》Capítulo 4《

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- Primo! - Alexandre foi falando com seus braços abertos, enquanto eu fui me levantando. Recebi um abraço do mesmo de surpresa. - Eita que tá só o grude! - Ele riu e eu fiquei sem jeito.

- Eu...tive um imprevisto enquanto voltava da escola. - Falei, tentando me defender sobre estar tão suado.

- Ah! De boa Felipe! Tô só brincando com você. - Ele disse enquanto apertou o meu ombro. - Vamos pra cozinha, minha mãe vai amar te ver! - Ele falou enquanto me puxava, eu olhei para a minha mãe quase que pedindo um "socorro", pois só queria tomar um banho e chorar no meu travesseiro.

Entrando na cozinha, minha tia estava temperando a carne moída pro almoço. Ela levantou o olhar, seu cabelo era cacheado com as raízes brancas, ela era mais velha do que minha mãe. Minha tia foi abrindo um sorriso para mim.

- Olha como tá grande! - Ela deixou a carne de lado e foi lavar as mãos na pia. Minha mãe se encaminhou para o fogão, verificando como o arroz branco estava na panela.

- Bença tia. - Falei.

Alexandre foi me soltando, dando um alívio pra mim, ele foi se sentando na mesa voltando a cortar as verduras para a salada.

- Deus te abençoe querido! - Minha tia foi se aproximando, com suas mãos molhadas pegando em meus ombros, molhando a minha farda. Ela me puxou e deu dois beijos em cada bochecha minha. - Olha como tá grande! Quando te vi tu era só a finura e bem pequenini! - Forcei um sorriso.

-Felipe, vá colocar a carne pra cozinhar! -Minha mãe mandou.

- Deixa o menino! - Minha tia falou. - Se sente Felipe! Se sente! - Ela foi me puxando, colocando eu sentado na cadeira.

- Esse tem que parar de ter moleza! -Minha mãe disse. Desligando o fogão do arroz.

- Eai Felipe! - Alexandre interrompeu. - Como tá as namoradas?

- Ah....- Engoli em seco, uma pergunta que eu acho que ninguém quer receber na vida. - Eu não tô tão focado nisso. - Menti, na verdade a única garota que eu quero, não me quer.

- Como assim rapaz? - Meu primo foi parando de cortar as verduras.

- Eu quero sair bem na escola. Tô acabando o ensino médio já, daqui a pouco tem o ENEM. - Meu primo encarou a minha tia e os dois riram.

Eu encarei minha mãe sem entender o porquê deles estarem rindo. Já minha mãe os encarava com um olhar de deboche que significava "Eles pensam que são quem? Acha que só porque é da família virou o importante aqui?!"

- Fala sério Felipe! - Alexandre falou. - Fala aí, com quantas meninas você já transou na vida?

- Alexandre! - Minha mãe o repreendeu.

- É conversa de homem, não vamos nos intrometer. - Minha tia disse e minha mãe a encarou com um olhar de desacreditada.

- Eai Felipe, fala.

- Por que essa pergunta do nada? -Falei, super desconfortável.

- Só quero saber se meu primo é homem de verdade. - Alexandre disse. Eu franzi o cenho.

- "Homem de verdade"? - Respondi um pouco indignado.

- Já chega! - Minha mãe disse. - Vocês não falar essas coisas na minha casa, na minha mesa! Pra fora!

- Oxi irmã. Mas o Alexand-

- Pra, Fora! - Minha mãe falou pausadamente, mantendo a postura.

- Vamos mãe. - Alexandre se levantou e respirou fundo. - Só espero que na nossa família não tenha nenhuma bixinha de merda! - Alexandre olhou para mim.

- Saia! Agora! Não vou aceitar esses comentários preconceituosos! - Minha mãe disse enquanto os expulsavam da nossa casa.

Eu respirei fundo tentando me acalmar. Não esperava isso de Alexandre. Ele sempre foi um bom primo, até agora...

Pois se revelou ser completamente machista e homofóbico.

Minha mãe voltou, completamente irritada. Entendo sua frustração, ver que nossa família age desta maneira é uma decepção. Ela respirou fundo quando me olhou.

- Desculpe meu filho...desculpe...- Foi o que ela disse. Eu apenas me levantei e abracei a mesma.

- Tudo bem mãe, não é culpa sua! A culpa é que eles são pobres de educação. - Minha mãe soltou um risinho baixo, eu senti que a mesma queria chorar de raiva. Ela retribuiu meu abraço, dando dois tapinhas nas minhas costas. Como sempre ela querendo demonstrar que é
super-heroína e consegue aguentar qualquer tipo de coisa.

- Vou preparar a comida, você escapa hoje de me ajudar viu, mas isso é só porque tá imundo! - Ela disse e eu ri baixo.

- Mas eu faço questão de comprar uma boa cajuina pra nós tomar no almoço. - Olhei para a mesma e dei um beijo na testa dela. Ela sorriu.

Saí para a sala, peguei minha mochila e voltei para meu quarto. Coloquei as coisas em cima da minha cama e respirei fundo.

Tinha muitos pensamentos acumulados em minha mente, comecei o dia animado e parece que toda minha energia positiva foi sugada de mim em questão de minutos.

Eu precisava colocar isso para fora, só havia uma opção...

Meu caderno.

Comecei a procurar ele na minha mochila, mas...

Ele não tava lá????
Como assim??? Ele tava o tempo todo aqui!

Joguei todos os objetos em cima da cama e....

Aonde tá o meu caderno????

Eu perdi....
Perdi meu caderno...

BORBOLETAS DO MEU ESTÔMAGO (+18)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora