Lucky: e o Coelho da Sorte

By taemeetevil

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[CONCLUÍDO] Taehyung nasceu sob uma maldição. Pelo menos era isso que sua avó dizia desde que ele fora capaz... More

Episódio Um: Loteria
Episódio dois: Vidente
Episódio Três: Trem
Episódio Quatro: Sem sorte
Episódio Cinco: Salvo
Episódio Seis: Ano Novo
Episódio Sete: Namorado
Episódio Oito: O filho do CEO
Episódio Nove: Problemas no Paraíso pt.1
Episódio Dez: Problemas no Paraíso pt. 2
Episódio Onze: Beijos e Curativos
Episódio Doze: Lucky Magazine
Episódio Treze: Mútuo
Episódio Catorze: Acampamento pt.1
Episódio Quinze: Acampamento pt.2
Episódio Dezessete: Sete cores
Episódio Dezoito: Passado e Presente pt.1
Episódio Dezenove: Passado e Presente pt.2
Episódio Vinte: Galinhas e Celeiros
Episódio Vinte e um: Uma constatação óbvia
Filler: Eu sonhei um sonho
Episódio Vinte e três: Daegu
Episódio Vinte e quatro: Ainda com você
Episódio Vinte e Cinco: Dejavu
Season Finale: Maldição
Episódio Bônus: Casamento da Sorte
Episódio especial: bebê da sorte

Episódio Dezesseis: Purple Heart Tour

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By taemeetevil

[NOTAS] Ok. Primeiro de tudo esse é o maior capítulo da fic. Acho que o maior que já escrevi pra qualquer fic, na verdade. Mas eu achei bem fluido, então espero que gostem.


TEM CENA +18 NESSE TBM! Na verdade, acho que tirando os 3 últimos capítulos em TODOS tem algum conteúdo +18. Como sempre, tá em negrito quando começa e quando termina, apesar das cenas serem bem mais leves do que costumo fazer, até pra combinar com a fic. 


AGORA UM LANCE IMPORTANTE: eu sei que sempre tem discussão de top/bottom com fic Taekook. As duas cenas principais que desenvolvi são top tae, MAS eu quero fazer ao menos uma cena de bottom Tae, porque eu acho importante pro personagem ter a experiência, até porque ele tá se descobrindo e tentando coisas novas sobre a sexualidade dele. Eu não vou julgar preferência de ninguém, nem obrigar ninguém a ler, se você não quer ler a cena, pode simplesmente pular, mas se a cena de sexo numa posição diferente for o que vai te fazer desistir da fic, eu acho melhor que desista agora. Nenhum autor quer perder leitor, mas eu também não quero mentir pra ninguém. Então se você vai deixar de ler Lucky aqui, eu agradeço por ter acompanhado a história até esse ponto <3

E PRA QUEM VAI CONTINUAR! Boa leitura, a gente se vê nas notas finais!!! 

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 JEONGGUK 


A primeira coisa que conseguimos decidir, depois de ter certeza que nada acertou a cabeça de Taehyung e garantir que Jimin e ele estavam mesmo bem, foi que não iríamos voltar pra nossa casa, pelo menos não imediatamente. Primeiro porque tinha gente demais lá, e segundo, porque Jimin insistiu para que fôssemos pra casa dele. Ele morava longe, quase saindo da cidade e o carro deu tantas voltas que eu sequer tentei me localizar. Só sabia que era longe, e era o suficiente. Tae era o único no carro comigo, e dava para sentir o medo exalar dele. Eu entendia. Além da perna, que ele machucou quando Jimin o derrubou - o tirando do caminho quando a estrutura de ferro caiu -, ele estava bem. Inteiro.

O problema foi isso ter acontecido do nada!

Não tínhamos brigado ou qualquer coisa que justificasse uma reação do universo e provavelmente por isso ele estava tão tenso, mesmo perto de mim. Talvez foi algo que eu disse? Enquanto falava com Yoongi-hyung que fez o universo reagir contra ele? Ou talvez foi a presença dos pais? O fato de Taehyung não ter se machucado talvez fosse uma prova de que o universo queria "ameaçar" os Kim e não ferir Taehyung. Ou talvez, eu realmente não era o suficiente e ele viveria com medo constante até esse pesadelo acabar. Queria que Jin-hyung ou JiSoo estivessem ali conosco, ao menos pra quebrar o silêncio, mas eles foram no último carro da empresa que saiu do estádio, com Soyeon, tentando explicar a ela o que aconteceu.

— Caramba... — Tae murmurou quando os portões de ferro da casa se abriram — É a Casa Azul?

Eu poderia apostar que sim, porque eu não lembrava a última vez que vi uma casa tão grande na vida. Eu já achava a minha e de Taehyung um exagero - e provavelmente acharia ela ainda maior depois que todo mundo fosse embora -, mas Jimin-shi vivia num palácio. Era no mínimo o triplo da nossa, além de uma área gigantesca. E um estábulo. Ele tinha cavalos em casa! Eu nem sabia que fofoca dava tanto dinheiro assim.

— Vamos fundar uma revista, Ggukie-ah?! — ele estava rindo, e o modo que disse foi fofo. Até chegou um pouco mais perto.

— Não sou um bom jornalista.

— Não precisa ser! Você pode dar sorte... e encontrar todos os segredos de todo mundo.

Ri, pelo menos ele parecia menos tenso agora.

— E o que você faria nisso?

— Podia ser o editor-chefe. Ou o CEO. CEO Kim... soa poderoso — ri um pouco mais do tom pomposo dele, até o carro parar e ele ficar sério de novo. Agora olhando suas mãos, deu pra ver que estava tremendo. Pensei em falar alguma coisa, dizer que ia ficar tudo bem, mas soava falso até na minha cabeça. Taehyung abriu a porta do carro e pareceu esquecer da perna machucada, saindo de uma vez e resmungando de dor logo que se pôs de pé. Jin-hyung correu até ele antes que conseguisse dar a volta no carro pra alcançá-lo — Tá tudo bem, hyung — disse para Seokjin.

Quando todos saíram dos carros, foi o momento em que ficou mais óbvia a estranheza da situação. Yoongi-hyung ainda estava com a cara inchada de choro, ao lado de Jimin que segurava a mão dele com força. SoYeon ainda parecia chocada com todas as novas informações, Jin e JiSoo tinha olhares meio perdidos. E tinha Taehyung e eu. Não sabia o que estava sentindo e muito menos conseguia ler a expressão dele naquele momento.

— Eu... tenho roupas que o Taehyung-shi pode trocar — Jimin começou, a porta da casa foi aberta por um homem branco de meia idade numa terno que parecia caro. Park realmente era bem rico, porque além de cavalos, ele tinha um mordomo. Acho que não tem nada mais burguês que ter um mordomo que parecia o Alfred. O cara nem era coreano. Jimin-shi era o Batman asiático — Acho que ele e eu precisamos de um banho antes de ter essa conversa.


+++


Yoongi se encolheu numa das poltronas da sala, com Shawn, o filhotinho de gato, em seu colo, Harry tentando escalar até sua cabeça, e minha grande surpresa, Holly, mordendo um brinquedo de borracha. Foi uma surpresa porque quando o hyung o adotou foi justamente quando ele e SoYeon começaram a fazer sucesso como dupla e estava ocupado demais sendo o garoto propaganda da HFC, então o hyung o mandou para Daegu, e o cãozinho vivia com os pais dele até então. O hyung tê-lo trazido para a casa de Jimin deixava bem claro como as coisas entre eles eram bem sérias.

— Eu não quero te acusar de nada... — Soyeon começou. Taehyung, Jimin, Seokjin e JiSoo ainda estavam lá em cima, em algum andar - havia mais dois! -, provavelmente para nos dar espaço — Mas você é meu amigo desde criança. A gente viu o Jeongguk crescer, eu praticamente pari esse garoto-

— Noona, não exagera — falei, mas ela ignorou.

— E agora você me aparece namorando um cara, com dois gatos e o Holly, e provavelmente nem ia comentar tão cedo se o teto do palco não tivesse caído na cabeça do seu marido!

— Ele não é meu marido! — foi a primeira coisa que o hyung disse em horas.

— Vocês tem animais de estimação juntos! No estatuto gay isso é um casamento. Jeongguk, diz pra ele!

— Que autoridade entre gays o Jeongguk tem?

— Não desvia do assunto! — a voz da noona ficava mais esganiçada quando estava com raiva. E ela definitivamente não estava irritada pelo hyung estar com um homem e com gatos e cachorros. E cavalos. Sim, porque ele nunca disse nada mesmo sendo amigos há tantos anos — Yoongi por que não nos contou sobre o Jimin? Espera... ele é a baby J?

Demorei a lembrar do que ela estava falando até que recordei do comentário de semanas atrás, sobre o relacionamento do hyung com alguém que ele chamava de baby J. Mas... era uma garota? Não lembrava da noona ter dito que chegou a conhecer a pessoa. O hyung se encolheu na poltrona, Harry conseguiu escalar até seu ombro e Shawn começou a mordiscar os dedos dele, a cena era tão fofa que quase me distrai quando o hyung assentiu.

— Não pode ser... Todos esses anos?

— Sim...

— Min Yoongi! — ela estava realmente muito irritada agora — Como que... — SoYeon deu um suspiro alto, tentando deixá-lo falar.

— Eu... eu me apaixonei por ele logo que a gente entrou na agência. Durou dois anos em segredo até o CEO Par-, o pai dele descobrir... foi só... ele viu um beijo e quis me chutar da HFC. O Jimin não deixou. Ele foi expulso de casa e depois saiu do país com um amigo cheio da grana. Nunca mais estive com um cara desde então e... — ele olhou pra mim dessa vez — Sinto muito por ter- ter dado esperanças e incentivado algo, Jeon. Eu achei que conseguiria... e te incentivei em algo sem futuro tentando esquecer que o Jimin não tava mais comigo. Tentei esquecer com todas as garotas que quisessem ficar comigo e torcer pra ser como meu pai dizia... só uma fase. Então eu o encontrei de novo, na turnê. E teve Hong Kong. E não podia perdê-lo de novo.

— E por que não disse nada? — falei, tentando não elevar a voz — Hyung, eu sou gay! Completa e inteiramente gay! Nunca ia te julgar por gostar de um cara!

— Eu também não ia te julgar. Nunca — Soyeon emendou.

— Eu sei!

— E por que não disse nada? — ela falou quase gritando.

— Porque eu tava com medo! — os animais perceberam a agitação, Yoongi tentou afagar a cabeça de Holly, os dois gatinhos se enrolaram em seu colo e o hyung deu um sorriso mínimo pra eles antes de continuar — Eu sou um rapper. Tenho de agir de um jeito, e falar de um jeito, e não posso parecer sensível demais ou ninguém leva minha música a sério. Eu fiz SeeSaw e disseram que era pop demais, que eu tava me vendendo, parecendo um idol, como se isso fosse ruim. As músicas tem de ter emoção, mas o artista não pode sentir demais.

Ele fez um pausa, colocando os gatinhos no chão. Os dois correram para o próximo cômodo e Holly correu animado atrás deles, tropeçando nas próprias patas.

