Capítulo Oitenta

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Bordéus — França.
15:20 PM.

O voo cansativo de volta para casa foi pior do que o voo de ida. Tina estava falando o básico comigo, enquanto Francis mostrava as fotos que o jornal de Nova Iorque havia publicado. No aeroporto, recebi as boas vindas de Marjorie que não havia ido na vernissage, por conta de problemas pessoais com Cinthia.

Recebi um abraço apertado da mesma quando passamos pela porta de desembarque.

— Querida, como você está? — Alisou as minhas costas.

— Bem e você? — Sorrimos.

— Fiquei sabendo que a vernissage foi um sucesso!

— Estou grávida, Marjorie.

Contei à ela que ainda não sabia da novidade. Marjorie tinha os lábios entreabertos, colocando a mão no rosto em seguida.

— Ah meu Deus, que maravilha, Sophia! — Me abraçou de novo. — Quando você soube? Não me disse nada no dia em que fomos para a clínica.

— Na verdade eu descobri naquele dia, em que você me deixou no médico. — Fomos caminhando até o estacionamento do aeroporto. Francis e Tina se perderam de nós. — Os exames me disseram a verdade!

— Você já está preparada para contar à ele? — Ela se referiu à Micael.

— Acho que sim, não tem o por quê esconder.

— Ótimo! Eu tenho uma boa notícia para você. — Marjorie sorriu. — Eu fui na visita aquele dia e conversei com o médico, ele liberou o Micael de quarenta em quarenta e cinco dias, podendo passar uma semana em casa, junto com a tornozeleira de proteção.

— Tornozeleira de proteção? — Fiquei confusa.

— É uma tornozeleira identificadora, se ele tentar algo, automaticamente a clínica será avisada! Um meio de proteção enquanto eles estiverem em casa. — Ela assentiu. — O médico liberou porque Micael está dando uma melhora absurda, o único paciente que realmente está dando resultados.

— Você acha que ele pode estar fingindo? — Paramos em frente ao carro de Marjorie, que abriu o porta-malas para colocar minha mala dentro.

— Eu até achava essa hipótese mas Micael está bem mudado. É como se fosse um bicho fora do seu habitat natural! — Soltou um risinho. — Ele está em casa, não quis vir ao aeroporto pois está fazendo uma surpresa para você. Não conte à ele que eu te contei! — Marjorie piscou e assim entramos no carro.

Uma boa notícia para o momento errado de ter boas notícias! Eu não estava pronta para contar à Micael, lidar com a sua reação e ao mesmo tempo explicar sobre a vernissage. Momento errado! Eu ainda estava pensando no jantar com Alexander, com sua visita surpresa para Bordéus quando ele quisesse.

Mas não esperava receber o Micael em casa, com uma tornozeleira de proteção como se fosse um presidiário problemático.

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Marjorie me deixou na porta de casa, retirou minha mala do porta-malas e entrou comigo. De longe, pude ver bexigas rosas e brancas em um lindo arco na parede. Quando passamos pela porta de vidro, Micael estava ajeitando um bolo redondo coberto de chocolate e granulados coloridos mas parou quando me viu, ainda com a mala ao lado.

— Querida! — Sorriu ao me ver, indo de encontro comigo.

Demos um abraço apertado, como na vez da clínica. Recebi um beijo demorado nos lábios.

— Bom, eu só vim deixar a sua encomenda. Está entregue e com segurança! — Marjorie brincou, rendendo as mãos e saindo.

— Mãe, não quer comer um pedaço de bolo? — Micael lhe observou sair.

— Não, meu bem. Obrigada! — Acenou para nós, que fizemos o mesmo.

Marjorie saiu, me deixando sozinha com Micael pela primeira vez, sem profissionais e seguranças em volta. Só eu e ele, não podia esquecer da tornozeleira.

— Eu fiz um bolo para você. — Micael parecia estar sem graça, como se fosse um animal fora do seu habitat. — É de chocolate!

