Lucky: e o Coelho da Sorte

By taemeetevil

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[CONCLUÍDO] Taehyung nasceu sob uma maldição. Pelo menos era isso que sua avó dizia desde que ele fora capaz... More

Episódio Um: Loteria
Episódio dois: Vidente
Episódio Três: Trem
Episódio Cinco: Salvo
Episódio Seis: Ano Novo
Episódio Sete: Namorado
Episódio Oito: O filho do CEO
Episódio Nove: Problemas no Paraíso pt.1
Episódio Dez: Problemas no Paraíso pt. 2
Episódio Onze: Beijos e Curativos
Episódio Doze: Lucky Magazine
Episódio Treze: Mútuo
Episódio Catorze: Acampamento pt.1
Episódio Quinze: Acampamento pt.2
Episódio Dezesseis: Purple Heart Tour
Episódio Dezessete: Sete cores
Episódio Dezoito: Passado e Presente pt.1
Episódio Dezenove: Passado e Presente pt.2
Episódio Vinte: Galinhas e Celeiros
Episódio Vinte e um: Uma constatação óbvia
Filler: Eu sonhei um sonho
Episódio Vinte e três: Daegu
Episódio Vinte e quatro: Ainda com você
Episódio Vinte e Cinco: Dejavu
Season Finale: Maldição
Episódio Bônus: Casamento da Sorte
Episódio especial: bebê da sorte

Episódio Quatro: Sem sorte

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By taemeetevil

TAEHYUNG

DIAS ATUAIS

30 de dezembro

O trem fez o caminho de volta para a estação vagarosamente, a notícia que o "Coelho da sorte" estava na locomotiva se espalhou como rastro de pólvora, e pessoas se amontoavam no vagão para agradecê-lo, mesmo que ele insistisse não ser responsável pela sorte de termos nos salvado de um possível acidente. Até Jin-hyung, que achei que viria saber se eu estava bem, passou batido por mim, querendo ver Jeon Jeongguk mais de perto. Eu não merecia isso, sinceramente... Não no meu aniversário! Eu devia ter pegado um carro, teria sido muito melhor.

Quando enfim chegamos a estação, haviam tantos guardas e policiais que apenas me perguntava como eles haviam chegado ali no meio de uma - agora - tempestade de neve. Mas quem sou eu pra perguntar alguma coisa quando mesmo mostrando a meu belo rosto ninguém estava dando a mínima pra mim? Todos pareciam prestes a jogar pétalas de rosas para o "Coelho da Sorte" passar.

— O próprio rei de Goryeo — resmunguei, sentado na poltrona esperando o vagão esvaziar por completo. Jin fora levado junto com a multidão para o andar superior para prestar depoimento, - até nisso me ignoraram totalmente! - deixando o local vazio — Pétalas para o grande deus Jeongguk — fingi tirar pétalas de um vaso e jogá-las pelo chão, não tinha ninguém me vendo mesmo, me levantei para sair da locomotiva antes que algum funcionário reclamasse — Ave o Coelho da sorte.

— Eu? — dei um grito derrubando meu vaso imaginário. Olhei para trás e lá estava ele, na porta divisória para o vagão ao lado, não muito longe de mim.

— O... Ah.. Q-Que c-como se livrou da multidão? — conseguir falar, resmungando mentalmente comigo mesmo por gaguejar como um idiota.

— Eu tive sorte — "Mas não me diga...", ele puxou sua mochila gigante, tirando o celular de dentro dela, mas a deixou lá, foi orientado deixar bagagens maiores, seriam retiradas depois dos esclarecimentos — A polícia escoltou as pessoas e funcionários para fora, eu aproveitei a deixa e entrei no vagão ao lado. — ele havia colocado as orelhas de coelho novamente, parecia menos envergonhado delas do que quando entrou — Como era mesmo...? "Rei de Goryeo, Ave coelho da sorte..." — eu sentia que estava ficando vermelho, muito vermelho — Eu não te conheço?

— Acho que não.

— Sim! Você é o TaeHyuk?

— Taehyung. — corrigi. Claro que ele errou de propósito.

— Isso! Você foi o apresentador do MMA com Yoongi-hyung.

