Gringa Grudenta - (Catradora)

By BriasRibeiro

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Ágata Catrina Macieira, ou Catra é uma jovem talentosa meio-campista brasileira que acaba de ser contratada p... More

Novo país
A menina lisa e a goleadora
Loira odonto do caralho
Após a queda
Gringa gata tatuada
Barreiras da língua (NÃO ESSA LÍNGUA)
O casamento do meu irmão
Vazando informações das linhas inimigas
Olhos oblíquos de cigana dissimulada
Nova canária
Portugal
A concentração de Adora
I love you
Armadilha para abelhas
A inquebrável She-Ra de Etéria
Zona do Medo
Primeiros contatos
CAPÍTULO EXTRA - Um olhar sobre a República de Etéria...
Intromissão purpurinada
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Duas gatinhas brincando
Noite de prêmios e videogames
Curiosidade
De volta para casa
Arrependimentos
The First Ones
CAPÍTULO EXTRA - as divisões administrativas de Etéria
Você é como ela
Eu sou uma idiota
Futuro do pretérito
CAPÍTULO EXTRA - o futebol em Etéria
Desejo
Desejo, parte 2
Eu quero surfar nas ondas do seu corpo
"Princesa", mas em português
Também te amo
Magicat
Epílogo
O frio de Zurique (CAPÍTULO BÔNUS)
O calor de Zurique (CAPÍTULO BÔNUS)
Que seja eterno enquanto durar.

A revanche

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By BriasRibeiro


É como aquele seu primeiro jogo pela Red Horde, logo quando chegou em Etéria.

De um lado, Catra e suas companheiras de vermelho. Do outro, a Royal Grayskull com aquele espalhafatoso uniforme roxo, que faz até uma gata malhada e tatuada como Adora quase parecer ridícula – ênfase em "quase". Mais uma vez, o estádio parece se dividir exatamente ao meio, numa massa roxa de um lado e vermelha do outro.

É raro ver partidas femininas com estádios lotados, mas esta parece ser a regra para jogos entre a Red Horde e a Royal Grayskull. Desde que chegara, Catra aprendera que as duas equipes mais poderosas do país formam o clássico que é chamado pelos torcedores de The Eternal Derby.
- Hoje eu te deixo me agarrar, viu? – provoca Catra, ao apertar a mão de Adora. O olhar da loira é frio e concentrado, como na primeira vez que jogaram. Não há resposta alguma. Na verdade, Adora mal parece reconhecer que alguma coisa lhe foi dita.

O juiz apita. A bola começa com a Red Horde, e Scorpia toca para Catra. Quase tão rápida quanto a bola é a chegada de Adora numa agressiva dividida, mas Catra consegue puxar a bola para a direita a tempo e escapa da marcação, logo tocando para Octavia e partindo para o ataque. Nem bem tem tempo de respirar após o drible, Adora gruda nela mais uma vez.
- Começou o chicletinho – brinca. Adora continua sem lhe dar atenção.

Os primeiros vinte minutos do primeiro tempo podem ser resumidos na Red Horde tentando atacar pelas laterais enquanto Adora anula Catra, que caminha tranquilamente o campo procurando por uma oportunidade, e a Royal Grayskull se defendendo solidamente. Ambas as equipes dão uma grande dor de cabeça uma à outra. Isso, até Glimmer roubar uma bola de Lonnie e puxar o primeiro contra-ataque das jogadoras de roxo: ela toca para a ponta-esquerda Sky, que deixa com a meia-central Bonfire, e esta passa para Crystal, que tenta vencer a zagueira da Red Horde na corrida mas é desarmada. Dessa vez, é a Red Horde que contra-ataca em velocidade: a defensora toca para Octavia, que vira o jogo para Netossa e Netossa usa sua velocidade para deixar a lateral adversária para trás na corrida. Catra acompanha a corrida da companheira, tentando se livrar da marcação de Adora, o que não acontece, e Netossa tenta cruzar para Scorpia, mas Huntara vence no jogo de corpo e a bola sobra para Adora. Catra tenta se antecipar à volante e leva uma finta. Antes que consiga se recuperar e partir para a dividida, a loira já soltou a bola para Bonfire.
- Tá esperta hoje – Catra sussurra no ouvido da outra, mas não vê seus pelinhos se arrepiando como costuma acontecer. Em vez disso, Adora a encara rapidamente e logo desvia o olhar, sem dizer nada. Naquele momento em que pôde ver seus olhos, Catra sente ter detectado um quê de insegurança na garota. Isso põe sua mente num lugar confuso. Ela se lembra da conversa com Glimmer naquela mesma manhã, e se pergunta se a garota dos cabelos rosas andou botando minhocas na cabeça da loira. Catra cutuca Adora no ombro – ei, você tá bem?

