Epifania

By Karimylubarino

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A Quarta Guerra Ninja havia acabado, entretanto ainda existiam conflitos que necessitavam de atenção. O mais... More

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Inimigos da Folha
Os ninjas mais fortes
Ninjas de Konoha
Corações unidos
Epílogo

Esperança

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By Karimylubarino

Hinata parou os movimentos e se olhou no espelho. Ao redor de seus olhos perolados, manchas escuras marcavam sua pele alva e destacavam o cansaço que a perseguia nos últimos dias. Seus cabelos negros molhados pingavam no roupão de banho, uma mão segurando-os pela metade enquanto a outra permanecia paralisada com a escova no ar. Queria poder deitar e dormir uma noite tranquila de sono, mas não conseguia fazer isso quando tantas coisas a preocupavam.

Voltou a escovar seus cabelos, os olhos baixos agora. Naquela tarde havia participado da terceira reunião pós-guerra de seu clã, porém nada estava saindo conforme ela, sua irmã e seu pai esperavam. Mudar algo enraizado por gerações era mais complexo do que parecia à primeira vista.

Hanabi, sua irmã mais nova, era a que menos conseguia compreender aquilo. Saíra de todas as reuniões irritada e reclamando. Apesar daquele jeito rabugento, e da situação em si, aqueles foram os únicos momentos em que Hinata conseguiu sorrir depois da guerra.

Os anciãos do clã Hyuuga diziam concordar com uma mudança de regime, também aceitavam o fato de que era arcaica a política de dicotomia de Casas primária e secundária, porém afirmavam que, mesmo assim, aquela lei do clã era o que protegia o Byakugan de cair em mãos erradas. E ainda usaram o sacrifício de Neji como exemplo.

Hinata pousou a escova em cima da penteadeira, fechou os olhos e começou a apertar os dedos, estalando-os nervosamente ao recordar o que disseram: Mesmo não concordando com a Casa secundária, Neji se colocou à frente de Hinata. Isso porque até ele podia perceber a importância da nossa política de proteção.

Hinata bateu o punho cerrado em cima da penteadeira e a escova pulou, pairando no ar por milésimos antes de cair com um baque de volta no móvel e escorregar para o chão. Como puderam usar ele como exemplo?! E pior: como puderam falar sobre ele usando o pretérito? A Hyuuga tinha cada vez mais raiva de toda aquela situação.

Respirou fundo e se recompôs o quanto possível. Pegou a escova do chão e a guardou. Sentia-se tão sozinha nos últimos dias que até mesmo as coisas mais simples do cotidiano a irritavam. Mas ela sabia que o motivo para tanto estresse estava atrelado aos acontecimentos da guerra e às coisas que vinham ocorrendo.

Trocou-se, vestindo uma blusa folgada e uma calça. Já eram quase 18 horas e sabia que, se não se apressasse, poderia perder o horário de visitas. Passou pela sala de estar, onde seu pai se encontrava sentado e concentrado em um documento que trouxe da reunião, e foi direto para a cozinha. Pegou uma cesta de vime, mas parou, pousando-a em cima da mesma. O que estava pensando!? De nada adiantaria levar comida. Guardou a cesta outra vez, um pouco mais abatida pela falta de atenção, e saiu da casa em silêncio. Não queria que alguém tentasse passar um sermão por estar fazendo daquelas visitas uma rotina. Aquela era a única coisa que podia fazer e ainda achava muito pouco.

Caminhou apressada em direção ao centro de Konoha. Havia alguns dias que não via Kiba ou Shino, que também estavam ocupados com os deveres de seus próprios clãs. Pelo que ficou sabendo, os Inuzuka estavam preparando as crianças que entrariam para a escola ninja, um ritual de passagem entre eles. Os Aburame também tinham muito o que fazer: por causa da guerra, precisaram se unir para uma extensa caçada a insetos.

Levantou os olhos e de longe avistou o prédio onde Naruto vivia. Sentiu um aperto no coração ao se lembrar dele, pois já havia algum tempo que tentava bloquear os pensamentos que a levavam até o Uzumaki.

Era estranho querer tanto vê-lo e ao mesmo tempo evitá-lo. Após se confessar durante a luta contra Pain e de novo na guerra, Hinata esperava que Naruto viesse ter com ela. Estava preparada para tudo: uma rejeição, um pedido para que pudessem se conhecer melhor, um tempo para pensar... tudo, menos que ele simplesmente deixasse sua confissão no ar como se não tivesse importância. Ainda assim, era isso o que tinha acontecido.

Todos os dias ela acordava pensando que seria aquele o dia em que Naruto bateria à sua porta, os olhos azuis cansados, o corpo tenso e o sorriso tímido que havia assumido. Mas isso não acontecia e a Hyuuga ficava cada vez mais ansiosa. Era tão difícil para ele se posicionar?

Deve estar muito ocupado, pensou ela, como pensava todos os dias, o que não deixava de ser verdade. Assim que a grande guerra ninja terminou, Hinata chegou a vê-lo de longe algumas vezes e notou o quão diferente ele estava. Mais sério, mais maduro. Talvez essa mudança tivesse sido causada pelas coisas que vivenciaram nas batalhas, talvez pelo aumento das responsabilidades atribuídas ao herói de Konoha. Um título desses demandava muito, imaginava ela.

Mesmo assim, mesmo com todos os deveres que ele tinha agora, Hinata não conseguia compreender o motivo de tanto silêncio. Desde muito pequena seus olhos sempre estiveram atentos a ele, buscavam por ele. Sabia que Naruto tinha muito o que aprender com o tempo e que precisava amadurecer e compreender as coisas que aconteciam no mundo como de fato eram em vez de idealizar tudo à sua maneira, como sempre fazia. Não era boba como as pessoas costumavam pensar: sabia que o Uzumaki tinha seus defeitos, todos tinham, afinal. Ainda assim, as qualidades dele sempre estiveram muito claras para ela e sobrepujavam a impaciência e a infantilidade que ele possuía. Antes de qualquer coisa, a Hyuuga o admirava pela pessoa que ele era, por quem ele se esforçava para se tornar. No entanto, aquele distanciamento, a falta de pronunciamento dele para com algo que era tão visivelmente importante para ela, deixava-a decepcionada.

O mais constrangedor de tudo era saber que as pessoas ao seu redor sabiam o que tinha acontecido e que também estavam cientes de que Naruto nada havia feito ou falado sobre o assunto. Não podia mais ficar pensativa, pois corria o risco de perceber os olhares que a lançavam. Nem mesmo sua irmã mais nova deixava seus momentos de silêncio escapar; perguntava, sempre, se estava quieta por causa de Naruto, e Hinata preferia inventar uma desculpa qualquer a ter de admitir a verdade. E isso doía. Em principal porque ele ocupava metade dos pensamentos que tinha por dia.

Às vezes acordava e dizia a si mesma: Hoje será diferente, e tentava esquecer um pouco do que sentia por ele. Mas como esquecer alguém que estava na maioria das lembranças boas que possuía? Como esquecer uma pessoa que havia ajudado a moldar quem você havia se tornado?

— Obsessão — dissera-lhe Hanabi uma vez, quando a viu sozinha no pátio de casa, dias depois da guerra.

— O quê? — perguntara.

— Isso não é amor, é obsessão. Você fala dele sempre e aposto que, quando fica olhando pro nada assim, é porque está pensando nele também.

— Estava pensando em Neji... — Aquilo não era verdade, mas também não era mentira: quando se sentou no pátio, estava refletindo sobre os momentos bons que tivera com seu primo e como queria ele por perto, mas então sua mente divagou até encontrar Naruto outra vez.

— Sei...

E a conversa acabou. Porém, na mente de Hinata, a palavra usada para definir o que Hanabi achava que ela sentia por Naruto perdurava e incomodava como um alfinete colocado na lateral de um vestido a fim de apertá-lo.

Não se achava obcecada e sequer entendia o motivo de sua irmã ter dito algo tão radical, mas confessava a si mesma, no silêncio de seu quarto, antes de dormir, que às vezes queria se desapegar um pouco que fosse. Aquele sentimento tão bonito que nutria por Naruto agora a estava consumindo de uma forma que jamais imaginou possível, e isso era assustador.

Só queria ser correspondida, pensou. Ou ao menos respondida.

Deixou esses pensamentos de lado por um momento e entrou no hospital de Konoha. Havia caminhado tão rápido para chegar lá a tempo, que estava sem fôlego. Foi direto à recepção.

— Boa noite — disse ela. — Gostaria de visitar o paciente do quarto 206.

Paciente, pensou. Era difícil usar o nome dele, pois, toda vez que o pronunciava, lembrava-se do que tinha acontecido. Era inevitável.

— Sinto muito, mas o horário de visitas já acabou — falou a recepcionista, e estendeu um dedo para cima, mostrando o relógio de parede.

— Mas... — Passaram-se apenas cinco minutos. No entanto, entendia.

— Hinata!

A Hyuuga, surpresa, olhou para o lado, em direção à mulher que havia lhe chamado e que caminhava até a recepção. Shizune se colou atrás do balcão e abriu um sorriso discreto para ela.

— Veio fazer a visita do dia?

Hinata fez que sim, mas completou:

— Hoje não consegui vir mais cedo e parece que vou ter que deixar para amanhã.

Shizune olhou para trás, em direção ao relógio, e depois ficou pensativa por um momento. Aquilo deu esperanças a Hinata. Desde o dia em que chegaram da guerra, ela não havia deixado de ir ao hospital um dia que fosse e esperava de todo coração que uma exceção fosse aberta para que pudesse vê-lo.

— Vamos fazer assim — começou Shizune —: vou deixar você entrar, mas vai ter apenas vinte minutos. Tudo bem?

— Isso já vai ser suficiente — respondeu Hinata, exultante.

— Ótimo. Mas não se esqueça de vir mais cedo nas próximas visitas. Só estou permitindo sua entrada porque sei que você estava na reunião com seu pai e que ela demorou bastante dessa vez.

— Sim, demorou. Mas não se preocupe, Shizune, não vou vir tão tarde mais.

— Eu sei que não — replicou, e piscou para ela.

Apressada, Hinata assinou a folha de visitas e foi em direção ao corredor em que o quarto se encontrava. Apesar da tristeza que sentia por conta da situação, também não podia negar o quão bom era para ela poder ao menos vê-lo.

Parou na frente da porta, que jazia fechada, e soltou um suspiro. Algumas pessoas diziam que pacientes em coma conseguiam escutar o que era dito dentro do quarto em que estavam e que eles também eram capazes de perceber o estado de espírito das pessoas que os visitavam. Hinata não sabia bem se acreditava nesse tipo de coisa, mas não as descartava por completo, então sempre queria entrar preparada, com um sorriso no rosto, mesmo que vê-lo inerte daquela forma fosse tão doloroso.

Abriu a porta, entrou e a fechou de volta. Sentou-se na pequena e desconfortável poltrona que havia ao pé da cama dele. Via-o todos os dias, mas naquele momento, de alguma forma, pareceu notar algo diferente nele. Parecia até estar sorrindo.

— Oi, Neji — disse ela. — Sinto muito por ter demorado tanto hoje. Eu queria ter vindo mais cedo, mas... Bom, você sabe como as coisas estão. Talvez amanhã eu consiga compensar: pegar o horário do início e ficar como acompanhante durante a noite.

Focou-se no rosto dele e tirou, com delicadeza, uma mecha de cabelo que descansava na bochecha de seu primo. A marca na testa dele, que havia quase se apagado por completo após ter sido atingido pelo ataque da Juubi, agora estava acesa, e Hinata se incomodava tanto com ela agora que às vezes queria esfregá-la para ver se ela sumia.