— Yoongi...? Ah, Suga! — lembrava dele, baixinho, olhos pequenos, com vergonha de apresentar as categorias, mas parecia outra pessoa quando subiu no palco com Jeon Soyeon para apresentar o novo single do DoubleS — Eu queria ele no meu próximo álbum, mas vocês não estavam abertos para negociações por estarem abrindo um selo novo e — porque eu estava falando tanto? Ele provavelmente já sabia de tudo isso — Selo G.C.F, certo? — ele assentiu, passando por mim em direção a porta, era melhor sair também.

No exato momento em que ia sair, quando alcancei o limite para a porta, senti meu pé prender, como se um prego tivesse agarrado a sola do tênis. As portas automáticas começaram a se fechar, um grito ficou entalado na minha garganta quando senti Jeongguk segurar meus ombros e me puxar de uma vez para fora. As portas fecharam de uma vez, num barulho estranho, como se o ferro tivesse esmagado com o impacto. O trem saiu tão rápido - na direção oposta ao acidente - que empurrou nós dois para o lado. Eu nem sabia que trens podiam ir numa velocidade tão alta logo de primeira.

— Meu De- — tropecei em meus próprios pés, caindo no chão e levando-o comigo, caindo sobre meu ombro primeiro antes de bater as costas no chão.

— Você tá bem? — o rosto dele estava acima do meu, e seria uma digna cena de filme se eu não tivesse gritado de dor a plenos pulmões e ele saiu de cima de mim para que eu rolasse no chão em agonia, sem empecilhos — Desculpa, desculpa, mas você me puxou junto e-

— Tá, eu não tô reclamando contigo! — resmunguei meio gritado, mas ele podia me dar um desconto na grosseria porque se eu não quebrei nada, cheguei bem perto disso. Sentei no chão, esfregando o ombro esquerdo, as lágrimas acumulando no canto dos olhos, — Quase fui prensado naquela lata velha, essas portas não tem sensores?

— Tudo está dando errado hoje. — Jeon murmurou.

— Você não morreu num acidente de trem e eu não morri duas vezes, pra mim tá tudo muito certo. — me levantei primeiro e o ajudei a levantar, devia essa por ter me salvo das portas assassinas, mesmo quase quebrando meu braço. — Vamos começar de novo. Eu sou Kim Taehyung.

— Jeon Jeongguk.

— Certo. É um p-. — ele acenou que não antes que eu pudesse lhe fazer uma reverência.

— Não. Use o tratamento formal. "É um honra, vossa majestade". — tá, era justo que ele não deixasse meu comentário anterior passar batido.

— Pétalas para o poderoso deus. Ave rei de Goryeo. — fingi jogar as pétalas imaginárias antes de fazer uma reverência mais profunda. Ele aceitou minha saudação, rindo baixo.

— Bom... Até mais, Taehyuk — devolveu a reverência e antes que pudesse me dar conta ele foi embora, seguindo em direção ao elevador para os andares superiores, que por sorte, já estava com as portas abertas, como se aguardasse a entrada dele.

E eu não o veria nunca mais.

Pelo menos, não nas próximas quatro horas. Ou talvez menos que isso.

+++

JEON JEONGGUK

29 de dezembro

— Preciso mesmo fazer essas fotos hoje? — perguntei ao presidente Park, esperançoso demais, mesmo sabendo que ele raramente mudava de ideia. Ainda assim, valia tentar, com sorte eu estaria livre da obrigação ou no mínimo cairia uma tempestade e as fotos teriam de ser feitas num estúdio ainda em Seul.

— Sinto muito. Mas o primeiro ministro quer o "Coelho da sorte da Coreia" na torre de Busan. E ele terá o Coelho da sorte na torre de Busan. Não é certo que Nova York tenha o seu rosto nos outdoors junto com imagens da Estátua da Liberdade e você não tenha uma foto na torre que é um símbolo tão importante. E sua família era de lá, é péssimo para a publicidade que em cidadão local não mostre amor e respeito a cidade.