Adora mais uma vez não mantém contato visual por muito tempo, apenas assente e volta a se atentar ao jogo. "Mas que caralho", pensa Catra, mais uma vez detectando aquele ar de insegurança.

O jogo evolui para a fase final do primeiro tempo cada vez mais pegado. Lonnie cobra uma falta mirando o ângulo e a goleira da Royal Grayskull – a mesma da seleção eteriana, conforme Catra reconhece da sua partida pela seleção – faz uma defesa espetacular, mandando para escanteio. Reid, a ponta-direita da Royal Grayskull, dribla a lateral da Red Horde antes de mandar um chute cruzado que acerta o travessão. Scorpia dá uma cabeçada perigosa que passa por cima do gol. Octavia toma um cartão amarelo após entrada dura em Bonfire, e na cobrança de falta Huntara manda uma bomba que Catra pode jurar que atingiu pelo menos 200 quilômetros por hora, para uma defesa fenomenal da goleira da Red Horde. Após a defesa, ela ainda ficou caída no chão por uns dois minutos, e os paramédicos tiveram que entrar em campo para aplicar gel e massagem. Catra e Adora quase não participam do jogo, com a loira mantendo-se o tempo todo em cima da rival. Catra mantém-se tranquila, crente que uma oportunidade ainda vai aparecer e que não deve deixar a frustração subir à cabeça.

Até sente orgulho de si mesma pela maturidade.

Já estão quase entrando nos acréscimos quando uma bola lançada de forma rasteira põe Catra na corrida contra Adora. Embora ambas sejam igualmente rápidas, Catra consegue sair na frente na arrancada e chega à bola primeiro. Ela não desacelera, ciente do monstro em seu encalço, e parte pra cima de Huntara, chamando ela para o jogo e tentando criar espaço para Scorpia. Huntara fica entre sair do caminho de Catra para manter a marcação de Scorpia, ou ir pra cima de Catra e deixar Scorpia livre: acaba escolhendo a segunda opção quando percebe sua companheira de zaga, River, fechando o jogo em cima de Scorpia. Ela se firma no caminho de Catra, dobrando os joelhos e pondo ambas as mãos nas costas, pronta para dar o bote seja para qual lado for que a brasileira decidir escapar.

Catra vai para a direita, esquerda de Huntara. Huntara dá o bote à própria esquerda. Adora tromba no ombro direito de Catra, buscando desequilibrá-la, e no último segundo, Catra passa o pé por baixo da bola e muda sua direção, mandando ela suavemente entre as pernas abertas de Huntara. Com um braço ela empurra Adora, usa o peso do outro para se equilibrar quando muda a direção da própria corrida repentinamente, escapando por um triz da perna de Huntara e rejeitando a chance de cavar uma falta, e com a boca berra um "FECHA AS PERNA, PORRA!", rindo por dentro, e recupera a bola do outro lado enquanto as duas jogadoras da Royal Grayskull se enrolam.

Uma onda de "olés" ecoam pelo estádio e Catra dá um cruzamento curto e rasteiro para Scorpia, que embora marcada por River parece ser capaz de vencer no jogo físico. A centroavante, posicionada na entrada da pequena área, tenta avançar para a bola ao vê-la vindo em sua direção, mas a goleira reage mais rápido e corta o cruzamento, agarrando a bola. Catra desacelera, sentindo o coração bater com força e respira, colocando as mãos na cintura. Frustrada pela jogada não ter dado certo, contente pelo o que foi capaz de fazer. Scorpia logo vem parabenizá-la e bagunçar seus cabelos, encorajando-a para que continue jogando assim.
- Na próxima a gente pega elas, Wild Cat!

O juiz apita o final do primeiro tempo com 0 a 0 no placar. Catra logo se apressa a ir cumprimentar Adora pelo ótimo jogo na primeira etapa, mas a loira lhe dá as costas e caminha rapidamente ao vestiário, deixando a brasileira no vácuo e embasbacada. "Ela tá me evitando?", pensa, confusa, enquanto caminha de volta ao vestiário. Distraída, não percebe a aproximação de Scorpia e Netossa, e se assusta com os tapinhas nas costas repentinos da centroavante.
- Bela jogada, Wild Cat! Faz mais uma dessa e na próxima, prometo que eu ganho!
- Foi bonito – concorda Netossa. Catra sorri com os elogios.
- Valeu, cambada. Thanks.
- Disponha.
- Véi, a Adora tá me evitando – ela dispara a ninguém em particular.
- "Evitando"? Não pareceu não. Ela grudou em você do começo ao fim – replica Netossa, rindo, e explica a situação a Scorpia, que concorda. As três entram no túnel do vestiário enquanto conversam.
- Né isso não, mano. Eu fui dar parabéns agorinha por tá mandando bem e ela me ignorou – explica Catra.
- Aah. Sei lá, talvez ela só não viu – sugere Netossa – ela é meio lerdinha ás vezes.
- Mano, não. Eu tô ligada que ela viu – insiste Catra, cada vez mais incomodada com a situação.

Netossa traduz a conversa para Scorpia, que ouve atentamente. Ao terminar, ela põe uma das mãos no ombro de Catra.
- Wild Cat, você não tem saído com ela? – pergunta a centroavante. Catra confirma, assentindo com a cabeça, sem entender o que isso tem a ver – então, aquela foto que você postou no Instagram ontem à noite... foi meio inesperado, sabe? Não acha que pode ter a ver com isso?
- Pera, como assim a Catra tá saindo com a Adora? Desde quando isso? – interrompe Netossa.
- Hm... acho que desde que voltamos da Algarve Cup. Não tenho certeza.
- Porra, Catra! Cê tá zoando com a minha cara que não sabe a razão dela estar te evitando?!
- Eu num sei, porra! – retruca ela, incomodada com a agressividade súbita da amiga.
- Caralho, Catra! – Netossa deixa as duas de lado e entra no vestiário. Catra lança um olhar confuso para Scorpia, tentando perguntar "o que deu nela?", mas não sabe como dizer isso em inglês. Scorpia, em vez daquele olhar caloroso que costuma ter, encara a amiga como uma mãe que reprova suas ações. Catra fica até com vergonha, embora não saiba exatamente do quê. As duas entram no vestiário e vão se sentar nos bancos para ouvir o discurso desmotivacional da treinadora Weaver e as alterações táticas para o segundo tempo.

Catra está incomodada demais pelos acontecimentos desde o fim do segundo tempo para conseguir manter a mente no presente. Qual é o problema, afinal? O que é que tem que é tão óbvio para as outras, mas para ela não é?

Ela respira fundo. Precisa se focar no jogo, pensar nisso outra hora. Ainda tem 45 minutos restantes contra a equipe de futebol mais poderosa de Etéria, ao lado da própria Red Horde, valendo vaga na final da Taça Etéria. Muitos são os fãs e jornais que afirmam que essa semifinal é a final antecipada, que quem sair vitoriosa dali já pode se declarar campeão, que o outro jogo existe apenas para definir um vice-campeão. Embora Catra discorde dessas análises – afinal, qualquer coisa pode acontecer – ela sente orgulho de fazer parte de uma equipe tão reconhecida como a Red Horde, e quer fazer de tudo para vencer suas principais rivais.

Mas caralho, qual é o problema daquela loirinha?! Que que ela fez de errado?! Não dava pras pessoas pelo menos informarem a ela o que foi que ela fez de tão horrível?!

Quando a partida recomeça, Catra tem dificuldade em se focar 100% no jogo, ainda mais com Adora permanecendo tão perto. É diferente da primeira vez que jogaram. Os toques de Adora a pressionando, sua agressividade na marcação, são recebidas de maneira diferente dessa vez. E nesse segundo tempo...
- Hey, Adora – ela chama, em dado momento em que a Royal Grayskull está no ataque e ambas estão longe da jogada – eu fiz alguma coisa?

A loira parece que vai ignorá-la mais uma vez quando dá aquela olhadela rápida na direção de Catra e logo volta a se atentar ao lance.
- Agora não, Catra – ela acaba por murmurar de volta, depois de Reid mandar um cruzamento para a área e Crystal cabecear para fora.
- Eu estou preocupada – insiste Catra. As duas cruzam os olhares por um momento a mais do que Adora se permitira até então. Adora não sabe se o que vê é genuíno, se a está interpretando corretamente. Ela parece estar falando honestamente, mas já quebrou a cara antes, há menos de 24 horas – Glimmer disse... huh... estranho... coisa... coisas estranhas.

A goleira da Red Horde cobra o tiro de meta. Coincidência ou não, a bola vem na direção das duas garotas: elas sobem juntas, disputando agressivamente a bola, e Adora vence no jogo aéreo, tocando para trás. Huntara domina a bola e logo toca para Glimmer pela esquerda. Adora sobe para apoiar o ataque e Catra vem logo atrás dela, mantendo-se na marcação mais por querer ouvir uma resposta do que pela vontade de apoiar a defesa. Por fim, a zaga da Red Horde corta para escanteio e, enquanto esperam a bola ser arrumada, Catra fica encarando Adora, esperando uma resposta. A loira não demora muito a perceber
- Nós falamos sobre isso mais tarde – murmura Adora.

Na cobrança do escanteio, a Royal Grayskull abre o placar: Reid bate uma bola curva na segunda trave e Crystal vence a zaga da Red Horde, marcando 1 a 0. Catra não sabe se é pela situação com Adora, mas estarem atrás no placar não a afeta tanto quanto normalmente afetaria. As jogadoras de roxo comemoram na linha de fundo da Red Horde com a sua torcida, Huntara levantando a atacante marcadora do gol nos ombros para exibi-la aos torcedores.

Pelo canto do olho, Catra vê a treinadora Weaver sussurrando algo no ouvido da assistente, que começa a gritar e gesticular furiosamente. Ela entende algumas palavras: "attack", "pressure them!", e alguma coisa sobre "wings". Ela se lembra que "wing" em linguagem de futebol inglesa quer dizer "pontas". Ela quer que a equipe ataque e pressione pelas pontas.

E assim se faz. Scorpia dá o toque inicial recuando para Catra, que logo procura Netossa na ala esquerda e corre para o ataque com Adora em seu encalço.

A Royal Grayskull faz sua primeira substituição não muito depois, substituindo a ponta Sky por outra meio-campista, aumentando ainda mais a aglomeração de jogadoras na parte central do campo. Essa nova meio-campista, que usa a número 25, tem o nome "Hamilton" nas costas e é claramente uma veterana de mais de 30 anos, parece estar sempre perto o suficiente de Adora e Bonfire para apoiá-las defensivamente. Catra sente a pressão sobre si ainda mais pesada. Faz ela desejar ter a visão aérea que os espectadores da televisão têm, para encontrar mais facilmente onde estão os espaços livres.

Uma bola espirrada após uma dividida no meio-campo coloca Catra, Adora e essa tal de Hamilton numa corrida. Catra e Adora cheguem praticamente juntas na bola, mas a brasileira rasga em cima da eteriana e tira a bola dos pés dela, e logo em seguida ela sente o choque de Hamilton trombando em suas costas. Catra quase perde o equilíbrio, mas consegue usar sua velocidade para se manter de pé, domina a bola e a protege da número 25. Adora tenta dar a volta por Hamilton e pegar a bola por outro lado, mas Catra escapa pelo lado oposto e arranca para o ataque, deixando Hamilton para trás na corrida – "essa véia é bem lenta", a brasileira faz uma anotação mental. Ela procura suas opções e vê Lonnie se antecipando a Glimmer para receber a bola: Catra não tem dúvidas e dá um passe forte na direção da companheira, que domina, corta pra dentro protegendo a bola da lateral baixinha e levanta a cabeça, procurando por Scorpia na área, mas assim como Catra, ela se encontra fortemente marcada por Huntara. Tendo uma ideia impulsiva, Catra arranca na direção da área, sentindo a presença de Adora e Hamilton logo atrás de si, e Lonnie toca de volta para ela. Scorpia tenta escapar para o lado esquerdo da área enquanto Lonnie corre para a direita e River vem dar combate a Catra.

River dá um carrinho em Catra, e no último segundo antes de ser atingida ela devolve para Lonnie e pula por cima do corpo deslizante da zagueira, enquanto Lonnie toca de primeira na direção de Scorpia. Scorpia se antecipa a Huntara e bate colocado no canto direito. A bola faz uma bela curva e escapa por milímetros da ponta dos dedos da goleira. É gol. 1 a 1.

As jogadoras e a torcida da Red Horde explodem em comemoração, e logo as várias atletas da equipe cercam sua centroavante artilheira na comemoração, e a imagem dela aparece no telão: "número 9, Scorpia di Lion, 8 gols em 7 jogos na Taça de Etéria". A torcida canta o seu nome, arrancando um sorriso radiante de Scorpia, que parece emocionada.

Após o gol, Weaver tira a meia-central Precious e coloca Wave, normalmente reserva de Catra, fazendo a equipe passar a jogar com duas armadoras enquanto Octavia é recuada para uma volante mais fechada na defesa. A alteração tática não surte tanto efeito, e até o final do jogo a Red Horde não consegue mais marcar gol algum.

A partida termina empatada em 1 a 1. A decisão ficaria para o jogo da volta, dali duas semanas.
- Adora? – Catra tenta chamar, assim que o juiz apita o final da partida. Ela se sente ofegante, cansada, mas sua garganta dói mais pela ansiedade de falar logo com a loira que por qualquer outra razão. A garota de roxo logo caminha para o túnel do vestiário, como se tentasse escapar de Catra. Ela agarra a garota pelo pulso – ei. Espera, por favor. Podemos conversar?

Ela tenta não demonstrar sua frustração e confusão. Apesar de sentir a voz rascante pelo suor e cansaço, tenta fazê-la soar tão doce quanto possível. Adora se torna para encará-la.
- Podemos conversar depois? Estou cansada – Catra fica ali, encarando ela com certa decepção. Não com a loira, com... ela nem sabe o quê. Talvez consigo mesma por não entender a situação, ou com a situação em si. Não com Adora.
- Okay... – ela solta o pulso de Adora, que se desvencilha e continua seu caminho para o vestiário. Logo uma lateral baixinha com a número 12 nas costas se junta a Adora, lançando um olhar desconfiado para Catra por cima do ombro.

Se lembra do que Glimmer havia falado sobre uma foto. Ela pensa na possibilidade de Adora estar magoada por causa daquela foto, mas isso não faz sentido. Elas não têm nada sério e Catra se assegurou de nunca dar esperanças a ela de pensar que haveria algo sério: mantém-se emocionalmente distante, evita dizer qualquer coisa que possa ser interpretada do jeito errado, faz o que pode para deixar claro que só quer se divertir. Talvez seja a barreira da língua? Talvez tenha dito algo em inglês que achou significar uma coisa, mas na verdade significava outra? Seja como for, precisa desfazer esse mal-entendido.

Afinal, parte da diversão é a amizade de Adora, assim como acontece com Melina. Ela aprecia sua companhia de forma sincera, ainda que não queira lhe dar falsas esperanças de que um dia vão se casar, adotar 5 gatos e uma criança e viver felizes para sempre.

