Capítulo 39:

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It’s obvious, when he’s holding me, it’s only natural that I’m so affected.
É óbvio, quando ele está me abraçando, é natural que isso me afete tanto. (DNA – Little Mix).

Então, a partir daquele dia, eu comecei a receber surpresas interessantes a cada final de mês. Sempre quando fazia trinta dias que tinha ganhado algo, eu ganhava algo mais dele. Mesmo não sendo ele com os presentes em mãos, era ele quem os escolhia. Com cada um dos presentes marcando os meses vinha um cartão branco com sua caligrafia bem cursada sobre o papel limpo.

Eu quase o estava perdoando com os pequenos, simples e perfeitos gestos. Mas era só eu ficar diante da porta trancada que a minha raiva retornava junto com a minha indignação. Júlia fazia perguntas recorrentes de onde seu pai poderia estar, a cada mês era complicado de se explicar.

Poderia dizer que inicialmente os meses passaram se arrastando. A presença de Caio pela casa foi ficando cada vez mais constante. E comecei a ter uma pequena desconfiança. Ele sempre conversava muito com Tomas e entrava na sala de segurança, e ficava por lá durante minutos intermináveis. Nunca comentei ou indaguei algo, porque não queria mesmo saber e porque não queria afastá-lo. Não queria mais ninguém longe de mim. Se fosse para ter, que fosse perto e não longe.

Fazia trinta dias que havia recebido o enorme buquê de flores de Henrique. Durante o jantar improvisado, enquanto assistíamos filmes infantis com Júlia, a campainha tocou. Tentei segurar o sorriso, já esperando por algo e não consegui segurá-lo quando Tomas veio com uma caixa com um embrulho vermelho resplandecente.

Eu o tomei em minhas mãos, e – sem raiva – o analisei. Eu adorava aquela cor e é claro que Henrique sabia disso. Rasguei o papel do embrulho da caixa longa e fina. E dentro havia uma caixa de bombons. Todos eles eram redondos, mas algo me chamou a atenção. Antes de analisa-los, tomei o cartão branco e encontrei a palavra “salvou” escrita com sua bela letra em tinta preta. Mais tarde, eu iria guardá-la junto com o outro cartão para assimilar as palavras e chegar a uma frase.

Agora, meu foco e atenção total estavam nos bombons. Eu retirei o plástico de proteção e vi meu nome inscrito com letras cursivas em cada bombom. Agatha Salazzar. Foi impossível não sorrir. Não era algo simples, mas era lindo e fiquei com pena de sequer comer o doce. Caminhei até a cozinha com a caixa contra o peito e guardei-a atrás dos recipientes com comidas estocadas.

- O que era aquilo, mamãe? – Júlia perguntou sem retirar os olhos da tevê, enquanto eu voltava para o sofá e embalava-a em meus braços.

- Um presentinho do papai. – Respondi, beijando seus cabelos.

Ela acenou em positivo e continuou a assistir. Júlia estava diminuindo com as perguntas, porque eu sempre respondia que seu pai estava a serviço, mas que voltaria em breve. Na verdade, nem eu sabia onde ele estava ou porque estava lá.

- Você o perdoou. É notável pelo sorriso bobo. – Caio comentou ao meu lado no sofá.

Eu sorri, virando discretamente para ele e acenando em positivo.

*

Mais trinta dias se passaram. E daquela vez eu não estava ansiosa para saber o que viria. Eu não queria que fosse algo... queria que fosse ele. Olhar para aquela porta só me derrotava ainda mais. Aquele era o final de semana em que Júlia iria passar a noite com os avós. Estaria completamente sozinha se os seguranças não estivessem perambulando pela casa. Suspirei, sentada diante da porta e encarando-a.

Sextos sentidos devem ser seguidos. E meu sexto sentido gritava para que eu desse qualquer jeito de abrir a bendita porta, mas havia um anjinho sobre o meu ombro que dizia que eu devia esperar. E não sabia por qual lado optar. Por isso passava a maior parte do tempo encarando-a, tentando adivinhar o que tinha lá atrás.

Apenas MeuWhere stories live. Discover now