— O que? Mas... Isso nem faz sentido — eu deveria lembrá-lo mais uma vez que apesar de apesar de sim, minha família ser de Busan, eu sequer vivi lá? Passei a infância nos Estados Unidos, meu avô por parte de mãe era um texano clássico, que estranhamente odiava republicanos, não comia hambúrgueres e criava galinhas como se fossem filhas - a mamãe chamava as galinhas de irmãs - meu pai viveu em Busan antes de imigrar, e voltou somente depois que tive dinheiro o bastante para trazê-lo, mas ele vivia em Ulsan desde então. Quando vim para a Coreia, eu mal podia gastar com comida, quanto mais passagens para visitar Busan.

Mas quem se importava? No fim das contas aparentar amor e lealdade a cidade era mais válido do que realmente sentir isso. E se a sorte não se posicionou contra minha viagem, é certo que não havia mal nenhum em ir.

— Tudo bem... Eu vou.

— Ótimo. Agora... — empurrou dois envelopes fechados em minha direção, secretário Chan e o gerente Kim se aproximaram, silenciosos como sempre, para ver a "magia" acontecer — Qual deles vai ser o melhor grupo? — suspirei e lhe apontei o envelope da esquerda. Gerente Kim recolheu-o — O melhor single de estreia é? — colocou dois novos envelopes — permaneci com o da esquerda.

— Lance o outro grupo com o single restante no próximo semestre. Se tiver rappers fortes...

— Mandar pra você. Selo G.C.F. Grande ideia, grande ideia. — imitou minha pose, com as duas mãos fechada junto ao rosto e a cabeça inclinada para o lado, numa "Celebração da sorte". Parecia ainda mais ridículo quando ele o fazia. O celular em cima de sua mesa tocou e gerente Kim moveu-se para o lado dele, verificando quem era.

— Ligação de seu filho, senhor.

— Não tenho tempo para as besteiras de Jimin, atenda e diga que falarei com ele amanhã — gerente Kim assentiu, pegando o celular do CEO Park e deixou a sala para atender o garoto. Eu nunca conheci o filho do presidente Park, na verdade, todo mundo o conhecia, mas não pessoalmente. Os boatos da empresa diziam que ele foi expulso da empresa e da própria casa depois de se assumir gay. Ele fundou uma revista, - muito popular no país e em metade da Ásia - com um amigo meses depois e conseguia descobrir mais escândalos que toda a equipe do AllKpop e Dispatch juntas e obviamente, seu alvo número um sempre foram os artistas da HFC — Enfim... o que me diz se depois de Busan irmos ao Japão? O imper-

— Não vamos abusar da sorte por hoje — disse, forçando um sorriso. Comecei a falar isso há alguns meses, como se minha sorte fosse limitada a uma cota diária que eu não podia extrapolar. O presidente Park sempre parava com suas perguntas quando eu dizia isso.

— Claro, claro. As fotos hoje tem de ser ótimas, não podemos desperdiçar a sorte, não é?

— É... — concordei — Claro que não.

+++

Uma nevasca a caminho me livrou das fotos, mas não me livrou da viagem já que a neve só nos alcançou quando o avião da empresa aterrissou em Busan, o mau tempo também impediu que voltássemos no mesmo voo, então me colocariam num carro de volta para Seul. Aquele pareceu o primeiro dia ruim da minha vida nos últimos anos.

— Eu vou de trem. — anunciei ainda no restaurante onde paramos, eu e secretário Chan, depois da tentativa falha de sessão de fotos.

— Como? — secretário Chan me olhou em choque — Mas senhor Jeongguk, não é seguro.

— É só um trem. Não tem nada demais. — olhei para o relógio, sete da noite. Devia ter pego o voo logo depois da reunião pela manhã, mas eu protelei por pura má vontade. — As estradas possivelmente estão uma confusão e não quero voltar pra casa agora para ficar sozinho lá, sem Yoongi ou Soyeon — Você vai de carro agora, eu pego o último trem. — ele olhou no celular, provavelmente buscando o horário disponíveis..

— Só há o último das 23 horas.

— Perfeito.

— Mas senhor Jeongguk...

— Você nunca vai conseguir me chamar apenas de Jeongguk, não é? Ou só Jeon?

— Eu lhe devo respeito, meu senhor.

Era uma batalha perdida.

