Capítulo Cinquenta

109 8 1
                                    



O sol estava batendo na janela quando decidi folhear um jornal de anúncios com empregos em Bordéus. Eu tinha a vida fácil, mas viver ao lado de Micael com esse comportamento era bem difícil. Eu tinha que trabalhar, em pelo menos um emprego que ficasse vinte e quatro horas por dia.

Passei a caneta vermelha em cima de uma vaga para babá sem experiência, garçonete e até mesmo vendedora. Eu não tinha experiência em nenhum deles mas deveria arriscar para ter paz, pelo menos por enquanto.

— O que está fazendo? — Micael desceu as escadas com dificuldade, parecia um idoso ranzinza com os seus movimentos.

— Folheando um jornal. — Deixei de lado. — E o que você está fazendo?

— Preciso de ajuda. — Parou no primeiro degrau da escada, com a face derrotada.

— Como assim? — Soltei um riso. — Não era você que não precisava de ajuda? — Alfinetei. Não iria perder a oportunidade.

— Mas agora eu preciso. — Ainda disse derrotado. — Eu não consigo olhar as minhas costas! Esse curativo está doendo para cacete. — Micael gemeu um pouco, sabia que não estava mentindo. Suas caretas diziam que algo não estava normal.

— Deixa eu ver. — Caminhei até ele. — Consegue se sentar na poltrona?

— Sim. — Soltou grosso, andando calmo até à poltrona. Fez outra careta na hora de se sentar.

— Preciso que se vire com cuidado. — Estava com medo de machuca-lo. Micael virou cuidadosamente o corpo para fora da poltrona, onde tive flexibilidade para verificar o curativo. O estranho foi o curativo em cima de cinco pontos, não conhecia bem essa área mas pelo o que me consta, os pontos deveriam estar em ar livre.

— Com cuidado, por favor! — Micael me pediu, com medo. Assenti e retirei o papel do curativo devagar, escutei os seus grunhidos.

— Ai meu Deus. — Disse baixinho para não assusta-lo.

Os pontos saíam pus e estavam roxeados. O machucado estava infeccionado e eu não sabia o que fazer, começando por isso.

— O que está acontecendo aí, Sophia? — Micael teve medo na voz.

— O machucado. — Torci o nariz. — Está infeccionado! Deve ser por isso que você está sentindo dor.

— Infeccionado? Como assim infeccionado? — Ficou apavorado. — Estou tomando anti-inflamatórios, impossível estar infeccionado.

— O curativo deve ter dado atrito, Micael. — Me levantei. — Eu vou ligar para o seu médico, ele pode resolver. — Fui de encontro com o telefone.

— Não. Ligue para a minha mãe! — Ordenou. — Ela sabe o que fazer.

— Sua mãe sabe que você levou uma tesourada? — Estava com o telefone nas mãos quando o peguei de surpresa.

— Lógico que não.

— E como eu vou contar para ela?

— Ela não vai se impressionar. Ligue logo! — Voltou a ficar irritado. — Se você não ligar, eu ligo.

— Ok. Eu ligo e você fala, pode ser? — Rolei os olhos.

— Ande logo com isso. — Grunhiu mais uma vez, deveria estar com muita dor.

Liguei para Marjorie que demorou à atender, no quarto toque consegui escutar a voz de Cinthia, contente por algo, logo no fundo a de Marjorie. Bloqueei os meus pensamentos e passei para Micael, que não estava entendendo nada.

— Alô, mãe? Preciso de ajuda! — Fez uma careta, cerrando os olhos. — Acabei me machucando no quintal e levei cinco pontos nas costas, não me faça contar o acidente pois não quero lembrar. — Soou grosseiro com Marjorie. — Agora o meu machucado está infeccionado. O que posso fazer para melhorar? — Tentou verificar uma ponta se quer do machucado mas sentiu dor, parou de tentar na hora. — Hum... Certo, irei fazer. Mais alguma coisa? — Pausou. — Certo, certo. Obrigado! — Passou o telefone para mim, de novo.

Sete Pecados Where stories live. Discover now