Capítulo Oitenta e Quatro

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Micael estava sentado em minha frente, enquanto fazia curativos em sua face, que ainda sangrava um pouco. O roxeado no olho já começava a aparecer.

— Por que você foi dizer isso, hein? — Fiquei brava pela situação ocorrida.

— Porque ele precisava saber. — Ainda estava sério, os produtos que ardiam não o faziam reclamar em nada. — O psicólogo disse que eu preciso dizer abertamente, como um arrependimento.

— Você não disse como um arrependimento na mesa. — O encarei.

— Mas pelo menos eu falei. Uma hora eles iam saber, Sophia. — Se defendeu. — Seu irmão estragou o nosso churrasco!

— Você estragou o nosso churrasco! — Terminei os curativos, fechando a pequena maleta de primeiros socorros. — Não deveria ter dito isso ao meu pai, justo ao meu pai.

— Não teria como ficar mentindo, Sophia. Ele precisava saber! — Micael estava se irritando. — Mas que bom que aconteceu, eu precisava apanhar para criar vergonha na cara. — Tateou o curativo que estava em sua sobrancelha. — Você está bem?

— Sim, estou bem. — Sorri leve.

Recebi a mão de Micael em minha barriga, pela segunda vez naquele dia. Estava adorando ninar a bola que ainda crescia, ficando impressionado algumas vezes.

— Fiquei com medo de acontecer alguma coisa. — Soltou.

— Está tudo bem. Estamos bem! — Beijei sua testa.

Me aproximei para beijar os seus lábios quando a campainha havia tocado. Deixei Micael, descendo às escadas e atendendo. Francis estava na porta, sem Tina.

— Sophia, como você está? — Me abraçou.

— Bem e você? Entre! — Dei passagem.

— Marjorie disse que Micael estava por aqui. Posso falar com ele? — Francis esfregou as mãos.

— Ele está... — Apontei para a escadas mas não vi que Micael as descia.

— Estou aqui! Com o olho roxo e cheio de curativos. Como vai você, amigo? — Micael desceu as escadas, abraçando Francis, que não entendeu o motivo do seu rosto estragado.

— Uau, você apanhou feio! O que aconteceu? — Fez caras e bocas ao observar os curativos em Micael.

— Eu contei toda a verdade ao meu sogro e acabei apanhando. — Disse simples. — Você aceita a sobra do churrasco trágico que estávamos tendo?

— Isso é muita informação para a minha cabeça! — Francis soltou um riso, enquanto abria as mãos para processar tudo. — Na verdade eu estou aqui para te contar uma grande novidade. — Soltou, animado.

— O que aconteceu?

— Lembra do Alexander? Ele entrou em contato comigo! Está querendo produzir um longa. — Arregalei os meus olhos, Micael deu um sorriso de orelha à orelha. — E você foi o escolhido.

— Alexander quer fazer um longa comigo? Cacete! — Micael bagunçou os cabelos, desacreditado. — Francis, essa foi a melhor notícia que eu recebi depois de ter apanhado.

— Ele gostou do último quadro, Sophia disse que ele apareceu na vernissage? — Francis alisou o queixo.

— Sim, ela me disse. — Micael ainda estava animado. — Qual foi a proposta?

— Ele conversou comigo, disse que estava bem interessado em trazer o quadro à realidade. — Francis explicou. — Mas ele conversou mais com a Sophia.

Micael se virou para me encarar.

— Ele disse algo a mais para você, querida?

Micael ainda estava animado em saber da conversa, só que eu não queria dizer o que havia rolado depois da vernissage.

— Nã... — Balbuciei.

— Mas vocês jantaram! Tina me contou. — Francis levantou os ombros.

Vi o semblante de Micael mudar da água para o vinho. Ele não ficou feliz em saber disso, o esperado.

— Vocês jantaram? Juntos? — Ficou surpreso.

— É... Na verdade ele me contou, quer dizer, ele me disse que é muito seu fã. — Estava vermelha de nervoso. — Tina também iria ao jantar mas o tempo foi curto. — Menti.

— Não sabia dessa grande novidade. — Micael foi irônico. — Mas fico feliz em saber que ele aprovou, está querendo realizar o longa. — Encarou Francis que assentiu, Micael não gostou do assunto do jantar.

— Estou vendo a possibilidade dele conversar com você. Que tal nessa semana?

— Não, essa semana não. — Micael negou. — Estou esfarrapado demais para conversar com ele essa semana.

— Ninguém mandou você contar tudo ao pai da Sophia.

— Isso é outro problema. — Micael pensou. — Podemos marcar quando eu vier da próxima vez. Que tal?

— Depois de quarenta e cinco dias? É muito tempo, Micael! — Francis ficou abismado. — Eu sou a favor de fazer algo para convida-lo. Que tal um jantar?

— Não, já disse que não. — Estava perdendo a paciência. — Eu posso mandar um e-mail à ele, quem sabe. — Coçou o maxilar. — Ainda vou providenciar!

— Você é quem sabe. — Francis levantou os ombros. — Só vim repassar o recado! Estou indo. — Se despediu. — Se cuidem.

— Você também. — Micael acenou para Francis quando o mesmo passou da porta, indo embora.

Ele me encarou enquanto cruzava os braços, querendo satisfações.

— Então você jantou com o Alexander?

— Eu posso explicar! — Rendi minhas mãos. — Ele me convidou para jantar como agradecimento à vernissage. Conversamos sobre assuntos profissionais! — Estava mentindo mais uma vez, com medo de Micael ter uma recaída.

— Ah, assuntos profissionais? — Micael debochou. — Que tipo de assunto profissional você conversou com ele?

— Ele me contou que é muito seu fã, das vernissages que ele já foi e me perguntou sobre os quadros. — Rolei os olhos, tentando parecer o mais calma possível. — Não sabia que a parceria do longa viria tão rápido!

Micael me fitou, rolou os olhos e decidiu desistir de uma vez.

— Tudo bem. — Suspirou. — Eu vou mandar um e-mail para agilizar as coisas. — Saiu andando, indo até à sala.

— E-mail? — Mordi a ponta dos dedos, com medo dele aprontar algo. — Você está bravo comigo? — Segui Micael, que estava de pé em frente à um cavalete, com uma tela em branco.

— Eu estava pensando em pintar um quadro da nossa relação. — Me encarou. — Um laço vermelho, enorme, bem amarrado. Porém, alguns resquícios de estarem se acabando.

— O que? — Não havia entendido, ficando confusa.

— O laço simboliza o nosso casamento. — Micael veio andando até mim. — Os resquícios querem dizer sobre os acontecimentos, durante os anos. — Deu ênfases nas frases, me deixando enfatizar o que eu entendesse. — Eu quero que esse laço não tenha resquícios, Sophia.

— Você está querendo dizer algo sobre eu te trair? — Disse da forma mais clara.

— Entenda como quiser, querida. — Beijou minha testa e saiu.

Sete Pecados Where stories live. Discover now