Capítulo Três

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Os olhos penetrantes e castanhos-claro não saíam da minha mente de jeito nenhum. Será que ele me conhecia? Ou talvez, conhecia a mamãe? Ou talvez também, conhecia o papai?

Ele iria me dedurar? Eu iria apanhar do papai quando chegasse em casa? Será que ele deveria estar com alguma câmera fotográfica nas mãos, para me flagrar e fazer chantagem emocional?

Senti mãos delicadas porém fortes me puxando.

— Onde você foi? — Tina me deu um solavanco forte, fazendo o meu corpo balançar.

— Eu estava aqui. — Disse um pouco alto por conta da música.

— Estávamos te procurando! — Ficou um pouco brava por eu ter me perdido. — Vamos logo, Amélie se machucou.

— O que aconteceu com Amélie? — Fiquei preocupada por dois segundos após saber da notícia.

Mas e os olhos penetrantes? Quem era?

— Ela tropicou em uma pedra e lascou o dedo mindinho. — Tina ainda me puxava pela multidão. — Compramos gelo para amenizar a dor e por sorte, eu tinha um antisséptico na bolsa. — Conseguimos sair do mundaréu de pessoas bêbadas e suadas.

Avistei Amélie sentada na beira de uma fonte, encarava o seu dedo com um pouco de nojo. Fomos até ela.

— Amiga. — Me agachei em suas pernas. — Como você está? — Vi o seu dedo com sangue pisado, porém, higienizado de qualquer bactéria.

— Agora sim! Meu dedo parou de doer. — Mexeu o pé para que eu pudesse visualizar melhor. — Onde você estava?

— Na multidão. Eu me perdi de vocês. — Rolei os olhos. — Tem muita gente aqui. — Apertei meus olhos por conta do sol forte.

— Era o esperado. — Tina observava os garotos suados e louros na outra ponta da rua. — Amélie, você já está bem? Eu preciso ir!

— Para onde? — Amélie tampou a visão do sol.

— Exercitar a minha boca e a minha boceta. — Sorriu com malícia para nós. — Até mais, vadias! — Acenou enquanto saía dali, caminhando para onde os meninos estavam.

Amélie revirou os olhos e se levantou com um pouco de dificuldade. Ajudei no que pude, fazendo seu corpo se escorar no meu.

— Tem certeza que não quer ir para a casa? — Fui cautelosa na pergunta. Eu não queria ir mas Amélie deveria estar sentindo dor.

— Não amiga, está tudo bem. — Sorriu leve para disfarçar. — Foi apenas um machucado bobo e inocente.

— Então por que está andando com dificuldade? — Encarei o seu dedo novamente.

— Estou com reflexos da batida, só isso. — Deu de ombros. — Vamos naquele barzinho da esquina? — Apontou para o ambiente harmonizado e frequentado por pessoas da nova geração.

Mais conhecidas como: pessoas de poder.

— Estou sem dinheiro. — Fiz uma careta. — Não iríamos beber o chope de graça? — Me lembrei.

— Alguém aqui falou em pagar alguma coisa? — Soltou um risinho. — Vamos indo, eu te explico no caminho.

— Ok. — Não fiquei muito interessada.

— Por que você está desse jeito? Aconteceu alguma coisa? — Amélie me observou de cima à baixo.

— Desse jeito como?

— Desse jeito. — Estranhou. — Você voltou esquisita depois que se perdeu da gente.

Respirei fundo e decidi falar. Pelo menos, Amélie me escutaria antes de dar sermões como Tina.

Sete Pecados Where stories live. Discover now