A noite invadiu Alphaville e três vozes se despediram. Enxuguei as lágrimas sobrepostas e peguei um lençol junto ao meu travesseiro. Caminhei lentamente até a sala e arrumei uma cama improvisada sobre o sofá. Cobri-me até o queixo e admirei a bela paisagem obscura da cidade, até que cai num profundo sono, mesmo sem me dar conta.

Pare com isso!

Natan não parava. Forçava minha entrada. Tudo ardia. Meus olhos com as lágrimas. A entrada sendo violentada. Os locais onde suas mãos calejadas me seguravam.

Minha respiração descontrolada. Meu coração batia tão rapidamente. E quanto mais eu resistia, mais ele investia contra mim, mais prazer sentia em forçar aquele tipo de relação sexual. As lágrimas molhavam todo meu rosto e gotejavam no meu cabelo bagunçado. A raiva me aflorava, me deixando quente de ódio, de impotência. Queria o mesmo longe, mas ele só queria proximidade. De forma grotesca e nojenta.

- Agatha? – Aquela voz não fazia parte do pesadelo. Natan não estava movendo a boca.

Tire-me daqui. A frase se perdeu em minha garganta que vacilou em um choro. O cenário ao meu redor queria tomar forma, ficar ainda mais impregnado em mim, mas insistia para afasta-lo.

- Vamos, Gata. Acorde... acorde, princesa. – O apelido. A voz. A forma como tudo fora dito. Aqueles foram os fatores que me retiraram instantaneamente do pesadelo.

Saltei contra os braços de Henrique. Seus dedos se perderam entre meus cabelos e os polegares enxugaram minhas lágrimas. Meu corpo estava tremendo descontroladamente. Não encontrava a realidade por trás dos fatos. Tremia de medo, desesperada pelo vislumbre do passado. O medo retornou e aflorou minha pele. Assustando-me, corroendo-me da pior forma possível. Agarrei os ombros de Henrique com força tentando, a qualquer custo, mantê-lo ainda mais próximo. Ele fora minha salvação. Sua voz me tirou do medo. O apelido que me dera me tirou de lá.

- Ela está assim porque dormiu sozinha. Eu te disse, Liot! – Cate estava chorando, podia ouvir por sua voz.

Minha cabeça estava acenando desesperadamente em negativo. Não, não, não! Não discutam como quando meus pais descobriam. Não façam isso! Queria gritar os pedidos, porém minha garganta perdida em soluços não permitiu. Tossi com a dor acumulada, quase vomitando ao mesmo tempo.

Henrique afastou-me de seu peito o suficiente para enxugar minhas novas lágrimas. Seus dedos eram ágeis, porém doces. Empurrou meus cabelos para trás das orelhas. Seus lábios tocaram minha testa, minhas pupilas, ambas as minhas bochechas, a ponta do meu nariz, o canto da minha boca e, por fim, meu queixo. Aquela era sua forma de me acalmar? Porque havia dado certo. Ele sabia como agir com alguém que fora abusada... porém ele não sabia. Eu não havia contado. E confiava nos meus melhores amigos. Se contássemos, ele se afastaria de mim, me abandonaria. Ele só me ouviu gritar e foi retirado de sua transa. Sentiu-se obrigado a fazer aquilo.

Henrique desapareceu da minha frente e quando reabri os olhos ele estava novamente diante de mim, havia um copo d’água entre seus dedos. Bebi tudo com goladas rápidas. Depois, Cate e Eliot não estavam mais na sala. As batidas do meu coração se apaziguaram e parei de chorar. Henrique se abaixou e pegou minhas mãos entre as suas.

- Está mais calma? – Indagou, fitando meus olhos com calma.

Acenei firmemente em positivo, sentindo o rosto inchado.

Antes que pudesse impedir, ele me pegou no colo, embalando minhas pernas com um braço e minhas costas com o oposto. Me levou até seu quarto. Só naquela noite notei o mural improvisado de fotos. Passei os olhos por ele e vi meu rosto junto ao seu. Era uma foto do evento de gala no Palace DeLucca.

Apenas MeuWhere stories live. Discover now