Ela sempre sonhava com o que havia acontecido e se sentia horrível por saber que não pôde fazer nada além de ver seu primo ser atingido. Recordava-se com precisão do momento em que se colocou à frente de Naruto e de quando percebeu o movimento rápido de seu primo para lhe proteger. Os braços dele abertos, como que para acolher o mundo, mas que na verdade, naquele momento, pareciam apenas chamá-la.

Por sorte, assim que ele caiu, Sakura foi levada até ele e conseguiu fazer um atendimento de emergência. Quando ela chegou, os sinas vitais de Neji já estavam desaparecendo, as linhas de chacra que alimentavam seu corpo e espírito, Hinata viu, estavam sumindo. No entanto Sakura foi capaz de estabilizá-lo e alguns ninjas, que se encontravam próximos, levaram-no até a linha onde os demais médicos ninjas estavam. Depois disso, Neji nunca mais abriu os olhos. Continuava flutuando entre o mundo dos vivos e dos mortos.

— Ainda estamos negociando — continuou Hinata. — Mas os anciãos... eles não parecem entender a importância de acabarmos de uma vez por todas com a política de Casa secundária e Casa primária.

"Queria que você estivesse aqui, Neji. Você saberia o que dizer, saberia o que fazer para convencê-los, tenho certeza disso. Você é a prova concreta de que a governabilidade de nosso clã está ultrapassada, mas mesmo assim eles tentam te usar como exemplo de que eles é que estão certos."

Hinata enxugou uma lágrima que rolou por sua face. Entrou no quarto determinada a passar alegria e positividade para Neji, mas até agora só havia dado notícias ruins e o pior era que não havia nada realmente bom que pudesse dizer sobre seu clã.

— Mas nós vamos conseguir — emendou ela, tentando amenizar a situação. — Eu não vou deixar esse assunto morrer, nem que tenha de incomodar meu pai a vida inteira por causa disso. Você vai ver.

Ficou em silêncio mais uma vez, olhando-o. Roçou os dedos na beira da cama até que alcançasse a mão dele, apertando-a com cuidado e carinho. Ele estava tão frio.

— Volte logo para nós. Todos estão torcendo pela sua recuperação.

Hinata sabia que às vezes alguns de seus amigos iam visitá-lo e também entendia que eles não faziam isso com tanta frequência porque tinham os problemas dos próprios clãs para darem atenção, além de estarem pegando missões atrás de missões. Mesmo assim ela sabia que eles pensavam em Neji sempre e que queriam vê-lo com aquela cara emburrada de sabe-tudo andando pela vila outra vez.

A Hyuuga fechou os olhos e começou a orar. Não foi instruída religiosamente, assim como a grande maioria das pessoas as quais conhecia, mas queria ter certeza de que, se houvesse um Deus, que compreendesse a importância que Neji tinha para ela e o quanto estava disposta a tê-lo de volta em sua vida.

Tornou a encará-lo, o coração contrito. No dia anterior, havia conversado com a Godaime e perguntado sobre o estado clínico dele, mas a resposta que recebeu foi a mesma que havia recebido em outras ocasiões: que ele estava bem, cada dia melhor, mas que precisava dar tempo ao tempo e esperar que ele tivesse forças suficientes para combater aquele coma.

— Você consegue sair dessa situação — sussurrou ela. — Se não tiver mais forças, pegue a minha, mas não me deixe. — Mais lágrimas haviam escorrido de seus olhos, porém não se incomodou em limpá-las dessa vez. — Eu preciso de você, Neji!

Hinata prendeu a respiração, surpresa, ao perceber um singelo movimento abaixo das pálpebras de Neji. Foi tão suave que, por um momento, achou que aquilo tivesse sido fruto de sua imaginação, mas então se acalmou e voltou a olhar o rosto impassível dele com atenção e felicidade. Era por um mínimo sinal de recuperação que esteve esperando durante todo esse tempo, e agora ele estava ali, e deveria significar só uma coisa: ainda havia esperança. Neji não desistiria.

— Vai dar tudo certo — murmurou ela, e levou a mão dele até os lábios, beijando-a. 

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