Subitamente, ela sente alguém lhe dando um tapão na nuca.
- Ai! Porra, Netossa!
- Burra do caralho – xinga a outra, já se dirigindo ao vestiário. Catra segue a garota de perto.
- Mano, qual foi?! Que que eu fiz agora?!
- Nossa Catra, vai se fazer de sonsa pra lá – Netossa retruca, irritada. Quando Catra vai adentrar o túnel para os vestiários atrás dela, ainda pensando no que responder, uma mulher com microfone e um cara com uma câmera cortam seu caminho.
- Hey! Ei, Catra! Aqui, pode dar uma entrevista?
- Hã- claro – responde, meio por instinto, pega totalmente de surpresa. Nunca haviam lhe pedido uma entrevista antes e ela com certeza não esperava que fossem pedir agora.
- O jogo de hoje foi equilibrado e ambas as equipes tiveram boas oportunidades. O placar de 1 a 1 para esse jogo de ida, é considerado um resultado aceitável por parte da Red Horde? – a mulher falara rápido demais, Catra não consegue entender quase nada do que é dito.
- Ahn... sim – ela concorda, assentindo com a cabeça e se sentindo uma tonta, esperando que a resposta tenha algum sentido.
- Sua partida de hoje lembrou muito o seu primeiro jogo pela Red Horde, no começo do ano, com lampejos de genialidade mas pouca participação devido à pesada marcação da Royal Grayskull. Você tem algum plano para conseguir ser mais participativa no próximo jogo?
- Adora – corrige Catra, tendo sido uma das poucas coisas que entendeu – não Royal Grayskull, Adora.
- E quanto ao seu plano para o próximo jogo?
- Sem plano.
- Certo, obrigada – a mulher volta-se para a câmera – tivemos aqui em primeira mão, inusitadas palavras de Catra, a meio-campista da Red Horde...

Catra deixa a mulher fazer seu trabalho e dirige-se ao vestiário. Chega bem a tempo de interceptar Netossa, antes dela entrar no chuveiro.
- Porra mano! Que merda foi essa?! – Netossa revira os olhos.
- Ei, galera! Atenção aqui! – ela chama, atraindo todos os olhares, inclusive o da treinadora Weaver – nossa querida Catrinha aqui começou a sair com uma garota, até aí tudo ótimo e perfeito, e depois teve a BRILHANTE IDEIA de postar uma foto no Instagram com outra garota quase pelada, montada em cima dela e chamando ela de "jantar", e agora tá aqui confusa do porque a primeira garota está evitando ela!
- Que que cê disse?
- Porra Catra, aí cê tá de sacanagem né...
- Que gay mais sonsa.
- Eu não entendi, qual é o problema?
- Ah não, outra sapatão burra!
- Pera, ela tirou a foto com o consentimento da garota, certo? O problema é estar saindo com uma segunda garota além da primeira, certo? Não tem nada a ver com vazar nudes, né? Ai, desculpa gente, eu sou lerda!
- Relaxa, Seedorf.
- Alguém bate na Milna E na Catra por mim, por favor!
- Mas ela nunca disse que elas tinham um relacionamento oficial! Não tem nada de errado!
– defende-se Milna.
- Mano, na moral, que que cê disse? Eu num entendi nem um pouco direito, e por que tá todo mundo olhando pra mim? – a visão de Weaver no canto do vestiário dando um facepalm e saindo do local é especialmente incômoda.
- Disse que tu se faz de sonsa e é uma irresponsável do caralho – retruca Netossa, já entrando num dos chuveiros.

[...]

Já são seis da tarde quando Adora chega em casa, sozinha dessa vez. Pensa em se deitar e assistir séries na Netflix até dormir, ou talvez ficar ouvindo música. Qualquer coisa para se distrair. Ela joga sua mochila sobre a mesa e se senta no sofá com o celular. Checa as notícias sobre os jogos do dia. Ao que parece, as Salineas Sharks empataram por 0 a 0 com a Crystal Castle na outra semifinal, o que faz Adora levantar a sobrancelha de leve. É raro ver Mermista passar um jogo em branco.