— Pode me dar uma carona até a estação? — se Secretário Chan não fosse tão formal ele provavelmente reviraria os olhos — Seria legal fazer turismo até as onze, onde estamos agora?

— Próximos ao Yeon Ji Park — verificou o celular mais uma vez — segundo o gps.

— Achei que tivesse nascido aqui.

— Eu nasci em Daegu, senhor.

— Nunca fui até lá também.

— O senhor conhece metade do mundo, mas nunca viajou dentro de nosso país. — suspirei alto.

— O coelho da sorte da Coreia do Sul que não conhece a Coreia do Sul. — ri, sem humor — Eu sou uma fraude.

— De onde o senhor realmente veio? — mesmo trabalhando há anos comigo, secretario Chan me conhecia tanto quando a imprensa. E a imprensa não sabia muito sobre mim.

— Meu registro de nascimento são daqui. Meus registros são da Coreia, mas eu vim de São Francisco. Meu avô é americano e viajar do Texas pra Califórnia era menos trabalhoso que pegar um avião para Seul — os poucos meses após meu nascimento foram os únicos momentos da minha vida que tive meus pais comigo e ainda na Coreia. Eles voltaram para a América logo depois, e antes dos dois anos eu já tinha perdido minha mãe — Vamos? — levantei da cadeira, Secretário Chan levantou também e seguiu para pagar a conta, enquanto eu esperava. Olhei o celular. Uma mensagem de Soyeon e nenhuma de Yoongi. Tudo bem, ele provavelmente estava ocupado e exausto, era uma turnê longa e por muitos países... Eu seria compreensivo — Eu tenho um bom pressentimento sobre hoje — comentei com Secretário Chan quando ele voltou, porque de uma maneira estranha, eu realmente tinha.

Infelizmente eu não estava tão certo sobre isso.

(...)

— O site da estação colocou um aviso que o trem das 23 horas só sairá a meia noite, senhor. Mas acho que não conseguiremos chegar a tempo. — olhei no relógio e depois para a estrada, vendo o prédio de vidro no máximo um quilômetro a frente. Não estava tão longe, o problema foi o acidente um pouco adiante que no meio da neve acabou causando um problema no tráfego. Eu poderia ir andando.

— Pegue a próxima saída, secretário Chan, e vá pra casa. Nos vemos em Seul na segunda.

— Senhor! — eu já tinha pulado para fora do carro, puxando minha mochila junto. O trânsito estava tão parado que quase não havia risco algum passar por entre os carros e faltava pouco para alcançar a estação. Puxei o casaco para mais junto ao corpo e arrumei a máscara em meu rosto tentando me proteger do frio, a mochila pesou em meus ombros e me perguntei pela milésima vez porque eu não trouxe uma mala, seria sido muito mais fácil de carregar.

Cheguei à entrada da estação exatamente às 23:43. O trem saia a meia noite... Ainda havia como conseguir.

— Olá! Ainda dá tempo de pegar o trem para Seul? — parei diante do guichê, puxei a máscara do rosto e enfiei no bolso de trás antes de lhe entregar os documentos. A garota - que parecia jovem demais para estar trabalhando - olhou para algo atrás de mim antes de olhar para mim novamente, olhei para trás, vendo meu rosto ser projetado em uma das telas de LED, anunciando as audições da HFC. Ela olhou pra mim mais uma vez. O cartaz. Pra mim de novo.

— Você é o coelho da sorte? — apontou pra mim. Para o cartaz. Pra mim de novo.

— S-Sim, sou eu.

— Aigoo, é uma honra — atrás do guichê ela se levantou para prestar uma reverência — Minha mãe nem vai acreditar — assenti, sorrindo. Olhei o relógio da estação. 23:50.

— Obrigado. Eu posso... dar um autógrafo pra ela. É... O trem...

— Claro. — ela não emitiu um bilhete ou colocou meus dados da máquina, na verdade pegou o telefone. 23:54. As portas já deviam ter se fechado, o trem já estava pronto para ir — Pode descer, eu pedi pra que notificassem o maquinista, ele vai deixá-lo entrar. Aqui seu bilhete — ela me devolveu meus documentos junto com o papel emitido para embarque especial — Foi muita sorte... — ela riu como se fosse uma piada muito engraçada.

— Obrigado — me preparei para correr até o trem, mas ela acenou em minha direção.

— Posso tirar uma foto sua? Para minha mãe...

— Claro. — procurei as orelhas de coelho, me sentindo um idiota, mas coloquei na cabeça, sorrindo igual a foto no projetor. A garota tirou a foto com um sorriso maior que o meu — Obrigado pela ajuda — lhe fiz uma reverência e corri até o trem. Estava partindo, movendo-se arrastado antes de pegar o impulso.

"Seria muito azar perder o trem! Seria muito azar perder o trem"

E ele parou.

Parei diante da porta com minha melhor postura, ciente que as pessoas olhariam para fora e provavelmente me odiariam. As portas se abriram e eu entrei, pedindo desculpas logo que coloquei o pé para dentro, mas não tão surpreendentemente assim, ninguém parecia irritado comigo, especialmente quando duas garotinhas me reconheceram, assim como suas mães e algumas senhoras mais velhas. Eu fiz a única coisa que sabia quando era reconhecido num lugar fechado, sorrir o mais largo que conseguia e procurar meu lugar para não prolongar a situação.

Descobri que a fama nunca foi destinada a mim logo depois de ficar famoso. Simplesmente não sabia lidar. Eu não gostava de abraços de estranhos, ou de câmeras e flashes na minha cara, e definitivamente odiava caras mascarados e com câmeras me seguindo. Não sabia quanto tempo mais isso duraria, eventualmente todos somem dos holofotes, mas quando se tem uma sorte sobrenatural... Bom, talvez dure mais que o esperado.

— Olá — falei ao rapaz ao meu lado. Ele parecia muito irritado, olhando para mim como se fosse socar meu rosto. O trem começou a se mover.

— Quem é você? — perguntou, quase como uma acusação. Quem era aquele cara? Parecia familiar.

— Como?

— Quem é você? — insistiu — O seu nome.

— É... Jeon Jeongguk. — respondi, ainda olhando-o, sem entender sua atitude. Quem ele pensava que é? Ao menos esperava que se apresentasse, mas ele me ignorou totalmente — Idiota — resmunguei, porém ele sequer deu atenção. Ótimo. Que fique ele e o próprio ego.

Dei mais uma olhada de canto de olho. De onde eu conhecia esse garoto? Não era ninguém da época de escola, eu lembrava de todos os meus colegas e ele parecia rico. Na maior parte da minha vida, eu nunca tive grana para pagar um boa educação, mas aquele cara com certeza foi um SKY.

Meu pensamentos não me levaram muito longe, na verdade, eles foram embora quando senti ser jogado pra frente e o trem travou no meio do caminho. Havia sons vindo do lado de fora, as pessoas começaram a se levantar e olhar pela janela, na minha posição era impossível fazer isso, estávamos nas primeiras cadeiras do vagão, então a visão do lado de fora era limitada ao que estava exatamente ao lado, nada mais adianta. O rapaz ao meu lado apertou o rosto contra o vidro para enxergar..

— Um trem descarrilou! — alguém exclamou, fazendo mais pessoas tentarem se aproximar pra ver.

— Era de passageiros?

— Não, olhe as cores

— Teria nos atingido!

— Sim! Se tivéssemos saído no horário teria nos atingido.

Eu tinha me livrado de um acidente? É... obrigado, Sorte.

— Coelho da sorte!

— Coelho da sorte! Coelho da sorte!

Nem demorou dessa vez. Isso não acontecia com muita frequência, porém um tempo atrás as pessoas passaram a acreditar que a minha sorte influenciava não somente a minha vida e dos contratados da HFC, mas também o ambiente onde eu estava. Lembro que em casos como operações de risco e problemas na fronteira, o governo enviava carros até a HFC e me levava ao local, para garantir o sucesso. Yoongi e Soyeon achavam isso tudo ridículo, mas aparentemente funcionava, ou eu tinha sorte o bastante para nada explodir, nem uma guerra começar, comigo por perto.

— Coelho!

— Os deuses colocaram-a no trem para nos salvar.

