Teoria do amor ao caos ✔️

By valeofdolls

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Camila ama o controle. Ama tanto que fez uma lista de todas as etapas que tem que passar até chegar na sua so... More

notas da autora
Um - A nova estrela (é um saco).
#2
Dois - Você é culpada
Três - Entre odaliscas e rivalidades
Quatro - A garota mais legal do mundo. Parte 1
Exposed #4 & #5
Cinco - A garota mais legal do mundo. Parte 2
exposed - #6
Seis - O novo casal (SQN)
Sete - Dupla do caos
Exposed #8
Oito - Diet coke, batom e maconha
Exposed 9
Nove - Amordaçada e stalkeada (o que falta?)
Exposed #10
Dez - O ritual da tartaruguinha, dois beijos, e um banho.
#0 - Seja bem-vindo a Santa Clarita
Onze - A luta de classes e a vida de merda.
Doze - Ela não tem nome e você não tem segredos :D
Treze - Verdades e caronas não fazem mal a ninguém(né?)
Quatorze - Teorias, chantagens e bandas indie (tem tudo a ver)
Exposed #15
Quinze - Todo mundo tá planejando algo (menos eu).
Exposed #16
Dezesseis - Bandaid, gols e pedidos inesperados
Bônus - Te amar trouxe consequências
Planos, tapas merecidos e legos
Dezoito - As lições que eu aprendi com você.
Exposed 19&20
Dezenove - Calabaças, aqui estamos nós.
Dezenove - Calabaças, aqui estamos nós. Part 2
Vinte - Raios, faíscas e feromônio
Vinte e um - Eu sinto você
vinte e dois - Lições do papai
Vinte e três - Boias para nos salvar
vinte e quatro - eu te deixei (mas não vou te abandonar)
Exposed #25
Vinte e cinco - Lolo não sabe brincar
Vinte e seis - Pare de quebrar meu coração
Vinte e sete - Não faça isso comigo
Exposed #28
Vinte e oito - A bruxa está solta.
Vinte e nove - Quente e doce.
Trinta- Ação de (des)graça
Exposed #31
Trinta e um - Cinismo, luxuria e crueldades
Trinta e dois - Constelações, beatles e magnitude
Exposed #33
Trinta e três - Feliz Natal, felizmente.
Trinta e quatro - A Borboleta levanta vôo
Tudo que ficou no passado #1
Livro dois - Capitulo Um - Ponto de Ruptura
Livro dois - Protetora
Livro dois - Tudo por ela
Livro dois - Planos infalíveis são quentes.
Namorados novos são um saco.
Recuperando corações perdidos
#2 Tudo que ficou no passado.
Livro dois - Chegamos até você.
Livro 2 - Epitáfio
Livro dois - Consequências
EXPOSED - DOIS ANOS :O
Livro 3 - Nós
Final - Teorias do amor e ensaios sobre o caos
Epilogo

Livro 3 - Seguindo em frente

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By valeofdolls

Dois anos depois.

Segunda, 14 de maio de 2019.

— Droga! – A pequena latina murmurou apressada, tentando segurar algumas pinturas e tintas debaixo do braço. Tudo isso, enquanto mastigava um hambúrguer. Aquela manhã estava uma loucura, ela poderia arrancar seus cabelos a qualquer momento.

Cabello suspirou aliviada enxergando a fachada do prédio no centro de Nova York. Só o destino explicaria como Camila morando apenas um quarteirão da faculdade conseguia se atrasar todos os dias, fosse pra almoçar, ou pra ir a aula. Naquela tarde, por exemplo, ela estava atrasada para lavar roupas com Dinah.

Subiu as escadas do prédio, comumente ocupado por jovens estudantes. Acenou para o porteiro que tentou lhe entregar a correspondência, mas ela fugiu dele indo rapidamente em direção a escada.

O prédio não tinha nada de impressionante por dentro, ainda que Camila fizesse muito gosto de morar lá. Não apenas porque ela sentia naquelas paredes o esforço de Lauren em buscar um lugar com moradores culturalmente ligados a ela, provavelmente pensando nos momentos que sentisse falta de casa. Ela era grata por isso também a Lauren.

A dona era uma velha mexicana, que estava sempre disposta a servir tacos a "ninã" que era como ela a chamava.

Camila parou por um momento na frente da janela que dava para a rua. Do outro lado da avenida, bem diante da portaria uma foto imensa de Lauren Jauregui estampava um letreiro em letras pretas "Os 100 jovens mais influentes do ano com menos de 20".

Ela seguia aquele mantra desde o dia que o tinham lhe colocado ali. Camila não deixava de ficar feliz em saber que apesar de deixar o futebol, ela tinha se encontrado em causas sociais. Lauren tinha alma grande, sempre era excelente em tudo que fazia.

A dor nos braços, a lembraram da quantidade de coisas que ela trazia e o trabalho que a aguardava. Parou de admirar a foto da ex e abriu a porta. Cabello respirou aliviada, largando tudo que tinha nas mãos no chão e se jogou no sofá. Era muito bom chegar em casa. O apartamento era tudo que ela mais gostava em NY, depois de Juilliard.

As paredes tinham um tom vibrante de vermelho e o piso era amadeirado. O apartamento pequeno era decorado com seus quadros e fotografias. Havia também um enorme sofá meio esfolado, porém muito macio, com algumas almofadas por cima.

Um ambiente convidativo e alegre, com cada cantinho lembrando Dinah e Camila. Levou um tempo para que elas deixassem daquele jeitinho, mas ela amava o clima harmônico a cada vez que entrava ali.

A enorme televisão de cinquenta polegadas tocava Mariah Carey no último volume, algo que só acontecia no dia de fazer tarefas da casa. E foi aí que Camila lembrou de toda roupa que tinha combinado de lavar com Dinah. Que saudade fazia sua mãe, jamais acostumaria a lavar sua própria roupa. A máquina fazia todo o trabalho, no entanto, não tinha nada mais horrível que passar e separar.

Cabello terminou de engolir seu sanduíche e levantou do sofá. Passou pela cozinha americana e foi até o pequeno corredor que levava aos dois quartos. Cabello encontrou a porta do quarto de Dinah entreaberta, e aproximou-se ouvindo vozes.

— Sério? – Dinah exclamou empolgada. – Eu posso acreditar que você vai se formar com honras e tudo mais. Eu estou muito orgulhosa... Mesmo. Nesse dia viajarei até você pra comemorar com muita vodca e drogas ilícitas.

— Eu vou começar a estocar as drogas... – A voz estava com um pouco de interferência, mas ela reconheceu. Uma pequena tristeza se abateu sobre ela. – Dinah... sobre aquele assunto que falamos na sexta... Você acha mesmo que eu devo ir, eu não quero incomodar? – A voz de Sophie passou de divertida para preocupada.

— Incomodar? Você faz parte dessa merda e eu tenho certeza que faria muito bem pra vocês.

Camila segurou a maçaneta com força, ponderou se deveria sair e deixá-las em paz. Ela era a única pessoa excluída dos delinquentes. Ficou estacada ali, na dúvida entre o que fazer.

"Isso é ridículo!", pensou ficando brava e abriu a porta.

Dinah virou-se, e os olhos castanhos se arregalaram. Pelo jeito que a loira reagiu, Camila sabia que ela não esperava que ela chegasse aquele momento. Na tela do seu computador, Sophie Turner aparecia em pequeno quadrado com os pixeis irregulares. Vestindo um moletom cinza, com os cabelos, agora loiros, presos em um coque frouxo.

— O-Oi. – Acenou para Dinah, mas sem tirar os olhos da imagem de Sophie.

Aquela era apenas a segunda ou a terceira vez que elas se viram ao longo dos dois anos. A mágoa ou a distância haviam colocado um ponto final na amizade delas e mesmo que tivesse se acostumado com a falta, não deixava de ser estranho.

— Oi, Sophie. – Ela murmurou desconcertada. Sentiu-se idiota por fazê-lo, mesmo sabendo que não conseguiria obter resposta.

— Hm, oi. – Camila arregalou os olhos. Era literalmente a primeira palavra que elas trocavam depois daquela conversa fatídica em seu quarto. Sophie suspirou – Dinah e-eu tenho que ir agora, tenho aula.

— Sua aula só começa daqui meia hora, S... – Ela olhou para Camila e voltou os olhos para Sophie – Ei, vamos lá garotas! – Dinah começou, os olhos brilhando em uma feição esperançosa. – Não precisa ser assim, não precisa ser assim mais... Por favor, eu fiquei quieta todo esse tempo respeitando o tempo de vocês..., mas é ridículo! Quando eu casar com Normani, vocês vão continuar com isso? Quando eu tiver filhos, será assim, ainda? Somos melhores amigas, dois anos não é tempo o bastante para algum avanço?

Camila e Sophie ficaram quietas. A ruiva do outro lado do mundo, Cabello parada no meio do quarto. Ela queria ter algo pra dizer, algo contundente e real. Algo que apagasse aquela estranheza.

— Não tem o que avançar... – Sophie disse. - Na verdade eu-

— Eu não queria atrapalhar. – Camila a interrompeu com a voz apologética. Ela realmente não queria recomeçar aquela discussão. – Eu vou deixar vocês em paz...

— Fique, Camila.

Camila se surpreendeu com a firmeza nas palavras de Sophie. Ela continuou parada, aguardando que ela dissesse que tinha mudado de ideia, mas uma alegria eufórica queimou seu corpo. Olhou para baixo fitando as mãos, com os cantinhos da unha roídos.

— Tudo entre nós está tão diferente... Eu... – Sophie parou e suspirou, a sua voz dava algumas interferências, mas era bem audível. – Eu sinto sua falta Camila... A vida tem dessas coisas. E eu fiquei procurando o momento correto para te procurar e pedir perdão, perdão por não ter acreditado em você. Perdão por ter sido tão dura. Mas eu acho que nunca apareceria o momento ideal, não sem que eu construísse isso.

Dinah olhou de uma para outra com os olhos cheios de lágrimas, piscando. Já Camila não conseguiu sequer disfarçar o choque por aquelas palavras. O choque que alternou para uma alegria imediata, fazendo os olhos castanhos ansiosos brilharem. Ela suspirou profundamente, criando coragem para falar:

— Eu estou feliz em ouvir isso. – Tomou fôlego mais uma vez. – Sei que existem cascas criadas pelo tempo, mas creio que em breve vamos poder conversar. Se você quiser... mudamos muito nesses anos, algumas coisas pra sempre... quero acreditar que nossa amizade se manteve intacta e isso só o tempo dirá...

Sophie ainda a encarava, rígida, do outro lado da tela. Mila estava suando, quente, com os olhos embaçados por lágrimas ardentes.

— Eu estou com saudades. – Camila disse e sentiu uma lágrima cair de seus olhos. O mesmo aconteceu com Dinah e, o rosto vermelho de Sophie sugeria que ela estava prestes a fazer o mesmo.

— Fico feliz que iniciamos algo hoje, Camila... – Ela sorriu levemente. – Agora eu realmente preciso ir pra aula. Vejo vocês depois.

A imagem sumiu da tela e Camila soltou o ar dos pulmões e endireitou as costas de um jeito solene.

— Merda, eu não acredito que tô vendo isso com meus olhos...

— O que acabou de acontecer aqui? – Ela soltou uma risada cheia de alívio, esperança e felicidade. Tinham iniciado algo.

— Meu deus, eu odeio vocês duas. Eu juro! – Jane xingou. – Estou tentando não criar expectativas, mas vocês me deixaram em êxtase, Mila.

— Enfim algo bom aconteceu, nesses meses. – Dava pra notar a euforia em sua voz, a maneira que suas bochechas estavam rosadas e ela sentia-se quente por dentro. Deitou na cama da amiga e ficou lá muito tempo olhando para o teto. Será que enfim aquele era um preludio de normalidade?

Camila sentiu o toque do seu celular no bolso e desbloqueou lendo a mensagem de Shay. Se sentia grata pela amizade da garota Mexicana. Mitchell sempre dava um jeito de animar seu dia desde que tinha chegado aquela cidade.

Mordeu os lábios empolgada com a mensagem. Quando ela parou de comparar o sexo de Shay com Lauren, notou que não era só na amizade que elas tinham muitas coisas em comum.

—Parece que ela está apaixonada. – Dinah provocou. Camila encarou a amiga sem saber exatamente que tipo de sentimento ter por aquela frase.

— É difícil resistir ao meu charme. – Ela jogou o cabelo em uma caricata tentativa de ser sensual. Dinah revirou os olhos.

— E a diaba de olhos verdes? Nenhum sinal?

Cabello deu de ombros. Não queria pensar em Lauren, havia esgotado as tentativas. Ela mordeu o lábio em dúvida se dava corda aquele papo ou não. Não havia nada o que dizer, todas as conversas haviam se esgotado.

— Depois daquela ligação eu acho que dei um ponto final de verdade na nossa história. – Ficou com a sobrancelha em pé esperando Dinah dizer suas frases, mas a amiga se manteve quieta.

— O que foi?

Cabello balançou a cabeça e fez uma careta de quem diz "não é nada".

— Poderíamos deixar pra lavar roupa amanhã, né?

— É? E por quê?

— Lembrei que tenho algumas coisas pra fazer agora a tarde.

— Você quer sair pra foder, sua pilantra!

— Talvez... – Mila riu pulando da cama da amiga com euforia. – Por favorzinho? – Uniu as mãos em uma súplica.

— Ok, só vou aceitar porque você passou dois anos sem ver uma... – Ela fez um gesto obsceno para representar. Camila pulou em cima de Dinah despejando mil beijos, enquanto a loira tentava a empurrar e falava ao mesmo tempo – Ugh, você é irritante. Mas lembre-se de voltar antes das 9, quero ir no shopping comprar um vestido chocante.

— Vestido? – Camila parou os beijos, franzindo o cenho para a amiga. – Você tem mais de mil que não usa em seu guarda-roupas.

— Não exagere. Esqueceu do casamento da sua mãe daqui a dois meses, ou está pensando em não ir?

Os olhos de Cabello se arregalaram tanto que tomaram seu rosto inteiro. A garota abriu a boca, ela realmente tinha esquecido completamente sobre esse casamento.

— Porra – Deu um tapa na testa. – Eu realmente tinha esquecido, Santa Clarita não são exatamente meu passeio preferido, estava evitando pensar nisso.

— Mas não é um passeio, é o casamento da sua mãe, Mila. Não é como o Natal que você pode inventar uma desculpa para não ir.

De repente sentiu muita vontade de lavar roupa. Ou quem sabe entrar na máquina de lavar roupa e ser lavada só saindo de lá com a mente limpa de suas antigas memórias.

Suspirou e sentou de novo na cama.

— Realmente, só muito sexo pra melhorar meu dia hoje!

"Lauren, você só tem vinte minutos, querida"

Lauren olhou surpresa para sua namorada, ao encontrá-la já trajando um vestido preto justo. Os cabelos loiros claros, caiam em cascata sobre os ombros, levemente umedecidos. Seu rosto já estava todo maquiado e Lauren se perguntou como ela conseguia aquilo tão rapidamente, sendo que ela tinha começado primeiro. Com uma negativa ela aceitou que nunca se acostumaria com maquiagens.

— Ok, obrigada, amor. – Ela respondeu olhando para o espelho a sua frente para continuar fazendo sua maquiagem.

Pra quem passou metade vida usando suor como maquiagem, ter que viver dentro de saltos e sorrisos concisos, era um tanto diferente. Os saltos, ela até suportava bem, mas a maquiagem...

Era somente por essa justificativa que ela estava em Nova York. Em busca de tranquilidade enquanto cursava a faculdade de Relações Internacionais e Política. O pequeno dormitório da faculdade era tudo que Blake e Lauren Jauregui precisavam naquele momento. Bem verdade, que poderiam ter ido morar em um dos vários prédios de luxo da cidade, mas Lauren ainda tinha devaneios juvenis sobre a vida na faculdade. Era bom acordar vendo pessoas como ela. Todos perseguindo um jeito diferente de sonho.

Os lábios rosados se abriram apenas um pouco, quando Lauren aplicou o batom sobre eles. Ela podia sentir os olhos de Blake em si, enquanto faz isso. Ela viu a loira andar mais perto até que ela estava encostada no balcão com um sorriso diabólico nos lábios.

— O quê?

— Eu sou muito apaixonada por você. – Blake deu uma mordidinha em seu ombro. Lauren afastou uma mecha do cabelo loiro, colocando atrás da orelha, em seguida lhe beijou. A namorada chegou mais perto e riu – Seu rímel borrou.

Lauren bufou. Ela nunca acertava.

— Me diga porque eu deixei você me convencer a participar de uma seção de fotografia? – Sem uma palavra, ela encolheu os ombros e segurou seu rosto.

— Porque você é linda. – Blake deu um beijinho em sua boca. – E pelo que eu entendi, faz parte do plano da faculdade por mais diversidade em cursos elitistas – Ela riu se aproximando da namorada para falar manhosa. – É isso que você ganha quando entra na lista dos jovens mais influentes do ano pela Times.

— É só um número, Blake, a causa é muito mais importante que isso.

— O número 5, é um grande número.

Lauren riu da lembrança, Blake estava muito mais empolgada com aquele título que ela. A noiva só perdia para, obviamente, seus pais. Ela ainda não tinha engolido os outdoors espalhados pelo país. Dinheiro gasto com futilidades que poderiam ter ido pra outras coisas. Inclusive para ajudar sua causa.

— Eu fico feliz com essas ações, mas eu gostaria que o futuro não fosse somente branco, como eu. – Contrapôs, sabendo exatamente seu lugar de privilégios. – Eu dou armas para que mulheres de todas as etnias possam se defender. Não quero ser "o branco salvador". Quero ser o branco que sabe de seus privilégios e usa eles para ajudar quem não tem.

— Um passo de cada vez, ok? – Blake plantou um beijo na sua bochecha com um desagradável estalo. – E além do mais, pelo que eu soube, vão ter uma grande diversidade de garotas.

— Ok. – A maior suspirou. Não era nada demais tirar fotos e apoiar aquela causa. – Te espero pra jantar hoje?

— Na verdade não, baby. – A loira ergueu o queixo olhando para Lauren. Blake normalmente chegava muito tarde em casa, ela passava o dia cuidado dos negócios da mãe. – Tenho muito trabalho ao longo do dia.

— Mais um dia jantando sozinha. – Ela fez beicinho de brincadeira para em seguida completar – Eu entendo, acho vou atualizar minhas séries.

— Me espere pra ver o capítulo novo de Killing Eve, ou eu te mato.

— Prometo. Além do mais, eu já estou acostumada em ser minha própria companhia. – Não era uma queixa. Os anos ensinaram a Lauren o valor de estar sempre consigo mesma. Isso era bom e ruim.

— Sabe como isso se resolveria né?

— Como? – respondeu mais na defensiva do que gostaria.

— Arrumar novos amigos ou... – Blake se interrompeu de propósito. – Ou procurar seus antigos amigos

Lauren colocou lentamente o rímel dentro da caixinha de maquiagem, ergueu os olhos para encontrar o reflexo da noiva no espelho. Blake havia tocado constantemente naquele assunto desde que Alycia tinha saído de Santa Clarita pra lhe fazer uma visita. Ela não havia evocado nada sobre Camila, mas Lauren sentia que isso estava breve. Dois nomes riscados de seu vocabulário, se bem que... Camila estava muito mais perto do que ela queria.

— Está fora de questão!

— Eu sei que você odeia tocar nesse assunto, mas converse comigo...

Conversar estava na categoria de coisas que Lauren tinha desaprendido a fazer. Principalmente no que se entendia pelos seus sentimentos. Havia uma eterna ansiedade em seu âmago, não passava nem queimava nunca. Então ela se trancava, como tinha feito nos últimos dois anos.

— Não vai fugir de seu passado pra sempre, amor. – Ela suspirou frustrada. – Você não é nem perto de ser feliz, Lauren. E eu me esforço, tento, mas você simplesmente apagou. Não te incomoda? Por que não pode voltar a jogar bola, mesmo que de forma recreativa?

— Não! Isso também está fora de cogitação. Deus tudo que eu faço nunca parece suficiente. Você não acredita quando eu digo que estou bem? Eu estou bem! – repetiu ela, novamente colocando mais emoções do que pretendia. Ela odiava quando essas coisas aconteciam. Já estava prestes a pedir desculpa, mas a namorada se afastou como quem leva um tapa. As bochechas vermelhas e a postura raivosa.

— Ok, Lauren, faça como quiser.

Então virou de costas e foi pra outro cômodo.

A verdade é que Jauregui não queria entrar em detalhes com ela, porque não havia forma simples de lhe explicar o porquê não voltaria. Não sem magoá-la pra sempre. Afinal, não era possível que Lauren voltasse a qualquer uma dessas coisas, sem automaticamente desejar as outras. Era por isso que ela estava com tanto medo de ir para Nova York. Não só por causa de Camila, há apenas dois ou três quarteirões de distância e sim, porque ela acabaria se atraindo até ela. Podia sentir isso desde o dia que ela apareceu bem ali.

Lauren se sentia como um pequeno peixinho que nadava constantemente em direção ao anzol. A boca aberta esperando ser capturada.

Tomaram café em silêncio, nenhuma das duas preparadas para puxar assunto. Por fim, Lauren pegou sua bolsa e saiu. Quando já estava na escada, Blake correu até ela, abraçou-a e beijou sua boca.

— Você sempre esquece. – A loira disse colocando o objeto brilhante no dedo anelar noiva.

— Acho que vou colar no dedo. – Brincou Jauregui, com um riso tímido. Mas ela certamente teve medo que sua noiva enxergasse aquela frase em sua totalidade.

— Eu te amo, desculpe por te pressionar. Tudo no seu tempo...

— Tudo bem.

Quando Blake partiu em direção ao estacionamento, Lauren deu uma olhada em seu dedo, agora com a aliança. Deveria ser uma prova do amor delas.

Jauregui, carregava aquele anel de noivado há seis meses. Depois de ir embora de Santa Clarita, Blake se manteve na vida de Lauren, em momentos difíceis. Ela não queria uma relação, mas não poderia dizer que não queria carinho. Blake insistiu e de certa forma a insistência da garota acabou a recompensado. Com o coração feito em pedaços e buscando um lugar, o ombro, primeiramente e depois o corpo da namorada de infância foram providenciais. Blake gostava de criar teorias de história de amor com isso. "Nascemos pra ficar juntas", ela dizia. Lauren ria as vezes, as vezes ficava resoluta. Nunca tinha certeza do que dizer.

O noivado "aconteceu". Namoraram por um ano, antes de Blake pedir e Lauren dizer sim. Dizer sim, foi o começo de um cronometro que indicava que ela precisaria marcar algo para breve. E Lauren sabia quais eram as intenções de Blake, porque ela olhava com expectativa toda vez que via fotos de casamentos ou assuntos relacionados.

A morena desceu as escadas em direção a saída, sozinha. Uma brisa agradável da manhã esvoaçou alguns fios do seu cabelo preto, e as buzinas de carros e vozes deram boas-vindas.

Pra alguém que havia passado os últimos dois anos na Holanda, não era tão difícil se acostumar aquele caos urbano. Naquelas ruas pouco importava quem cada um era de fato. Todos serviam de alimento para a metrópole e ela devolvia brilhando. Em nada lembrava a calma litorânea de Santa Clarita, mas Jauregui particularmente gostava da cidade.

De um jeito ou de outro a Lauren jogadora de futebol havia sido sufocada. Pouco daquela garota cheia de sonhos morava em Lauren. Ela trocou tudo por um pensamento prático. Era inegável que ficou muito mais parecida com seus pais do que gostaria.

Às vezes elas sentia que aqueles dias de ensino médio fosse ontem, mas o fato de que seu aniversário de 21 anos estava se aproximando lhe indicaram que não. Já tinham se passados dois anos.

Alycia Evans não sabia o que era usar um despertador há uma semana. Ela acordou com lábios macios e carnudos pressionados contra sua bochecha, depois roçando em seu queixo, beijos descendo em direção ao seu pescoço. Sua respiração falhava a cada pressão daqueles lábios, sentindo os braços familiares a puxando para mais perto. Ela quase podia ver o que estava acontecendo naquele quarto sem sequer abrir os olhos.

A luz do sol entrava pelas cortinas, exatamente naquele momento. Os pássaros cantariam, se ela realmente sintonizasse seus ouvidos com o mundo lá fora. Mas nada tinha sua atenção, além da mulher pressionando beijos contra seu corpo.

— Alycia... – Eliza falou seu nome daquela maneira rouca. O sussurro era quente, suave e atraente.

— Mmmm. – Alycia resmungou, virando o rosto para enterrá-lo no cobertor.

— Hora de acordar. – Eliza tocou o pescoço dela com a ponta do nariz, fazendo cócegas em Alycia. – Precisamos sair antes dele chegar...

Ele. Seu marido que tinha viajado por uma semana, enquanto Alycia ocupava não só os lençóis como o seu lugar naquela cama, todas as noites. Alycia dizia que não, mas já estava começando a se acostumar o bastante para perder o sono só de ouvi-la mencioná-lo.

Os olhos de Alycia se abriram de surpresa e ela se inclinou para trás, olhando para Eliza. A mulher estava totalmente nua, seu cabelo loiro nos ombros penteados, e o cheiro de sabonete indicavam que ela tinha acabado de tomar banho.

— Bom dia. – Alycia cumprimentou suavemente, um sorriso pequeno enfeitando suas feições.

Eliza admirou-se com a beleza daquela mulher ainda que pela manhã. Alycia não era apenas sua amante, não, ela jamais trairia seu marido por um devaneio. Era apaixonada por ela, mesmo sabendo que não deveria ser. Eliza viu a garota que se quebrou, lentamente se tornar aquela mulher que era. Evans era fria e distante, ainda que na cama ela transbordasse chamas quentes, capazes de incinerar todas duas.

— O que está pensando? – Evans perguntou quando percebeu que Eliza estava perdida em pensamentos.

— Em nós.

— Eu adoraria ouvir você dizer, mas acho que não temos tempo. – A mais nova anunciou, limpando a garganta quando ela saiu da cama. – Ele está chegando. – Anunciou fingindo uma voz cavernosa de filme de terror.

Eliza sabia o que aquilo significava, ela estava novamente fugindo. Não eram raras as vezes que aquilo acontecia, na verdade vinha acontecendo com uma frequência muito assustadora. O resultado era o mesmo: Juravam que nunca mais voltaria a se ver, até que a saudade ou o tesão arrastasse uma para a cama da outra, ou no carro, ou em qualquer lugar que pudesse abriga-las.

Alycia pensou que faculdade pudesse diminuir a frequência de vezes que ela transitaria na cama daquela mulher. Contudo nada mudou.

— Posso te seduzir com um banho quente? – Eliza perguntou astuciosamente. – E café?

Alycia levantou uma sobrancelha.

— Eu não posso. – Ela respondeu sentando na cama. Eliza tentou esconder que ficou decepcionada. A pessoa casada era ela, e quem parecia reticente era a pessoa livre do relacionamento.

— Sua regra de não se aproxima demais?

— Não, – Alycia beijou seu rosto, – minha regra de levar meu primo para comprar um terno.

— Que bonitinho, já está treinando para os seus filhos?

— Não vou ter filhos.

— Nem comigo? Não teria filhos comigo?

— Não. – Respondeu duramente. – Mas eu posso ser baba dos seus. – Tentou consertar, mas só conseguiu piorar ainda mais o clima.

— Não faça assim. – Eliza se amaldiçoou por ter tido a brilhante ideia de contar que marido falava constantemente em filhos agora.

Alycia queria que fosse mais que sexo, mas sabia que não seria. Eliza jamais terminaria com seu marido. No que dependesse dela ficariam ocultas para sempre. No começo, quando ainda estava caindo de amores por Sophie isso pareceu certo, de alguma forma não se prender em uma relação mantinha suas esperanças vivas de um retorno.

Porém, dois anos depois, ela queria algo a mais, relaxar talvez. Um namoro normal, com saidinhas românticas e o resto. Estava um pouco cansada daquela coisa calculada. Por mais que ardessem naquele quarto, para os outros elas eram amigas. Quando jantavam nada de mãos dadas ou carinhos explícitos, nem parecia que na noite Eliza clamava por ela.

— Você tem direito de ter filhos, ok? Eu não quero que interprete isso como uma maneira de te podar ou sei lá... – Ela se aproximou da loira. – Se você não fosse casa, talvez eu tivesse um filho co- –

O discurso de Evans foi interrompido pelos lábios da sua ex-professora. Com um gemido abafado de surpresa, levou as mãos até o pescoço dela, puxando seu corpo nu para mais perto.

— Podemos falar sobre outra coisa? – Alycia inquiriu com um sussurro ofegante.

— Não precisamos falar.

No fim da tarde de uma terça-feira, Lauren estacionou sua BMW 320i preta na porta do centro de cinemas e artes visuais da UNY. O carrão, presente de seus pais, depois dela aparecer na capa de mais uma revista, chamava atenção de quem encarava a chuva torrencial que caia aquele fim de tarde.

Ela abriu seu guarda-chuva, andando apressada em direção a entrada. Sua namorada havia a convencido de fazer mais uma seção de fotos. A segundo só aquele mês. Andavam brigando demais nas últimas semanas, portanto, Lauren decidiu que a agradaria com aquilo.

Subiu o pátio central, passando pelas catracas de segurança. Apenas os sons dos seus saltos eram ouvidos. Ela subiu um degrau da escada por vez, arrumando as do blazer jogado elegantemente sobre seus ombros. Tinha deixado o estágio e só queria chegar em casa e tirar aquelas roupas... Quando cruzou a passagem principal em direção ao local que lhe foi indicado, uma jovem estava sentada em uma mesa, folheando uma revista sem dar a mínima pra ela ali.

— Aqui é zona restrita para o evento, desculpe. – Continuou sem lhe olhar.

— Eu vim modelar. – Explicou, tranquilamente, só então teve sua atenção.

— Deus! – A moça arregalou os olhos extremamente azuis, assustando Lauren. – Você é Lauren Jauregui a jogadora? Desculpe a reação, mas eu... Eu te vi jogar algumas vezes. Sou sua fã!

— Sou eu... – Respondeu, a urgência para sair dali esmagou seu peito. – A ex-jogadora. – Ela achou importante dizer e seguiu indo para o assunto que era de interesse de ambas. – Eu acho que estou um pouco atrasada, se puder voltar amanhã, ou...

— Eu era super fã sua! – Lauren quase rolou os olhos. A mulher não tinha ouvido uma única palavra que ela disse. – Quem diria que você acabaria em Nova York? Posso tirar uma foto?

E assim, sem esperar sua resposta, a garota segurou seu braço e chegou perto. O flash da câmera frontal cegou a morena por alguns segundos. E ficou parada piscando os olhos tentando recuperar a visão.

— Sarah Lee! – Outra voz feminina se uniu as duas. – Deus... Eu te disse pra ser profissional, não estamos na nossa área. Uma só reclamação e tudo irá por água baixo! – As feições latinas se iluminaram quando ela chegou perto. Os olhos castanhos quentes e a pele naturalmente bronzeada lhe recordavam imediatamente outra pessoa. – Me desculpe. Você veio pra a seção de pintura, não é?

— Pintura? – Seus olhos duplicaram de tamanho imediatamente. Ela travou.

— Sim? – A moça repetiu com os olhos castanhos confusos. – Me chamo Shay Mitchell. – A garota estendeu a mão e apontou para o crachá – desculpe os modos da minha colega. – Somos aluna do curso de Belas Artes de Juilliard, fomos convocadas para essa ação e-

Lauren engoliu em seco. Só podia ser piada. Juilliard e Belas artes eram iguais a Camila Cabello. Ela recuou involuntariamente. Queria fugir dali.

— Não. – Disse ela, tentando abafar a quentura rastejando em suas bochechas. – Eu acho que está havendo um engano, minha noiva me falou sobre uma seção de fotos.

— As seções de foto terminaram ontem, eu fui responsável.

— Então eu acho melhor ir embora. – Disse isso já se virando pra ir.

— Não! – A garota pediu abruptamente, segurando Lauren pelo braço. – Olha, poucas pessoas estão dispostas a ficar tantas horas aqui. Já que você veio, poderia participar... temos um projeto muito legal de pinturas de pessoas LGBTQI+ para expor no Hall pela primeira vez... Você mencionou uma noiva, faz parte da comunidade. O que tem a perder?

Tudo... Lauren quis dizer. Principalmente se suas suspeitas se concretizassem.

— Eu não acho que-

— Apenas de uma olhada nos portraits, ok? Se não gostar pode ir embora. Nossa artista é muito talentosa, ela é a melhor do circuito da cidade. Um dia ficará feliz em saber que ela a pintou, seu quadro pode valer milhões.

Lauren quis rir disso. Tinha certeza que a artista "sem nome", já tinha lhe pintado antes.

— Tenho certeza que sim – Resmungou.

Contrariando a tudo que seu corpo lhe dizia, Lauren assentiu. A verdade é que ela estava ansiosa. Queria ver se a vida realmente gostava de fazê-la de piada. Se ainda tinha que passar por mais algumas humilhações.

— Ok.

Ainda incerta entrou na sala, apesar de fazer parte de um auditório o silêncio reinava ali. Começou a sentir que deveria voltar enquanto ainda podia. Mas... Suas pernas simplesmente não respondiam seus comandos e ela foi seguindo a tal Shay, sem prestar atenção em nada do que ela tagarelava lá na frente.

Lá no fundo a morena tinha uma antecipação curiosa, um desejo ardente e contraditório. Ela já sabia exatamente onde daria aquilo... tão cedo a resposta ao seu pensamento, saiu da penumbra sorrindo falando com sua voz de anjo.

— Shay eu não estou gostando da iluminação você poderia me ajudar a-

O encontro de olhares aconteceu quando Camila travou diante de Lauren Jauregui.

Sua boca foi caindo em uma expressão de medo e surpresa. Jauregui apertou os olhos tendo certeza que estava diante de uma visão. De repente, nem seus pés funcionavam corretamente. A gravidade havia desaparecido ao redor e até os sons tinham perdido a sua força. Nem mesmo o barulho da lata de tinta que escorregou das mãos de Camila, manchando o piso de vermelho lhe trouxe de volta.

Lauren captou cada detalhe involuntariamente. Mila estava vestindo um par de calças jeans apertadas e uma blusa branca com cinza. Seu cabelo caia pelas costas quase até a cintura. O aroma de baunilha afogava qualquer cheiro ali. Lauren ainda se surpreendia sobre o quão familiar ela era para seu corpo.

Houve um lapso estranho antes de qualquer um das duas se mover. Lauren mordeu o lábio inferior, o medo nublando seus olhos, que estão em um tom de cinza no momento, uma cor que só aparece quando ela está cansada ou triste.

— Lauren o que está fazendo aqui? – Camila disse com a voz muito mais emocionada do que pretendia.

Ela respirou fundo.

— Eu-

Lauren começou, e sua voz foi interrompida pela terceira pessoa ali.

— Lauren? – Shay olhou para Jauregui, analiticamente. – Lauren Jauregui sua ex?

Camila fechou os olhos suspirando. Lauren encarou Shay novamente, com um novo tipo de olhar. A maneira que Camila ficou desconcertada, suas bochechas corando. Elas eram íntimas. Suspeitou que fosse a mulher que Cabello tinha dormido na noite que ligou.

— Eu vou deixar vocês duas a sós. – O tom em sua voz sugeria que a última coisa que ela queria era nos deixar sozinhas. – Vejo você mais tarde, Mila.

Lauren a observou sair do cômodo e virou para Camila.

— Ela é a garota que dormiu com você?

— O quão irônico é essa pergunta, Lauren.

— Isso não é da minha conta, ok? Eu só- – Lauren se interrompeu ficando com raiva de novo. – Não responde isso.

— Eu não responderia... – Camila parou de fingir que estava interessada nos pinceis e olhou para ela. – O que exatamente você veio fazer aqui?

— Eu poderia fazer a mesma pergunta. – Respondeu. – Eu vim por uma seção de fotos e... Quando vi você estava na minha frente. – Ela pareceu histérica enquanto dizia.

— Você pode ir, Lauren. – Cabello apontou para a porta. – Porém se você quiser ficar... para o projeto seria interessante.

— Você quer fazer uma pintura minha? Assim. Do nada?

— Não será a primeira vez que faço. – Lauren mordeu o lábio evitando pensar naquela lembrança. – E além do mais isso é mais importante pra mim do que magoas do passado.

Lauren franziu o cenho ao notar que acima da cabeça da ex-namorada, havia uma frase destacada em azul.

"O bater de asas de uma borboleta pode causar um furacão do outro lado do mundo".

Engoliu em seco e então, largou sua mochila no chão e sentou no banco. Cabello deu a volta em direção ao palete. Ela aparentou surpresa, mas não disse uma só palavra. Ambas estavam gratas por aquele silêncio, porque não sabiam bem o que aconteceria se decidissem abrir a boca.

Cabello arrastou a tela para mais perto e Lauren ergueu uma sobrancelha sem entender aquela proximidade. Camila lembrou da promessa que fez no dia que ligou para Lauren, prometeu para si que ficaria longe, que deixaria o tempo curar aquele amor, mas era tão ridículo como apenas alguns metros foi o bastante para elas voltarem mais uma vez ao mesmo ponto cego.

Ela respirou fundo, tentando construir coragem para continuar pintando sem errar as pinceladas. Seu coração ainda não conseguia decidir se queria parar ou sair pela sua boca. Ela gemeu baixinho quando percebeu que sua obra estava muito aquém do que poderia produzir. Lauren a desestabilizava completamente, ou talvez fosse ela esquecendo das partes daquele rosto. Já faziam tanto tempo desde que tinha tocado aquela pele.

O problema não era obviamente a beleza da mulher diante dela. Jauregui estava tão mais bonita do que ela lembrava. Fotos jamais conseguiriam dizer metade do que ela era. Ela parecia uma outra pessoa. Os traços mais infantis haviam sido carregados pelo tempo, ou talvez fosse a maquiagem. Camila estava quase envergonhada de continuar se vestindo como uma pré-adolescente, sempre com botas e camisas flaneladas. Lauren, no entanto, se vestia como outra pessoa.

Mas era só a roupa. Todo resto ainda estava ali, a pinta perto da orelha, as sardas clarinhas que salpicavam o nariz. Os dentinhos tortos que davam a ela um ar infantil mesmo quando ela queria parecer alguém muito imponente.

Partiu o coração de Camila perceber que conhecia tanto sobre ela. Elas mal tinham ficado tempo suficiente juntas para aprender mais. Nada perto de todas as coisas que o amor irracional que sentiu exigia. Depois que ambas seguiram suas vidas, tudo desandou rapidamente. Ela sentiu um aperto tão grande no coração que achou que fosse começar a chorar.

— Essa foi a última coisa que pensei que aconteceria quando eu sai de casa hoje pela manhã. – Lauren resmungou e Camila parou de pintar. Havia uma sinceridade aborrecida ali. Cabello sabia que se Jauregui pudesse, ela estaria pintado em Marte.

Camila fechou seus olhos por um momento.

— Está tudo bem, Lauren. Entendi. Quando acabar você pode ir e nunca mais me ver... não é fácil pra mim também.

— Está difícil pra você ficar no mesmo lugar que eu? – Ela indagou, incrédula. A maior quase deixou uma risada de escárnio sair, tamanho foi seu sentimento a respeito daquele comentário.

A morena balançou a cabeça e seus olhos estavam cortantes, injetados de rancor.

— Foi você quem estragou tudo.

Camila abriu a boca e franziu o cenho. Como tudo entre elas o clima mudou quase que instantaneamente.

