》Capítulo 15《

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Minha casa, uma pequena casa, a mesma casa que moro até hoje...

O meu corpo encolheu. Me tornei novamente uma criança. Uma criança com um passado sombrio...

Assustado olhei pelos corredores, tentando saber que dia era hoje e do porquê da casa estar tão silenciosa. Ah...é uma segunda, minha mãe havia ido trabalhar...

Espere...trabalhar?

Vi uma sombra masculina no final do corredor, eu me assustei e corri com medo em direção ao meu quarto. Fechei a porta, vendo minhas pequenas mãos tremerem...

Não, não! De novo não!

Desesperado comecei a tentar empurrar a minha cama na direção da porta.

Usei de toda força que tinha, mesmo que fosse pouca. E quando consegui colocar aquela cama como um barreira, alguém estava do outro lado tentando abrir.

Ainda assustado, corri para meu armário, me encolhi entre minha roupas amassadas e fechei a porta, apenas deixando uma brechinha para que eu olhasse o lado de fora.

A pessoa que queria entrar, parou...

E logo...escutei a voz que mais me assombra.

- Filho, calma...papai só quer brincar, você não gosta de brincar com o papai? - Eu engoli em seco e segurei meu choro.

Não, eu não gostava, toda brincadeira dele me machucava...

Papai era mau...papai é mau...
Papai é o lobo-mau...

*Pesadelo off*

Acordei em um susto, suando e tentando regular minha respiração.
Ainda era quinta-feira?


Eu não sei. Quanto tempo eu dormi?

Tentei raciocinar isso começando a olhar em minha volta, vendo que eu estava em meu quarto. Olhei pela janela vendo que era noite...

Que droga! Esses pesadelos voltaram...

Me levantei, desligando o ventilador. Pegando meu celular e indo em direção ao banheiro.

Molhei o meu rosto com a água da torneira, tentando voltar para a realidade.

O que havia acontecido?...

Ah! Carol! Sim, sim! Carol!

Desliguei a torneira e fui começando a mexer em meu celular, procurando o contato da mesma...

*Menssagem on*

Princesinha do nordeste
Online

- Carol, precisamos conversar.

- Vai princesinha, me responde.

- Para de visualizar e me ignorar!

- Ohhh vai! Bora conversar!

*Menssagem off*

Ahg! Er...ela tá brava comigo!
Guardei meu celular em meu bolso e fui saindo do quarto. Indo atrás da minha mãe.

- Mainha! - Gritei.

- Aqui na sala Felipe! - Era a voz de minha mãe, caminhei até a sala e ela estava assistindo a novela das oito. - Tu voltou com os desmaios desde quando? - Minha mãe nem olhou pra mim, foi só desligando a TV. Fiquei meio sem jeito.

- Ah...desde hoje. - Falei, abaixando a cabeça. Senti o olhar dela sobre mim. Minha mãe respirou fundo.

- Tu teve sorte viu menino, agradeça aquela menina que veio te deixar. - Menina?...Espera, a Ester veio me deixar?

Olhei para minha mãe e acenei que sim com a cabeça.

- Vai tomar um banho! Tá imundo! Pura a leite azedo! - Minha mãe disse e dei um risinho baixo.

- A senhora quer que eu compre uma canja pra janta? - Perguntei.

- Seria bom. - Ela respondeu. - Mas tu tá bom Felipe? Pra ir? Se tu quiser eu ligo pra muié vir deixar.

- Não, não! Tô bem mãe, te juro! - Fui sincero. Mas claro que era não era só isso. A mulher que vendia canja morava em frente a casa da Ester, eu aproveitaria e iria agradecer a ela por ter vindo me deixar.- Ah! A senhora sabe o que foi que deu na escola?

- Deu o que? - é...acho que os coordenadores não contaram nada para ela.

- Nada não mãe. - Para disfarçar, dei um beijinho na testa da minha mãe, ela retribuiu com um sorriso preocupado e logo fui indo para o banho.

*

Eu estava tomando um banho, um bom banho para ver a Ester dessa vez.

Nada da Carol me responder, vou tentar falar com ela amanhã, não posso deixar as coisas do jeito que estão. Ela precisa falar comigo por causa do plano.

Bom...

Eu estava pensando sobre o meu desmaio..

Minha mãe nunca pergunta muito sobre, ela me levou ao médico e ele falou que isso pode ser um sistema de auto-defesa. Me recomendou até procurar um psicólogo, mas não tem psicólogo gratuito por aí...

E a gente é do SUS, num temos luxúria pra ter plano pago.

Porém, meus desmaios e esses pesadelos haviam parado com os meus 10 anos de idade. Não sei porque voltaram agora...

Logo agora...

*

Havia terminado de me arrumar e já estava andando pelas ruas. Havia passado perfume e tudo!

Andava, enquanto via os moleques jogando bola a uma hora dessa na rua. O céu tava meio nublado, eu poderia jurar que choveria hoje a noite, se chover...é melhor eu me apressar.

Finalmente havia chegado na rua que era da casa da Ester. A mulher que vendia canja e pratinho estava com a barraquinha montada, enquanto havia umas três pessoas ali comendo. Melhor eu comprar logo!

Me aproximei da barraca com um sorriso.

- Oi dona Ana! - Falei. Ana olhou para mim com um sorriso carismático.

- Ah! Oi! Vai querer um pratinho? Tá em promoção hoje!

- A não, brigado! Vou querer é canja mesmo!

- Pequena ou grande? - Ela foi perguntando, levantando da cadeira.

- Me vê uma grande pra levar, favor! - Ela começou a colocar a canja em uma daquelas vasilhas de isopor. - Quanto dá? - Perguntei.

- Ah, é 11 reais meu fi. - Fui dando 12 reais, ela me deu o troco junto com a vasilha em uma sacolinha plástica. Sorri.

- Obrigado dona Ana! - Ela retribuiu meu sorriso. Quando virei para a casa da Ester...vi que ela estava no portão de sua casa, mas não estava sozinha...

Não, ela não estava com o Gabriel.
Ela estava com Hugo...e eles pareciam estar brigando.

BORBOLETAS DO MEU ESTÔMAGO (+18)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum