Capítulo Oitenta e Três

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— Por que você tem uma mulher pelada na sua casa?

Anthony tinha um quadro médio nas mãos, com a imagem de uma mulher nua. No dia seguinte, Micael teve a brilhante ideia de fazer um churrasco no quintal de casa, chamando mamãe e papai pela primeira vez. Eles se perguntaram se havíamos nos mudado, já que, dissemos que estaríamos longe de Bordéus.

Mais uma vez, os enrolamos mais que rouxinol.

— É um quadro, Anthony. — Disse sem paciência, puxando o quadro de suas mãos.

— Parece que você está com prisão de ventre. — Anthony observou a minha barriga, que começava a crescer. — Está doendo?

— Lógico que não. — Guardei o quadro de volta no lugar, atrás de outros quadros velhos.

— Por que o Micael fica usando aquela tornozeleira ridícula que mais parece algo do De Volta Para o Futuro? — Anthony voltou à estaca zero comigo, me fazendo lembrar dos tempos em que eu morava com ele.

— Anthony, será que você pode fazer perguntas com sentido? — Eu estava bastante irritada. Hormônios! — Por que não vai para fora? O ar está fresco! Temos um balanço de pneu, se você ainda viu.

Anthony parou em minha frente, como um idiota.

— Por que você tem um balanço de pneu no quintal? O seu bebê só vai nascer daqui há nove meses.

Revirei os meus olhos e sai de perto, indo para o quintal. Mamãe estava sentada ao lado do papai enquanto Micael virava as carnes na churrasqueira de rodinhas. Estava usando até um avental!

— A casa de vocês é linda. — Papai fez um comentário, estava sem graça de ver aquela imensidão de espaços. — Como está se sentindo, papai fresco? — Sorriu leve para Micael, que fez o mesmo.

— É uma mistura de sensações. — Micael ainda estava de olho na churrasqueira. O pegador de metal em sua mão direita. — Não planejamos tão cedo mas estou feliz com essa grande novidade. — Sorriu.

— Eu sabia que você iria ficar feliz. É uma dádiva de Deus! — Mamãe juntou as mãos. — Anthony está com ciúmes da Sophia, você acredita? — Aquilo me deixou surpresa.

— Ele está com medo de ficar para trás. — Bebi minha limonada extremamente gelada. — Vocês querem alguma coisa? — Perguntei aos dois, que estavam desconfortáveis naquele churrasco.

Na verdade, aquele churrasco estava sendo super desconfortável. Micael quase não falava, assim como papai. Mamãe soltava pregações de Deus enquanto Anthony explorava a minha casa, como um maníaco que nunca havia visto nada. E eu, tinha meu copo de limonada como melhor amigo, diante daquela situação.

— Servidos? — Micael trouxe a forma até nós, deixando a churrasqueira de lado. Deixou em cima da mesa de madeira.

— Hum... Linguiça! — Mamãe soltou um risinho após se servir. — Anthony, venha comer! — O chamou de longe, irritando um pouco o papai.

— Suculenta, Micael. — Papai mastigou a carne. — Você mesmo preparou?

— O açougue preparou. — Respondeu o papai, não tendo contato visual com ele, que deixou o clima mais desconfortável.

— Eu fiz uma torta! — Descontrai o clima. Ou pelo menos tentei. — De limão.

— De limão? Você nunca foi boa em fazer tortas, querida. — Mamãe e papai riram. Micael me observou rápido, mastigando um pedaço de carne.

— Ela cozinha bem. — Soltou, achando um jeito de me defender.

— Não dissemos ao contrário, Micael. — Papai o encarou. — Só estávamos brincando.

— Deveriam rever as brincadeiras, Sophia está grávida! — Micael soltou um suspiro, se aconchegando na cadeira de plástico e encarando os dois, que estavam sem ter o que dizer.

Cocei minha garganta e tentei descontrair o clima de novo.

— E o que tem a ver? — Papai levantou os ombros.

Anthony chegou perto da mesa, pegando três pedaços de carne de uma vez. Mamãe bateu em sua mão, bem rápido.

— Mamãe, doeu! — Anthony reclamou.

— Era para ter doído mais! Onde estão os seus modos? — Ficou brava.

E tudo ficou em silêncio. Micael ao meu lado, mamãe e papai repreendendo Anthony que procurava um lugar na mesa para se sentar. Decidi comer um pouco, já que agora, sentia fome repentinas vezes ao longo do dia.

— Por que você usa uma tornozeleira? — Anthony perguntou à Micael, que soltou outro suspiro, sem paciência como eu.

— Você quer mesmo saber? — Levantou uma sobrancelha, encarando Anthony, que assentiu.

— Sim, eu quero!

— Micael, não! — Toquei em seu braço. Ele estava se preparando para dizer.

— Agora eu fiquei curioso. — Papai cruzou as mãos, encarando Micael. — Por que você usa uma... Tornozeleira? — Abaixou a cabeça para verificar a tornozeleira de Micael.

— Porque eu agredi a sua filha, senhor Abrahão. — Micael contou, sem delongas.

Mamãe e papai fizeram uma expressão confusa, sem saber o que Micael estava dizendo, de fato.

— Agrediu? — Mamãe estava sem entender. — Com...

— Eu bati na sua filha diversas vezes, fiz chantagem e ainda por cima outras coisas que não quero dizer. — Micael estava bem sério. — Estou indo à uma clínica de reabilitação para resolver os meus demônios internos. É por isso que estou usando uma tornozeleira, como um cachorro!

— Está me dizendo que bateu na Sophia? — Papai ficou muito confuso, sem reação.

— Sim. Diversas vezes! — Micael não se ligou em dizer.

E quando vi, papai atravessou a mesa de madeira, pegando Micael pelo colarinho da blusa, o enchendo de socos. Mamãe gritou, assim como eu e Anthony, que tentou apartar. Um caos!

— SEU FILHO DE UMA BOA PUTA! EU VOU MATAR VOCÊ! — Papai deu mais um soco, antes da mamãe entrar na frente.

— JÁ CHEGA, OS DOIS! — Tentou segurar o papai, enquanto eu verificava Micael, que estava jogado no chão com o rosto sangrando. Um corte na sobrancelha e um perto dos lábios. — Vamos embora, Anthony! Isso aqui já deu.

— Como você está? — Segurei no rosto de Micael, que tentava se manter forte depois do ocorrido.

— Não se preocupe, estou bem! — Assentiu. — Está tudo bem! Não fique nervosa, está tudo bem. — Tocou a minha barriga, rolando os olhos e assentindo.

— E você! — Papai me cutucou, me fazendo ficar de pé novamente, o encarando. — É melhor nunca mais aparecer em casa. Está ouvindo? — Arregalei os meus olhos, surpresa pelo comentário.

— Como? — Franzi meu cenho.

— Você se submeteu a apanhar desse traste e ainda está com ele! Para mim, você não passa de uma sem vergonha. Estou decepcionado com você, Sophia! — Papai cuspiu as palavras, me fazendo chorar em silêncio.

Mamãe disse algo mas não consegui ouvir. Saiu às pressas antes que papai batesse em Micael, de novo.

Sete Pecados Where stories live. Discover now