Capítulo Oito

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Micael deixou minhas pernas quando escutou a secretária eletrônica ecoar algum recado, de uma voz máscula. Sua feição mudou automaticamente e seu corpo se enrijeceu, levantando e indo até algum canto.

Me vesti rápido, ajustando minha calça jeans no corpo. Escutei a voz de Micael lá em baixo.

— Esse arrombado acabou de ligar. — Estava bravo. — Se ele aparecer aqui eu vou estourar todos os miolos da cabeça dele.

Fiquei surpresa com a sua fala, voltando ao quarto quando escutei seus passos vindo, alguns minutos depois. Micael estava um pouco ofegante pela adrenalina.

— Me desculpe por isso. — Rolou os olhos. — Eu te conto no caminho!

— Na verdade não precisa. — Estava sem graça. — Eu vou indo! Não precisa se preocupar comigo. — Balancei minha cabeça.

— Eu te trouxe, então, faço questão de levar de volta. — Esboçou um sorriso.

Descemos as escadas mas Micael soltou um suspiro que lhe fez mudar de ideia. O segui, enquanto caminhava até a enorme sala que daria quatro da minha, com móveis intactos e super novos.

— Você se importa se eu me abrir? — Fez uma pergunta retórica, tendo uma garrafa de uísque importado em mãos.

— Claro que não. — Me sentei em uma banda do sofá, me preparando.

— Quando eu tinha seis anos, o meu pai ainda morava comigo. — Micael despejou o uísque em dois copos de doses. — Mas a minha mãe sofreu muito.

— Traição? — Peguei o copo quando ele me trouxe.

— Ele batia nela, muito! — Sentou ao meu lado. — E eu presenciei todas as brigas quando era mais novo. A gente fugiu uma época, quando moramos em Berlim.

— Você morou em Berlim? — Me impressionei.

— Por um tempo? Sim. — Assentiu, se lembrando. — Mas o meu pai achou a gente rápido demais.

Micael ficou tenso, umedecendo os lábios e pensando no que iria dizer. Parecia que ele estava pisando em ovos.

— Preciso que não conte isso à ninguém, entendeu? — Segurou na minha mão.

Assenti com toda a educação do mundo! Eu estava ansiosa para saber o que era.

— O meu pai é mafioso! — Soltou, por fim. Trincou o maxilar enquanto encarava o copo de dose, ainda cheio. — Ele mexe com tráfico de mulheres. Dinheiro e enfim. — Coçou a sobrancelha, em cima. — Eu tenho asco em dizer que esse filho de uma puta é o meu pai. — Me encarou.

Eu estava sem palavras, por um lado. Onde eu fui me enfiar? Micael era exótico, sua mãe era lésbica e seu pai mafioso. Eu ainda tinha chances de conseguir sobreviver nessa família? Se eu entrasse para ela.

— Mas... Ele está voltando? — Lembrei do aviso na secretária eletrônica.

— Se ele voltar, farei picadinho de pênis dele. — Micael virou o copo de dose com tudo, fazendo uma careta.

Aquilo me assustou! Coloquei a boca devagar no copo de dose, experimentando o uísque posto por ele. Horrível.

— Ele não pode voltar, Sophia. — Micael estava bastante sério.

— E se você denunciar ele para à polícia?

— E colocar a vida da minha mãe em risco? — Se irritou. — Você não sabe do que ele é capaz, Sophia! — Levantou-se, andando de um lado para o outro.

Ainda fiquei sentada, tomando coragem para beber todo o uísque. Era difícil ajudá-lo naquela situação, ainda mais naquela situação.

— Eu sinto muito por isso. — Me levantei também, tocando o seu ombro. — Mas acredito que ele não vá fazer isso. Só amedrontou a sua mãe como forma de poder.

Sete Pecados Where stories live. Discover now