Capítulo Cinquenta e Nove

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— Vamos. Por aqui!

Micael segurou a minha mão, achando uma saída naquele labirinto onde estávamos. Nenhum capanga na porta, nenhum capanga no corredor. Somente as mulheres com seus homens, indo para diferentes quartos.

— Você sabe onde estamos? — Soltei, um pouco sem fôlego por tanto correr.

— Perto da tubulação. — Micael colocou as mãos na cintura. — Preciso fazer algo antes que sairmos daqui.

— Micael, você não pode ficar inventando moda. — Me desesperei. — Precisamos sair daqui!

— Nós vamos sair daqui mas antes preciso fazer uma coisa. — Passeou o olhar pelo corredor onde estávamos. — Vem!

Segurou na minha mão, me puxando para correr mais um pouco. Fiquei sem entender quando voltamos ao corredor que estávamos, Micael abriu as portas, revelando as mulheres fazendo os seus diversos trabalhos com homens diferentes. Me choquei na terceira porta.

— Uau. — Soltei após observar a mulher transando com dois ao mesmo tempo.

— Vamos embora! Vamos embora! — Micael bateu palmas, pedindo para que saíssem dali e seguissem ele. — É incêndio! Vamos embora!

Me dei conta que Micael iria fazer um incêndio, decidindo tirar todas as meninas de lá. Fui rápida fazendo a mesma coisa que ele, chamando todas que estavam em quartos diferentes, sem que a notícia chegasse nos ouvidos de Borges.

— Vamos! Incêndio! — Consegui chegar no camarim onde fiquei na primeira noite.

— O que? Incêndio? Temos que avisar o Borges. — A mulher disse para outra, com medo.

— NÓS VAMOS SAIR DAQUI! VOCÊS PRECISAM SER LIBERTAS! — Gritei com raiva, empurrando todas para fora.

Micael direcionava todas para uma porta na tubulação, que daria acesso à parte de trás. Era muita mulher! Deveríamos ir rápido naquele processo delicado, os capangas iriam perceber.

— Querida, ande logo. Para fora! — Micael me empurrou para à porta.

— Como você vai incendiar isso aqui? — Segurei em seu braço.

— Meu pai é mafioso. Você se esqueceu? — Soltou um risinho. — Vá com elas até um lugar mais seguro, te encontro no caminho.

— Eu não vou deixar você aqui. — Segurei forte em seu braço, decidindo ficar com ele. — É perigoso!

— É mais perigoso você aqui do que eu. Agora vá, logo! — Me fez sair pela porta, me juntando com as outras.

Mas fui turrona ao entrar de volta, vendo Micael um pouco distante. Corri até ele, descalça e de biquíni.

— SOPHIA BORGES! — Gritou, com raiva. Seu semblante mudou ao me ver atrás dele, como uma criança desobediente.

— EU VOU COM VOCÊ! — Bati de frente. — Se você ficar, eu fico. Se você morrer, eu morro junto. — Meu coração estava à mil. — Na saúde e na doença, lembra?

— Lembro. — Micael assentiu, um pouco derrotado. — Na saúde e na doença. — Tocou a minha mão da aliança, alisando o meu dedo. — Agora vamos! Não temos muito tempo.

Corremos bastante até chegarmos em outra parte do prostíbulo, Micael conhecia um pouco os atalhos. Voltamos naquela sala em que Borges tentou me estuprar. Micael vasculhou algumas portas de alumínio, procurando algo.

— O que vamos fazer? — Fiquei observando a porta, de segundo em segundo.

— Ele guarda bombas. — Continuou procurando. — Eu vou acionar uma bomba e vamos correr como se fosse o último dia na terra. Está entendendo? — Me encarou, soltando as coordenadas, bem sério.

— UMA BOMBA? — Me desesperei. — Por que o seu pai tem uma bomba?

— O meu pai guarda tanta coisa horrenda que você não imagina. — Micael tinha um objeto metálico e prata em mãos. — Aqui está! Você já viu uma bomba de verdade?

— Não. E não quero ficar para ver como funciona.

— Por isso você precisa correr, bem rápido. — Teclou algo na bomba que tinha uma tela de LED. — Coloquei quinze minutos, dá o tempo certo de corrermos até a tubulação de volta e sairmos por aquela porta.

— Micael, a tubulação fica mais de vinte minutos. Não vamos chegar à tempo!

— Não vamos sair pela tubulação. — Rolou os olhos. — Vamos sair pela porta da frente!

— Com os capangas? — Cada vez eu estava me surpreendendo mais.

— É por isso que você precisa correr, bem rápido. — Fiquei incrédula. — Preparada? — Voltou a teclar, deixando a bomba no chão. — Isso aqui vai fazer um regaço. — Cerrou os dentes.

Um barulho eletrônico foi ecoado e Micael correu mais que um atleta profissional, me deixando para trás. Porém, me esperou um pouco para que eu fosse na frente, correndo atrás de mim, onde consegui pegar a mesma velocidade que ele.

Quando atravessamos o salão principal, olhares estranhos e homens maiores do que Micael correram atrás da gente. A porta parecia cada vez mais longe e os minutos eram rodados. Algumas mulheres estavam correndo conosco, sabendo do incêndio falso que havíamos soltado nos corredores. Barulhos de tiro, gritaria e sapatos no chão envolveram a minha mente, que só estava correndo.

— NÃO OLHA PARA TRÁS, SÓ CORRE! SÓ CORRE! — Escutei Micael gritar atrás de mim.

Chegamos na porta e meu coração estava na boca! Saímos em bando e quando me dei conta...

— MICAEL! — Gritei, vendo seu corpo me jogar no chão e deitar em cima de mim, um peso enorme que amorteceu com os sentimentos que eu estava carregando.

BUM.

Era como os filmes de ação que assistíamos quando Anthony estava de férias, já que ele escolhia a programação. Não estávamos perto da porta, mas ainda tinha Micael em cima de mim, protegendo do barulho e do caos que estava acontecendo.

Tentei respirar fundo e olhar para frente, assistindo as mulheres nuas que estavam com a gente, correr mais rápido que atletas, assim como nós.

— Você está bem, querida? — Micael retirou os cabelos do meu rosto, já que eu estava trêmula e chorando.

— Eu quero ir para a casa, Micael! — Ele saiu de cima, tocando o meu rosto. — Desculpa. Eu quero ir para a casa! Desculpa! — Ele me abraçou, fazendo carinho em minha cabeça.

— Nós vamos para a casa. Você está segura agora! — Beijou o topo da minha cabeça. — Se acalme, eu estou aqui. — Me abraçou mais forte, ficando um bom tempo.

O fogaréu se alastrava e a fumaça preta subia mais e mais. O lugar estava totalmente em chamas! Eu sabia que era a hora de ir embora, ir embora daquele caos e viver a vida novamente.

Só não sabia que aconteceria grandes mudanças, começando por uma grande novidade.

Sete Pecados Where stories live. Discover now