Encontra um vídeozinho curto de um dos jornais esportivos que segue no Instagram, com uma imagem paralisada de Catra e uma jornalista loira e de terno preto ao seu lado.

EteriaSportsTV entrevista com a craque brasileira Catra, da Red Horde, após o empate em 1 a 1 com a Royal Grayskull! #futebolfeminino2020 #redhorde #royalgrayskull #taçaetéria #futebolarte

Adora decide dar um play no vídeo.
- O jogo de hoje foi equilibrado e ambas as equipes tiveram boas oportunidades. O placar de 1 a 1 para esse jogo de ida, é considerado um resultado aceitável por parte da Red Horde? – a mulher fala rápido, e Catra arregala os olhos, parecendo confusa.
- Ahn... sim – "sim?", estranha Adora. "Acho que ela não entendeu a pergunta. A Weaver nunca entraria num jogo tendo o objetivo de empatar", reflete. Catra parece levemente curvada, talvez pelo cansaço, e respira pesadamente.
- Sua partida de hoje lembrou muito o seu primeiro jogo pela Red Horde, no começo do ano, com lampejos de genialidade mas pouca participação devido à pesada marcação da Royal Grayskull. Você tem algum plano para conseguir ser mais participativa do próximo jogo?
- Adora – corrige Catra, dessa vez exibindo um sorriso meio de lado. Adora sente um quê de orgulho na voz dela, como se estivesse exibindo um feito de uma grande amiga – não Royal Grayskull, Adora.
- E quanto ao seu plano para o próximo jogo?
- Sem plano – Adora ri baixinho. "Típico", pensa.
- Certo, obrigada – a mulher volta-se para a câmera, enquanto Catra passa apressadamente por ela na direção do vestiário – tivemos aqui em primeira mão, inusitadas palavras de Catra, a meio-campista da Red Horde. Alisson, é com você.

Adora assiste a entrevista mais algumas vezes, se permitindo sorrir sempre que chega na parte em que Catra destaca que a responsável pela sua marcação pesada foi ela.

A loira abre o Messenger e fica ali, observando sua lista de contatos por um bom tempo, refletindo sobre o que fazer. Por fim, desce a lista até um certo contato e manda mensagem.

Adora

ei, você está livre?

podemos conversar?

Adora larga o celular ao seu lado no sofá e liga a televisão, logo acessando sua conta da Netflix. Ela decide reprisar alguns dos seus episódios favoritos de Voltron: The Legendary Defender, enquanto espera por uma resposta. Sequer termina de assistir o primeiro episódio quando ouve seu celular vibrar.

Bow

Ei Adora, estou mais ou menos, mas pode falar!

O que foi?

Adora

ah, me desculpe

não quis incomodar

não é nada importante Bow

podemos falar depois

Bow

Vc não está incomodando

E não estou fazendo nada tão importante assim

Pode falar

Adora

não Bow, sério

realmente não é importante

a gente pode conversar depois

Bow

¬¬

Você é a última pessoa do mundo em quem eu confio quando diz que algo sobre você mesma não é importante

Adora

mas realmente não é ^^'

Bow

(sigh)

Tá bom, Adora

Vamos fazer assim, eu vou terminar o que estou fazendo

E assim que eu terminar, vou te ligar pra uma chamada de vídeo, ok?

SEM DESCULPAS Ù.Ú

Adora

Combinado!

Cinco minutos depois, o celular de Adora toca. A garota levanta as sobrancelhas e aceita a chamada, o rosto sorridente de Bow aparecendo na tela assim que o faz.
- E aí, Adora!
- Bow! Você disse que ia me ligar só quando terminasse seus afazeres!
- E eu terminei! – ele diz, jogando a cabeça para trás para rir – eu disse que não era importante, e minha melhor amiga pra sempre vai ser sempre minha prioridade, oras!
- Ai, você é impossível – replica a loira, apertando o espaço entre os olhos com os dedos e escondendo uma risada.
- Então, sobre o que você queria falar?
- Hm... você... lembra o que eu te falei sobre a Catra outro dia...?
- Lembro.
- Então...

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