— A gente — acenou pra mim e Soyeon — Não pode namorar. E tem de esconder quando acontece. E... e se descobrissem que eu estava com um cara? As regras não valem pra todo mundo, você e o Taehyung são o ponto fora da curva e talvez vocês possam mudar o jogo pra gente, ou talvez não. Não dá pra saber. E eu fiquei com medo... Se isso vazar pode afetar tudo que construí até agora, pode afetar você, Soyeon. Nós somos um duo. Pode afetar a Golden Closet também, é difícil saber...

— Eu- — comecei, tentando achar a maneira certa — Eu podia usar a sorte e-

E o que?

Realmente ajudaria? Nunca tive uma boa noção de até onde conseguia manipular probabilidades. Podia ser forte como um milagre ou tão insignificante quanto achar uma moeda de um centavo no chão. Não podia dar garantia nenhuma a Min Yoongi, da mesma forma que mesmo Taehyung sendo meu "namorado", eu não podia dar garantias a ele. Entendia o medo do hyung. Mas eu queria mesmo, que ele tivesse contado sobre Jimin antes.

— Você disse... que se estivesse namorando iria contar — o lembrei.

— Mas você falou que era pra falar se estivesse namorando uma garot- — olhei bem pra cara dele, ao menos deu pra sorrir um pouco, mesmo que de forma sarcástica — Tá, eu usei uma brecha pra mentir. Eu não queria. Eu... só tava com medo. E eu ia contar... hoje. Mas aí houve o acidente e vocês descobriram de qualquer forma — deu de ombros, como se estivesse envergonhado por admitir tudo aquilo. O hyung sempre parecia forte, e soava ranzinza e irritado, mas bastava olhar com atenção pra ver isso desmanchar como açúcar — Me desculpem. Sei que isso não apaga o que fiz de não confiar, mas realmente sinto muito.

Por alguns minutos, ninguém disse nada. Até Soyeon quebrar o silêncio.

— Ele é podre de rico... Não é só o Bogum que tá dando um golpe! — o hyung pegou a almofada nas suas costas e tentou jogar nela, nem alcançou o meio do caminho — Essa casa é incrível, devia ter trazido a gente antes. Tem piscina?

— Tem. Lá em cima, no terceiro andar.

— Aigoo, aigoo, parece um hotel 5 estrelas — era difícil não rir da animação da noona que fingiu superar a história rapidinho. Porém ela era boa nisso, em deixar as coisas irem. O hyung ainda tinha a mesma expressão culpada de quando chegou na casa, mas ao menos conseguia sustentar o sorriso — Ele comprou isso tudo com a Lucky?

— Não, SungWoon, o amigo dele, vive aqui também. A família dele pelo lado da mãe é de aristocratas ricos da Inglaterra. Mas o Jimin é dono de metade disso aqui. Ele ganhou mais na loteria que você, Ggukie.

— É o que ele faz? — perguntei — Ele pode-

— Ver o futuro — quem completou foi o próprio Jimin, ele entrou na sala, com Tae e JiSoo logo atrás. E tinha Jin-hyung que estava filmando tudo, animadíssimo como se nunca tivesse visto nada tão legal na vida — Bom, eu não vejo o futuro. Eu... sinto ele. É muito difícil de explicar e também é o máximo que me é permitido dizer — ele sentou no braço da poltrona, ao lado de Yoongi, Taehyung veio para o meu lado no sofá, JiSoo ao lado dele e Jin pulou de uma poltrona, pro sofá, pra outra poltrona, pro lado de JiSoo, pro chão, até voltar pra primeira poltrona, do lado de SoYeon.

— Eu posso usar essa casa de referência pra minha próxima fic? — Jin pediu.

— Mas cê' nem terminou a primeira. — Tae argumentou.

— Eu dou conta de duas. O Yoongi-hyung pode ser um híbrido de gato que o Jimin-shi adotou.

— Híbrido de... do que ele tá falando? — Yoongi franziu a testa, olhando pra Jimin que começou a rir.

— Híbrido. — o hyung explicou — Você vai ter orelhas de gato. E um rabo.

— E as orelhas daqui? — Yoongi apontou pras próprias orelhas, era difícil não rir de um diálogo tão caloroso quanto o deles.

— Elas continuam.

— Então vou ter 4 orelhas?

— Exatamente! — Jimin gargalhou alto, se jogando na direção de Yoongi, escorregando para o colo dele, o hyung o pegou antes que Park caísse no chão. Jimin beijou o rosto de Yoongi, JiSoo e SoYeon-noona davam risinhos e baixei os olhos, com vergonha de assistir, mas feliz pelo hyung, apesar de tudo — Aish... eles são fofos. Por que vocês não são assim? — demorei a notar que ele estava falando pra mim e Taehyung.

— Nós somos fofos, sim! — Tae reclamou.

— Eu nunca vi vocês assim... — o tom de Jin-hyung era uma provocação. Óbvio que ele estava era querendo material pra fanfic dele como ele fazia quase todo dia. Não que me incomodasse tanto em colaborar para a "arte", de vez em quando, mas Taehyung era o que mais cedia aos comentários dele.

— Pois vai ver agora! — assustei quando Taehyung pulou pro meu colo, esquecendo a perna dolorida e gemendo de dor em meu ombro, mas se recompôs em velocidade recorde, beijando meu rosto. Os lábios deles fizeram cócegas na minha bochecha — Somos fofos também, não é Ggukie-ah?

Quis perguntar porque importava ser fofo ou não num relacionamento de mentira, mas seus olhos estavam brilhando enquanto perguntava e era difícil zombar da pergunta dele quando os seus olhos brilhavam assim. Ou talvez fosse só a luz e não houvesse brilho nenhum. Mas eu assenti, olhando seu rosto e sorrindo pra animação boba dele quando fiz isso.

— Você é meu.

Taehyung não precisava ter dito isso. Ele não precisava mesmo ter dito isso. SoYeon pigarreou, nos lembrando que tínhamos muito mais plateia que só Jin-hyung e empurrei Taehyung cuidadosamente para fora do meu colo, sentindo meu rosto arder de vergonha, sem ter coragem de olhar na direção de Jimin e Yoongi-hyung.

— Devíamos falar sobre o que aconteceu. Sobre... o palco — JiSoo puxou o assunto e agradeci mentalmente por isso — Aconteceu alguma coisa? Quando estavam lá? — o olhar dela foi de Taehyung para Jimin.

— A vidente estava na plateia, logo na frente. Eu... fiquei confuso quando vi, mas não podia parar no meio do jogo e nós já íamos chamar você, SoYeon e Yoongi-shi — Taehyung começou, a história ficando mais clara agora que estava mais calmo. Não tinha entendido muito quando falou antes — Eu a perdi de vista e depois vi meus pais, Eu não- eu não os via-via desde- — apertei a mão dele quando percebi que estava ficando nervoso.

— A última vez que lembro foi quando Spring Day ganhou o primeiro win — Jin-hyung que disse, mais sério que seu tom habitual — Tem anos... nunca mais entraram em contato.

— E então, Taetae? — JiSoo incentivou pra que Tae continuasse, mas Jimin assumiu dessa vez.

— Taehyung parou de falar e foi na direção deles. Dava pra alcançar, estavam perto da grade. Só que eles foram embora. Sumiram bem rápido no meio da multidão — olhei na direção de Taehyung. Ele apertava os lábios e olhava para o chão, dava pra ver que estava tenso. A mandíbula travada e as veias saltadas no pescoço — Quando- — Jimin hesitou — Quando Taehyung-shi ia chamar por eles, aquela coisa de ferro se soltou. O puxei pra trás e a gente caiu no alçapão do palco. Aquele que o artista é levado pra cima, nem vi que não tinham subido de volta, mas foi sorte que não. Salvou nós dois. Saímos por baixo do palco depois que evacuaram o estádio.

— Você não previu isso? — SoYeon perguntou antes que eu pudesse fazer.

— Não prevejo minha própria sorte. Nem de quem está perto de mim... O universo faz as regras — deu de ombros, Yoongi o abraçou pela cintura com mais força. Ainda era estranho que seu grande segredo era justamente Park Jimin, mas ao mesmo tempo, parecia... certo? — Talvez tenha sido um tipo de aviso, uma ameaça do universo... Você devia procurar seus pais, Taehyung-shi.

JiSoo, Jin e Taehyung se entreolharam, o assunto sobre a família de Taehyung parecia bem complicado. Eu ligava pro vovô e meu pai toda semana, mas eu nunca via Tae falar com os pais e eu sabia que ele tinha irmãos mais novos, na idade de Heejin, porque eu vi várias fotos na galeria de seu celular, todas aparentemente salvas de outro lugar já que Taehyung pelo que eu sabia não viajou para Daegu recentemente e não estava em nenhuma das fotografias. Ele nunca falava deles. Era como se nem existissem.

— É... complicado — JiSoo falou — Eles devolvem cheques. Presentes. Não atendem as ligações do Taetae tem mais de dois anos... — Taehyung continuou olhando pro chão, era visível que estava desconfortável com o assunto, mas estava se esforçando pra não demonstrar demais.

— Ainda assim, vocês não sabem muito sobre a maldição. — Jimin insistiu — Eles são a melhor fonte disponível.

— Depois — Taehyung disse, a voz soando estranha. Embargada — Noona teve de reajustar a agenda e só volto pra Coreia depois do gap nas Américas. Fico por quase uma semana — ele olhou pra mim antes de continuar — Podemos ir a Daegu. — assenti e apertei a mão dele, dando um sorriso pequeno que não viu, já que desviou o olhar para o chão de novo. Harry, Shawn e Holly passaram correndo de volta pra sala e ao menos ajudou a quebrar o silêncio pesado que tinha se instalado.

— É... gatinho, porque não mostra a casa pro pessoal? — Jimin pediu, beijando o rosto de Yoongi-hyung novamente antes de se levantar — Eu quero falar com o Jeongguk. Em particular.

— Vamos, eu quero mostrar o quarto das crianças — ele pegou Harry e Shawn, um em cada mão e Holly seguiu tropeçando atrás dele para fora da sala. Um a um o pessoal foi se levantando e seguindo atrás do hyung — Sabia que eles tem um coleção de coleiras de diamantes exclusiva?

— Na minha próxima vida eu quero ser um gato do Jimin-shi — Jin-hyung disse.

Taehyung era o último ainda na sala, olhando pra mim e Park, como se esperasse que começaremos a discutir ou acontecesse algo mais extraordinário que isso. Talvez porque nós dois éramos "especiais". Mas no fim JiSoo o puxou para fora da sala e o som da conversa entre o grupo foi se distanciando até não poder ouvir mais nada.

— É... casa legal — falei, tentando quebrar o silêncio que se criou logo em seguida. Pela primeira vez desde que conheci Park Jimin, ele não parecia... uma ameaça. Ele usava um moletom do merchandising da AGUSTD Tour e tinha um curativo no canto do rosto. O mordomo - que eu chamei mentalmente de Alfred - trouxe chá em xícaras de porcelana que deviam valer o preço de uma casa popular. Acenei um agradecimento antes que ele desaparecesse em um dos muitos cômodos.

— Sei que é muito pra assimilar — Jimin começou.

— Não... Desde que conheci o Taehyung nada é estranho o suficiente pra superar o que acontece com ele. — Jimin tomou um gole do chá. Apesar do amigo dele ser o filho de aristocratas, Jimin-shi tinha cara de lorde.

— Eu queria que o gatin- o Yoongi contasse, desde o começo. Mas sair do armário, mesmo que pros amigos, é um processo difícil. Parte de mim tinha medo que... que algo vazasse para a imprensa. Quer dizer, você e Taehyung são o casal da nação. Mas por sua causa. Você ser o coelho da sorte dá a vocês essa segurança, e não tenho isso pra oferecer.

— Por isso você me odeia?

— Eu não te odeio — tomou outro gole do chá — Eu sou só o filho rejeitado. Meu pai não sabe do que eu... vejo. Tenho isso desde criança, mas ele e a mamãe ignoravam as babás quando eu dizia sentir algo que estava prestes a acontecer. Quando fiquei mais velho, aprendi a guardar. Não falar disso. Podia ser perigoso e geralmente é. Aí veio você... e você também era especial. E gay. E meu pai te colocou em outdoors do mundo todo e tem fotos de vocês na sala principal da nos- da casa dele. Ele te apresenta pras pessoas como se fosse um filho.

Jimin-shi parou, tomando um gole longo do chá e colocando a xícara no chão porque a mesa no centro da sala estava longe demais dele.

— Pensei em falar sobre... sobre o que sou. Ele me aceitaria de volta, com certeza. E ia colocar minhas fotos ao lado das suas na sala da casa dele. Não quero o amor dele se for assim, mas não conseguia não sentir ciúmes de você. E um pouco de raiva. Não tô dizendo que vamos ser melhores amigos. Mas eu quero me dar bem com o melhor amigo do meu gatinho — foi difícil não rir da última frase.

— Gatinho é o apelido mais gay que você conseguiu pensar.

— Ele parece um gatinho, era um apelido bem óbvio na verdade — sorrimos um para o outro. Talvez pudéssemos ser amigos com o tempo. O sorriso dele se foi — Eu queria falar sobre o coelho da sorte.

— Você pode me chamar pelo nome.

— Não — ele acenou com as mãos — Eu estava pensando somente na sua sorte. Vi num documentário que você não nasceu com ela.

— Sim, eu... eu tenho ela há cinco ou seis anos. Antes nunca teve nada muito diferente sobre mim. Mas por que isso importa?

— Porque... bom, é só uma teoria, eu não vi nada sobre isso. Mas eu acho que sua sorte tem um propósito limitado. Você ajudou muita gente e fez muitas coisas incríveis que realmente não precisava. Provavelmente outra pessoa no seu lugar ia ficar rico, talvez ajudar a família e quem gosta. E você ajuda até quem não conhece... acho que foi por isso que o universo te escolheu.

— Mas você acha também que isso vai acabar...

— Sim. E pode ou não ter relação com o Taehyung. Yoonie falou tudo que você contou a ele sobre a maldição depois da nossa entrevista pra Lucky, eu pensei muito sobre e acho que errei em dizer que você não era o bastante. Na verdade, você parece o único caminho. Por isso ela foi tão específica que só o coelho da sorte podia ajudar. Porque literalmente só você pode.

— E depois de salvá-lo eu não seria mais o coelho da sorte. — Jimin assentiu.

— É só uma teoria. JiEun é como eu. Bom, ela é bem mais poderosa, eu nem sei se aquela velha é humana mesmo — essa era a parte sobre a minha vida que eu gostava de não pensar muito sobre — E pessoas como nós tendem a errar quando se apegam. E sinto uma ligação forte com o Taehyung — "ligação forte?" — Não assim! Eu nunca deixaria meu gatinho.

— Eu não disse nada...

— Você não é bom em disfarçar ciúmes, Jeongguk — ia argumentar, mas ele acenou com as mãos para que eu me calasse — Enfim, é uma teoria, mas pense sobre isso. Pense bastante. Perder um dom tão precioso pode ser um preço muito caro, até pra você.

Não respondi nada, minha cabeça estava uma confusão de informações novas e eu me sentia exausto, como se a conversa tivesse terminado de sugar toda a energia que sobrou em meu corpo. O barulho de algo caindo da água fez nos dois levantarmos num salto. Um "Eu tô bem!" ecoou pelas paredes logo em seguida quando Taehyung gritou, provavelmente pra alertar a mim, e um pouco mais baixo dava pra ouvir Jin e Yoongi-hyung rindo. Claro que tinha de ser Taehyung a cair na piscina.

— Por aqui — Jimin acenou na direção da porta à direita, na direção oposta por onde os outros saíram — A gente pega o elevador.

— Elevador...

Ri num suspiro antes de seguir atrás dele.


+++


TAEHYUNG


O acampamento de composição acabou quatro dias depois do desastre do show, com dez faixas aprovadas, minha perna melhor e nenhuma nova contusão. E então vinha a parte inevitável: A turnê. Bom, não seria a turnê do Vendetta - que era o nome provisório do álbum até Yoongi-hyung escolher um pra competir com esse. Jeongguk achou que seria engraçado colocá-lo nessa disputa com Bogum -, os shows seriam ainda com meu álbum anterior e a Golden Closet junto com a CF, queria aproveitar a tour para me lançar à um novo público.

O que era legal. O que não era tanto assim é que Jeongguk só me acompanharia no gap asiático, ou seja, 3?semanas entre Tóquio, Singapura, Taipei, Manila e Hong Kong. Europa e América do Norte e Sul eu iria sozinho, só com Jin-hyung e JiSoo-noona. E eu só voltaria a vê-lo de novo em julho por uma semana, mas a turnê apenas finalizava em agosto.

Agosto!

O gap asiático acabada dia 13 de junho e eu só voltaria de verdade em 10 de agosto! Quase dois meses. Direto para a preparação do comeback! E eu não podia fazer nada além de aceitar já que ele não podia largar a Golden Closet, o comeback do Yoongi-hyung seria logo depois do meu, tinha os garotos do reality - que em julho finalizavam o programa - e eles lançariam o single logo em seguida. Não era justo pedir pra ele largar tudo para o secretário Chan cuidar, apesar de ser essa a minha vontade. Queria que ele fosse comigo.

— É sério, eu tenho um plano muito bom que vai te manter a salvo durante os dois meses — ele dizia isso sem esforço nenhum enquanto corria na esteira diante de mim. Sem camisa. Eu nunca via Jeongguk malhar, mas o corpo dele era... era... muito bem arrumado. Era estranho que eu nunca liguei muito para ficar olhando físico das pessoas, mas às vezes era difícil não olhar os braços de Jeongguk. E as pernas deles. E tinha o tórax também... — Que foi?

— Que?

— Cê' tá me olhando esquisito — ele diminuiu a velocidade da máquina, só caminhando agora. Voltei a fingir que estava me alongando.

— Tava só pensando aqui... O hyung parece mais feliz né? Ele trouxe o Harry, Holly e Shawn ontem pro estúdio. Os três andam de coleira — ri da lembrança — É estranho? Pra você... quer dizer, você gostava dele — eu perguntei, mas meio que não queria saber a resposta.

— Eu tinha esperanças antes. Mas ver ele com o Jimin me fez entender que não sentia mais nada — ele parecia satisfeito com a constatação — É bom não estar acorrentado a nenhum sentimento romântico.

Eu não sabia dizer o que senti sobre isso, mas foi estranho ouvir.

— Mas eu tenho um ótimo namorado falso e amigo colorido que vai adorar minha alternativa para que eu sempre esteja por perto enquanto estaremos fisicamente distantes — ele esticou as mãos na minha direção, fazendo uma expressão dramática exagerada — Agora para de enrolar, você tem que correr por uma hora no mínimo. Tomou suas vitaminas?

— Inclua babá nas atribuições do nosso relacionamento — ri, indo para a esteira ao lado dele e esperei que Jeon ligasse por mim. Vai que eu ligo e a coisa explode — E eu tomei as vitaminas — o ritmo era uma caminhada mais rápida, o que me permitia falar bem e ainda me distrair olhando pra ele.

Desde tudo que houve, esse era o momento mais longo que passávamos juntos com os dois acordados. Minha perna estava melhor depois de dois dias e os últimos 4 dias do acampamento foi uma confusão entre gravar o que faltava pra apresentar a diretoria e começar a preparar minha rotina para a turnê. Eu teria dois dias de "folga" e depois vinha a rotina de acordar as 4 da manhã para ensaiar. O primeiro show, em Singapura, já estava com a estrutura sendo montada.

— A gente devia ver um filme... na Netflix.

Eu vi o hyung dizer que falar que quer ver um filme na Netflix para alguém que se está interessado queria dizer qualquer coisa, menos realmente ver o filme. E naqueles últimos dias eu meio que senti falta de tocá-lo. E que ele me tocasse, como da última vez. Mas além de um de nós sempre estar apagado depois de trabalhar o dia inteiro, eu não sabia o que fazer.

Pedir pro meu namorado falso bater uma punheta pra mim porque eu prefiro a mão dele do que a minha era estranho? Eu não sabia se era! Nunca tive um namoro falso. Ou uma amizade colorida. Além de que eu ficava com vergonha até pra beija-lo, ultimamente. Então a desculpa do filme parecia perfeita.

— Claro — ele sorriu antes de desligar a esteira, parando de correr e pegou uma garrafinha de água, abrindo pra mim — Toma. Tudo, você só bebe água quando mandam.

— Babá — resmunguei, mas fiz exatamente o que pediu.


(...)


— Fiquem aqui... — disse pra Jiji e Tannie que estavam totalmente nem aí pra mim, deitados na cama que era de Soyeon durante o acampamento — Nada de descer nenhum dos dois. Tem comida e água e brinquedos.

Meow?

— Se ficarem lá embaixo o Jeongguk... ele vai ficar com vergonha. E eu também.

Meow...

— Depois do gap eu volto e vamos pra Daegu. Viagem em família — Tannie já estava dormindo e ele era muito baixinho pra pular a caixa que botei na frente da porta. Meu problema era Jiji — Seja boazinha...

Meow! — ela ergueu a cabeça e afaguei seus pêlos.

— Boa menina. Durmam bem — ela se enrolou com Tannie como todos os dias e sai do quarto, fechando a porta quase totalmente, descendo um degrau por vez com medo de escorregar. Jeongguk ia chegar a qualquer momento e agora que já tinha resolvido a questão das crianças, eu precisava lidar com a parte do filme. Porque eu nunca fiz isso! Tipo, chamar alguém pra ver um filme com segundas intenções — Ok...

Falar com Jin-hyung era uma péssima ideia. Será que a noona...? Não. Sentei no sofá. Levantei. Tirei o celular do bolso e pesquisei no Google até achar um artigo que não pareceu tão ridículo. Tinha 5 passos.

Passo 1: livre-se dos empecilhos de contato físico.

Ok. Sai recolhendo as almofadas do sofá, jogando no quarto de hóspedes. Sofá, feito. Jiji e Tannie, lá em cima. Sem impedimentos.

Passo 3: tocar a mão dele durante o filme.

Tinha um gif de um casal hétero comendo pipoca e tocando as mãos enquanto comiam. Eu devia fazer?

— Tae?

Ele tinha chegado! Calma.

— Tô' aqui. — olhei em volta. Olhei pra mim mesmo. Soltei um botão da camisa. Depois outro. Mais um. Ficou oferecido demais? Tentei fechar um, não dava tempo. Sentei no sofá e liguei a TV, tentando fingir que não tava surtando. Tudo bem. Sorri quando ele parou na entrada da sala.

— Por que tá vestido assim? — eu estava de pijama, mas era um de alfaiataria caro que usei só uma vez numa performance porque parecia chique demais pra usar em casa. Mas pareceu uma ideia boa usar hoje, porque ele me deixava parecendo rico e sexy.

— Eu não uso muito ele aí... — dei de ombros antes que começasse a me enrolar nas palavras. Ele olhou bem pra mim, com um sorriso brincando em seus lábios, mas eu reparei em seu olhar descendo pelo meu peito.

— Gostei... acho que ficaria legal algo assim pra Singularity — ah... foi analisando pra uma futura performance? Eu era péssimo em intencionalmente seduzir alguém. Eu era uma vergonha para os bissexuais — Vou tomar banho, escolhe o filme — disse, entrando no quarto e fechou a porta.

Tudo bem, eu tinha 10 minutos pra decidir se fazia ou não pipoca. Era romântico dividir pipoca? Mas as mãos se esbarrando era mais fácil de iniciar um contato... um contato gorduroso, mas ainda um contato. Não! Eu ia pegar na mão dele sem isso. Ele já é meu namorado! E namorados pegam nas mãos um do outro. E pega em outras coisas também se tudo der certo.

Continuei a leitura, "Passo 4:...". Pulei o 2. Voltei.

Passo 2: Escolha um filme ruim de propósito. Assim você pode usar de desculpa para deixar de ver.

Que passo dois inteligentíssimo. Apesar de que estando comigo, já era distração o suficiente.

Abri outra aba e pesquisei os filmes mais criticados da Netflix. Comecei a ler a ficha de alguns. Olhei na direção da porta do quarto lá pelo terceiro site que visitei. Já tinha mais de 10 minutos que ele entrou pra tomar banho... Continuei minha pesquisa vendo uma grande lista de filmes americanos que foram detonados pela crítica e pelo público e que tinha no catálogo da Netflix. Escolhi o pior da lista já entrando no aplicativo na TV.

Certo. Sem impedimentos, filme ruim, tocar nas mãos um do outro. Era um bom começo. Só faltava Jeongguk lembrar de sair do banheiro. Ele não tava, sei lá, batendo punheta, né? Bom, era a única razão que me fazia demorar no banho. Será que ele não notou minha segunda intenção no pedido para ver o filme?

Quase meia hora depois ele saiu do banho, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça do moletom e com a camisa do pijama aberta. Ele sentou no canto do sofá, com uns dois palmos de distância entre nós.

— Escolheu? — ele perguntou.

— Sim, esse... Switch? Swi... enfim. A crítica elogiou muito — menti, levantando pra desligar as luzes e iniciei o filme, sentando no mesmo lugar e deixando o celular no canto para ver os passos seguintes.

Estávamos a uns 20 minutos vendo o filme. Na verdade eu não estava mesmo vendo, apesar de olhar pra TV. Meu cérebro estava num vai e volta de se era o momento de colocar minha mão no espaço do sofá entre nós dois ou eu devia esperar ele fazer primeiro. Jeongguk se espreguiçou e colocou a mão sobre o estofado. Isso! Certo, eu ia ler o passo 4 e 5 antes de segurar a mão dele.

Passo 4: Usar uma desculpa pra levantar e depois sentar um pouco mais perto.

Passo 5: Passar um braço por cima do ombro dela. Dele! Corrigi mentalmente o site. Será que era válido pra caras também? Era uma jogada bem óbvia com mulheres, mas nunca estive com um cara antes então não sabia se dava pra aplicar. Bom, eu descobriria em breve. Primeiro eu tinha segurar a mão dele de volta. Coloquei minha mão perto, aproximei um pouquinho. E mais. Os mindinhos estavam se tocando agora, então empurrei seu dedo com o meu, Jeongguk riu baixinho, olhei em sua direção, mas ele olhava pra TV.

Empurrei sua mão de leve, até ele devolver a provocação, entrelaçando nossos dedos e soltando, como brincadeira boba, até deixar, nossas mãos entrelaçadas. Meu peito estava quente igual meu rosto. Esperei um minuto. Dois. Soltei sua mão com relutância e levantei, indo pra cozinha, fingindo que ia beber água. Certo. Sentar mais perto e abraçar por cima dos ombros. Em vez de fingir, eu bebi água mesmo e voltei, sentando onde nossas mãos estavam antes. Jeongguk estava tenso. Eu também. Por que a gente estava tão tenso?

Próximo passo: braço em volta dos ombros. Ok. É agora.

— Aí! — exclamamos ao mesmo tempo quando tentamos fazer exatamente a mesma coisa! Meu braço estava meio que por cima do dele, mas o antebraço de Jeon estava no meu pescoço. Ele tirou o próprio braço. Eu também. Droga de site hétero!

Os dois estavam com as mãos juntas no colo, o filme ainda passando na tela. Eu devia tentar de novo ou esperar ele fazer?

Ser bissexual é muito difícil...

Cruzei os braços como para indicar que eu não ia tentar de novo e senti o dele em volta do meu ombro. Sua mão afagando minha pele, ele riu baixinho, descruzei os braços, me sentindo ridículo, nem conseguia mais fingir interesse no filme porque ainda sentia o olhar dele sobre mim.

— Tae... — disse bem baixo e finalmente olhei nos olhos dele — Não precisava de tudo isso, lembra? Nós tivemos essa conversa... — a ponta de seu nariz encostou no meu, os lábios chegando bem perto — Eu também quero você.

Sua boca pressionou a minha e cedi, segurando seu rosto e empurrando a língua para dentro de sua boca, sufocando um muxoxo satisfeito. Eu nunca tinha beijado alguém como fazia com Jeongguk, nunca tive tanta vontade assim antes. Empurrei a camisa dele e suas mãos só afastaram para jogá-la no chão. Tentei soltar os últimos botões da minha, beijando-o com mais força, segurando-o pela cintura enquanto fazia se deitar, me colocando entre suas pernas. Devíamos ir pro quarto. Com certeza seria mais confortável, mas a tela emitiu uma luz avermelhada quando quebramos o beijo, o contorno da luz em seu rosto era tão bonito. Ele era tão bonito.

Jeon me puxou pra perto, pressionando beijos em meu pescoço, devolvendo as marcas que deixei da última vez, sorri, pressionando a perna entre as suas já o sentindo meio duro. Eu só queria que ele me tocasse de novo, era tão bom nisso. Pressionei outro beijo, gemendo contra sua boca quando suas pernas prenderam em minhas coxas, provocando de novo o atrito do seu pau contra o meu, quebrei o beijo quando ele me afastou para tirar a calça do moletom. Ele não estava usando cueca. Quando chutou pra fora do sofá, ouvi o barulho de algo mais pesado cair, provavelmente seu celular. Parei um segundo, vendo-o completamente nu abaixo de mim e até agora eu não tinha feito nada errado. Me livrei da minha camisa antes de beijá-lo de novo. E de novo. E mais uma vez, até ele estar suspirando baixinho em minha boca, e o tom dele ficava tão diferente quando sentia prazer. Grunhi no meio do beijo quando escorregou os dedos pra dentro da minha cueca, esfregando a glande até me fazer gemer de verdade, sufocando o som em seu ombro.

— Tae... — ele chamou e o beijei de novo, descendo pelo seu pescoço, as clavículas, até seus mamilos sensíveis, e só precisei circular com a língua pra ele gemer em resposta — No... isso — ele murmurou quando suguei com mais força, descendo beijos pelo tórax — No bolso. — conseguiu dizer — Camisinha e... e lubrificante.

Que?

Afastei os lábios, olhando-o confuso e ele me olhou de volta, tão perdido quanto, até sua expressão ficar séria.

— Você não quer. — constatou, e tentou se levantar.

— Espera, espera... — o segurei no lugar antes que levantasse e me deixasse ali. Respirei fundo e sentei no sofá — Vem — acenei várias vezes, e esperei pacientemente até ele sentar em meu colo, o puxei até estar de frente pra mim. Seu rosto estava emburrado, mas ele ainda estava duro como uma pedra, então eu não estava tão encrencado assim — Eu quero... E quero que... que seja com você. Só... não hoje?

— Você falou de filme... e colocou o pior do catálogo. Achei que... Ai, eu sou um idiota.

— Não, eu sou. Mas... Sou novo nisso, ok? Eu vou chegar lá, só preciso de um pouco mais de tempo. Me acostumar... — ele assentiu, sorri, segurando sua cintura. Era mais fina comparada aos ombros, apertei com mais força, pressionando meus dedos com vontade. Tomei coragem de descer os dedos de suas costas até sua bunda, apertando a carne, separando as bandas e Jeongguk gemeu, empurrando o corpo pra frente.

— Se não vai fazer nada... isso é crueldade — ri, descendo os olhos até seu pau. No escuro, eu não via com detalhes o suficiente, então a chance de pirar por isso ia ser bem menor. O empurrei de volta para o sofá, pressionando mais um beijo que devia ser curto, mas o modo como sugava minha língua me fez querer continuar beijando até sentir meus lábios doerem. Afastei, sem fôlego, olhando de novo para seu pau. E continuei olhando por um bom tempo — Não precisa fazer...

— Eu quero. — Eu realmente queria. Nunca tinha pensando em chupar um pau antes, porém queria colocar o de Jeongguk na boca — Mas e se eu te morder? — sua risada ecoou alto — Shii... vai acordar as crianças — ele riu mais baixinho dessa vez.

— Não começa com isso!

— Pode acontecer! — olhei pra ele, que acenou que não.

— Não comigo... mas não precisa se não estiver pronto — pressionei um beijo em seu tórax, depois outro, recuando um pouco a cada selar, sentindo sua pele quente sob meu toque, descendo até envolver seu pau entre meus dedos. Fechei os olhos antes de encostar os lábios na glande e ceder devagar até encaixar em minha boca — Calma... — tentei ver até onde conseguia ir, a mandíbula deu uma fisgada e afastei o rosto de uma vez.

— Eu sou horrível! — Jeongguk gargalhou, mas cobriu a boca em seguida.

— Você não é... só nunca fez isso antes. — respirei fundo, subindo e descendo os dedos pelo comprimento até senti-lo relaxar de novo. Ok. Eu podia fazer isso.

— Me chute se eu te morder. — riu soprado, alongando num suspiro quando comecei a mover a mão mais rápido.

— Tudo bem... só continua. — ele pediu.

Podia fazer isso, bastava não pensar muito.

— Não ria, ok?

— Eu não to rindo — ele disse, já rindo.

— Vou morder seu pau de propósito — ele riu mais, e tive que segurá-lo no lugar antes que virasse pro lado e não parasse de rir. Incrível... Eu era meu próprio empata foda — Calma.

— Eu tô calmo — ele falou ainda rindo. Esperei até que o riso fosse só um suspiro baixo, se ele ainda estava duro, era um bom sinal. Eu devia ter pesquisado como chupar um pau antes de me arriscar nisso. Não é como se um nunca tivesse visto um pau na vida, eu tinha um! E era maior, não que eu esteja contando vantagem. Mas tinha algo que me deixava nervoso em estar ali, com Jeongguk. Não dava pra ver com detalhes, mas eu conseguia sentir pulsar em minha mão e depois de por na boca a primeira vez, eu queria fazer de novo. Então encostei os lábios na glande, circundando com a língua, uma, duas, várias vezes, até Jeongguk murmurar um: — Tae... — que soou obsceno como um pornô. Então afundei seu pau em minha boca o quanto aguentava.

Eu não achava que realmente ia sentir alguma coisa em chupar alguém até estar fazendo isso. A sensação era boa, não como ser chupado, porém havia uma satisfação interessante ali. Lembrei de cobrir os dentes e não apertar demais enquanto o segurava, até que só estava fazendo, movendo o rosto pra cima e pra baixo, cada vez mais rápido, sentindo meu próprio pau doer enquanto eu gemia no de Jeongguk. Ele respirava alto, as costas arquearam quando consegui finalmente manter um ritmo.

— Tae... Tae... — ele chamou, afundando os dedos em meus cabelos e quase engasguei quando ele ergueu os quadris e o senti mais fundo na garganta — Desculpa... — afastei, olhando-o de cima. Os cabelos já grudando de suor. Eu sentia estar tão quente quanto.

— Eu não quero morrer engasgado no seu pau.

— Idiota... — ele riu, as mãos ainda no meu cabelo, afagando dessa vez.

— Apesar de nem ser um jeito tão ruim de morrer.

— Você é muito, muito idiota, mas por favor, eu preciso que você pare de falar agora — sorri antes de segurá-lo pela base e dar uma lambida na glande, antes de olhar nos olhos dele. Não sei de onde a coragem veio, mas pensar demais já estava claro que não era a opção certa agora.

— É bom...? — suguei a ponta, soltando como um "pop", igual um pirulito. Com certeza eu sentiria vergonha disso amanhã.

— Sim, muito bom — parecia mais fácil agora, sentir minha língua contra a pele, com o pau melado de saliva e pré-gozo enquanto eu apenas chupava com mais vontade. Tudo que me importava era os pequenos "ah..." que Jeongguk soltava enquanto sua mãos ainda estavam no meu cabelo, inconscientemente ditando um ritmo. Segurei sua cintura com uma mão, sentindo-o tremer, as costas arqueando novamente — Tae... a-ah... — ele tentou puxar meu rosto, ele estava perto de gozar agora, mas eu não queria parar, gemendo com a boca ainda em pau, desesperado pra me tocar, mas eu queria que ele fizesse isso em meu lugar, queria suas mãos em mim de novo — Tae... a-ah eu-eu quero-hum... — ele nem conseguia terminar a frase, e isso sempre era um bom sinal. Então eu só afastei o mínimo pra assentir. Eu queria o que ele quisesse.

Quase engasguei de novo quando Jeongguk começou a foder a minha boca, as duas mãos apertando os meus cabelos enquanto erguia os quadris, meus olhos começaram a lacrimejar. Não doía. Na verdade, eu gostei. Era quente e sujo e pela primeira vez desde que esse relacionamento começou, eu pensei realmente em algo mais. Em fodê-lo. Em deixá-lo me foder. Gemi somente com a imagem que criei em minha cabeça, empurrando as mãos dele pra longe e chupando-o o mais rápido que conseguia, sentindo a mandíbula doer como o inferno, mas eu não poderia ligar menos.

Jeongguk apertou as mãos na boca quando gozou. Na minha boca. E eu engoli a porra dele. Eu realmente engoli a porra de outro cara! Eu me sentia como num rito de passagem lgbt. E não consegui sentir direito o gosto, mas não era amargo, então devia ser um ponto positivo. Jeon respirava alto, e eu tentei falar alguma coisa, mas ele conseguiu se erguer rapidinho, e estávamos numa bagunça de lábios, saliva e dentes enquanto ele me beijava.

— Tira isso logo — disse entre meus lábios tentando empurrar minhas calças sem sair de cima de mim, quando finalmente conseguiu, gemi alto demais sentindo sua mão envolver o meu pau, exatamente como eu queria — Quer que eu te chupe? — provavelmente ninguém diria não pra Jeon Jeongguk fazendo uma pergunta dessas, só que ele perguntou isso enquanto ainda batia punheta pra mim e puta merda era maravilhoso, então minha resposta foi um "aaaah", bem longo.

Ele saiu do meu colo, recostei no sofá com as pernas separadas e cobri a boca com a mão antes de começar a gemer alto demais e acordar os vizinhos. Mas ele era bom. Por Deus, tão bom. Será que era a sorte? Eu ia gozar rapidinho e já estava sentindo como se tivesse voltando no tempo e fosse um virgem de novo, cada vez mais excitado pelo som úmido da sua boca me chupando, muito mais rápido e provavelmente melhor do que eu fiz. Tentei não pensar muito no fato dele ter experiência. Namorado falso não tem direito de ficar com ciúmes. E de qualquer forma ele estava comigo agora. Por mais alguns meses Jeon Jeongguk era só meu.

Apertei os olhos com força, cobrindo a boca com as duas mãos agora, sentindo tudo tremer e acho que tive um mini ataque cardíaco naquele momento, sentindo o contato de seus lábios enquanto gozava. Jeongguk afastou a boca, e tentei abrir os olhos, mas precisava de mais um tempo pra me recuperar. Abri um olho só e tinha porra escorrendo na bochecha dele. Aí eu fechei de novo porque não estava emocionalmente pronto pra isso.

Senti Jeongguk me limpar e tinha certeza que ele pegou a blusa do meu pijama caríssimo pra isso, mas não era como se eu ligasse tanto assim. Arrisquei abrir um olho de novo. Ele limpou a bochecha com o dedo e levou a boca, chupando-o. Fechei o olho de novo por continuar emocionalmente despreparado para cenas tão obscenas.

— Eu... acho que o filme acabou. — Jeongguk disse e dessa vez eu abri os dois olhos. Ele estava de pé, nu de costas pra mim, e com a luz meio avermelhada da tela inicial da Netflix contornando seu corpo. Inferno de garoto bonito. Eu realmente acreditei que era hétero alguma vez na vida? — Quer ver outro?

— Eu aceito — falei, ele colocou outro filme, que nem deu pra eu fingir que li o título, antes de sentar no sofá novamente e quase cai quando me puxou pro seu colo — Mas eu preciso de uns 10 minutos... — avisei — Quer pipoca?

Jeongguk riu antes de me beijar.


+++

Eu precisava de ajuda.

Dali três dias Jeongguk e eu estaríamos indo para Singapura para o primeiro dia da tour. Seria também o único intervalo mais longo que teria no gap asiático, depois do show de lá eu teria quatro dias pra descansar e ver a cidade. Em seguida 3 shows em Hong Kong, 4 em Tóquio, dois em Taipei e os dois últimos em Manila, quando Jeongguk voltaria pra Coreia e eu seguiria pros Estados Unidos. Então eu precisava deixar minhas "questões" irem. Quer dizer, eu e Jeon já estávamos há quatro meses juntos o que pra um relacionamento falso já era muito tempo. E eu queria... avançar mais um passo. Só que eu tava com medo.

Jeongguk era bem compreensivo, nunca me cobrava nada, mas nosso acordo era que ele podia ir atrás de outros caras se quisesse sexo. E eu meio que não queria que ele fosse atrás de outros caras. Quer dizer, se éramos amigos coloridos... eu era o suficiente!

Então por isso eu pedi ajuda as únicas pessoas que tinha coragem de falar sobre o assunto.

— Eu não acredito que estamos mesmo fazendo isso — Jisoo-noona resmungou, sentada no chão de nossa antiga sala, com o notebook aberto em seu colo. Eu ia levar Jiji e Tannie pra que ficassem com SoYeon e Yoongi-shi enquanto eu e Jeongguk estivéssemos fora e aproveitei para antes de ir até lá, discutir sobre meu problema — Você não tem vergonha de pedir isso pra mim?

— Eu sou novo nessas coisas e só tenho vocês pra falar! São os únicos que... bom, você tem muitos amigos gays, noona. E o Jin-hyung escreve fanfic pornô.

— Eu não escrevo fanfic pornô, elas tem uma história! E tem sexo também... — acrescentou em voz baixa — Mas ainda tem uma história!

— Enfim, eu só tinha vocês pra perguntar. — conclui.

— Sabe, eu conheço um cara gay que podia te ajudar nisso — olhei pra ela, esperançoso — Seu namorado!

— Não! Eu quero que... seja natural. Não quero que ele fique "Tá tudo bem se não quiser..." — minha imitação da voz de Jeon não ficou tão boa quanto queria — Toda vez que a gente for tentar. E eu sei que a parte de... eu... eu fazer... no caso, eu da- vocês entenderam!

— Eu não acredito mesmo que a gente tá tendo essa conversa — a noona reclamou, mas continuou lendo algo no computador.

— Eu to adorando — Jin-hyung disse, rindo da minha cara — Mesmo que não vá usar pra minha fic.

— Ué? Por que? — perguntei, achei que a fic tinha alguma relação com nossa vida normal já que ele fazia tantas anotações.

— Tô' trabalhando em uma de fantasia e não preciso me preocupar com essas questões — explicou — Tudo é mais fácil quando seu pau é mágico.

Eu e a noona nos entreolhamos.

— Faz sentido — concordamos quase juntos.

— Ok, segundo esse site... — a noona começou e ela estava vermelha antes mesmo de ler em voz alta — Se a penet- se... se o ato for de lado é menos doloroso pra quem vai tentar a primeira vez. Tem uma ilustração aqui que- — ela tentou virar a tela pra mim, mas acenei que não. Minha mente fazia um bom trabalho.

— Ah, mas... eu queria olhar pra ele? No mesmo nível... — murmurei, porque realmente queria. Eu não era virgem, mas era a minha primeira vez com um cara. E Jeongguk e eu já tínhamos uma ligação forte o bastante pra isso não ser estranho, pelo menos eu achava que não — Assim parece... sei lá.

— Você quer olhar nos olhos dele, que romântico — o hyung debochou e joguei uma almofada do sofá na cara dele. Não acertou, infelizmente. Mas passou perto.

— Vai se foder, hyung — resmunguei.

— É muito esquisito falar sobre essas coisas — JiSoo disse, fechando a tela do notebook — Mas isso vai doer de verdade, porque você vai tá tenso. Muito tenso, porque nunca fez isso na vida. E se tiver tenso seu músculo contrai. Mesmo com lubrificação.

— E se contrai muito — Jin-hyung continuou, com seu sorriso de deboche — Vai doer aguentar os dez centímetros que o pau dele tem.

— Não tem só dez centímetros! — reclamei, eu não lembrava com exatidão, mas não era pequeno.

— Defender o tamanho do pau do namorado falso é um tipo de prova de amor? — ele perguntou olhando pra noona.

— Aí, eu desisto de vocês. — JiSoo fez que ia levantar, mas a segurei pelo braço.

— Não, por favor. Eu fico quietinho. — ela deu um suspiro antes de sentar ao meu lado de volta —Eu só... enfim, eu não quero ficar tenso, e sei que vou ficar. Não tem nada que dê pra fazer? — Jin-hyung ergueu a mão — Noona, qualquer coisa...

— Eu, eu, eu — Jin-hyung acenou, suspirei antes de acenar pra que ele falasse.

— Tá, hyung. O que as fanfics tem a dizer? — ele pegou minha mão, segurando o punho, e depois ergueu meu dedo indicador — O que?

— Passa lubrificante nesse. E vai.

Tive uma crise de tosse, a noona levantou dizendo que precisava de um tempo, mas dava pra ouvir ela rindo indo em direção ao quarto dela. Era muita humilhação pra um ser humano só. O universo me odiava mesmo.

— Eu não vou... não vou enfiar...

— Você quer colocar algo maior e tá reclamando de um dedo?

Ele tinha razão. Mas não deveria ter.

— É muito egoísmo não querer... sabe? E eu ser só o ativo e... não... — Eu sentia a cara arder de vergonha a cada nova palavra. Eu nunca falei das minhas desventuras românticas com mulheres, primeiro por ser um namorado muito ruim, como Jin-hyung sempre me lembrava, apesar de me esforçar. Acho que nunca gostei verdadeiramente de ninguém antes. E com Jeongguk era tudo novo, muito mais já que o único cara gay que conhecia era meu próprio namorado falso e o único bi era Yoongi-hyung, que eu nunca, nunca mesmo, conversaria com ele sobre isso. E tinha Jimin-shi, mas não éramos próximos o bastante.

— Se você quer testar as duas coisas, não tem porque não tentar. E é só um dedo — o hyung começou a rir de novo e joguei outra almofada nele — Aí! — acertou dessa vez, ri alto quando o hyung tentou jogar de volta, mas não chegou nem perto — Fica rindo, vai precisar de uns três pra igualar o tamanho, no mínimo — três dedos? Ergui três dedos da minha mão. Era tão grosso assim? Eu não lembrava — Você nunca viu?

— Vi! Eu só... não lembro muito bem se era tão... Eu não quero mais ter essa conversa. — puxei uma almofada, me deitando no carpete. Eu me sentia o auge do jovem sexualmente frustrado mesmo estando num relacionamento. Por que tudo pra mim tinha que ser mais difícil? — Como aprendeu tanto sobre essas coisas, hyung?

— Fanfics são bem gráficas... aprendi mais lendo do que testando perigosamente pela vida.

Hum... era uma boa ideias.

— Me dá uma aí. Eu quero ler. — mas eu ainda ia precisar bem mais que isso pra me preparar. E se ele fosse... grande demais? Até que... — Hyung? Você tem um régua?

Ele olhou pra mim e pela cara dele, entendeu o que eu estava pensando.

— Tenho algo melhor.


+++


JEONGGUK


— Jeongguk você não devia estar em casa? Sabe, arrumando as malas pra Singapura? Seu voo é de madrugada — SoYeon disse quando abriu a porta pra mim, assenti, passando por ela. Yoongi-hyung estava na sala, e eu não tinha certeza se queria falar o que aconteceu na frente dele, mas SoYeon diria depois de todo modo.

— Eu preciso contar de algo que aconteceu e não posso sair do país sem dizer. Tentem não rir até eu acabar, ok? — caminhei pra sala, mas não enxerguei minhas duas praguinhas — Cadê a Jiji e o Tannie?

— Namjoon-shi se ofereceu pra levar o Tannie pra passear e levou a Jiji junto — claro que sim, os dois não se desgrudavam mais.

— Cuidado com eles.

— Incrível como você já considera a Jiji sua também, não só o Tannie... — ela estava jogando isso pra dizer que já havia uma ligação maior entre mim e Taehyung, mas não ia funcionar — E aí, o que cê' tinha pra dizer que não podia esperar?

SoYeon sentou no sofá, Yoongi-hyung tirou o fone de ouvido. Ouvi um miado baixinho e reparei em Shawn enrolado no chão ao lado do hyung. Agora que todo mundo sabia, ele carregava seus filhotes pra todo lado. Ainda era estranho, mas um estranho bom.

— Então... eu tava me secando depois do banho...


O Taehyung devia ser estar na Golden Closet ensaiando com Hoseok, Jiji e Tannie estão aqui com vocês, então eu deixei a porta aberta, e tava terminando de me secar quando ele entrou. Quer dizer, não tinha nada demais, ele já tinha me visto nu antes e a gente tá ficando mais confortável um com o outro, mas nunca pra entrar no banheiro quando o outro está. E ele parecia tenso. Então eu perguntei:

— Aconteceu alguma coisa?

Ele não respondeu. Ele me beijou. E eu deixei, porque... bom, a gente decidiu ter uma amizade colorida, e tudo bem. Mas ele continuou a me beijar e me beijar... e eu fiquei... animado. Então ele pegou meu pau e... ok, eu não vou entrar em tantos detalhes. Mas ele tava, sabe, me masturbando e tava muito bom, puta merda... Aí ele parou. E tirou uma fita métrica do bolso.


— Uma fita métrica? — os dois falaram juntos.


Sim, uma fita métrica. Daquelas que costureiros usam. E ele disse:

— É por uma boa causa.

E mediu da base até a glande. E depois ele mediu a circunferência, ele enrolou a fita no meu pau pra saber a grossura dele! Tirou o celular do bolso, digitou algo, provavelmente o quanto deu em centímetros, guardou o celular no bolso e enrolou a fita. Eu perguntei:

— Pra que isso?

— É importante — ele disse, e me deu um beijinho nos lábios — Você vai entender logo, logo.

Aí eu disse:

— Ok.

Então ele saiu do banheiro como se nada tivesse acontecido. Eu gritei:

— Taehyung! Você vai me largar assim? — de pau duro, mas eu não gritei essa parte. E ele gritou da porta:

— Ainda tenho que ensaiar mais, te vejo no aeroporto!

E foi embora.


— Acabou a história? — SoYeon perguntou, assenti — Já pode rir, Yoongi.

E foi exatamente o que eles fizeram, começaram a rir da minha cara, os dois quase rolando no chão da sala de tanto dar risada enquanto eu observava em minha humilhação. Até Shawn parecia estar rindo, ele estava miando um bocado. Provavelmente era uma risada de gato.

— Não tem graça! — reclamei.

— Claro que tem — Yoongi continuava a rir — O Taehyung mediu teu pau com uma fita métrica!

— Será se ele vai comprar um dildo? — achei que SoYeon estaria do meu lado nessa, mas ela estava rindo tanto quanto o hyung, os dois olhando pra minha cara e rindo mais.

— Que pauzinho mixuruca.

— Vai a merda, hyung!

— Cinco centímetros duro.

— Eu odeio vocês... — Shawn continuava dando os miadinhos junto. Eu era zoado até no reino animal. Onde está a sorte quando precisava dela? Eles riram por mais meia hora, talvez mais, perdi a noção de tempo, antes de finalmente dizer algo com coerência.

— Mas por que ele fez isso? — SoYeon perguntou e esperei até ter certeza que os dois estavam cansados demais pra continuar a rir.

— Acho que ele tem medo... do ato. Comigo. Dá pra ver que ele tá se esforçando, mas ele reage como um cara hétero e ele já é meio paranóico...

— Meio doido — o hyung disse.

— Não fala assim — resmunguei.

— Quem normal mede o pau do namorado com uma fita métrica? — mesmo com o tom implicante, Yoongi-hyung estava sendo bem mais legal com Taehyung nos últimos tempos. Talvez pelos dias de convivência. Ou talvez a influência de Jimin — Aí, mas já são 10 da noite, devia voltar e terminar a mala. E nunca mais falar da fita métrica com ele. A não ser que ele fale.

— Tente não rir quando estiverem no voo também — SoYeon disse, já com um sorriso na cara. Eu já estava bem arrependido de ter contado, mas precisava por a experiência pra fora de algum modo ou na minha mente eu ia fingir que sonhei aquilo tudo. Ela é o hyung se olharam, rindo baixinho. Eu realmente amava e odiava aqueles dois — Boa sorte na turnê, Ggukie-ah. Você deve precisar de mais do que já tem.


(...)


No primeiro dia da "Purple Heart Tour", eu não fui pro estádio com Taehyung.

Em parte para evitar chamar atenção demais com nós dois juntos e também para ter certeza que meu desejo de sorte antes que ele saísse do hotel daria certo. O estádio nacional era perto de onde estávamos hospedados, então eu poderia chegar bem rápido se fosse necessário, além de que JiSoo transmitiu o show inteiro pra mim. Jin até fez uma transmissão também, no Twitter, usando seus privilégios de gerente. Tudo que fiz durante o dia foi dormir. Nos deram um quarto duplo, como aquele que dividimos em Busan meses atrás, então eu podia dormir numa cama só pra mim, mas já tinha me acostumado com Taehyung ocupando espaço.

Eles não trocaram o quarto, eu só trouxe as malas de Taehyung pro meu lado e desejei sorte a ele na passagem de som antes de apagar. Taehyung iria chegar acabado já que no máximo conseguiu tirar um cochilo no backstage.

Enquanto eu assistia ele se apresentar, especialmente na performance de Spring Day, comecei a pensar sobre antes, bem antes, quando tudo que queria era estar num palco. Era o sonho da mamãe, ela queria isso mais que tudo, a indústria do kpop estava engatinhando, mas ela tinha certeza que ia conseguir uma carreira na música.

Além de não conseguir, ela ficou doente logo depois do meu nascimento, nem me lembrava dela, somente das fotografias. Quando vim pra Coreia, eu esperava alcançar o que ela não pode. Cantar pro mundo. As vezes eu me perguntava se ela estaria decepcionada comigo, por ter desistido.

Mas não era tão simples, eu tinha medo de público, a voz soava baixa demais quando pediam pra eu cantar nos ensaios só por ter mais de cinco pessoas olhando. Eu não podia ser um idol se tinha vergonha de cantar pra uma plateia. Eu provavelmente teria tentado mais se não fosse o coelho da sorte.

Coelho da sorte...

Jimin-shi tinha dito de como podia "perder" minha sorte. Eu estava tentando não pensar nisso, na verdade, estava evitando pensar sobre qualquer coisa nos últimos tempos. Jimin achava que Taehyung era minha "missão final". Eu de algum jeito o salvaria - talvez porque no fundo o universo não o odeia -, e depois de salvá-lo eu nunca mais teria sorte de novo. Seria um novo milagre, assim como foi com Yoongi-shi, talvez até com as mesmas exigências. Estava completamente apaixonado por Yoongi quando usei minha sorte pra salvá-lo.

Nessa mesma lógica, amar Taehyung o salvaria. E salvá-lo custaria minha sorte.

— Não... é uma teoria. Só uma teoria — disse pra mim mesmo. Taehyung iria chegar a qualquer momento, não precisava colocar mais isso na nossa relação estranha. Além de que Jimin disse isso, não a vidente velha.

— Jeonggukie... — Taehyung chamou antes de abrir as portas duplas do quarto que era nosso. Realmente lembrava muito o primeiro hotel que estivemos em Busan, mas era bem mais luxuoso. E com tomadas longe da cama. Taehyung provavelmente já tinha comido algo, porque já passava da meia-noite. Seu cabelo estava molhado, então também já tinha tomado banho. Ele chutou os sapatos e engatinhou para cima da cama, se jogando no colchão ao meu lado.

— Cansado?

— Uhum... — murmurou.

— Muito mesmo?

— Uhum... — do jeito que ele estava ali, ia apagar em cinco minutos.

— Cansado até pra uma punheta? — ele ia murmurar de novo até seu cérebro lembrar do que eu estava falando. Nosso "primeiro encontro", no hospital.

— Você nunca vai esquecer isso, né? — sua voz soou abafada pelo travesseiro.

