o que aconteceu de fato, mas, decidi deixar isso entre nós. O médico estava esperando uma resposta digna, porém recebeu o silêncio.

— Um acidente. — Menti. — Ele estava na oficina de quadros. Quando cheguei, ele já estava com a tesoura fincada nas costas.

— Entendi. — O médico não acreditou muito. — Eu vou deixá-lo em observação, ele precisa se recuperar.

Assentiu e me deu às costas, saindo de onde estava. Coloquei as mãos no rosto e tomei coragem para vê-lo. Foi muito sangue frio eu ter feito isso com o Micael, mas as coisas em casa iriam mudar.

Me levantei de onde estava, caminhando pelo corredor com cheiro forte de éter. Segui as placas indicativas até chegar na enfermaria, onde avistei Micael, sentado com um curativo mediano no local da facada. Tinha um acesso no meio do braço, indicando que estava terminando o seu soro. Fui até ele, engolindo seco, tomando coragem.

— Está feliz? Por sua causa, eu quase furei um tecido do meu corpo. — Micael estava bravo.

— Você mereceu! — Minha coragem havia ganhado bônus. — E daqui para frente será bem pior.

— Vai enfiar uma faca no meu ombro dessa vez? — Debochou.

— Se for preciso! — Dei de ombros. — Como você está se sentindo?

— Um merda. — Ficou cabisbaixo. — Minhas costas está queimando, eu preciso ficar com essa porra de curativo até amanhã.

Respirei fundo e me agachei na frente de Micael, como se fosse explicar algo para uma criança birrenta.

— Querido. — Fui debochada ao máximo. — Eu sei que você não é tão idiota quanto eu penso. Então, as coisas irão mudar muito daqui em diante! — Soltei, em tom de ameaça. — Quer agir como um louco? Então vamos agir como um louco.

— Você está se aproveitando da minha doença para se vingar? — Ficou surpreso.

— Você não é doente, Micael! Você quer que todos caiam no seu papinho de doente. — Me apoiei em sua coxa. — O seu negócio é judiar de mulher, bater, gritar e fazer várias coisas que não cabe a mim estar falando.

— Vaca.

— Espero que você tenha entendido. — Sorri falsa e me levantei, arrumando minha roupa que estava um pouco amassada. Micael me fuzilou com o olhar, não gostando da conversa.

Decidi deixá-lo em paz, sozinho, pensando na pouca conversa que tínhamos acabado de ter. Quando voltei ao corredor, encontrei uma enfermeira que vinha em minha direção. Creio que iria verificar o curativo de Micael, por conta da sua bandeja cheia de remédios.

— Pois não! — Ela me parou. — Quem deu autorização para ir ao quarto?

— O médico. — Respondi, sem paciência. — Ele é o meu marido.

— O homem da tesourada? — Era assim que estavam falando dele no hospital?

— Sim. — Pisquei rápido, saindo do transe. — Eu preciso ir! — Sai andando, não esperando a resposta da enfermeira.

Sete Pecados Where stories live. Discover now