— Quando vai parar de agir como se não fosse sua culpa esse desfecho? – Lauren, disse incrivelmente furiosa. – FOI VOCÊ QUEM ME TRAIU!

— EU NUNCA TE TRAÍ! – Devolveu gritando também. – Eu jamais te trairia! Eu só queria que você tivesse me dado o benefício da dúvida.

— Benefício da dúvida? Eu fui humilhada, Camila. – Lauren gesticulava apontando para o próprio peito. – Minha vida foi revirada, minha reputação foi jogada no lixo! Eu perdi tudo.

Toda dor na sua voz quebrou Camila, seus olhos voltaram para suas piscinas verdes, galáxias de magia e raiva. A menor se forçou a manter os olhos em contato.

— Eu também perdi tudo! Eu perdi uma de minhas melhores amigas... Eu fui humilhada... Eu perdi você...

— Ah foi? – Ela a cortou, levantando bruscamente do banquinho que estava sentada para continuar falando. – Dinah Jane continuou aqui do seu lado, sua mãe, até meu irmão optou por confiar em você. Quem ficou só fui eu! Foi você quem desistiu de nós...

— Eu nunca desisti de nós. É você quem agora mesmo, ostenta essa enorme aliança no dedo. Foi você quem sumiu durante dois anos e sequer me deu o benefício da dúvida. Você jurou que me amava, noite após noite, mas não acreditou no meu amor.

— O que você queria? Que eu fosse compreensiva? Que voltasse e perdoasse você? Que tudo fosse igual? – A menina mais velha moveu a mão para o seu rosto, provavelmente querendo enxugar uma lágrima. – Você quer ouvir que eu te amo? Que eu te amei durante todos esses anos e amarei por mais mil? Eu morri por você um milhão de vezes e em uma dessas mortes, meu amor morreu também.

Ela sentiu o coração apertado como se estivesse se fechando por várias paredes. Mas ela não pararia de falar, tinha sua chance de expulsar tudo bem ali.

— Eu também morri quando acordei ao lado de Alycia... Um dos piores momentos da minha vida, só não foi pior do que o dia que eu descobri que você estava noiva. – Cabello forçou um riso. – Eu entendo seu ódio por mim, porque até eu saber a verdade me odiei também. Eu aceitaria se tivesse perdido por desamor, ou sei lá..., mas eu nunca te traí, Lauren. Sei que as fotos eram provas contundentes, provas que rasgaram a gente. Nem o maior amor do mundo poderia superar uma traição da maneira que foi orquestrada para parecer. Mas você me odeia por uma ilusão...

Lauren abriu a boca uma vez e depois fechou rapidamente, aparentemente sem saber se queria dizer o que estava pensando.

— Este é um ciclo interminável e eu não posso continuar nele. – Cabello olhou para o teto por um momento, na esperança de afastar as lágrimas antes que elas tenham a chance de ganhar forma. – Adeus, Lauren.

Olhos verdes se conectaram com os seus, antes de Camila começar a ir em direção a saída. Se maldizendo por ter pensando por um segundo que seria plausível ficar ali. Talvez a forma de seguir em frente fosse deixando Lauren pensar o que quisesse.

Ela sentiu a chuva molhar seu rosto, enquanto as lágrimas corriam seu rosto. Não fez nada para impedir, não correu como todos os outros em busca de um esconderijo. Ela só queria chegar em casa. Passou as mãos contra o rosto, odiando-se mais que tudo.

Não viu figura se aproximando rapidamente, correndo em direção até ela até seu nome ser chamado.

— Camila!

Lauren Michelle Jauregui estava diante dela em toda a sua pele de porcelana, cabelos negros, olhos verdes e beleza. Gotículas de água escorrendo pelas suas feições, o mundo derretendo bem ali.

— Camila eu-

Sua frase foi interrompida sumariamente quando duas mãos agarraram o colarinho da sua blusa, empurrando Lauren em direção a parede detrás delas. Ela colou-as bocas, moldando-se contra a carne rósea e macia. Os lábios moviam esfomeados, derretendo em saudade. Lauren foi atiçada por uma força tão avassaladora que precisou dar tudo de si para se segurar naquela mulher.

Ela tentou reagir, mas foi bruscamente empurrada outra vez e teve os braços presos acima da cabeça. Suas mãos embrenharam-se sob o vestido apertado, alcançando as coxas da ex-namorada e apertando-as. Suas línguas dançavam contra a da mais velho, roçando, enrolando-se, brigando pelo controle. Ela tinha sentido tanta falta daquela boca, daquelas mãos. Daquele tremor quente, escorrendo por dentro dela. Mil anos e nunca esqueceria aquela mulher.

Estava tão fraca que não conseguiu lutar quando Lauren se desvencilhou dela para se afastar. Elas se encararam pelo que pareceu uma eternidade, então Lauren saiu, deixando uma Camila extasiada para trás.

Ela encostou a cabeça contra a parede tentando respirar novamente. De repente ela não precisava mais mentir. Não precisava saber porque seu coração estava em repouso e o motivo da sua alma estar em paz, ela não precisava mais se sentir no controle porque Lauren era seu furacão e ela estava à sua mercê, entrando na destruição novamente.

postei esse gif, só pq um monte de gente pensa que é a Lauren ai, mas na verdade é a Camila.

Dois enormes capítulos depois aqui estou eu. Espero que faça sentido o fim da história que vocês entendam cada coisinha e porque elas vão ser desse jeito.E ai? Gostaram do rumo delas nos dois anos?

Mais 3 capítulos e teoria acaba e eu estou ansiosa pra isso. É uma grande oportunidade escrever pra vocês que sempre trataram minha história muito bem, mas também é bom acabar.

Pra quem reclamava da falta de clexa, esse fim vai ter surpresas.

Vejo vocês logo.

Até mais.

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