— Eu adorei a surpresa. — Observei o bolo decorado, fora as bexigas. — Por que você não foi ao aeroporto?

— Estava terminando a surpresa. — Sorrimos leve. — Você gostou mesmo?

— Eu adorei! — Dei outro beijo em seus lábios.

— Eu vi as fotos do jornal. A vernissage foi um sucesso, não foi? — Micael quis saber, estava animado por aquilo.

Eu não poderia pular aquela parte, eu tinha que contar. Menos sobre Alexander.

— Eu consegui dizer tudo o que eu estudei! Todos compraram os quadros e Francis se saiu super bem. Estava lindo, você deveria estar lá! — Caminhamos até à mesa.

Micael sentou ao meu lado, segurando em minhas mãos.

— Eu sabia que ia dar tudo certo, querida. — Beijou a minha mão. — Eu pensei que demoraria para vir até aqui mas o médico me liberou. Minha mãe contou alguma coisa para você, sim?

— Sim, ela me explicou. — Fiz carinho na mão forte de Micael. — Nós precisamos conversar!

Micael me encarou sério, analisando minhas expressões.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim, aconteceu sim. — Respirei fundo, eu tinha que falar ou não falaria de novo. — Eu fui ao médico esses dias atrás, antes da vernissage. A ginecologista me deu os exames preventivos e ultrassom transvaginal e por lá descobriu que eu ainda estou grávida.

Micael ficou paralisado, rolando os olhos enquanto me observava. Seus dedos pararam de alisar as minhas mãos, processando o que eu havia acabado de dizer.

— O procedimento de aborto falhou, me deixando com um feto ainda. — Era difícil dizer aquilo. — Eu não iria te contar agora porque estava com medo da sua reação, aliás, ainda estou com medo da sua reação. — Estava o encarando. — Você não vai dizer nada?

— Por que você não ia me contar?

— Porque você não gostou da notícia.

Micael se remexeu na cadeira, respirando fundo e soltando um suspiro.

— Eu errei muito em te levar naquela clínica. Aliás, eu errei bastante por todas as coisas que eu fiz, depois que nos casamos! — Pausou. — Eu quero mudar! Eu quero ser outra pessoa, eu quero ter outra chance com você. — Foi sincero. — Sobre o bebê... — Coçou o maxilar. — Ainda estou com medo de ser... Pai. — Aquela palavra o deixou aflito. — Eu não quero que meu filho tenha um pai fracassado como eu.

— Você não é fracassado! — Encostei em seu rosto. — Quem disse para você que você é fracassado, Micael?

— Todo mundo? — Levantou uma sobrancelha.

— Todo mundo quem? Eu te amo! Nós te amamos! — Peguei sua mão, levando até à minha barriga que começava a criar uma saliência leve.

Micael ficou com medo de tocar, como se fosse algo proibido. Foi relaxando quando eu o fiz relaxar, passeando a mão por toda a minha barriga, sentindo a diferença e o quão estava dura.

— Um bebê. — Sussurrou. — Então vamos ter um bebê? — Sorriu leve, fiz o mesmo.

— Sim amor, vamos ter um bebê! — Assenti. — E eu tenho certeza que você vai ser um ótimo pai para ele. Eu não tenho dúvidas!

— E se eu não for? E se ele não gostar de mim? — Micael parou o carinho que estava fazendo.

— Ele vai amar você, Micael! Como eu disse, nós te amamos muito. — Frisei isso em sua cabeça, até que Micael relaxasse de uma vez.

Foi mais fácil do que eu havia pensado! Micael estava curtindo a nova fase, explorando o mundo onde seria pai pela primeira vez. Às vezes o pegava pedindo permissão para alisar minha barriga, outras vezes lhe pegava pesquisando sobre o assunto e até suas perguntas bem elaboradas me pegavam de surpresa.

Ele estava se esforçando ao máximo para mudar.

Sete Pecados Where stories live. Discover now