Capítulo Cinquenta e Seis

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— Você está linda!

A morena me incentivou quando terminou minha maquiagem. Um olho de gato bem fino, sombra pesada e batom marcante. Minha roupa era uma combinação de biquíni com lingerie, já que estava totalmente nua usando aquele pedaço de pano, exposta para todos que me quisessem.

— Por favor, você precisa me ajudar! — Segurei em sua mão. Segurando o meu choro para não borrar sua maquiagem.

— Meu bem, eu não posso te ajudar. — Foi sincera. — Quando você cai aqui, é difícil de sair de novo. Entende?

— Não, eu não entendo porque eu sou casada com o filho dele. Ele não pode fazer isso comigo!

— Mas fez! Assim como Léa. — Ficou com a feição triste. — Qualquer coisa você pode me perguntar, pedir a minha ajuda.

— Eu não vou subir naquele palco e me prostituir, entendeu? — Fiquei com sangue nos olhos. A morena suspirou, buscando toda a paciência do mundo.

— Sophia, escute só. — Se preparou. — Eu não sei como você veio parar aqui, mas se continuar sendo cabeça dura, será morta como Léa foi.

— Acontece que Léa foi bem idiota nesse quesito. Eu não! — Cerrei os meus dentes. — Você precisa me ajudar à sair daqui, fugir, qualquer coisa.

— Você não vai conseguir fugir.

— E por que não?

— Os seguranças estão por toda à parte! A não ser que você faça a cabeça de algum, mas terá que ralar muito para isso!

Eu não sabia mais o que fazer. Consentir e aceitar o que estava acontecendo foi a melhor opção! A morena falou centenas de palavras antes de sair, sozinha, já que as outras haviam saído bem antes.

Tentei me cobrir com um cardigã velho que estava em uma cadeira, deveria ser de alguma das meninas que estavam trabalhando. Verifiquei o nó antes de sair, passando pelo corredor e observando os redores do prostíbulo. Estava acontecendo, a casa estava cheia.

Observei o palco, o barman, as mulheres e os clientes que frequentavam. Todos velhos com aspecto de nojento. Eu tinha muito que sair dali!

— Você está linda, meu diamante. — Escutei a voz de Borges mas não dei audiência.

— Não vou ser como Léa. — Bati de frente.

— Como?

— Léa! — Estávamos nos encarando. — Eu sei que você matou ela, porque ela não aguentou.

— Léa era uma fraca mas eu fiz isso para o bem dela! Ou você queria ser como ela? Ficar apanhando do marido o dia inteiro? — Borges riu afagado.

— Ele também a batia?

— Mais do que você imagina! Ele não é esse amor todo que você pensa, Sophia. — Me contou. — Eu não sou bom mas, Micael é trezentas vezes pior!

Engoli seco por suas palavras ditas. Rolei meus olhos s senti as mãos de Borges desfazerem o nó do meu cardigã.

— Olhe só para isso! — Verificou a minha roupa. — Eu tenho muita sorte de ter você na minha vida, por exemplo.

— Estou com fome. — Troquei de assunto para fugir do foco.

— Trabalhe e irá ganhar o que deve! — Ordenou. — A casa está cheia de babões como eu. Você deve gostar de um e agradá-lo. — Deu às costas.

— Eu não vou sair com ninguém daqui.

Borges virou para me encarar, calmo. Respirou fundo para não perder a paciência.

— Entenda que você não irá voltar para à casa. Sua casa agora é aqui! O Micael não sabe da sua existência. — Pausou. — Sabe o que ele está pensando? Está pensando que você o abandonou, com medo do jeito dele de ser. Sabe o que ele está fazendo para te procurar? Nada.

Meus olhos lacrimejaram.

— Ele não sonha que você está aqui comigo, Sophia.

— Por que você é assim? — Deixei as lágrimas caírem.

— Porque sim. — Tocou o meu queixo. — Agora vá trabalhar. Tenho certeza que você irá gostar de alguém aqui, ainda mais nessa noite. — Bateu em minha bunda e saiu, conversando com outras pessoas que o rodearam.

Eu tinha que trabalhar! Essa era a frase que eu mais escutei aquela noite, enquanto andava de um lado para o outro, perdida. Me sentia tão exposta com o biquíni enfiado que estava usando, sentindo frio pelo ar condicionado do ambiente e me sentindo estranha pelos olhares maldosos sob mim. Até o garçom estava me olhando com segundas intenções!

Me sentei em uma poltrona ondulada quando cansei de caminhar pelo ambiente pouco iluminado. Um homem de mais ou menos sessenta anos sentou ao meu lado, não parecendo ter a idade que tem. Retirou um papel do bolso, me oferecendo.

— Limpe sua maquiagem, está borrada.

O encarei, ainda em transe. Aceitei de bom agrado, o único que tinha sigo gentil comigo aquela noite.

— Obrigada.

— Você é nova por aqui, não é? — Me analisou. — Não conheço você.

— Sou Sophia. Sophia Borges! — Me apresentei com o sobrenome pesado.

— Você é parente do Borges?

— Sou nora dele. — Alisei os meus braços. — O filho dele é casado comigo. Micael, você o conhece?

Meu plano era tentar contar a minha história para voltar para à casa.

— Só de nome. — O velho tentou se lembrar mas desistiu. — Ele é o pirralho que pinta quadros? — Semicerrou os olhos, fazendo o máximo de esforço para se lembrar.

— Sim! Ele pinta quadros, faz vernissage. Então o senhor lhe conhece! — Uma luz brilhou em mim, bem no fundo.

— Infelizmente sim. — Me encarou de volta, com um olhar de deboche. — Eu cheguei à ir em uma vernissage dele mas nada que me apetecesse! Mais um zé ninguém sem talento, que finge ter talento.

Balbuciei mas decidi ficar quieta. O velho me observou da cabeça aos pés.

— Não se sente incomodada com essa roupa?

— Na verdade eu preciso de ajuda. — Fui direto ao assunto. — Eu preciso que o senhor me ajude a sair daqui, entendeu? Eu fui sequestrada! Borges me sequestrou e eu preciso ir embora, preciso sair daqui.

— Todas que trabalham aqui são sequestradas, meu bem. — Rolou os olhos. — Pensei que você soubesse disso.

— O senhor não entendeu...

— Eu entendi perfeitamente. — Assentiu, com calma. — Eu não posso te ajudar, lamento muito.

Passei a mão em meus cabelos, me desesperando novamente.

— O senhor pode sim! — Estava quase chorando. — Por favor, diga que sim.

O velho me analisou de cima à baixo.

— Transe comigo e eu te ajudarei a sair daqui.

Sete Pecados Where stories live. Discover now