Capítulo Sessenta e Nove

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— Francis deu banho, ele está lá em cima, não quer dormir.

Tive que recorrer à Francis e Tina quando vi que a coisa estava ficando séria. Micael ficou tão louco que sua cogitação em colocar fogo na casa foi a primeira opção, depois de ter gritado até sua voz ficar rouca. A mistura dos remédios com bebidas não fizeram bem.

— Obrigada por ter vindo. — Estávamos caminhando pelo quintal. — Não podia chamar a Marjorie é muito menos a minha mãe.

— Sophia, sério! — Tina me parou. — Você não acha que deveria morar na sua mãe até o bebê nascer? Como uma proteção. — Gesticulou as mãos, com medo de tocar no assunto.

— E deixar o Micael aqui?

— Ele vai matar você se continuar aqui, acorda! — Eu não conseguia dirigir essa palavra. Matar.

— Tina, eu não posso simplesmente deixar o meu marido que é doente e viver a minha vida como uma ninguém.

— E vai deixar que ele te mate ou faça mal para o bebê? Me poupe. — Continuamos a andar. — Você deveria investir mais! Ele tem dinheiro! Faça uma faculdade, estude, arranje um emprego e pare de depender do dinheiro sujo do seu sogro.

— Já cogitei em trabalhar mas ele odiou a ideia.

— Se você fizer cocô nesse gramado ele também vai odiar a ideia, Sophia. — Blefou. — Entenda que o Micael está matando você aos poucos, ainda mais com essa grande novidade do bebê.

— Eu já disse à ele que o bebê é meu! Ele não precisa aceitar. — Observei as árvores se balançando.

Tina franziu a sobrancelha.

— Que? — Tinha o rosto franzido. — Você não quer que ele participe? Eu não entendi.

— Eu disse à ele que o bebê é meu! Se ele não quiser a criança, ela será somente minha. Ele não precisa registrar e nada do tipo.

— Caraca, que loucura! — Tina balançou a cabeça. — Você literalmente assinou o seu atestado de loucura quando se casou com ele.

— Tina, eu amo ele.

— Acho que se você casasse com o Victor eu não iria reclamar. — Levantou os ombros, soando leve e debochada como era.

Francis se aproximou. Estava com a manga da camisa social molhada, os cabelos úmidos e um cheiro não muito agradável. Me afastei um pouco, com certeza Micael deve ter vomitado em seu corpo.

— Voltei. — Nos observou. — Ele está bem! Dei um banho e já coloquei para dormir.

— Obrigada, Francis. — Alisei os meus braços. — Ele reclamou muito?

— Está bêbado e drogado pelos comprimidos. Isso realmente iria acontecer!

— Faz muito tempo que ele é assim? — Queria saber sobre o seu passado.

Francis encarou Tina antes de me observar. Alisou sua barba um pouco crescida, pensando.

— O Micael não gosta de ser contrariado, só isso. Acho que você ainda não entendeu os recados. — Soltou um risinho.

— Eu sou a mulher dele!

— Entendo, mas o Micael é muito difícil de lidar. Você vai calejar um pouco até saber realmente quem ele é.

— Agora eu já sei quem realmente ele é. — Disse baixinho. — Mas obrigada pela ajuda.

— Eu aconselho você dormir na casa dos seus pais, essa noite. — Francis disse. — Por precaução.

— Eu disse a mesma coisa para ela. — Tina seguiu o fio. — Só por essa noite!

Fiquei pensativa.

— Não posso contar aos meus pais, não ainda. — Ainda tinha que contar, mas não era o momento. — Posso ficar na sua casa?

— Sophia, casa dos seus pais. Por favor! — Francis colocou uma mão em seu ombro. — Conselho de amigo que conhece o amigo que tem. Você estará mais segura!

Você estará mais segura! Foi com essa frase que arrumei minha mala pequena e pedi um táxi, com destino à casa dos meus pais. Ver Micael naquele estado me partiu o coração, mas algumas coisas teriam que mudar por conta do bebê.

Mantive o segredo de não contar aos meus pais sobre á gravidez, deixando tudo mais leve e mentindo sobre a minha visita repentina, chegando de surpresa.

— Mamãe! — Dei um abraço apertado, como se estivesse chegado ao meu refúgio.

— Meu amor! Você sumiu. — Alisou as minhas costas. — Como anda a sua vida? Não tive mais notícias desde aquela vez. — Deu passagem para que eu entrasse.

— Estamos com a vida corrida ultimamente. — Deixei minha mala no canto. — Micael irá fazer uma vernissage em Nova Iorque. — Vi mamãe colocar as mãos na boca, incrédula.

— Nova Iorque? Ai meu Deus! — Ficou emocionada. — Filha, ele deve estar adorando essa nova fase. Não é mesmo? — Segurou nas minhas mãos.

— Sim, ele está! — Não queria falar muito sobre ele, mas seria inevitável. — Onde está o Anthony? — Não perguntei do papai, pois sabia que ele estaria trabalhando naquele horário.

— Namorando. — Mamãe revirou os olhos. — Anthony está me dando um trabalho daqueles!

— Sério? — Ri leve. — Imaginei que ele daria trabalho, Anthony é... Arteiro demais. — Senti saudade dele por minutos, mas passou.

— As aulas do colégio acabaram e ele arrumou essa garotinha com quem está dando uns beijos. — Mamãe queria rir. — Seu pai está supervisionando antes que algo pior aconteça.

— A senhora não imagina que já deve ter acontecido aquilo que imaginamos? — Levantei uma sobrancelha.

Mamãe fez uma careta, o sinal da cruz e soltou alguma palavra em seguida que não consegui identificar.

— Deus queira que não. Eu mato o Anthony se ele aparecer com problemas aqui em casa! — Saiu andando pela casa. — A única que eu irei aceitar é você! — Sorriu ao me encarar, esperançosa.

Eu deveria contar mas não seria o momento. Mamãe tinha reações inexplicáveis que me irritariam ao passar das horas, o seu jeito de vibrar e o seu jeito de contar seriam irritantes. Ficar calada foi o melhor à se fazer.

— Ainda está cedo demais, mamãe. — Respirei fundo. — Micael está cheio de trabalhos, eu estou querendo começar os estudos de novo. — Ela se animou com a novidade que não era mentira. Eu queria voltar à estudar! Ter a minha carreira e não depender de Micael. — Não temos tempo para ter um bebê, não agora. — Sendo que iríamos ter um bebê! Que loucura.

Adorei a novidade dos estudos, querida. Já sabe o que quer fazer?

— Ainda não.

— Mas tenho certeza que a resposta saíra em breve! Estou orgulhosa de você. — Sorrimos.

— Obrigada, mamãe. — Nos abraçamos.

Meu refúgio finalmente havia começado. Mas meu pensamento não saía de casa, eu gostaria de saber como Micael estava, depois do surto. Porém, passar a noite na casa da mamãe foi o melhor à se fazer. De novo.

Sete Pecados Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang