Após algumas taças de champanhe, senti-me à vontade para convidar Sarah para a pista de dança na sala de estar de Mariana, onde algumas pessoas já se divertiam ao som de "Promiscuous" de Nelly Furtado. A melodia resgatava memórias vívidas da minha adolescência, enquanto Sarah sorria graciosamente enquanto dançávamos lado a lado. Eu me movia de um lado para o outro, tentando não fazer feio. Embora não fosse uma dançarina excepcional, o álcool sempre me deixava mais solta. Enquanto isso, Sarah levantou os braços e começou a se mover à minha frente, rebolando suavemente ao ritmo da música. Com um sorriso nos lábios, observei-a enquanto nossos corpos se aproximavam, sentindo meu abdômen encostar-se às suas costas. Com delicadeza, coloquei minhas mãos em seus quadris, acompanhando o ritmo da música. Beijei suavemente o pescoço de Sarah, movendo meu quadril no compasso de seu corpo. Suas mãos guiaram as minhas, percorrendo sua barriga, prestes a avançar na direção de seus seios, se eu não as tivesse gentilmente afastado. Um misto de surpresa e apreensão tomou conta de mim ao perceber que estávamos sendo observadas por outras pessoas.
- O que foi?! - Sarah indagou, confusa.
- Não é o lugar adequado para isso, Sarah. Tem pessoas nos olhando. - respondi.
- Qual o problema? - Sarah apoiou as mãos em meus ombros. - Eu estou com tesão, Ema. Poderia rasgar minha roupa aqui mesmo.
- Caramba... - abri mais os olhos.
- Vamos para um dos quartos. - Sarah envolveu os braços em meu pescoço e me beijou com volúpia. Levei a mão para sua nuca e afastei nossos rostos devagar.
- Sarah... Comporte-se. - pedi, envergonhada.
- Ema, por favor. Me foda. - pediu ela. - Eu preciso sentir seu corpo.
- Eu faria isso, se não estivéssemos no meio de uma festa de noivado. - expliquei.
- Ema, por favor. Eu estou suplicando. - Sarah uniu as mãos. - Eu preciso disso.
- Quando estivermos fora daqui.
- Ema, por favor...
- Não é a ocasião certa para isso, Sarah. - respondi. - Você consegue se recompor?
Sarah respirou fundo.
- Sim, Ema. Vou até a cozinha para beber um pouco de água. - disse ela, se afastando de mim. Eu podia ver a frustração em seus olhos, mas não era apropriado deixar a excitação vencer naquele momento. Acompanhei Sarah com o olhar, até que ela sumiu entre os convidados. Eu estava pronta para deixar a pista de dança, quando uma jovem se aproximou. Logo, lembrei-me de quem se tratava. Eu havia a visto com Angelina e mais duas pessoas, assim que cheguei ao evento.
- Ema, isso? - disse a jovem.
- Sim. - respondi, pondo as mãos dentro dos bolsos dianteiros da calça.
- Soube que é amiga da Sarah.
- Namorada. - olhei ao redor, um pouco inquieta. Eu não conseguia encontrar Angelina. Apenas Mariana bebendo e conversando animadamente com um grupo de convidados.
- O que acha de irmos para um dos quartos da casa?
- Quê?! - um nó se formou em minha mente. Eu não podia acreditar que aquela proposta era real.
- Não me acha atraente? - a jovem se exibia em um vestido azul justo.
- Poderia me deixar sozinha? - indaguei.
- Me deixe te dar prazer, Ema. - a jovem avançou sobre mim e quase me beijou os lábios. Me afastei e estendi uma das mãos na frente do meu rosto. - Você é louca ou o quê? - indaguei chateada, meu tom de voz saiu alto e ríspido, pois as pessoas mais próximas me olharam.
- Não entendo... - a jovem parecia confusa. - Me mandaram fazer tudo que você quiser.
- Quem disse isso para você? - questionei.
- Não posso contar. - ela abaixou a cabeça, fitando o chão.
- Angelina?! Eu vi você no mesmo grupo que ela. Foi Angelina que te enviou para cá? - indaguei, com firmeza. A jovem ficou em silêncio. Decidi então ir até Sarah. Estava pronta para ir embora, aquilo tinha sido a gota d'água para mim. Abri caminho entre os convidados, sem me preocupar com as boas maneiras, tão furiosa estava. Ao entrar na cozinha, percebi que Sarah não estava lá, apenas o silêncio reinava, quebrado apenas pela presença solitária de um copo de água derramado sobre a mesa. Um sinal de alerta disparou em minha mente, e sem hesitação, chamei por Sarah. - Sarah! - exclamei, percorrendo a cozinha com o olhar, até perceber a porta da despensa entreaberta. Um grunhido saiu de lá, fazendo meu coração saltar. Corri para o local e escancarei a porta. A visão que tive me revoltou. Angelina encurralava Sarah em um canto, uma de suas mãos tapava a boca de Sarah, enquanto a outra pressionava o seio esquerdo. Sarah não parecia confortável e tentava afastar Angelina com os braços. Avancei na direção delas e puxei a parte de trás da roupa de Angelina. Quando ela se virou para mim, a surpreendi com um soco, fazendo-a derrubar alguns enlatados ao colidir com algumas prateleiras.
- Aaiii... Perdeu o juízo, Ema? - Angelina reclamou.
- Ema... - Sarah fechava a roupa com uma expressão de medo no olhar.
- O que estava acontecendo aqui? Quem pode me explicar? - questionei, irritada.
- Não é óbvio? Essa vadia passou a noite me provocando. - disse Angelina.
- Não, isso não é verdade! - Sarah contestou. - Ema, você sabe que não fiz isso. Eu estava com você.
- Você está tentando me jogar contra a Sarah? Como pode ser tão suja? - indaguei, revoltada.
- Qual o problema em compartilhá-la comigo? - Angelina indagou, conferindo o canto da própria boca, onde havia um pouco de sangue.
- Cale sua boca! - ergui a mão, mas contive o impulso antes de acertar o rosto de Angelina. Eu estava à beira de perder o controle, e se isso acontecesse, as consequências seriam drásticas.
- Você nunca será uma dominatrix, e sinceramente, não consegue controlar a Sarah. Por isso, senti-me no direito de fazer o seu trabalho. Eu daria prazer a Sarah se você não tivesse me atrapalhado. - Angelina respondeu, recompondo-se.
- Ema...
- Agora não, Sarah! - interrompi. - Agora, meu assunto é com essa cretina. - encarei Angelina. - Você enviou uma mulher para me distrair enquanto tentava violentar Sarah, é isso mesmo?
- Ema, seja razoável. Sarah não é virgem, e além disso, ela sente prazer em ser tomada com força.
- Eu não te dei consentimento para isso. - disse Sarah. - E você me atacou.
- Não minta. Você me deu autorização para isso. - disse Angelina. - Sem seu consentimento, eu jamais teria feito nada disso.
- Não tente me culpar. Você sabe muito bem que qualquer poder que tinha sobre mim acabou quando assumi meu namoro com Ema. - Sarah explicou.
- Você não deixou isso claro, e... - Angelina me olhou. - Você deveria se acostumar com esse tipo de situação, Ema. Sarah é uma vadia, usa o sexo para conseguir o que quer das pessoas. Fez isso comigo, com aquela garota da sua cidade e com você. Não percebe que ela te controla? - disse Angelina, alimentando ainda mais minha irritação.
- Ema, eu juro que não fiz isso. - Sarah disse, segurando o choro.
- Seu colo... - notei que o colo de Sarah estava arranhado. Seus olhos marejados e a expressão de tristeza em seus olhos fizeram meu corpo tremer de raiva.
- Que fique claro, Ema. Eu não tentei violentar Sarah. Só fui um pouco enérgica, entende? - um pequeno sorriso brotou nos lábios de Angelina. - Vai chamar a polícia para mim por causa de um mal entendido? Ou vai me prender você mesma? Ainda pode fazer isso?
- Sua sorte é que não quero sujar minhas mãos com seu sangue. - respondi baixo, soltando uma respiração lenta.
- Que climão, hein?! Vamos voltar para o salão. Eu te desculpo pelo soco, sei que foi um mal entendido.
- Não me desculpe. - direcionei um olhar pesado para Angelina e fechei os punhos. - Se tocar na Sarah novamente, ou mesmo olhar para ela, vou garantir que precise fazer uma reconstrução facial.
- Nossa... Precisa disso tudo? - Angelina parecia não me levar a sério.
- Ema, vamos embora, por favor. - Sarah insistiu, se aproximando de mim. - Eu estou bem, eu juro.
- Você me ouviu, Angelina. Nunca mais ouse se aproximar da Sarah. - falei, tentando manter o controle. Eu queria desfigurar o rosto daquela mulher cínica.
- Ei! Aqui está mais divertido do que a minha festa de noivado? - disse Mariana ao entrar na dispensa.
- Que bom que chegou. A Ema perdeu o juízo, está me ameaçando. - Angelina ousou se defender.
- Mari... - Sarah sucumbiu ao choro. - A Angelina me atacou.
- Como pôde? - Mariana ergueu uma das sobrancelhas.
- Eu não fiz nada demais. A Sarah está exagerando para se passar por vítima. - disse Angelina.
- Sua desgraçada! - avancei em direção a Angelina e fui contida por Sarah e Mariana.
- Amor, por favor, não dê o que ela quer. - Sarah suplicou.
- Ema, tire a Sarah daqui. - ordenou Mariana. - Eu trouxe a Angelina para cá, sou responsável por isso. Confiei na pessoa errada. Então, se uma de nós vai perder o réu primário, será eu.