Capítulo 37:

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Henrique.

I want to say I'll live each day until I die, and know that I had something in somebody's life. The hearts that I have touched will be the proof that I leave that I made a difference.
Quero dizer que vou viver cada dia até eu morrer, e saber que eu tinha algo na vida de alguém. Os corações que toquei serão a prova que deixo de que fiz a diferença. (I Was Here – Beyonce).

Sabia que tinha estragado boa parte do que levei anos para construir. Então, me tranquei em um dos quartos mais escondidos da casa. Ao passar a chave, o cheiro de coisas guardadas entupiu minhas narinas. Que mulher, na situação de Agatha, me perdoaria por tais palavras? A pressão estava enorme sobre meu peito. Responsabilidades demais, omissões de enormes fatos, pedidos a serem feitos por alguém que me pediu por isso antes de morrer. O quarto me enchia de uma nostalgia inexplicável.

Olhei ao redor, enxerguei as paredes beges e as fotos antigas. Andei calmamente até uma das caixas e vi uma antiga história que poderia dar em um grande final surgir. Melissa teve uma morte muito destrutiva. O câncer percorreu todo seu corpo rápido demais, mas ainda assim, viveu cada dia da forma que pôde. Eu sabia que ela sabia, e sabia que ela tinha suas razões para não ter me contado e a respeitava por isso. A prova estava nas cartas guardadas em uma caixa de ferro, a prova de água, fogo e qualquer outro acidente. Cada uma delas representava uma passagem da vida de Júlia. Apreciei aquela atitude de minha ex-mulher. A responsabilidade aplicada a ela, os pensamentos do que poderia fazer para ao menos se sentir presente. Havia uma carta para quando a menina desse o primeiro beijo, para quando se apaixonasse, para quando completasse quinze anos e outra para quando completasse dezoito. Eu a respeitei; segui as instruções da enorme carta que ela me deixou. Me sentei ao chão, pegando todas as poucas lembranças que havia guardado dela, coisas que sabia que teria de mostrar a garota no futuro. Coisas que iria querer dividir com a mulher com que me casaria. Aliás, eu estava com uma aliança naquele instante, a pequena caixa me queimava na direção da coxa, algo me dizia para ir atrás de Agatha e revelar o que guardava no peito, mas sabia que seria injusto com ela, principalmente pelo que faria a seguir.

Já havia a magoado demais e talvez fosse realmente melhor ter acontecido a discussão. Não que me considerasse certo com as palavras ditas de forma errada. Como alguém, sabendo do que sabia, poderia dizer aquilo? Como fui tão tolo? Como pensaria sequer na hipótese de perdê-la novamente? Depois de tanto lutar? Depois que passei três anos sentindo que estava dando passos para trás, sentindo que estava perdendo-a como grãos de areia entre os dedos. Passei três anos de minha vida sentindo que estava fazendo algo errado. Senti que estava fazendo algo certo quando fui a sua casa depois do enterro de Melissa.

Agatha era a culpada por aquilo. Nunca ninguém me fez sentir de forma correta. Nunca ninguém me protegeu da forma delicada como ela fazia. E nunca senti tanta necessidade de proteger alguém, nem que aquilo custasse meus dias de vida. Vê-la sorrindo era como ver flores brotando; como um milagre. E quando ela fazia aquilo para mim, era de arrebatar-me de tal forma... De forma a querer gravar seu nome em paredes públicas, em fazer besteiras como as que fazia quando era jovem. Mas sabia que teria de lutar muito para consegui-la de volta. Intacta. Apenas minha.

*

Agatha.

Eu não sabia qual caminho percorrer. De repente tudo se tornou muito vago. Sai da casa de Henrique aos prantos. Andei de moto por muito tempo para ter qualquer pensamento sólido sobre o que fazer em seguida. E meu coração me guiou até a casa de meus pais, o último lugar que imaginei estar. O porteiro da casa abriu os portões para mim com um largo sorriso nos lábios.

Percorri o caminho até a entrada da grande casa sem pressa e foi quando descobri onde a festa de casamento e o casamento de Cate ocorreriam. Tirei o capacete e estacionei a moto em qualquer lugar vago. Eliot estava andando para lá e para cá. Apontando para diferentes direções. Foi só então que olhei em volta. Foi quando vi todas as flores chegando em grandes caixas. Brotos delas, luzes penduradas em fios, madeiras e muitos homens trabalhando a todo vapor. Sabia que o casamento era no dia seguinte. Minha mãe estava com as roupas. Deixei o capacete no chão e caminhei vagorosamente até o local em que as cadeiras estavam sendo colocadas. Eliot se virou para mim e correu na minha direção.

Apenas MeuWhere stories live. Discover now