O garoto olhou para mim de novo, não sabia se em choque ou maravilhado. Foi quando me permiti atentar para o seu rosto, cabelos castanhos, olhos grandes... acho que tudo nele parecia grande, o nariz, as orelhas, mesmo seus lábios. Seria feio em qualquer outra pessoa, mas nele não, era tudo proporcionalmente perfeito, o tipo de rosto que cirurgiões plásticos teriam como meta. O garoto era bonito demais para o seu próprio bem, e ele com certeza sabia disso. Ele ergueu uma sobrancelha quando percebeu que eu olhava e senti meu rosto arder em vergonha, E foi nesse momento, que lembrei exatamente quem ele era.

+++

TAEHYUNG

— Então... Sem trem. Sem carro. E um avião só às nove da manhã se o tempo melhorar? — resumi a fala anterior de Jin-hyung enquanto me explicava porque estávamos no restaurante de um hotel e não num carro para Seul — Você me arrastou até essa cidade e-

— Eu vim clamar pela sua alma!

— Ela vai pro inferno depois que eu te matar!

Foi uma questão de segundos, Seokjin esbarrou a mão na mesa, um copo caiu sobre outro que se quebrou, alguém segurou meu braço e tirou da linha de alcance no exato momento que um caco de vidro passou voando onde deveria estar meu pulso. Foi o momento mais bizarro que presenciei, porque não havia lógica nenhuma. Foi como se o copo estivesse desafiando as leis da física, literalmente voado e tentando... me matar?

— Mais cuidado. — a pessoa ainda segurava meu braço. Olhei para cima. Era ele — Você atrai o perigo. — riu, finalmente me soltando. Jin olhava para ele como se o garoto fosse a encarnação de Eros. Porque todo mundo era fascinado por ele? Não é como se fosse grande coisa. Nem era tão bonito assim, e eu não acreditava naquele papo de sorte — Boa noite — se curvou para Jin-hyung. E somente para ele.

— Não vai me cumprimentar novamente? — perguntei.

— Você deveria cumprimentar o "Rei de Goryeo" primeiro. — ele estava tentando ser engraçadinho? Suspirei e acenei para um garçom mais adiante.

— Enfim. Obrigado por ajudar.

— Não por isso.

E aconteceu tão rápido quando da vez anterior. O garçom veio, tropeçou no tapete e por alguma razão, que somente os deuses sabiam, ele tinha uma bandeja cheia de facas. Fui agarrado pela roupa e puxando de uma vez enquanto o estofado da minha cadeira era cravado por pelo menos dez facas e eu estava mais uma vez no chão, com Jeongguk em cima de mim, no meio de um restaurante lotado. Estava começando a virar um padrão.

— Tae! — eu ouvi Jin-hyung exclamar, mas eu estava preso ao choque — Como você pode transitar com uma bandeja de facas? Olhe o que poderia ter acontecido com ele! — mostrou a cadeira cravada. Olhei também. Uma delas atravessou a madeira, se eu ainda estivesse sentado teria acertado meu peito. Havia o murmúrio das pessoas pelo local e os que estavam mais próximos deram vários passos para longe de nós, porém ainda dentro da área do restaurante, curiosos demais para ir embora.

Olhei mais uma vez para a grande faca que atravessou a cadeira. Seria possível? A maldição era mesmo real e agora o universo estava tentando me matar como naquela franquia esquisita de Hollywood? Jeon já estava de pé, ao lado dele estava um senhor mais velho, provavelmente seu secretário pessoal. Eu não conseguia tirar os olho de Jeongguk. E nem levantar do chão.

— Jin! — chamei para que ele parasse de discutir com o garçom e o gerente - que surgiu sabe-se lá de onde - e me ajudasse a levantar. Estiquei as mãos e ele impôs mais força que o normal já que minhas pernas não estavam dispostas a colaborar.

— Você está bem?

— Não...

— Seu quarto está pronto, é melhor descansar.

Descansar? Sair dali? E se eu morresse no quarto sufocado com o travesseiro? Era muito óbvio notar um padrão depois de tudo que houve desde o trem assassino até as facas voadoras. Eu escapei todas as vezes graças a mesma pessoa. A lembrança da velha maluca alcançou minha mente, tão viva quanto como se eu tivesse visto-a um dia atrás. Ela disse que eu precisava de um coelho da sorte. E agora apareceu um.

— Tae? — a voz de Seokjin me trouxe a realidade.

— Hã?

— O cartão-chave — Jin lembrou, o gerente me ofereceu o cartão, ainda estava curvado, esperando que eu aceitasse sua reverência e as sinceras desculpas do hotel. Peguei e agradeci, devolvendo a reverência. Ele disse algo sobre por conta da casa e me ofereceu a mesa livre ao lado da nossa, mais o maximo que consegui fazer foi acenar a tudo que ele dizia, não estava realmente ouvindo.

— Cadê ele? — olhei em volta, Jeongguk desapareceu como fumaça — Cadê o garoto?

— Ali. — apontou discretamente para uma mesa mais distante, Jeongguk estava aparentemente se despedindo de seu secretário, que lhe fez uma reverência antes de caminhar para a saída do restaurante.

— Vá atrás do secretário dele. — pedi, acenando para o secretário.

— Por que? Não sou seu empregado.

— É, sim.

— Ah, verdade. — parou um momento constatando o óbvio — O que quer que eu faça?

— Descubra se ele vai voltar. — sentei na cadeira, tentando não olhar para a anterior, cravada por facas. Jin se apressou em direção a saída também e o perdi de vista logo que chegou a recepção. Cinco minutos depois, ele estava de volta.

— Ele vai ficar no hotel ao lado porque aqui o hotel afirmou não ter mais vagas disponíveis. Jeon vai ficar aqui. — assenti, tentando pensar no que fazer.

— Ótimo, então ele vai ficar fora... Agora você vai dormir.

— Hã?

— Pegue o quarto que o gerente me ofereceu se quiser, só vai dormir.

— Quando você ficou tão generoso? — riu baixo, puxando o cartão-chave do meu quarto e me entregando o que seria nosso. Jin realmente não notou tudo de estranho que estava acontecendo? Ele sempre acreditou muito mais na maldição do que eu.

— Cinco segundos pra ir antes que eu tome de volta. Quatro seg-

— Tô indo.

Levantei, acompanhando-o com o olhar, vendo ir para a recepção, em seguida ao elevador, e sumir de vista na caixa de metal. Esperei mais alguns minutos para garantir com segurança de que ele não voltaria. Respirei fundo. Eu me sentia um maluco, aquilo tinha que ser só um dia ruim, não uma maldição. Não podia ser a maldição. Eu devia pegar o elevador, ir pro meu quarto e dormir.

Porém no minuto seguinte me veio todas as possibilidades ruins em forma de manchetes:

"Astro morre ao cair em poço do elevador"

"Kim Taehyung encontrado morto após rolar lance de escadas em hotel"

"Cantor morre sufocado com fio do fone de ouvido"

Antes da quarta manchete imaginária eu já estava sentado diante dele.

— É... oi? — ele sorriu depois de me cumprimentar, mas parecia confuso. Até aquele momento não tinha notado o quanto era observado, mas agora era bem óbvio o contorcionismo das pessoas sentadas em volta tentando olhar para mim. Ou para ele — Você está bem? Algum corte?

— Não. Tudo bem. — passei as mãos pelos braços, esfregando-os como se estivesse me aquecendo. Não sabia porque fiz isso — Completamente inteiro. — minha risada soou trêmula e assustada. Calei.

— Hoje não está sendo seu dia de sorte.

— Na verdade... Está sim. — completei, ele bebericou do copo de suco em sua mão — Ok... isso vai ser bem estranho e consideravelmente... gay? — ele largou o copo, foi a primeira vez que seu olhar em minha direção mudou, os olhos estreitaram, o sorriso em seu rosto sumiu.

— O que exatamente vai ser estranho? — fez uma longa pausa antes de continuar — E gay?

— Jeongguk.

— Sim. — a postura dele parecia mais rígida e defensiva, e eu estava realmente com medo de levar um soco com a próxima frase. Os braços dele tinham bem mais músculos. Eu nunca levei nem um soco na vida e depois de tudo, acho que até um soco me mataria. Respirei fundo e disse antes que pudesse me arrepender:

— O que eu preciso dizer que te convença a passar a noite comigo?


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