— Jamais — ri baixo, apesar de que a fita métrica ganhava em estranheza no conjunto da obra — Foi um ótimo show. Eu acompanhei até as tags no Twitter.

— Você nunca usa, não é? Twitter — ele virou de lado na cama, deitei ao lado dele, mas a cama era tão grande que de onde estava, se esticasse o braço, não alcançaria o meu.

— Eu usava mais. Antes. De vez em quando eu apareço e posto adoidado, depois sumo por um mês. As amuletos já acostumaram.

— Amuletos... ah! Porque você é o coelho da sorte! Então suas fãs são "amuletos" — ele riu alto, rolando pra mais perto de mim. Dei uma colaborada, me arrastando pra mais perto também — Posso? — pediu, antes de me abraçar, só assenti, deixando que deitasse a cabeça em meu peito, molhando minha camisa — É o melhor nome de fandom de todos.

— O nome oficial é "Lucky Charm", mas dá no mesmo. O fandom escolheu, eu nem sei bem porque tenho fãs.

— Por que você é incrível. Sou um amuleto a partir de hoje... um amuleto de azar, mas ainda um amuleto. — Não disse nada, eu estava morrendo de sono ainda e ele devia estar tão cansado quanto — Eu ainda não te ouvi cantar... Nenhuma vez. O Yoongi-hyung nem mostra suas demos e nosso jogo musical não deu certo.

— Eu... eu canto pra você. Quando terminar a música nova que tô compondo — isso era uma mentira gigante, eu não tinha música nenhuma. Só queria ganhar tempo.

— Verdade?

— Verdade — e afirmar isso me fez sentir mais culpado pela mentira — Posso perguntar uma coisa? — ele murmurou mais um "uhum" — Por que não fala com seus pais?

Taehyung não respondeu. Por um momento pensei se ele tinha pegado no sono, porém em conseguia sentir sua respiração irregular.

— Eu fugi de casa. Tinha quase 15 na época, sai, peguei um trem pra Seul e fui morar com Jin-hyung e JiSoo noona. A família deles tinha melhores condições que a minha, mas não eram ricos, meu quarto provavelmente era menor que essa cama — lembrando do meu primeiro dormitório, eu sabia que a fala dele não era nenhum exagero — Deixei uma carta pra eles... Dizendo que ia ficar bem e pra não se preocuparem. Quando as coisas começaram a dar certo, eles foram me procurar.

Ele fez uma longa pausa.

— Disseram que eu não era mais filho deles, que abandonei a família pra viver uma vida fútil. Eles esperavam que eu fosse pra universidade, me tornasse um advogado. Era o que o papai queria.

Dessa vez ele passou um tempo ainda maior em silêncio, e acreditei ser o máximo que conseguiria tirar dele naquela noite.

— Nunca mais falou com eles? — mesmo com a cabeça em meu peito, ainda conseguiu negar.

— Sinto falta dos meus irmãos... todos são mais novos que eu. O mais novo tem 10 anos. Eu... Dizia ao Jin-hyung que não me importava de não ter contato e acho que acreditei nisso, por um tempo. Mas depois de vê-los naquele dia... sei lá. — eu tinha reparado que ele sempre adicionava "sei lá", quando não sabia o que dizer.

— Vai poder passar um tempo com eles quando voltar da América, ver como seus irmãos estão — ele assentiu de novo — Vai dar tudo certo. Você vai estar comigo — ele riu baixinho, e até o riso soou sonolento.

— Meu amuleto... — disse, antes de sua respiração pesar e dessa vez, estava realmente dormindo.


(...)


Nós tínhamos quatro dias livres na cidade, mas não valia de nada já que coincidentemente dezenas de pessoas com lightsticks na mãos estavam na praça de frente pro hotel. A rigidez da cidade impediu que elas literalmente se amontoassem na porta do hotel, mas valia o mesmo se não podíamos transitar como turistas normais. Taehyung ainda estava dormindo, eram seis da manhã e não fazia ideia de que horas eram nos Estados Unidos antes de ligar pro vovô, mas eu tinha sorte de ligar sempre num bom momento.

Caminhei até a sacada, sentando no chão muito frio, mas não era incômodo. A paisagem à minha frente eram somente dos outros prédios em volta e bem ao longe podia ver as superárvores no Jardim da Baía. Ainda podia ouvir Taehyung dormindo, reclamando com Jiji sobre um vaso quebrado. Nós nem tínhamos vasos em casa, na verdade não tínhamos quase nada de decoração com medo de algo cair, quebrar e Tae ter um corte profundo e sangrar até a morte. Era exagerado? Talvez. Mas depois de ver "Premonição" durante o acampamento de composição, às vezes eu me pegava tão paranoico quando o próprio Taehyung.

O vovô atendeu ao quinto toque.

— Oi, vovô.

Seu namorado apareceu na TV! — ele nunca cumprimentava, vovô devia ser um cara legal de se conhecer quando jovem, porque ele já começava falando animado sobre qualquer coisa — Ele vai estar em São Francisco, eu vi. Quando finalmente vou ver a cara dele?

— Ele está em turnê, vovô.

Você veio com YoonLi e Sayoon no meio da turnê deles — ri, a vovô era coreana, o vovô a conheceu quando serviu ao exército. O nome dela, SooYa, era o único nome coreano além do meu que ele falava certo. O meu pai ele sempre chamava só de Jeon — Traga o garoto aqui, eu quero conhecer seu primeiro namorado.

O vovô não sabia da maldição, o papai não contou e eu muito menos. Não esperava ter de apresentar Taehyung a ele, o relacionamento não iria ser real o suficiente pra família precisar se envolver.

— Ele vai pras Américas sozinho, vovô. Talvez ano que vem — menti.

Estou pensando em ir até aí pro Natal. Seu pai queria que finalmente fosse à Coreia ver a nova exposição dele. Onde estão agora?

— Singapura. No hotel.

E onde vão visitar?

— Lugar nenhum. Talvez os gerentes tenham alguma programação diplomática que eu sempre tenho que fazer e escapar dessas coisas é complicado, além de que tem fãs em todos os lugares do lado de fora e-

Ora... você é o coelho da sorte. Fuja do hotel.

Fugir?

— Fugir?

Sim. Você está numa cidade nova, com seu namorado. Deviam fazer coisas de casal, não ficar acenando pra políticos e se escondendo de fãs.

— Mas vov-

Eu quero vídeos. Fotos. Nunca estive em Singapura, me convença a largar minhas galinhas e ir. — ri baixo, ouvindo-o rir de volta — Vamos, eu quero mostrar seu vídeo com seu namorado pra tia Clarice e Martha — essas eram as galinhas mais velhas do galinheiro, então eram as minhas "tias" mais importantes.

— Tudo bem — levantei do chão da sacada, caminhando de volta pro quarto. Taehyung esfregava os olhos, fazendo um bico manhoso antes de olhar pra mim com a cara inchada de sono — Tchau vovô.

Não esqueça meu vídeo — disse antes de desligar. Sorri pra Taehyung.

Com sorte eu tinha trazido minha câmera.


+++


TAEHYUNG


— Por que tá tão conspirador? Elas vão descobrir nós dois em um segundo.

Jeongguk estava realmente animado como eu nunca o tinha visto antes. Ele não estava com suas roupas de coelho da sorte, as peças coloridas e caras, sim os jeans e camiseta branca que ele usava quase todo dia em casa. Eu tinha me vestido quase igual, nós dois usávamos touca e óculos escuros, mas não era um grande disfarce se não iríamos usar máscaras. Jeon pegou a bolsa da câmera, passou por cima do ombro e me deu um sorriso tão largo que foi impossível não sorrir de volta.

— Só me siga. Não pergunte. E fique em silêncio quando eu mandar — eram comandos estranhos — Confia em mim? — me estendeu a mão, num gesto teatral demais pros seus padrões. Ele estava realmente animado.

— Totalmente. — aceitei sua mão sendo puxado para fora do quarto e foi uma daquelas vezes excepcionais em que vi a sorte de Jeongguk funcionar a todo vapor. Jin-hyung abriu a porta principal assim que saímos do quarto, o que nos permitiu correr para o corredor onde o elevador já estava com as portas abertas graças ao único hóspede do quarto ao lado que tinha acabado de chegar. Então só pulamos pra dentro do elevador, rindo como idiotas, ouvindo somente Jin-hyung gritar qualquer coisa antes das portas se fecharem — Tínhamos agenda hoje?

— Acho que íamos ver algum ministro... — ele fez uma pausa — Mas foda-se. — Jeongguk deu uma risada nervosa — Não fale nada até o carro parar.

— Que carro?

Ele não respondeu, me puxando pra fora quando as portas se abriram de novo, direto pro hall do hotel, que milagrosamente não tinha ninguém, mas não foi pra entrada que corremos, sim na direção do restaurante, onde o café da manhã ainda estava sendo servido já que ainda não tinha passado das dez. Jeongguk empurrou uma porta dupla no canto, antes do salão das mesas, seguindo para a cozinha.

Ele continuou a me puxar, enquanto passávamos por funcionários que pareciam não enxergar nós dois ali, até chegar numa nova porta, que mais uma vez alguém abriu e nós escapamos pra fora como tínhamos feito como Jin-hyung. Era a área de entregas do hotel, havia caminhões com funcionários tirando e colocando caixas para abastecer a cozinha do hotel. Jeongguk soltou minha mão antes de chegar no canto da parede e pegar uma caixa. Parecia cheia de biscoitos.

— Toma. O último carro — apontou pro último caminhão. Caminhei entre os funcionários uniformizados que pareciam completamente alheios aos dois garotos sem uniforme carregando caixas no meio deles. Cheguei ao último carro e um funcionário do hotel pegou a caixa da minha mão e colocou no caminhão por mim — Obrigado, Son. Seria muita sorte você ser promovido. E boa sorte com o casamento — Jeongguk disse antes de me empurrar pra dentro do caminhão.

Espera, dentro do caminhão?

— Obrigado pela chance, senhor Jeon. Boa viagem — o rapaz acenou pra nós antes de fechar as portas do fundo do caminhão. Meu Deus. Estávamos escapando dentro de um caminhão de biscoitos. Estávamos mesmo fugindo! A lanterna do celular dele me cegou por um segundo, e recuei um passo pra trás, quase tropeçando numa caixa, até me acostumar com a luz.

— Eu não acredito... — murmurei.

— Sim...! — nem ele estava acreditando, Jeongguk deu uma risada nervosa, mas calou quando o carro começou a se mover. Nem fazia barulho praticamente, devia ser elétrico — Isso foi muito irresponsável — sussurrou.

— Alguém sabe disso? Da nossa equipe? — ele negou com um aceno, seu rosto estava engraçado sob a luz branca — Isso foi muito, muito irresponsável — fiz uma longa pausa, olhando seus olhos grandes sob a luz — Eu adorei — disse, porque era incrível! Então segurei a gola da sua camisa e o beijei, porque tinha algo muito excitante em fugir com alguém. O caminhão inclinou um pouco numa curva e Jeongguk me abraçou pela cintura, a luz do celular iluminando o chão, mas não precisávamos mesmo dela.

Não tinha certeza de quanto tempo passamos lá dentro, talvez dez minutos, não pareceu muito de qualquer forma, mas a velocidade do carro foi diminuindo, então julguei que já estávamos chegando - só Deus sabe onde -, na parada final. Jeongguk tirou algo da bolsa da câmera e sem a luz do celular era difícil ver. Ele segurou minha mão.

— Pula pra fora e corre — ele disse, um segundo depois as portas do caminhão abriram, dois funcionários nos olharam chocados e Jeongguk gritou alguma coisa em chinês? Eu não consegui entender bem. Ele me puxou de uma vez e quase cai quando pulamos para fora do caminhão, os funcionários ainda chocados demais pra reagir — Rápido, Tae! — ele gritou, me arrastando na direção da saída do pátio onde por sorte, o portão automático ainda não tinha se fechado. Jeongguk gritou mais alguma coisa em chinês antes que passássemos pelo portão que fechou logo depois que passei. Continuamos a correr por duas ruas até pararmos, em algum lugar perto da baía, dava pra sentir o cheiro do mar bem forte agora.

Nós fugimos do hotel...

Olhei pra Jeongguk, ele deu um sorriso largo, seu rosto estava vermelho e estava com as orelhas de coelho, que estavam quase caindo de sua cabeça.

— O que gritou pra eles?

— Sorte. E pedi desculpas por pegar carona no caminhão — ele tirou a tiara de coelho da cabeça e empurrou os cabelos pra trás, soltando minha mão em seguida. Eu ainda estava meio em choque por termos feito aquilo tudo e por ter sido ideia dele e não minha. O nível de falta de noção do perigo era exatamente o tipo de coisa que eu faria — Foi legal, não foi? — ele perguntou depois que fiquei em silêncio tempo demais, estávamos parados no fim de um quarteirão, parados um de frente pro outro. Eu queria beijá-lo de novo.

— Foi incrível, Ggukie-ah — ele sorriu mais largo dessa vez, como uma criança que ganhou o melhor presente de todos. Eu queria mesmo beijá-lo. Mas apesar de não ter tanta gente passando por ali, estávamos em público.

— Vamos, eu planejei tudo que faremos hoje.


(...)


Nós seguimos por todo o caminho da baía da cidade, enquanto Jeongguk filmava o lugar e vez ou outra pedia para que eu me posicionasse em algum ponto pra que seu avô visse bem a minha cara, já que era pra ele que estava gravando o vídeo. A cidade parecia mais vazia, as ruas pouco movimentadas, mesmo os carros não passavam com tanta frequência. Talvez fosse um feriado. Ou a sorte de Jeongguk elevada ao máximo, nos dando um tempo sem ninguém nos cercando.

— Fazia tempo que você não usava — apontei para as orelhas de coelho em sua cabeça. Ele estava filmando os barcos na baía e virou a câmera pra mim quando falei, tirando o acessório e prendendo no bolso da calça.

— Eu uso quando preciso... não gosto muito. No começo era legal, era engraçado. Depois de um tempo, parecia uma máscara. — ele parou de gravar, mas continuou com a câmera na mão, Jeon começou a andar, porém de costas pra continuar olhando pra mim enquanto o seguia. Ele não ia cair ou tropeçar de qualquer forma — Eu sou o "Coelho da Sorte" e o coelho da sorte usa roupas coloridas e orelhas de coelho. E o coelho da sorte traz bênçãos pra Coréia... Eu fico feliz que consigo colocar a sorte pra fora e fazer as pessoas terem dias melhores, mas...

— Sei lá?

— Sei lá. — ele riu, dando de ombros — Quem sabe... — ele voltou a gravar, me filmando caminhar na frente dele — Sabia que é crime ser gay aqui?

— Crime tipo...

— Tipo ser preso. Eles não falaram nada de nós porque eu sou o coelho da sorte e você é um mega astro. Mas a HFC pediu pra veicular que somos apenas "amigos muito íntimos" — ele riu um pouco — Praticamente irmãozinhos... Bro?

— Bro — respondi, e ele riu mais.

— Vou ficar te devendo a punheta da amizade até acabar a turnê.

— Quem é você e o que fez com meu namorado? — perguntei, caminhando pra mais perto, até conseguir pegar a câmera dele, virando a lente em sua direção — Sorria! — consegui mudar pro modo de foto rapidinho e o fotografei antes que ele tomasse a câmera de volta, o que ele fez logo em seguida.

— A foto ficou boa... não vou apagar só por isso.

— Quer cometer um crime? — perguntei.

— Que?

Ri antes de fazer exatamente o que fiz no caminhão, segurei a gola de sua roupa e pressionei um beijo em seus lábios, mesmo sabendo que era um risco, esperava que a sorte dele "cobrisse" nós dois. Era triste pensar em quem não tinha a mesma chance. Eu não devia estar beijando-o. Era confuso. Era bom. Mas especialmente confuso quando eu não devia estar me colocando mais próximo romanticamente. Amigos não sentem vontade de beijar o outro o tempo todo.

Pelo menos eu acho que não.

— Vivendo perigosamente... — ele riu baixinho, afastando um passo — A gente devia procurar um lugar pra almoçar. Alguma coisa vegana, o vovô não come nenhum tipo de produto animal, e eu quero mesmo que ele saia de casa.

— Seu avô deve ser o cara mais legal do mundo.

— Ele é, sim. Ah! — ele tirou o celular do bolso e parou do meu lado, colocando no modo da câmera — Eu vou mandar pro vovô essa. Sorria, hyung — disse, ele não me chamava de hyung tinha um tempo também. Não sei se sorri, acho que deve ter ficado mais como uma careta, mas ele não reclamou — E então? — me mostrou a foto, estava boa — A gente devia postar essa? Pras purples...?

Olhamos um para o outro e falamos quase ao mesmo tempo.

— Não...

Jeongguk riu quando o puxei pela mão na direção de um restaurante indiano que tínhamos passado em frente minutos atrás.

— Quem sabe outro dia.


+++


13 de junho. Fim do gap asiático da turnê e quase meses de namoro, dia 15 era a data oficial, mas eu já estaria em LA, infelizmente. Cinco meses. Parecia bem mais tempo ao mesmo tanto que pareceram poucos dias. Eu o veria de novo no começo de julho e depois somente em agosto pros preparativos do comeback. Queria mesmo não ser egoísta, mas as últimas semanas viajando com ele foram tão boas que não queria que ele tivesse de voltar pra Coréia. Além do que tinha minha integridade física, apesar dele prometer ligar todos os dias e que tinha um plano pra intensificar a sorte nesses quase 2 meses de ausência.

— Ainda assim, eu preferia que você fosse comigo — disse, num resmungo que pareceu bem patético — A equipe da Golden Closet e da HFC vai toda embora com você, vai ter só americanos e uns poucos da CF, e se algo der errado? Você vai tá muito longe pra saber.

— Nada vai dar errado, Tae. Não aconteceu nada estranho durante os shows, nós estamos bem, e depois que acabar o gap americano, vamos ver seus pais e você vai ficar completamente seguro até seu aniversário.

O carro parou, a entrada do aeroporto completamente vazia as três da manhã. Jin-hyung e JiSoo desceram do carro, a maioria das nossas coisas tinha sido despachadas mais cedo com os equipamentos então eu só levava uma mochila, com o essencial.

— Quando volta pra Coreia? — perguntei a ele.

— Meu voo é amanhã. Vai ficar tudo bem, ok? Prometo que vai ficar seguro mesmo sem mim por perto. Só não termine comigo sem eu saber.

— Ok... — o abracei mais um vez antes de beijá-lo, sequer me importando que o motorista iria nos ver. Mal pude tocá-lo nos últimos dias, depois de shows, entrevistas e todas as aparições públicas obrigatórias que Jeongguk tinha de fazer. Era como se ele fosse o presidente, sempre tinha algum ministro ou figura pública que queria puxá-lo pra longe e tirar o pouco tempo livre que tínhamos juntos.

— Quando voltar, vamos pra Daegu — ele disse, afastando os lábios — Bom voo. — pressionei mais um selinho, e mais um, e outro, já sentindo falta. Eu não devia sentir falta de beijar meu namorado falso! Mas eu sentia... realmente sentia.

Alguém bateu na janela, e nem precisei virar pra saber que o alguém era Jin-hyung.

— Até daqui um mês. — resmunguei, tentando não soar frustrado.

— Até — sai do carro, puxando a minha mochila junto. Entrei junto com o Jin-hyung e JiSoo noona que estava radiante pelo aeroporto não estar cheio de fãs e imaginei que Jeongguk usou a sorte pra despistá-las.

A viagem durou mais de 24 horas, pela distância e o tanto de paradas. Eu me senti completamente quebrado assim que desci em Los Angeles, querendo dormir o dia inteiro, mas tínhamos agenda pra tarde. Entrevista. Pra falar das mesmas coisas de sempre.

— A CF contratou um gerente novo pra cuidar de você aqui, Taetae — JiSoo-noona disse, enquanto esperávamos o carro que iria nos buscar, na sala VIP do aeroporto — A Golden Closet e a HFC não cuidaram dessa parte, mas eu vou mandar o currículo dele pro secretário Chan e-

— Não precisa ser tão paranoica, não iam contratar um idiota pra cuidar do Tae aqui — Jin-hyung disse, mas ele nem estava realmente prestando atenção, estava ocupado com sua fanfic.

— Com licença — a funcionária do aeroporto nos chamou, o coreano dela era bem razoável — O carro está esperando vocês na saída principal. E... pediram pra entregar ao senhor Kim — ela me entregou uma carta. Murmurei um agradecimento a ela já abrindo o envelope, enquanto JiSoo me puxava pela manga do casaco, me guiando para fora.

Eram duas fotografias. Uma que SoYeon tirou nossa durante o acampamento de composição, Jiji no colo de Jeongguk e Tannie no meu, era pra ser uma "foto de família", pra atualizar o site da empresa, mas Jiji tinha bocejado, Tannie espirou, eu estava só com um olho aberto e Jeongguk estava rindo, a foto captou o segundo exato em que todas as coisas aconteceram ao mesmo tempo. Nós conseguimos tirar outras, mas aquela era a melhor. Atrás dela estava escrito "Feliz 5 meses".

A segunda foto era a nossa, em Singapura. Atrás dessa estava escrito "Boa Sorte, namorado". Sorri, guardando-as de volta no envelope e colocando dentro do maior bolso do casaco. Ergui o olhar para o carro e o rapaz diante dele, era coreano, ele sorriu pra nós quando chegamos mais perto, prestando uma reverência que retribuímos. Jin-hyung entregou minha mochila e as coisas dele ao motorista que colocou tudo no fundo do carro.

— Bom dia, é um prazer recebê-los, bem vindos a Los Angeles. — ele abriu a porta do carro, ajudando a noona a entrar, Jin-hyung ia na frente — É maravilhoso poder conhecê-lo, senhor Kim — estendeu a mão pra mim e a apertei — O maior vocalista da Coréia... obrigado pela oportunidade.

— Não precisa agradecer por isso — dei de ombros — É... perdão, qual o seu nome? Acho que a noona não disse — o rapaz sorriu antes de responder.

— Lee Jaejoong. 


+++++++++++++++++++++++

o nome desse cara é familiar????

AAAA ESPERO QUE TENHAM AGUENTADO AS QUASE 15 MIL PALAVRAS

se gostaram ou não, me deixem saber <3

amo vocês, até o proximo

xx







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