Capítulo Quarenta e Dois

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Acordei primeiro naquela manhã. Micael estava dormindo tranquilamente ao meu lado, também nu. Colocamos essa regra de que só dormiríamos assim, mas, não me lembro de termos transado no meio da noite, ainda estava em dúvida e bronqueada pelo o que aconteceu.

Depois da minha higiene matinal, caminhei até à cozinha preparando um reforçado café da manhã, com todos os ingredientes que não haviam na minha antiga casa. Produtos de marca e qualidade cem por cento, papai jamais compraria pasta de amendoim com cacau. Jamais!
Arrumei a mesa do café e fiquei na minha própria companhia, enquanto pensava no que fazer naquela manhã nada produtiva.

— Bom dia.

A voz máscula e rouca pelo sono recente de Micael ecoou na cozinha, eu não fazia ideia de que ele acordaria logo depois de mim.

— Bom dia. — Terminei de beber o café.

— Você ainda está com raiva de mim? — Sentou na outra ponta da mesa.

— E por que eu ficaria com raiva de você?

— Olha para mim. — Ordenou, eu não estava tendo contato visual com o mesmo.

Encarei ele que tinha a face séria, um pouco atordoado com a noite anterior.

— Só quero saber o que aconteceu. — Rolei os olhos. — Eu sou a sua esposa! Você não pode me esconder as coisas.

— Não estou escondendo.

— Ah, não? — Fiquei incrédula, sendo irônica. — Então por que você não me conta?

— Porque não tem nada para você saber. — Micael ficou um pouco irritado. Despejou o suco no copo, em silêncio. — Só não quero que você fique desse jeito.

— Desse jeito... Brava? — Levantei uma sobrancelha.

— Desse jeito, insuportável. — Bebeu o suco.

Encarei a mesa posta, segurando um pouco o meu choro. Estava bem emotiva durante esses dias e não sabia o por quê.

— Certo. — Respirei fundo. — Eu vou sair agora pela manhã.

— Vai aonde? — Mordeu uma maçã.

— No centro. — Pausei. — Você quer alguma coisa?

— O que você vai fazer no centro? — Estava me encarando.

— Vou ir em uma loja de roupas. — Menti.

— Loja de roupas? — Micael ficou em transe, iria dizer algo mas desistiu. — Quer uma carona?

— Por que carona? Você vai sair?

— É, eu vou sim. — Ficou em silêncio. — Vai querer ou não?

— Não, obrigada. — Sai da mesa, subindo novamente para me arrumar.

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— Como está indo a sua vida, recém-casada?

Tina arrumou o óculos escuro em sua face. Estávamos tomando café em um restaurante chique de Bordéus. Pela primeira vez tive dinheiro suficiente para bancar um café para ela. Micael havia compartilhado cartões, assim, estávamos livres da burocracia de dinheiro individual.

— É estranho. — Mexi meus ombros. — Mas você precisa me ajudar!

— Ajudar? Como eu vou te ajudar? — Tina lambeu os dedos. — Ele me odeia!

— Eu quero saber o por quê do Micael ter tanto medo do pai dele assim.

— Vejamos. — Tina fez gesticulações no ar, como uma maluca. — O pai dele trafica meninas e vende? Pronto, tchau! — Acenou.

— Não, não é disso que eu estou falando. — Alonguei minhas mãos na mesa. — Tem algo à mais! Só que o Micael não quer me dizer.

— Algo à mais? — Assenti. — Ele não disse nada sobre o assunto?

— Estávamos discutindo e ele me disse que não vai contar. — Lembrei de ontem. — Você se lembra do dia em que a Cinthia... Esquece. — Lembrei que Tina havia ido embora quando Cinthia apareceu.

— O que a Cinthia disse? — Tina terminou de comer o seu croissant.

— Disse coisas ruins dele, ficou dando enigmas. — Fiquei triturando aquilo na mente. — Eu não sei o que está acontecendo de fato!

— Você quer que eu te ajude? — Limpou as mãos. — Então vamos começar com isso logo.

— Ótimo! Palpites? — Me animei, iríamos ir atrás de pistas.

— Eu não faço a mínima ideia, a família dele é meio doida. — Tina fez uma careta. — Mas eu ainda acho que tem algo relacionado ao convívio dele.

— Convívio você diz... Ex-namoradas? — Arqueei uma sobrancelha.

— É. — Tina assentiu. — Ele tem medo do seu sogro fazer algo com você, não deixa você conhecê-lo, estão se escondendo. — Mexeu as mãos. — Isso está no passado e bem enterrado!

— Por que você acha que pode ser isso?

— Porque todos os indícios são esses, Sophia. — Rolou os olhos. — Micael não quer que você tenha contato com ele por conta disso. Meu ponto de vista! — Rendeu as mãos, fazendo caras e bocas.

O que Tina havia dito tinha razão! Alguém no passado de Micael o fez ter medo no futuro, mas, não sabíamos quem havia passado em sua vida. Podia ser uma prima, ex-namoradas, ficantes... Ninguém sabia!

— Vamos desenterrar isso com a Cinthia! — Tina teve uma péssima ideia quando se levantou, ainda comendo o croissant. — Você vem ou vai ficar observando o restaurante?

— Eu não sei, ainda estou confusa. — Deixei o dinheiro em cima da mesa, preso em um porta-guardanapos. — Eu não quero mais fingir que estou brava com o Micael. Ele não vai me contar nada!

— Ele é sinistro. — Caminhamos para a praça. — Você se casou e não vimos mais nada, nem podemos participar. — Se entristeceu um pouco. — Lembra quando ficamos imaginando os nossos casamentos? A Amélie havia escolhido rose como tema, eu achei cafona. — Aquilo me deu uma lembrança gostosa. Ri leve.

— Você sempre implicava com a Amélie. — Meu riso foi morrendo aos poucos. — Ela está bem?

— Deve estar. A mãe dela proibiu qualquer tipo de contato com a galera da escola. — Me contou. — Faltam três dias para a nossa colação de grau. Você comprou os convites?

— Ãn, eu não vou mais para a escola. — Paramos perto do chafariz.

Tina me encarou com uma careta surpresa, sem entender o por quê. Balançou um pouco a cabeça.

— Por que não?

— Micael contratou uma professora. — Suspirei. — Vou receber o diploma em casa! Então, não vou participar da formatura.

— Esse cara é doidinho de pedra! — Tina silabou, tinha os olhos arregalados. — Se você pegar uma pedra, consegue ver o Micael dizendo "Sophia, você não pode fazer isso, entendeu?". — Imitou uma voz grossa.

— Não é tudo isso. — Desmenti.

— Espero que você não fique em cárcere privado quando fizer três meses de casado. — Alisou o meu braço, mas parou quando seu celular começou a tocar. — Só um segundo! — Vasculhou sua bolsa de lado. — Te vejo depois?

Tina não atendeu o celular na minha frente, o que foi estranho. Apenas sondou o identificador e sorriu de lado, se apressando em ir embora.

Sete Pecados Where stories live. Discover now