Capítulo Oitenta e Oito

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Morar na casa da Tina e do Francis seria uma etapa difícil da minha vida. Eu fui burra demais ao ponto de me casar com dezessete anos, engravidar aos dezoito e me divorciar nesse mesmo tempo, tendo um ex-marido internado em uma clínica. Eu precisava viver, sim! Porém, seria difícil recomeçar.

Começando pelo fato em que Tina e Francis transavam à luz do dia em pleno sofá, sem cobertas para os cobrir.

— MEU DEUS! — Tapei os meus olhos, me assustando.

— Ok, já estou saindo! — Não vi o que Tina estava fazendo, mas andei para trás, voltando do lugar de onde eu vim.

— Eu já me vesti, pode vir. — Avisou.

Fiquei com vergonha ao ver Francis pigarrear e terminar de abotoar a calça, junto com ela, que arrumava a alça do sutiã.

— Foi mal, é que a gente faz isso todos os dias.

— Você se esqueceu que eu estou morando na sua casa? — Forcei um sorriso.

— Um pouco. — Tina ficou sem graça. — Na verdade é que você já faz parte da casa, então, não ligamos com isso.

— Você é terrível, Tina. — Balancei a cabeça. — Eu vou ao cartório hoje, o juiz me mandou um e-mail.

— Que juiz atualizado! — Brincou. — Notícias do divórcio?

— Parece que o papel ficou pronto hoje. — Soltei um suspiro. — Serei uma ex-Borges quando passar daquela porta, à tarde.

— Uau. — Tina fez uma careta engraçada. — Quer saber? Eu vou beber para comemorar a sua solteirice! Francis irá fazer o mesmo. Não é, amor?

— É sim. — Respondeu de longe.

Como ela estava feliz com aquilo? Se estava tentando me deixar feliz, Tina falhou completamente.

— Eu vou indo. — Coloquei minha bolsa entre os ombros. — Você quer ir comigo?

— Ah, não. Pode ir! Se você quiser, podemos beber algo mais tarde no centro de Bordéus. — Optou.

— Não, obrigada. — Despistei Tina antes que fosse tarde, saindo de sua casa e chamando um táxi.

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Avistei o carro de Marjorie na frente do cartório, pedi para que o taxista parasse em frente, o pagando em seguida e me preparando para descer. Subi os degraus delicadamente, me informando no balcão antes de ver Cinthia chegar até mim, com um ar de arrependimento.

Ela estava triste por isso! A única que estava triste por mim.

— Querida, como você está? — Me abraçou.

— Indo. — Engoli seco. — Micael está aí?

— Estão na segunda sala, esperando por você. — Cinthia avisou. — Marjorie tentou conversar com ele mas Micael está incomunicável! Parece que teve uma lavagem cerebral nessa clínica.

— Eu também não sei o que aconteceu de fato. — Estava bem triste. — Só sei que agora estou mudando minha vida, pelo menos tentando.

— Onde você está morando?

— Na casa da Tina! — Cinthia franziu o cenho. — Aquela minha amiga...

— Ah, sim. Tina! — Lembrou-se. — Você vai morar na casa dos seus pais novamente? Quando o divórcio sair.

— Vou alugar alguma coisa, tudo depende de hoje.

— Que bom que está trabalhando, querida! Você vai ajustar suas coisas, vai dar tudo certo. — Franzi minha sobrancelha com a fala de Cinthia, deixando de lado e indo até à sala onde estavam Micael, Marjorie e o juiz.

Quando cheguei, vi o mesmo vestido de social, ao lado de Marjorie, que vestia um vestido florido e longo. Lindo! Ambos arrumados para o pior dia da minha vida, o meu divórcio.

Micael me encarou como da primeira vez, sentindo sensações que não conseguia dizer, já que não queria dizer. Fiquei ao seu lado, esperando alguma resposta.

— Oi. — Foi a única coisa que disse.

— Oi. — Sorri leve. — Você está bem? — Fui simpática.

— Sim. — Pausou. — Vocês estão bem? — Levou sua mão até a minha barriga, que estava criando um formato bastante redondo agora.

— Estamos! Estamos sim! — Assenti.

— Fico feliz. — Ele também sorriu.

— Micael, eu preciso conversar com você...

— Mas ele não vai, querida. — Marjorie se intrometeu, tirando sua mão da minha barriga, quebrando um espelho que estava se formando entre nós. — O juiz precisa falar com vocês!

Micael ficou em silêncio, se recuando. Fiz o mesmo, vendo que o juiz se preparava para dizer alguma coisa.

— Segundo os documentos... — Folheou as diversas páginas de documentos que estavam em cima da mesa. — Sophia Abrahão Borges, sendo agora, Sophia Abrahão, tem. — Virou uma página. — Zero vírgula zero de bens em nomes de, Micael Leandro de Farias, sendo assim, declaro em oficial o divórcio, para as assinaturas dos documentos.

O juiz levou a folha até nós, me fazendo surtar. Eu não tinha nenhum bem em nome! Micael mentiu para mim! Estava com os olhos arregalados quando Micael se questionou.

— Zero vírgula zero? — Ele franziu o cenho.

— Micael, assine logo. — Marjorie disse no pé do seu ouvido.

— Mãe, isso está errado!

— MICAEL, ASSINE ESSA PORRA LOGO! — Marjorie puxo a folha, colocando a caneta nas mãos de Micael.

— Não. — Ele a encarou de volta, negando. — Não foi isso que eu assinei quando casei com ela, eu deixei meus bens à Sophia que vai ter um filho meu.

— Acontece que eu não vou deixar essa vagabunda te trair e ainda por cima ficar com os bens da nossa família. — Marjorie se alterou. — Ela dormiu com Alexander enquanto você estava doente, Micael! Vai permitir isso?

Balbuciei e senti raiva, fechando meus punhos e me controlando para não voar no pescoço de Marjorie.

— Eu não dormi com ninguém! — Me defendi. — Eu já disse que foi apenas um jantar, Micael.

— Fique sabendo que quando esse bebê nascer, perto de você é que ele não vai ficar! — Marjorie me ameaçou, na frente do juiz.

— Está me ameaçando na frente dele?

— A justiça tomará conta disso, Sophia! A justiça!

— Silêncio todos! — O juiz se irritou. — Prestem a atenção nos documentos, por favor.

Micael encarou a folha em sua frente, observou Marjorie e eu, detalhando todas as nossas feições. Raiva, ódio, tristeza... Tudo misturado! Encarou o juiz mais uma vez antes de pegar a caneta, soltando um suspiro.

— É só você assinar, querido. — Marjorie disse mais uma vez, entrando na mente de Micael. — Ela sabe que está errada! Ela não teve dó de você quando jantou com Alexander, e sabemos quem é Alexander de verdade.

Micael me encarou com tristeza, magoado. Levou a caneta até o documento, rasgando de cima à baixo, com toda a força que tinha. O juiz se impressionou, assim como Marjorie, que tinha os lábios boquiabertos.

Os dois se fuzilaram, Micael encarou sua mãe com ódio.

— Vá se foder, sua vadia de merda! Meu pai deveria ter te matado quando teve a oportunidade. — Cuspiu as palavras. — Vamos Sophia, eu não preciso mais de nada que está aqui. Apenas de você!

Sete Pecados Where stories live. Discover now